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terça-feira, 21 de dezembro de 2021

P421 - BOAS FESTAS Ainda em tempo de pandemia “COVID-19” Prevemos realizar o 35º encontro/convívio no dia 11/06/2022 na CARAPINHEIRA - Montemor-o-Velho

 MSG com data de 21/12/2021 de Jorge Araújo

Caríssimo Camarada Sousa de Castro,

 Os meus melhores cumprimentos.

 Mantendo a tradição de anos anteriores, anexo a minha mensagem de BOAS FESTAS ao colectivo da nossa Companhia, e a todos aqueles que visitam o nosso Blogue.

 Para todos um Santo Natal e um Melhor ano de 2022.

 Com um forte abraço de amizade,

Jorge Araújo.

Nota do editor:

Bom Natal para todos antigos combatentes da guerra o Ultramar, em especial para o BART3873 composto pelas: CCS - Bambadinca, CART 3492 - XITOLE, CART 3493 - MANSAMBO E COBUMBA e CART 3494 - XIME, ENXALÉ e MANSAMBO - 22 Dezembro 1971/03 Abril 1974. Não esquecendo o Pelotão de morteiros 4575 e pessoal dos Obuses.

Sousa de Castro

GUINÉ

Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494

(Xime-Mansambo, 1972/1974)

BOAS FESTAS

Ainda em tempo de pandemia “COVID-19”

 

Recordando a data da partida para o CTIG, em 22dez1971

- uma efeméride com 50 anos (1971/2021) -

Foto 1 > Cais da Rocha > Lisboa > 22 de Dezembro de 1971, 4.ª feira > N/M «NIASSA» zarpando rumo ao cais do Pidjiguiti (Bissau; Guiné) com mais um contingente de cerca de mil e quinhentos jovens milicianos entre os quais os do contingente da CART 3494 do BART 3873. [foto do álbum do António Bonito, fur mil da CART 3494], com a devida vénia.

► CAMARADAS,

Nesta Quadra Natalícia de 2021, que pelo segundo ano consecutivo continua a ser vivida num contexto atípico devido à pandemia «Covid-19», agora sob o efeito da variante «ómicron», recupero uma outra, que na fita do tempo atingiu meio século, como foi a consoada de 1971, a primeira do contingente da Companhia de Artilharia 3494 [CART 3494], comemorada em Alto Mar, ao terceiro dia de uma viagem de seis, a bordo do N/M «NIASSA», rumo ao Cais do Pidjiguiti, em Bissau.

Com efeito, para recordar essa efeméride com cinquenta anos (1971-2021), recorri a uma imagem que, entre muitas outras já aqui publicadas, acabou por mudar o rumo das nossas vivas, no caso dos milicianos da geração de “50” (1950) que, maioritariamente no ano de 1971, ingressaram nas Forças Armadas do País, ramo Exército, para cumprirem o serviço militar, em defesa da Pátria e do seu Império Colonial, o qual incluia, então, o conceito de “Missão Ultramarina”, a decorrer num tempo mínimo de vinte e quatro meses.

> A MOBILIZAÇÃO PARA O CTIGUINÉ EM 1971


Mobilizada pelo Regimento de Artilharia Pesada [RAP 2], da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, a Companhia de Artilharia 3494 [CART 3494], a terceira Unidade de Quadrícula do Batalhão de Artilharia 3873 [BART 3873], do Ten.Cor. António Tiago Martins [1919-1992], embarcou em Lisboa, no Cais da Rocha, a 22 de Dezembro de 1971, 4.ª feira, a bordo do N/M «NIASSA», rumo ao TO do Comando Territorial Independente da Guiné [CTIG], numa altura em que o conflito armado contabilizava já nove anos.

A sua chegada ao Cais do Pidjiguiti, em Bissau, ocorreu a 29 de Dezembro de 1971.

Foto 2 > Cais do Pidjiguiti > Bissau > 29 de Dezembro de 1971, 4.ª feira > N/M «NIASSA». Desembarque do contingente metropolitano da foto 1. [foto do álbum do António Bonito, fur mil da CART 3494], com a devida vénia.

► Termino esta pequena evocação histórica natalícia, datada de há cinquenta anos, enviando a todos os camaradas tertulianos da nossa Companhia e seus familiares, e aos leitores assíduos do nosso blogue, os meus votos de BOAS FESTAS, ainda que o cenário de
pandemia provocada pelo «coronavírus» continue a suscitar muitas preocupações - individuais e colectivas - e daí impor algumas restrições, em particular muita segurança e bom senso… em nome da VIDA.

► Desde os Emirados Árabes Unidos, país onde actualmente resido, e que, por coincidência, comemorou também, este mês, uma efeméride com 50 anos (1971-2021), esta respeitante à aprovação da constituição da União dos Sete Emirados [EAU], escrita em 2 de Dezembro de 1971 pelos mandantes de Abu Dhabi e Dubai que, naquela ocasião, eram Emirados independentes, desejo um    

BOM NATAL E UM MELHOR 2022

Muitas Felicidades e muita saúde.

Foto 3 > Abu Dhabi > Dezembro de 2021 > Interior do Centro Comercial “Galleria Mall” com ornamentações de Natal (com a devida vénia).

Foto 4 > Abu Dhabi > Dezembro de 2021 > Uma das entradas do Centro Comercial “Galleria Mall” com ornamentações de Natal (com a devida vénia).

 

Com um forte abraço de amizade,

Jorge Araújo.

20DEZ2021.





sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

P420 - MEMÓRIAS CRUZADAS - PARTE V: ENFERMEIROS NAS “MATAS” DA GUINÉ (1963-1974) EM CAMPANHA DOS VINTE E QUATRO CONDECORADOS DO EXÉRCITO COM “CRUZ DE GUERRA”, DA ESPECIALIDADE “ENFERMAGEM

 Mensagem com data de 17/11/221.

