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segunda-feira, 13 de julho de 2015

P244 - Consolação e alívio pessoal e meio de comunicação regulador da angústia, da saudade e do sofrimento familiar



Marinho e A. Castro das TRMS
Caríssimo Camarada Sousa de Castro
Os meus melhores cumprimentos.
A presente narrativa, bastante mais ligeira do que tem sido habitual, surge com o objectivo de ajudar a desvendar o mistério relacionado com o aparecimento de autocarros civis no Cais do Xime, nos anos de 1972 e 1974, quando aí estavam aquartelados os efectivos da CART 3494 e, depois, os da CCAÇ 12.
Ela acontece na medida em que, como sabem todos aqueles que estiveram instalados no aquartelamento aí existente [Xime], ou aqueles que por lá tiveram de passar rumo ao leste ou a Bissau [Cais], a distância entre ambos era curta, permitindo registar/gravar alguns factos.
Independentemente da distância, o que estava em causa na nossa missão era garantir, por todos os meios disponíveis, a segurança a esses dois pontos estratégicos, particularmente o Cais, local sujeito aos nossos olhares mais atentos.
Por via dessa responsabilidade, o Cais registava visitas constantes dos militares, sendo que aos domingos, o objectivo era mais lúdico, onde se batiam umas «chapas à civil» para se enviarem para a metrópole, como sinal de vida e, ainda, como meio terapêutico regulador da angústia, da saudade e do sofrimento familiar.
Para a história, aqui ficam mais estas curtas memórias desses tempos no CTIG.
Com um forte abraço de amizade.
Jorge Araújo.
Julho/2015



GUINÉ
Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494
(Xime-Mansambo, 1972/1974)
AS FOLGAS NO COLECTIVO DA CART 3494 NO XIME
(OS PASSEIOS DE DOMINGO AO CAIS
E OUTRAS ESCAPADELAS)
- De duplo efeito: consolação e alívio pessoal e meio de comunicação regulador da angústia, da saudade e do sofrimento familiar -

1. - INTRODUÇÃO
Não foi fácil chegar ao título e subtítulos destas curtas memórias relacionadas com a gestão dos diferentes tempos diários do contingente militar da CART 3494 nos primeiros treze meses da sua comissão ultramarina passados no Xime, entre 1972/1973, uma vez que o seu modelo e método utilizados estavam sempre dependentes da dinâmica do conflito, influenciando, de forma impiedosa, os desempenhos nas missões/acções delas emergentes e, naturalmente, o número de efectivos envolvidos.
Por via dessa dinâmica, e porque estamos de acordo com os teóricos da comunicação que defendem que o título do objecto [assunto] deve corresponder ao seu conteúdo, e vice-versa, eis então a justificação para essa dificuldade de partida, que tentámos superar.
Uma vez que toda a agenda de actividades era organizada a partir da interface entre diversos tempos: o tempo operacional contextualizado nas diversas missões/acções, o tempo social como meio de aprofundamento de valores, nomeadamente a partilha, a solidariedade e o companheirismo [que ainda hoje perduram, passadas que estão mais de quatro décadas], o tempo da escrita, do luto e da solidão, pela angústia, saudade e sofrimento familiar implícitos na distância e nas incertezas diárias de que se revestiam todas as nossas práticas, que nem sempre eram coincidentes entre os seus pares, e que ocorriam em momentos diferentes ao longo das vinte e quatro horas do dia. 
Por isso, as “folgas ao domingo” é um conceito que não existe no quadro do conflito como foi aquele que experienciámos nos longínquos anos de 1972/1973, nas matas do Xime e Mansambo, ainda que o seu significado se refira a “espaço de tempo destinado ao descanso”. Mesmo assim, o colectivo conseguiu encontrar alguma consolação e alívio das pressões do seu quotidiano em actividades informais de lazer e/ou recreio.
Uma das principais consolações era a mudança de indumentária, trajando à civil sempre que era possível pendurar o camuflado. Era o que acontecia maioritariamente à noite, aquando do jantar. O outro dia era o domingo, independentemente de este ser igual a todos os restantes, onde as actividades operacionais marcavam a sua presença regular, com destaque para a já estafada referência à segurança da Ponta Coli e às embarcações no Geba.
Caso estivessem institucionalizadas as “folgas ao domingo”, então não estaríamos certamente numa guerra de guerrilha, a não ser que a quiséssemos ironizar plagiando o nosso grande humorista Raúl Solnado (1929-2009) na sua “A História da Guerra de 1908 - … os domingos são para descanso”.
Para quem não conhece esta história ou a queira recordar, eis o seu endereço [Raul Solnado - A História da guerra de 1908].
Sempre que o tempo livre era desfrutado fora do aquartelamento, só existiam três locais possíveis: o Cais e o seu espaço envolvente, situado a duas centenas de metros e, naturalmente, percorridas a pé. Bambadinca e Bafatá eram as duas outras hipóteses, mas que implicavam recurso a transporte militar, e que se poderiam classificar de escapadelas.
Em função da situação geográfica do Aquartelamento do Xime, e para o competente enquadramento do texto, seleccionámos o conjunto de imagens que seguem.

