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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

P-140 "A Guerra na Zona Leste da Guiné, recrudesceu de forma violentíssima, nomeadamente em Copá e Canquelifá" (António Rodrigues ex. Sol. Condutor Auto, 1ª CCAV/BCAV 8323)


António Rodrigues ex. Sol. Condutor auto da 1ª CCAV/BCAV 8323 - 1973/74 viveu de perto e intensamente a guerra na fase final, na zona Leste da Guiné - Pirada, Bajocunda, Boruntuma, Copá, Paúnca e Sissaucunda fez um interessante comentário ao post.136 "DOSSIÊ SECRETO"  com data/hora 230045JAN12.

 Lembro que o Post. em ref. foi transcrito e adaptado por Luís Gonçalves Vaz (filho do último Chefe do Estado Maior do CTIG, Coronel Henrique Gonçalves Vaz) baseado em excertos de um DOSSIÊ SECRETO, autenticado pelo Chefe da 2ª Repartição, o Major de Infantaria, Tito José Barroso Capela.

SC

"Estivemos prestes a ser todos capturados, mas lá fomos resistindo"


- (...) Estou completamente de acordo com tudo o que está escrito neste Post.
A partir do início de Janeiro de Janeiro de 1974, a guerra na zona leste da Guiné, recrudesceu de forma violentíssima, nomeadamente em Copá e Canquelifã, que são os casos que conheço melhor.

As viaturas blindadas do PAIGC (segundo julgo saber pois não tenho a certeza) aparecem pela 1ª. vez em Copá. Sofremos a 1ª. flagelação de armas pesadas, à distância de alguns Kms no dia 03-01-74 às 23.30 horas que se prolongou até às 02.00 horas do dia seguinte. No dia 7, depois de uma forte emboscada pelas 09.30 horas da manhã a uma coluna de reabastecimento que se dirigia de Bajocunda para Copá, em que o 3º. Grupo de Combate reforçado da minha Companhia a 1ª. CCAV/BCAV8323 sofreu 2 mortos e vários feridos, pelas 17.55 horas do mesmo dia o PAIGC desencadeou sobre Copá um violento bombardeamento com morteiros de 120 mm que só terminou às 22.15 horas com a chegada e sobrevoo daquela área de um avião DAKOTA da FAP carregado de bombas.
 

Do blogue: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

Menos de 2 horas depois, após o DAKOTA se ter retirado, pelas 00.10 horas o PAIGC com um numeroso grupo de guerrilheiros, dá início junto ao nosso arame farpado, a uma fortíssima tentativa de assalto ao aquartelamento e para nossa grande surpresa, vinham acompanhados de pelo menos duas viaturas blindadas, tendo uma delas derrubado o arame farpado e penetrado 10 metros para dentro, disparando fortemente sobre nós.
Àquela hora a guarnição de Copá estava reduzida a 29 Homens, uma vez que, o Pelotão de Africanos que se encontrava lá connosco, tinha desertado durante a flagelação do fim da tarde, com excepção do Alferes e do Furriel europeus que os comandavam.
 

Estivemos prestes a ser todos capturados, mas lá fomos resistindo, até que lhes fizemos mortos e feridos e eles retiraram pelas 01.15 horas arrastando para cima de um blindado as suas baixas.
Copá ficou nessa noite bastante queimado e semi-destruído.
Nós tinha-mos acabado de viver uma tarde e noite infernais.

Ainda sobre as viaturas blindadas do PAIGC, no livro escrito pelo jornalista José Pedro Castanheira, cujo título é, "Quem Mandou Matar Amílcar Cabral" nas páginas 151 e seguintes pode ler-se o seguinte: (No dia 01-12-72 saiu de Bissau enviado pela PIDE um seu informador Africano com destino a Conakri, onde chegou a 11 do mesmo mês, que se apresentou a Amílcar Cabral como Ex-prisioneiro das autoridades Portuguesas, Cabral recebe-o, arranja-lhe alojamento e comida e entretanto mostra-lhe o último e mais moderno armamento acabado de chegar, entre o qual se destacam duas viaturas blindadas, uma com lagartas outra com rodas de borracha.
 

Na sequência do assassínio de Amílcar Cabral, cerca de um mês depois, esse informador é preso em Conakri e volta a ser libertado em meados de Fevereiro seguinte, parte de Conakri a 16 desse mês com destino a Bissau, onde chega de novo a 3 de Março de 73.)
 

Pelo acima exposto, se verifica que, pelo menos as autoridades em Bissau, deviam ter conhecimento da existência das referidas viaturas.Sem querer armar-me aqui em herói, ou criticar seja quem for, a nossa retirada de Copá aconteceu em moldes e circunstâncias muito diferentes do que julgo saber aconteceu com a retirada de Guiledge.

Em Copá principalmente a partir de 31 de Janeiro de 74, dia em que foi abatido sobre Copá com um míssil Strela um avião FIAT G-91, as flagelações com artilharia do PAIGC, passaram a ser quase diárias e simultâneamente também sobre Canquelifã ali a 12 Kms de distância,cada vez com mais intensidade e violência, até que, ao romper do dia 12 de Fevereiro, sem que nós em Copá o esperássemos, apareceu lá uma forte coluna para nos evacuar para Bajocunda.
Respiramos de alívio, Graças a Deus estava-mos ainda todos vivos e sem ferimentos, embora da restante saúde não pudesse-mos dizer o mesmo, foi uma manhã libertadora, ia-mos sair de um verdadeiro inferno.


Um Forte Abraço
António Rodrigues

1ª. CCAV/BCAV 8323 - 1973/1974 


Vd. post.:Liderei um encontro com guerrilheiros" - Amílcar José das Neves Ventura, Guiné 1973/1974 - BCAV 8323

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