MSG REC no dia: 12/05/2021
A propósito do "Dia Internacional do Enfermeiro",
que hoje se comemora, tomei a iniciativa de recuperar um estudo recente sobre o
universo dos camaradas da "Saúde Militar" do Exército que, durante as
suas comissões de serviço no CTIGuiné (1963-1974), foram condecorados com
«Cruz de Guerra» por actos em combate, maioritariamente de 3.ª e 4.ª Classe, no
total de 24 casos.
Com um abraço,
Jorge Araújo.
GUINÉ
Jorge
Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494
(Xime-Mansambo,
1972/1974)
MEMÓRIAS CRUZADAS
NAS “MATAS” DA GUINÉ
(1963-1974):
RELEMBRANDO OS QUE, POR
MISSÃO, TINHAM DE CUIDAR DAS FERIDAS CORPOREAS PROVOCADAS PELA METRALHA DA
GUERRA COLONIAL: «OS ENFERMEIROS»
OS CONTEXTOS DOS
“FACTOS” E “FEITOS” EM CAMPANHA DOS VINTE E QUATRO
CONDECORADOS DO EXÉRCITO COM “CRUZ DE GUERRA”, DA ESPECIALIDADE “ENFERMAGEM”
PARTE I
Foto 1 – Largo da
Estrela, em Lisboa (cerca 1880-1890). Formatura de pessoal e material sanitário
militar. [In; Revista Militar n.º 2544, Janeiro de 2014, p12 (pdf) do Artigo do
TCor Rui Pires de Carvalho “Factos relevantes
da Saúde Militar nos últimos 200 anos”], com a devida vénia.
Foto 2 – Hospital
Militar 241, em Bissau. Entrou em funcionamento em 16 de Agosto de 1961 (4.ª
feira). Fonte: CECA, 7.º Vol, pp 679/680 e foto: Carlos Cardoso; P1578-LG, com
a devida vénia.
Foto 3 – Ruínas do Hospital
Militar 241, em Bissau. Foi entregue ao PAIGC em 12 de Outubro de 1974
(sábado). Fonte: CECA, 7.º Vol, pp 679/680 e foto: Alberto Costa (Nov2000), com
a devida vénia.
Foto 4 –
Ruínas do Hospital Militar 241 (de 1961 a 1974). Depois passou a chamar-se “Hospital
3 de Agosto”. Fonte: https://www.triplov.com/guinea_bissau/ com a devida vénia.
1. -
INTRODUÇÃO
Comemora-se hoje, dia 12 de Maio, o “Dia
Internacional do Enfermeiro”, criado pelo Conselho Internacional dos
Enfermeiros, em homenagem a Florence Nightingale (Florença, Itlália;1820.05.12
– Londres, Inglaterra; 1910.08.13), considerada como a fundadora da enfermagem
moderna.
Neste âmbito, e ainda que não seja possível
comparar o que é incomparável – a “Guerra Colonial” ou “Guerra do Ultramar”
(1961-1974) e a presente “Expressão Pandémica do Covid-19” (2020-2021) – encontrei
no âmbito da segunda situação, nomeadamente em quase todas as manifestações
organizadas espontaneamente por grupos de cidadãos e divulgadas nos media, uma
forma de homenagear os profissionais que trabalham na áreas da saúde, homens e
mulheres, por estes se terem colocado na “linha da frente” do combate à ameaça,
de natureza viral, com que a saúde pública mundial se vê confrontada, desde o
início do segundo trimestre do ano passado, ou seja, há um ano.
Por ser verdade, inspirei-me nestas últimas
manifestações de carinho e gratidão que acima relevo, para recordar, também, a
importância e o importante papel (insubstituível) desempenhado pelos nossos
camaradas da “saúde militar” (e igualmente dos civis/população local) – médicos
e enfermeiros – na missão de socorrer todos os que deles necessitassem, quer em situação de combate, quer noutras
ocasiões de menor risco de vida (medicina geral), mas sempre a merecerem atenção
e cuidados especiais.
Neste novo trabalho de investigação, dividido por fragmentos,
procuramos descrever cada um dos contextos em campanha, que na fita do tempo
tem mais de meio século, analisando “factos” e “feitos” (os encontrados na
literatura) dos seus actores directos “especialistas de enfermagem”, onde cada
caso acabaria por influenciar a Chefia Militar na argumentação para um “louvor”
e que se transformaria, depois, em “condecoração” com «Cruz de Guerra», maioritariamente
de 3.ª e 4.ª Classe
Na construção das narrativas, a principal fonte de consulta foi a
documentação oficial do Estado-Maior do Exército, elaborada pela Comissão para
o Estudo das Campanhas de África (1961-1974), abaixo designada pela sigla “CECA”.