2. - FOTOGALERIA
Foto 2, de David Guimarães (CART 2716 Xitole). Cais do Xime - 2001. Imagem do macaréu… um fenómeno da natureza que, diariamente, era observado com muita curiosidade e respeito, pelas razões que já são conhecidas






2.1 - QUANDO UM AUTOCARRO CIVIL ENCONTRADO NO CAIS DO XIME
          SE TRANSFORMOU EM ESPAÇO DE ANIMAÇÃO  
No domingo 21MAI72 e 24SET1972, em novo passeio ao Cais do Xime, agora organizado por alguns dos elementos da equipa das “Transmissões”, foi encontrado um autocarro civil, para espanto dos presentes, sem motorista e sem passageiros.
Logo o mesmo foi tomado de assalto, com os operacionais a procederam à sua competente inspecção e a divertirem-se “à grande e à guineense” com os diferentes desempenhos e peripécias.
Com a narrativa deste episódio, para o qual contámos com a preciosíssima ajuda do camarada Sousa de Castro [fotos], pretendemos ainda desvendar o mistério dos autocarros que surgiram em 1974 no Cais do Xime e que suscitaram, também, muitas interrogações expressas nos textos publicados no blogue da «Tabanca Grande», como são os casos dos P14797-LG + P14810-LG + 14832-LG.
Foto 5. Visita ao Cais do Xime (nem tudo era mau!... )

Foto 6. Cais do Xime – 24SET1972. O autocarro “apreendido” (a brincar) pelos operacionais das transmissões da CART 3494, sob o comando do Furriel Luís Domingues, à porta da frente.


Foto 7. Cais do Xime – 24SET1972. Consumada a apreensão, o grupo de oito elementos pousa para a posteridade. Da esqª/dtª. = Fur. Trms Luís Domingues; António Correia (electricista); Manuel Ramos (1.ºCabo apont. mort.81 - 1950-2012); Rogério Silva (Sol. Radiotelegrafista - 1950-2002); Pinóquio (1º. cabo Op. Cripto); José Vicente (Sol. Trms Inf); Emílio Tojal (Sol. Trms Inf); e, sentado, Sousa de Castro (1º. Cabo Radiotelegrafista).


Foto 8. Cais do Xime – 24SET1972. Com a situação controlada, 
cada elemento do grupo toma o seu lugar na protecção ao autocarro.

 

Foto 9. Cais do Xime – 24SET1972. 
O Sousa de Castro é nomeado para conduzir o veículo para lugar seguro.

Será que o autocarro “aprendido” pelos operacionais da CART 3494, em 24SET1972, é um dos que aparecem na foto abaixo do camarada António Rodrigues [furriel da CCAÇ 12] em 1974?
É difícil saber-se… na justa medida que não é possível comparar as fotos a preto e branco com as fotos a cores, a não ser que se conseguisse identificar a matrícula, o que não é o caso.


Eis uma história diferente (mais soft) passada no Xime em 1972 em que intervieram elementos da CART 3494.
Com um forte abraço de amizade.
Jorge Araújo.
13JUL2015




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