Continuamos a recuperar algumas das "memórias cruzadas nas matas da Guiné", estas relativas ao universo dos camaradas da "Saúde Militar" do Exército que foram condecorados com a medalha de «Cruz de Guerra» por actos em combate, num total de 24 casos, durante as suas comissões de serviço no CTIG (1963-1974).

Para esse efeito anexo a PARTE V.

Com um abraço de amizade,

Jorge Araújo.

GUINÉ

Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494

(Xime-Mansambo, 1972/1974)

MEMÓRIAS CRUZADAS

NAS “MATAS” DA GUINÉ (1963-1974):

RELEMBRANDO OS QUE, POR MISSÃO, TINHAM DE CUIDAR DAS FERIDAS CORPOREAS PROVOCADAS PELA METRALHA DA GUERRA COLONIAL: «OS ENFERMEIROS»



OS CONTEXTOS DOS “FACTOS E FEITOS” EM CAMPANHA DOS VINTE E QUATRO CONDECORADOS DO EXÉRCITO COM “CRUZ DE GUERRA”, DA ESPECIALIDADE “ENFERMAGEM”

PARTE V

Foto 1 – Assistência a feridos na sequência da deflagração de uma mina A/C, durante a «Operação Mabecos Bravios», realizada em 06 de fevereiro de 1969, a propósito da retirada de Madina do Boé. Foto do álbum do Cor Inf Hélio Esteves Felgas (1920-2008), Cmdt da Operação – P15719-LG e In: Camões - Revista de Letras e Culturas Lusófonas, n.º 5, abril-junho 1969, p 12, com a devida vénia.

Foto 2 – Região de Cacheu > Ingoré > CCAÇ 2381 (1968/70) > Antotinha > Recordando os tempos de enfermagem na tabanca em construção de Antotinha. Foto do álbum de José Teixeira – P11881-LG, com a devida vénia.

Foto 3 – Região de Boé > 12 de Setembro de 1969 > Evacuação de feridos provocados pelo rebentamento de uma mina anticarro ocorrida entre Canjadude e Nova Lamego. Foto do álbum de José Corceiro, 1.º Cabo Trms, CCAÇ 5, Canjadude (1969/71) – P6117-LG, com a devida vénia.

► Continuação do P419 (IV) (29.10.21)

1.   - INTRODUÇÃO

Visando contribuir para a reconstrução do puzzle da memória colectiva da «Guerra Colonial» ou «Guerra do Ultramar», em particular a do TO da Guiné, continuamos a partilhar no blogue os resultados obtidos na investigação acima titulada. Procura-se valorizar também, através deste estudo, o importante papel desempenhado pelos nossos camaradas da “saúde militar” (e igualmente no apoio a civis e população local) – médicos e enfermeiros/as – na nobre missão de socorrer todos os que deles necessitassem, quer em situação de combate, quer noutras ocasiões de menor risco de vida, mas sempre a merecerem atenção e cuidados especiais.

Considerando a dimensão global da presente investigação, esta teve de ser dividida em fragmentos, onde procuramos descrever cada um dos contextos da “missão”, analisando “factos e feitos” (os encontrados na literatura) dos seus actores directos “especialistas de enfermagem”, que viram ser-lhes atribuída uma condecoração com «Cruz de Guerra», maioritariamente de 3.ª e 4.ª Classe. Para esse efeito, a principal fonte de informação e consulta utilizada foi a documentação oficial do Estado-Maior do Exército, elaborada pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974).

2.   - OS “CASOS” DO ESTUDO

De acordo com a coleta de dados da pesquisa, os “casos do estudo” totalizaram vinte e quatro militares condecorados, no CTIG (1963/1974), com a «Cruz de Guerra» pertencentes aos «Serviços de Saúde Militar», três dos quais a «Título Póstumo», distinção justificada por “actos em combate”, conforme consta no quadro nominal elaborado por ordem cronológica e divulgado no primeiro fragmento – P415.

No gráfico abaixo, já publicado anteriormente, está representada a população do estudo agrupada pela variável “posto” (n-24).

Gráfico 1 – Representação gráfica da população do estudo agrupada na variável “posto”.

Neste quinto fragmento analisaremos mais dois “casos”, o segundo e terceiro de 1966, onde se recuperam mais algumas memórias, sempre dramáticas quando estamos perante situações irreversíveis, como é a da morte.

3.   - OS CONTEXTOS DOS “FEITOS” EM CAMPANHA DOS MILITARES DO EXÉRCITO CONDECORADOS COM “CRUZ DE GUERRA”, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE “ENFERMAGEM” - (n=24)

 

3.9     - AMADEU IVO DA SILVA CORREIA, 1.º CABO AUXILIAR DE ENFERMEIRO, DA CCAÇ 798, CONDECORADO COM A CRUZ DE GUERRA DE 4.ª CLASSE 

A nona ocorrência a merecer a atribuição de uma condecoração a um elemento dos «Serviços de Saúde» do Exército, esta com medalha de «Cruz de Guerra» de 4.ª Classe - a segunda das distinções contabilizadas durante o ano de 1966 - teve origem no desempenho tido pelo militar em título, durante a «Operação Rebenta», realizada em 12 de Maio de 1966, 5.ª feira, ao socorrer, debaixo de fogo IN, vários feridos de outras unidades que haviam participado no ataque à base de Cambeque/Cabonepo, situada na região de Quitafine (infografia abaixo).

► Histórico


 
◙ Fundamentos relevantes para a atribuição da Condecoração

▬ O.S. n.º 02, de 12 Janeiro de 1967, do QG/CTIG:

“Agraciado com a Cruz de Guerra de 4.ª Classe, nos termos do artigo 12.º do Regulamento da Medalha Militar, promulgado pelo Decreto n.º 35667, de 28 de Maio de 1946, por despacho do Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, de 28 de Março de 1967: O 1.º Cabo auxiliar de enfermeiro, n.º 4139364, Amadeu Ivo da Silva Correia, da Companhia de Caçadores 798 [CCAÇ 798] – Batalhão de Caçadores 1861, Regimento de Infantaria 1.”