2. - SUBSÍDIO
HISTÓRICO DO HOSPITAL MILITAR 241 (BISSAU)
Tendo
por Divisa: "Inter Arma
Medicina", o Hospital Militar 241, em Bissau, iniciou a sua actividade em
16 de Agosto de 1961 (4.ª feira), sob a direcção clínica do Major Médico José Libertador
Ferraz Pereira Monteiro. A missão era de dois anos.
Com início em 16 de Dezembro
de 1968, entrou em vigor a figura de Subdirector do Hospital Militar, sendo
este lugar ocupado, então, pelo Capitão Médico Ernesto Mendes Ferrão.
Como elemento estatístico,
entre 1961 e 1974, período considerado na historiografia militar como o da
Guerra Colonial, só pelo Exército foram mobilizados, para os três TO, cerca de
1.100 [mil e cem] Médicos Milicianos, permitindo uma experiência técnica
adicional e ímpar. O HMP, em particular, teve grande incremento e desenvolveu
capacidades e prestígio: Cirurgia Plástica, Fisiatria e Neurocirurgia, entre
outras. [fonte: https://www.revistamilitar.pt/artigo/113
2.1 -
SÍNTESE DA ACTIVIDADE OPERACIONAL
Cirúrgica, anteriormente mobilizada pelo 1.º GCS [Grupo de Companhias de Saúde, em Lisboa]. O seu desembarque em Bissau ocorreu por fracções, entre 08 de Junho de 1961 e 05 de Julho de 1961. Em 14 de Junho de 1972, a sua designação foi alterada para Hospital Militar de Bissau, por despacho ministerial de 19Mai72, com aprovação concomitante de novos quadros orgânicos.
Desenvolveu as acções de hospitalização de
todas as categorias de indisponíveis, realizando o seu tratamento definitivo ou
preparando para ulterior evacuação os que dela necessitassem. Atingiu a
capacidade de 250 camas e dispôs de serviços especializados de cirurgia geral,
ortopedia, oftalmologia, otorrinolaringologia, análises clínicas, radiologia,
estomatologia, dermato-venerologia, reanimação e sangue, fisioterapia,
psiquiatria, medicina geral e cardiologia.
Dispôs ainda de equipas itinerantes de
cobertura estomatológica, orientou a profilaxia antipalúdica e ministrou instrução
de formação de maqueiros e auxiliares de enfermagem, tendo colaborado também
com os serviços de saúde civis na assistência à população.
Após chegada dos primeiros elementos do PAIGC,
a partir de 04Set74, para recepção dos serviços, O Hospital Militar de Bissau
[HMB] foi entregue em 12Out74, sendo portanto extinto. (Ceca; 7.º Vol., pp
679-680).
Foto 5 – Finete (Bambadinca, 1969/71) –
Elementos da 1.ª secção do 2.º Gr Comb da CCAÇ 12. Para além do 1.º Cabo aux
enf Fernando Andrade Sousa, na companhia da sua mala de primeiros socorros, é
possível identificar o camarada Luís Graça (o 2.º da direita, em pé e com
óculos escuros). Foto do álbum do Fernando Andrade Sousa – P16011-LG, com a
devida vénia.
3.
- OS CONTEXTOS DOS “FEITOS” EM CAMPANHA DOS MILITARES DO
EXÉRCITO CONDECORADOS COM “CRUZ DE GUERRA”, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE
DE “ENFERMAGEM” - (n=24)
Nota:
A descrição de cada caso seguirá a ordem estruturada no quadro supra.
3.1 3.1 - FRANCISCO GONÇALVES MOREIRA, 1.º CABO MAQUEIRO DA CCAÇ
152, CONDECORADO A TÍTULO PÓSTUMO COM A MEDALHA DE PRATA DE VALOR MILITAR, COM
PALMA
A primeira ocorrência a
merecer a atribuição de uma condecoração (a título póstumo) a um elemento dos
«Serviços de Saúde» do Exército aconteceu quatro dias após o início do conflito
armado, tendo por origem uma emboscada sofrida por um Gr Comb da CCAÇ 152,
entre Bichalá e Budom (ver mapa abaixo).
► Histórico
◙ Fundamentos relevantes
para atribuição da Condecoração
“Pelo seu acto valoroso de abnegação,
camaradagem e desprezo pela vida, que me apraz registar e enaltecer, aponto-o
como exemplo vivo de todo o soldado português” – Joaquim da Luz Cunha [Faro,
1914-?], Ministro do Exército [de 4 de Dezembro de 1962 a 7 de Agosto de 1968].