● Transcrição do louvor que originou a condecoração:

“Por seu despacho de 09Jan67, considerou como sendo dado por si, o louvor constante do
n.º 2 da alínea B) do artigo 2.º da OS n.º 300, de 26Dez66, do BCAÇ 1861, conferido ao 1.º Cabo auxiliar de enfermeiro, n.º 4139364, Amadeu Ivo da Silva Correia, da CCAÇ 798, porque fazendo parte dum grupo de combate em operações, ter sempre demonstrado ser cumpridor e muito esforçado no desempenho das suas funções, em especial na «Operação Rebenta», onde revelou sangue-frio e arrojo, ao ter ido buscar debaixo de fogo IN, vários feridos, dando um belo exemplo de dedicação e coragem, o que muito me apraz distinguir, como exemplo a seguir.” (CECA; 5.º Vol.; p. 270).

CONTEXTUALIZAÇÃO DA OCORRÊNCIA

Para contextualização da ocorrência que esteve na base da condecoração do 1.º Cabo enfermeiro, Amadeu Ivo da Silva Correia, socorremo-nos das informações publicadas no P9047-LG – “Memórias da CCAÇ 798: uma perspectiva a partir de Gadamael Porto; Parte II; Actividade militar” – da autoria de Manuel Vaz (ex-Alf Mil da mesma unidade, Gadamael Porto, 1965/67), referindo que «Operação Rebenta» a concretizar na região de Quitafine, teve lugar em 12 de Maio de 1966, 5.ª feira. Para além da CCAÇ 798, mobilizou outras forças, cuja missão visava o ataque às povoações de Cambeque e Cabonepo. O objectivo particular da CCAÇ 798 era proteger a rectaguarda das restantes forças em acção. Entretanto, por engano, a FAP fez quatro mortos e uma dezena de feridos das NT. A CCAÇ 798 teve de socorrer e evacuar os feridos para uma zona de segurança, tendo-se distinguido o 1.º Cabo Amadeu Ivo da Silva Correia e o Soldado Agonia [Carlos Gomes Caieiro, CECA, 5.º Vol; Tomo IV; p 272], que foram agraciados com a Cruz de Guerra.

3.9.1   - SUBSÍDIO HISTÓRICO DA COMPANHIA DE CAÇADORES 798

= GANTURÉ - GADAMAEL - MEJO

Mobilizada pelo Regimento de Infantaria 1 [RI 1], da Amadora, para cumprir a sua missão ultramarina no CTIG, a Companhia de Caçadores 798 [CCAÇ 798], embarcou em Lisboa em 23 de Abril de 1965, 6.ª feira, a bordo do N/M «UÍGE», sob o comando do Capitão de Infantaria Rui Artur Vieira dos Santos, tendo desembarcado em Bissau em 28 do mesmo mês.

3.9.2   - SÍNTESE DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CCAÇ 798

Após a sua chegada, a CCAÇ 798 ficou colocada em Bissau na dependência do BCAÇ 600 [18Out63-20Ago65; do TCor Inf Manuel Maria Castel Branco Vieira], rendendo a CCAÇ 526 [08Mai63-29Abr65; do Cap Inf Hélder José François Sarmento], onde efectuou uma instrução de adaptação operacional e colaborou na realização de patrulhamentos e na segurança das instalações e das populações até 25Mai65. Após um Gr Comb ter seguido em 08Mai65 para o destacamento de Ganturé, assumiu em 28Mai65, por troca com a CART 494 [22Jul63-24Ago65; do Cap Art Alexandre da Costa Coutinho e Lima], a responsabilidade do subsector de Gadamael, mantendo um Gr Comb destacado desde 11Mai65 e integrando-se no dispositivo e manobra do BCAÇ 600 e depois do BCAÇ 1861 [23Ago65-17Abr67; do TCor Alfredo Henriques Baeta (1917-2011)]. Destacou ainda um Gr Comb para Mejo, de 03Ago66 a 24Out66 em reforço da guarnição local, tendo tomado parte em operações realizadas na região de Salancaur, onde obteve excelentes resultados. Em 19Jan67, foi rendida no subsector de Gadamael pela CART 1659 [17Jan67-30Out68; do Cap Mil Art Manuel Francisco Fernandes de Mansilha], recolhendo a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso à metrópole, o qual ocorreu em 08 de Fevereiro de 1967, a bordo do N/M «VERA CRUZ». (CECA; 7.º Vol.; p. 340).

 

3.10    - ALBERTO DO ROSÁRIO PEREIRA, FURRIEL MILICIANO DO SERVIÇO DE SAÚDE, DA CCAÇ 1487, CONDECORADO COM A CRUZ DE GUERRA DE 4.ª CLASSE 

A décima ocorrência a merecer a atribuição de uma condecoração a um elemento dos «Serviços de Saúde» do Exército, esta com medalha de «Cruz de Guerra» de 4.ª Classe - a terceira das distinções contabilizadas durante o ano de 1966 - teve origem no desempenho tido pelo militar em título ao longo da sua comissão, com particular relevância para a «Operação Naja», em 18 de Junho de 1966 (sábado) e «Operação Nortada I», em 06 de Dezembro de 1966, 3.ª feira, ambas na zona de Jufá, situada na região de Quinara (infografia abaixo).

► Histórico


 
◙ Fundamentos relevantes para a atribuição da Condecoração

▬ O.S. n.º 15, de 30 de Maio de 1967, do QG/CTIG:

“Agraciado com a Cruz de Guerra de 4.ª Classe, nos termos do artigo 12.º do Regulamento da Medalha Militar, promulgado pelo Decreto n.º 35667, de 28 de Maio de 1946, por despacho do Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, de 07 de Julho de 1967: O Furriel Miliciano, Alberto do Rosário Pereira, da Companhia de Caçadores 1487 [CCAÇ 1487] – Batalhão de Artilharia 1904, Regimento de Infantaria 15.”

● Transcrição do louvor que originou a condecoração:

“Louvo o Furriel Miliciano enfermeiro, Alberto do Rosário Pereira, da CCAÇ 1487, pela


maneira abnegada, eficiente e profundamente dedicada como sempre tem desempenhado as suas funções, não só no que respeita a tratamento de pessoal militar, como também no que se refere à população civil.

Muito correcto, sempre pronto a atender quem dele necessita, revelou perfeita compreensão dos seus deveres, quaisquer que fossem as circunstâncias em que os seus serviços se tornassem necessários, designadamente debaixo de fogo em que por diversas vezes se expôs, completamente indiferente ao risco que corria, para prestar socorros a feridos em combate.

Ferido ele próprio, gravemente, em 18Jun66, durante a «Operação Naja», na região de Jufá, dirigiu o tratamento de outros feridos enquanto não foi evacuado e, em 06Dez66, durante a «Operação Nortada I», no decorrer de um violento contacto com o IN na mesma região e muito próximo do local onde havia sido ferido anteriormente, não hesitou em se dirigir para junto de pessoal atingido e, debaixo de fogo, lhe prestar a assistência necessária.

Em todas as situações, demonstrou o Furriel enfermeiro Rosário Pereira, abnegação, eficiência, dedicação, coragem, sangue-frio e total desprezo pelo perigo, quando se tornou necessário enfrentá-lo para cumprimento da sua missão.” (CECA, 5.º Vol.; p. 387).

CONTEXTUALIZAÇÃO DA PRIMEIRA OCORRÊNCIA – «OPERAÇÃO NAJA»

Referente à contextualização da primeira ocorrência, que suporta a fundamentação da condecoração do Furriel enfermeiro Alberto do Rosário Pereira, da CCAÇ 1487, socorremo-nos das fontes oficiais indicadas no ponto 1, citando: “Em 18Jun66 – «Operação Naja» – Consistiu numa batida na península de Jabadá, com acções sobre os acampamentos de Jufá, S. José, Bissilão, Flaque Cibe e Gã Pedro. Foi executada por forças da CCAÇ 1487, CCAÇ 1549, CCAÇ 1566, PMort 1039, GCmds "Os Vampiros" e 1 GC do Destacamento de Jabadá. Destruídos os acampamentos de Jufá e S. José, causados ao lN 10 mortos, todos fardados, e capturado material diverso, munições, 4 espingardas e 1 pistola. Posteriormente, na reacção das NT a uma emboscada lN, causaram-lhe 2 mortos e outras baixas prováveis e obrigaram-no a debandar. Capturaram, além de material diverso, 1 pistola-metralhadora e destruíram um acampamento em Bissilão e outro em Flaque Cibe. As NT montaram uma emboscada, onde foi morto 1 elemento lN portador de 1 lança-granadas foguete, que foi capturado. Foi ainda destruído um acampamento em Gã Pedro.” (CECA; 6.º Vol.; pp 402/403).

3.10.1 - SUBSÍDIO HISTÓRICO DA COMPANHIA DE CAÇADORES 1487

          = BISSAU - FULACUNDA - NHACRA - SAFIM - PONTE DE ENSALMÁ - JOÃO LANDIM E DUGAL

Mobilizada pelo Regimento de Infantaria 15 [RI 15], de Tomar, para cumprir a sua missão ultramarina no CTIG, a Companhia de Caçadores 1487 [CCAÇ 1487], embarcou em Lisboa em 20 de Outubro de 1965, 4.ª feira, a bordo do N/M «NIASSA», sob o comando do Capitão de Infantaria Alberto Fernão de Magalhães Osório, tendo desembarcado em Bissau em 26 do mesmo mês.

3.10.2 - SÍNTESE DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CCAÇ 1487

Inicialmente, a CCAÇ 1487 ficou instalada em Bissau, na dependência do BCAÇ 1857 [06Ago55-03Mai67; do TCor Inf José Manuel Ferreira de Lemos], tendo substituído a CCAÇ 557 [03Dez63-29Out65; do Cap Inf João Luís da Costa Martins Ares] no dispositivo de segurança e protecção das instalações e das populações da área. De 10 a 18Nov65, efectuou instrução de adaptação operacional na região de Mansoa, sob orientação do BART 645 [10Mar64-09Fev66; do TCor Art António Braamcamp Sobral], tendo tomado parte numa operação realizada na zona de Sabá.

Em 08Jan66, rendendo a CCAÇ 1420 [06Ago65-03Mai67; do Cap Inf Manuel dos Santos


Caria], assumiu a responsabilidade do subsector de Fulacunda, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1860 [23Ago65-15Abr67; TCor Inf Francisco Manuel da Costa Almeida] e efectuando várias operações nas regiões de Naja (Braia), Jufá e Gã Formoso, entre outras, de que se destaca, pelos resultados obtidos, a «Operação Negaça», em 18Mai66.

Em 15Jan67, foi substituída pela CCAÇ 1624 [18Nov66-18Ago68; do Cap Mil Art Fernando Augusto dos Santos Pereira] e foi colocada no subsector de Nhacra, com destacamentos em Safim, Ponte de Ensalmá, João Landim e Dugal, a fim de render a CCAÇ 797 [28Abr65-19Jan67; Cap Inf Carlos Alberto Idães Soares Fabião (1930-2006)], ficando integrada no dispositivo e manobra do BART 1904 [18Jan67-31Out68; do TCor Art Fernando da Silva Branco], com vista à segurança e protecção das instalações e das populações. Em 31Jul67, foi rendida no subsector de Nhacra pela CART 1646 [18Jan67-31Out68; do Cap Mil Art Manuel José Meirinhos], a fim de efectuar o embarque de regresso, o qual ocorreu em 01 de Agosto de 1967. (CECA; 7.º Vol; p. 351).

Continua…

► Fontes consultadas:

Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 5.º Volume; Condecorações Militares Atribuídas; Tomo II; Cruz de Guerra, 1962-1965; Lisboa (1991).

Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro I; 1.ª Edição; Lisboa (2014)

Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição; Lisboa (2002).

Ø Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

17NOV2021



sexta-feira, 29 de outubro de 2021

P419 - MEMÓRIAS CRUZADAS NAS “MATAS” DA GUINÉ (1963-1974): RELEMBRANDO OS QUE, POR MISSÃO, TINHAM DE CUIDAR DAS FERIDAS CORPOREAS PROVOCADAS PELA METRALHA DA GUERRA COLONIAL: «OS ENFERMEIROS»

MSG com data de 22 de Setembro 2021

Com este quarto fragmento - ou PARTE IV - continuamos a recuperar algumas das "memórias cruzadas nas matas da Guiné", estas relativas ao universo dos camaradas da "Saúde Militar" do Exército que foram condecorados com a medalha de «Cruz de Guerra» por actos em combate, num total de 24 casos, durante as suas comissões de serviço no CTIG (1963-1974).

Com um abraço de amizade,

Jorge Araújo.

GUINÉ

Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494

(Xime-Mansambo, 1972/1974)

OS CONTEXTOS DOS “FACTOS E FEITOS” EM CAMPANHA DOS VINTE E QUATRO CONDECORADOS DO EXÉRCITO COM “CRUZ DE GUERRA”, DA ESPECIALIDADE “ENFERMAGEM”

PARTE IV




Continuação do P418 (III) (07.09.21)

1.   - INTRODUÇÃO

Através da consulta e análise do vasto espólio documental produzido pela geração dos ex-combatentes, que não pára de aumentar em cada dia das nossas vias – e ainda bem, digo eu (dizemos nós!) –, visando contribuir para a reconstrução do puzzle da memória colectiva da «Guerra Colonial / Guerra do Ultramar / Guerra de África», em particular a da Guiné [CTIG], continuamos a partilhar, no seio da «Tabanca Grande», os resultados obtidos nas «Memórias Cruzadas» implícitas no tema em título e subtítulo.

Para além do enunciado supra, enquanto objecto da investigação, com o tema em apreço procura-se valorizar o importante papel desempenhado pelos nossos camaradas da “saúde militar” (e igualmente no apoio a civis e população local) – médicos e enfermeiros/as (por exemplo a da foto 2) – na nobre missão de socorrer todos os que deles necessitassem, quer em situação de combate (por exemplo a da foto 1), quer noutras ocasiões de menor risco de vida (medicina geral), mas sempre a merecerem atenção e cuidados especiais (por exemplo a da foto 3).

Considerando a dimensão global da presente investigação, esta teve de ser dividida em partes, onde procuramos descrever cada um dos contextos da “missão”, analisando “factos” e “feitos” (os encontrados na literatura) dos seus actores directos “especialistas

 de enfermagem”, que viram ser-lhes atribuída uma condecoração com «Cruz de Guerra», maioritariamente de 3.ª e 4.ª Classe. Para esse efeito, a principal fonte de consulta/informação foi a documentação oficial do Estado-Maior do Exército, elaborada pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974).

2.   - OS “CASOS” DO ESTUDO

De acordo com a coleta de dados da pesquisa, os “casos do estudo” totalizaram vinte e quatro militares condecorados, no CTIG (1963/1974), com a «Cruz de Guerra» pertencentes aos «Serviços de Saúde Militar», três dos quais a «Título Póstumo», distinção justificada por “actos em combate”, conforme consta no quadro nominal elaborado por ordem cronológica e divulgado no primeiro fragmento – P415.

Neste quarto fragmento analisaremos mais dois “casos”, o último de 1965 e o primeiro de 1966, onde se recuperam mais algumas memórias, sempre dramáticas quando estamos perante situações irreversíveis, como é a da morte.

3.   - OS CONTEXTOS DOS “FEITOS” EM CAMPANHA DOS MILITARES DO EXÉRCITO CONDECORADOS COM “CRUZ DE GUERRA”, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE “ENFERMAGEM” - (n=24)

 

3.7     - LUÍS PEREIRA JORGE, 1.º CABO AUXILIAR DE ENFERMEIRO DA CCAÇ 1418, CONDECORADO COM A CRUZ DE GUERRA DE 4.ª CLASSE 

A sétima ocorrência a merecer a atribuição de uma condecoração a um elemento dos «Serviços de Saúde» do Exército, esta com medalha de «Cruz de Guerra» de 4.ª Classe - a quarta e última das distinções contabilizadas durante o ano de 1965 - teve origem no desempenho tido pelo militar em título, durante a «Operação Perseguição», realizada em 09 de Setembro de 1965 (5.ª feira), na zona de Búgula – Badã, na região de Bula (infografia abaixo), quando o grupo de combate de que fazia parte foi emboscado.

► Histórico


 
◙ Fundamentos relevantes para a atribuição da Condecoração

▬ O.S. n.º 82, de 06 de Outubro de 1965, do BCAÇ 1856:

“Agraciado com a Cruz de Guerra de 4.ª Classe, nos termos do artigo 12.º do Regulamento da Medalha Militar, aprovado pelo Decreto n.º 35667, de 28 de Maio de 1946: O 1.º Cabo, auxiliar de enfermeiro, n.º 1204/64, Luís Pereira Jorge, da Companhia de Caçadores 1418 [CCAÇ 1418] – Batalhão de Cavalaria 790, Regimento de Infantaria n.º 1”.

● Transcrição do louvor que originou a condecoração:

 “Louvado, pelo Exmo. Comandante do BCAÇ 1856, o 1.º Cabo auxiliar de enfermeiro, n.º 1204/64,


Luís Pereira Jorge, pelo seu meritório comportamento no decorrer da «Operação Perseguição» [09Set65], quando o grupo de combate de que fazia parte foi emboscado.

Tendo sido ferido no início, pelo rebentamento de uma granada de mão lançada pelo In, que de imediato arremessou outra que caiu na posição por si ocupada, teve ainda a calma necessária, extraordinária presença de espírito e sangue-frio, para a devolver para o local de onde havia sido lançada, a qual então rebentou, ao mesmo tempo que abriu fogo com a sua arma, nessa direcção, tendo atingido dois elementos In ali acoitados e que se puseram em fuga.

Debaixo de fogo e a rastejar, foi então tratar o seu comandante de Pelotão e em seguida um outro camarada gravemente ferido, indo depois ocupar novamente o seu posto na linha de fogo.

Já durante o trajecto para o aquartelamento mais próximo, distante cerca de 5 km, foi ele ainda quem ajudou a transportar às costas um seu camarada mais gravemente ferido, só aceitando transferi-lo para outro militar, quando já extremamente cansado, devido aos seus próprios ferimentos, se viu obrigado a tal.” (CECA; 5.º Vol.; p 185).

CONTEXTUALIZAÇÃO DA OCORRÊNCIA

Para contextualização da ocorrência, que esteve na base da condecoração do 1.º Cabo enfermeiro, Luís Pereira Jorge, socorremo-nos das fontes oficiais (CECA, 6.º Vol.; p. 335), onde consta: “Em cumprimento da Directiva Operacional, no Sector Oeste, as NT desenvolveram intensa actividade operacional realizando, entre outras, as operações - «Perseguição»: em 09Set65. O IN emboscou as forças do BCAV 790 [no caso a CCAÇ 1418], próximo de Búgula, causando 6 feridos e sofrendo 2 mortos.”

3.7.1   - SUBSÍDIO HISTÓRICO DA COMPANHIA DE CAÇADORES 1418

= BISSAU - BULA - BURUNTUMA - CAMAJABÁ - RIO CAIUM – FÁ MANDINGA

Mobilizado pelo Regimento de Infantaria 1 [RI 1], da Amadora, para cumprir a sua missão ultramarina no CTIG, a Companhia de Caçadores 1418 [CCAÇ 1418], a terceira unidade de quadrícula do BCAÇ 1856, do Cmdt TCor Inf António de Anunciação Marques Lopes, embarcou em Lisboa em 31 de Julho de 1965, sábado, a bordo do N/M «NIASSA», sob o comando do Capitão de Infantaria António Fernando Pinto de Oliveira, tendo desembarcado em Bissau a 6 de Agosto, 6.ª feira.

3.7.2         - SÍNTESE DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CCAÇ 1418

Após o seu desembarque, a CCAÇ 1418 ficou colocada em Bissau durante quinze dias como


subunidade de intervenção e reserva do Comando-Chefe, tendo seguido, em 21Ago65 para Bula, a fim de realizar uma instrução de adaptação operacional sob a orientação do BCAV 790 [28Abr65-08Fev67; do TCor Cav Henrique Alves Calado], e seguidamente reforçar este Batalhão em acções realizadas nas regiões de Naga, Inquida e Choquemone, entre outras.

Até 20Out65, continuou depois a ser atribuída em reforço de outros batalhões, com vista à realização de diversas acções na região do Jol, em reforço do BCAÇ 1858 [24Ago65-03Mai67; do TCor Inf Manuel Ferreira Nobre Silva], de 05 a 18Nov65. Na região de Gussará-Manhau, em reforço do BART 645, de 16 a 23Dez65. Nas regiões de Naga e Biambe, em reforço do BCAV 790, de 2 a 16Jan66 e novamente de 12 a 26Mar66. Na região do Morés, em reforço do BCAÇ 1857 [06Ago65-03Mai67; do TCor Inf José Manuel Ferreira de Lemos], de 13 a 23Fev66, onde tomou parte na «Operação Castor» [em 20Fev66], um golpe-de-mão à base central do Morés bem-sucedido, já que foi capturada elevada quantidade de armamento e outro material.


Deslocada seguidamente para Buruntuma, a CCAÇ 1418 assumiu, em 08Mai66, a responsabilidade do respectivo subsector, em substituição da CCAV 703 [24Jul64-14Mai66; do Cap Cav Fernando Manuel dos Santos Barrigas Lacerda], ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão [BCAÇ 1856], tendo destacada uma secção para Camajabá e, a partir de 21Set66, um Gr Comb para a ponte do Rio Caium. Em 03Abr67, foi rendida no subsector de Buruntuma pela CCAÇ 1588 [04Ago66-09Mai68; do Cap Inf Álvaro de Bastos Miranda] e seguiu para Fá Mandinga, onde substituiu, temporariamente, a CCAÇ 1589 [04Ago66-09Mai68; do Cap Inf Henrique Vítor Guimarães Peres Brandão] na função de reserva do Agr1980. Em 09Abr67, seguiu para Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso à metrópole, o qual teve lugar a 18 do mesmo mês, a bordo do N/M «UÍGE».

Para além da quantidade de armamento capturado na base do Morés, como a imagem acima testemunha, no decurso da «Operação Castor» ocorreu, também, entre outras, a morte de Simão António Mendes, responsável da área da saúde do C.I.R.N.

Este acontecimento é divulgado a partir da base central (Morés), em comunicado manuscrito por Chico Té? [Francisco Mendes], que abaixo se reproduz, com o seguinte teor:

“No dia 20 de Fevereiro [de 1966] o inimigo [NT] apoiado por 8 caçadores [?] invadiu a Base Central [Morés]. O combate durou 6 horas de tempo, teve como resultado a retirada em debandada inimiga que caiu em 3 (três) emboscadas sucessivas [CCAÇ 1418; fazendo fé no depoimento do camarada Rui Silva - P3806-LG - que diz: “o êxito da operação deve-se em grande parte à táctica usada. O papel da CCAÇ 1418 ao servir de isco foi preponderante. Mostrou-se, foi detectada pelo inimigo e então este convergiu para o trajecto daquela. Soubemos que esta Companhia se continuasse a avançar, o que não era preciso, tinha 7 (sete) emboscadas inimigas já montadas”].

O comunicado acrescenta que “o inimigo [NT] não podendo realizar o plano, reforçou a aviação. Com o fim de bombardear a base, onde os nossos camaradas de armas anti-aéreas deram uma grande prova de coragem, não os deixando realizar o plano. Depois de duas horas de combate, só conseguiram lançar uma bomba dentro da Base causando a morte de 3 camaradas entre os quais o responsável da saúde do C.I.R.N, Simão António Mendes.

Dois aviões foram atingidos pelo fogo da D.C.K. [metralhadora pesada de 14.5 mm].

Região Óio, Zona Morés, Base Central.”


 3.8  - JOÃO VIEIRA DE MELO, 1.º CABO AUXILIAR DE ENFERMEIRO DA CCAV 1485, CONDECORADO A TÍTULO PÓSTUMO COM A CRUZ DE GUERRA DE 4.ª CLASSE 

A oitava ocorrência a merecer a atribuição de uma condecoração (a título póstumo) a um elemento dos «Serviços de Saúde» do Exército, esta com medalha de «Cruz de Guerra» de 4.ª Classe - a primeira de oito distinções contabilizadas durante o ano de 1966 - teve origem no desempenho tido pelo militar em título, durante a «Operação Falcão II», realizada em 13 de Fevereiro de 1966 (domingo), na região da mata de Cassum, Susana (infografia abaixo), quando os grupos de combate da CCAV 1483 e CCAV 1485, da qual fazia parte, foram emboscados.

► Histórico


 
◙ Fundamentos relevantes para a atribuição da Condecoração

▬ O.S. n.º 19, de 12 de Maio de 1966, do QG/CTIG:

“Condecorado com a Cruz de Guerra de 4.ª Classe, nos termos do artigo 12.º do Regulamento da


Medalha Militar, aprovado pelo Decreto n.º 35667, de 28 de Maio de 1946, por despacho do Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, de 11 de Maio de 1966: O 1.º Cabo auxiliar de enfermeiro, João Vieira Melo, da Companhia de Cavalaria 1485 [CCAV 1485] – Batalhão de Cavalaria 790, Regimento de Infantaria n.º 7, a título póstumo.”

● Transcrição do louvor que originou a condecoração:

“Louvo, a título póstumo, o 1.º Cabo auxiliar de enfermeiro, n.º 06235965, João Vieira de Melo, da CCAV 1485, pelo seu comportamento notável revelado no decorrer da «Operação Falcão II», levada a efeito em 13 de Fevereiro de 1966.

Atingido com certa gravidade numa fase inicial do combate, não hesitou em arrastar-se para o local onde o fogo In era mais intenso, por saber que naquela zona havia outros feridos que necessitavam de receber tratamento. Veio a ser atingido mortalmente quando prestava assistência aos seus camaradas.

Demonstrou excepcional espírito de abnegação e camaradagem, extraordinárias qualidades de coragem, sangue-frio, calma e serena energia debaixo de fogo, tornando-se credor do respeito e admiração dos seus camaradas e superiores e digno de ser apontado como exemplo.” (CECA; 5.º Vol.; p. 310).

CONTEXTUALIZAÇÃO DA OCORRÊNCIA

Para contextualização da ocorrência que esteve na base da condecoração do 1.º Cabo enfermeiro João Vieira de Melo, socorremo-nos das fontes oficiais (CECA, 6.º Vol.; p. 335), e da obra de Mário Leitão «Heróis Limianos da Guerra do Ultramar», onde consta:

“Em 13 de Fevereiro de 1966, domingo, realizou-se a «Operação Falcão II», que contou com forças da CCAV 1485 e alguns elementos da CCAV 1483 [26Out65-27Jul67; do Cap Cav José Olímpio Caiado Costa Gomes], com a missão de explorar notícias que referiam a existência de um acampamento na área de Cassum/Susana. Ao aproximarem-se da orla da mata de Cassum, o In desencadeou sobre as NT intenso tiroteio. As NT reagiram, mantendo-se nas posições durante 3 (três) horas, ao fim das quais o PVC deu ordem para retirar. Protegidas pela FA, as NT retrocederam, perseguidas ainda por alguns guerrilheiros. Foram causados ao In dois mortos e outras baixas prováveis. As NT sofreram dois mortos e seis feridos, três dos quais vieram a falecer posteriormente depois de terem sido heli-evacuados para o HM 241, em Bissau. No caso do João Vieira de Melo, este veio a falecer no HMP (Estrela, Lisboa) em 20Fev66. Era natural da Ribeira, uma das trinta e nove freguesias do Município de Ponte de Lima.


Como complemento da narrativa oficial, recuperámos o excelente trabalho de pesquisa biográfico, “dos quarenta e cinco rapazes limianos que morreram ao serviço de Portugal nos três teatros operacionais, para além de mais oito em território continental”, dado à estampa pelo camarada Mário Leitão no livro acima identificado, onde é descrito o contexto da ocorrência em análise.

Da biografia referente ao 1.º Cabo João Vieira Melo, reproduzimos: […] “Pouco antes de completar quatro meses de comissão, o 1.º Cabo Melo fez parte de dois grupos de combate que a sua unidade enviou para a “Operação Falcão II”, iniciada nos primeiros minutos do dia 13 de Fevereiro de 1966, na área de Susana, onde o inimigo construíra um forte acampamento com abrigos contra morteiros e aviação, na orla de uma mata em Cassum. Um soldado atravessou o rio a nado transportando a corda que, uma vez esticada, serviria para a travessia do restante pessoal, que terminou às duas da manhã. Dessas forças faziam parte vários elementos da CCAV 1483. O numeroso grupo inimigo que os emboscou possuía um morteiro 82, uma ou duas metralhadoras pesadas e inúmeras pistolas-metralhadoras e espingardas automáticas, que causaram 5 mortos e 3 feridos às nossas tropas”. […] “As nossas tropas aguentaram o combate durante três horas, esquivaram-se aos vários fogos de capim incendiado pelo IN, mas tiveram de retirar para proceder à evacuação dos feridos e porque grande número de armas estavam encravadas e o número de munições era reduzido. A ordem foi dada pelo PVC, e a Força Aérea assegurou a protecção, pois vários elementos In iniciaram a sua perseguição”. […] (Op. cit., pp.142-143).

Segue o quadro das baixas em combate registadas durante a «Operação Falcão II». É de mencionar o facto de que os corpos dos dois primeiros nomes não puderam ser recuperados. (CECA; 8.º Vol.; pp 174-176).

Nota: Sobre este tema, consultar: P17180-LG e P17307-LG


 3.8.1   - SUBSÍDIO HISTÓRICO DA COMPANHIA DE CAVALARIA 1485

= BISSAU - BINAR - BULA - INGORÉ - SUSANA - PELUNDO - BIAMBE - ENCHEIA

Mobilizado pelo Regimento de Cavalaria 7 [RC 7], em Lisboa, para cumprir a sua missão ultramarina no CTIG, a Companhia de Cavalaria 1485 [CCAV 1485], independente, embarcou em Lisboa em 20 de Outubro de 1965, 4.ª feira, a bordo do N/M «NIASSA», sob o comando do Capitão de Cavalaria Luís Manuel Lemos Alves, tendo desembarcado em Bissau seis dias depois.

3.8.2   - SÍNTESE DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CCAV 1485

              

Após a sua chegada, a CCAV 1485 ficou instalada em Bissau tendo sido atribuída ao BCAÇ 1857


[06Ago65-03Mai67; do TCor Inf José Manuel Ferreira de Lemos], a fim de substituir a CCAÇ 1419 [06Ago65-03Mai67; do Cap Mil Inf António dos Santos Alexandre] na segurança e protecção das instalações e das populações da área tendo, cumulativamente, destacada os seus Grs Comb, por períodos variáveis, para adaptação operacional e reforço das guarnições locais de Binar, Bula e Ingoré, e empenhamento em operações efectuadas no sector do BCAV 790.

Em 01Dez65, foi colocada em Bula em reforço do BCAV 790 [28Abr65-08Fev67; do TCor Cav Henrique Alves Calado], sendo deslocada em 05Dez65 para Susana, onde assumiu a responsabilidade de um subsector, criado por agravamento da situação na zona e retirado ao subsector de São Domingos, a fim de actuar na contra-penetração e interdição da fronteira norte (Senegal).

Entretanto, cedeu também dois Grs Comb para reforço das guarnições locais de Ingoré, de 08Dez65 a 08Ago66 [oito meses] e Pelundo, de 09Dez65 a 17Abr66 [quatro meses]. Em 15Abr66, o subsector temporário de Susana foi extinto, voltando a ser incluído no subsector de São Domingos, tendo os efectivos da subunidade sido deslocados para Bula, entre 11 e 17Abr66.

Em 18Abr66, a CCAV 1485 deslocou-se para Binar, a fim de tomar parte na «Operação Arranque» [20-21Abr66], com vista à ocupação e instalação em Biambe, de cujo subsector assumiu a responsabilidade em 20Abr66, continuando integrada no dispositivo e manobra do BCAV 790.

Quanto à manobra desenvolvida pelas unidades participantes na ocupação de Biambe, e posterior instalação do respectivo aquartelamento, missão atribuída à CCAV 1485, creio que o livro de Manuel Costa Lobo, «Biambe e os Biambenses - História de um sítio em tempo de Guerra (1966/1974)» (capa ao lado), delas fará, certamente, referência (ainda que não o possa confirmar por não o ter lido).   

Em 31Ago66, a sua zona de acção foi alargada da área de Encheia, para onde, em 30Out66, foi destacado um Gr Comb, em substituição de idêntico efectivo da CCAÇ 816 [26Mai65-08Fev67; do Cap Inf Luís Fernando Gonçalves Riquito]. Em 06Jun67, a CCAV 1485 foi rendida, por troca, no subsector de Biambe pela CART 1688 [01Mai67-02Mar69; do Cap Art Damasceno Maurício Loureiro Borges], sendo colocada em Bissau, onde veio a substituir esta subunidade no dispositivo e manobra do BART 1904 [18Jan67-31Out68; do TCor Art Fernando da Silva Branco], com vista à segurança e protecção das instalações e das populações da área. Em 25Jul67, foi substituída no sector de Bissau pela CCAV 1748 [25Jul67-07Jun69; do Cap Mil Inf Emílio Augusto Pires], a fim de efectuar o embarque de regresso ao continente, viagem iniciada em 27Jul67 a bordo do N/M «UÍGE».

Continua…



► Fontes consultadas:

Ø  Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 5.º Volume; Condecorações Militares Atribuídas; Tomo II; Cruz de Guerra, 1962-1965; Lisboa (1991).

Ø  Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição, Lisboa (2002).

Ø  Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001).

Ø  Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

22SET2021