▬ Portaria de 26 de
Novembro de 1963:
póstumo, com a Medalha de Prata de Valor Militar, com palma, nos termos do parágrafo 1.º do art.º 51.º, com referência ao art.º 7.º, do Regulamento da Medalha Militar, de 28 de Maio de 1946, o 1.º Cabo Maqueiro, n.º 264/60, Francisco Gonçalves Moreira, da Companhia de Caçadores 152 [CCAÇ 152], Regimento de Infantaria n.º 8, porque, na Guiné Portuguesa, numa emboscada sofrida [a 27Jan63, em Bichalá] por um Pelotão na região de Budom, em que tombou ferido pelo inimigo o seu comandante de Secção [Abílio Monteiro de Brito, Fur Mil Inf], num acto valoroso de abnegação, extraordinária coragem e com risco da própria vida, progrediu debaixo de fogo intenso para o socorrer e, quando já o segurava em seus braços, veio também a morrer.” (CECA; 5.º Vol., Tomo I, p 210). (Os seus corpos não foram recuperados).
◙►CONTEXTUALIZAÇÃO DA OCORRÊNCIA
Em
27 de Janeiro de 1963 (domingo), quatro dias após o ataque ao Aquartelamento de
Tite, um Gr Comb da CCAÇ 152 efectuou uma das primeiras acções militares
realizadas no território da Guiné, executando um golpe de mão sobre um
acampamento temporário instalado na região de Budom (Bichalá), a norte de
Chugué. Durante a missão, o mesmo Gr Comb, do qual fazia parte o 1.º Cabo
Maqueiro, Francisco Gonçalves Moreira, sofreu uma emboscada vindo a tombar
quando socorria o seu comandante de Grupo, o Furriel Miliciano de Infantaria,
Abílio Monteiro de Brito. Os seus corpos não foram recuperados. (CECA; 7.º Vol. Tomo II, p 308).
3.1.1
- SUBSÍDIO HISTÓRICO DA COMPANHIA DE CAÇADORES 152
= BUBA - CACINE - ALDEIA FORMOSA -
GADAMAEL - SALTINHO - BISSAU (1961-1963)
Mobilizada
pelo Regimento de Infantaria 8 [RI8], de Braga, a Companhia de Caçadores 152
[CCAÇ 152], embarcou em Lisboa, em 28 de Julho de 1961, 6.ª feira, por via
aérea, sob o comando do Capitão de Infantaria Carlos Alberto Blasco Gonçalves,
rumo à Guiné (Bissau), onde chegou no mesmo dia.
3.1.2
- SÍNTESES DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CCAÇ 152
CCAÇ, com dois Grs Comb destacados em Cacine e Aldeia Formosa e secções em Gadamael e Saltinho, sendo integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 237 [25Jul61-19Out63; do Maj Inf António Tavares de Pina e TCor Inf Carlos Barroso Hipólito], e orientando a sua actividade para acções de soberania, segurança e controlo das populações, procurando impedir a instalação do inimigo na área.
Em 30Abr63, foi substituída em Buba pela
CCAÇ 411 [09Abr63-29Abr65; do Cap Inf João Gomes do Amaral], sendo colocada em
Bissau a fim de integrar o dispositivo do BCAÇ 236 [25Jul61-19Out63; do TCor
Inf José Alves Moreira], com vista a garantir a segurança e protecção das
instalações e das populações da área, colmatando a saída anterior da CCAÇ 84
[09Abr61-12Abr63, do Cap Inf Manuel da Cunha Sardinha e Cap Mil Inf Jorge
Saraiva Parracho]. Em 18Out63, foi rendida em Bissau pela CART 565
[18Out63-27Out65; do Cap Art Luís Manuel Soares dos Reis Gonçalves], a fim de
efectuar o embarque de regresso, ocorrido em 19 de Outubro de 1963, a bordo do N/M «ANA MAFALDA» (CECA; op.
cit., p. 308).
3.2
- ADOZINDO CARVALHO DE BRITO, 1.º CABO AUXILIAR DE
ENFERMEIRO DA CCAV 489, CONDECORADO A TÍTULO PÓSTUMO COM A CRUZ DE GUERRA DE
1.ª CLASSE
A segunda ocorrência a
merecer a atribuição de uma condecoração (a segunda a título póstumo) a um
elemento dos «Serviços de Saúde» do Exército aconteceu durante a «Operação
Adónis B-3», realizada na região do Morés (ver mapa abaixo).
► Histórico
▬ Portaria de 05 de
Maio de 1964:
“Manda
o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Exército, condecorar com a
Cruz de Guerra de 1.ª Classe, ao abrigo dos artigos 9.º e 10.º do Regulamento
da Medalha Militar, de 28 de Maio de 1946, por serviços prestados em acções de
combate na Província da Guiné Portuguesa: A título póstumo, Primeiro-Cabo
auxiliar de enfermeiro, Adozindo Carvalho de Brito, n.º 1826/62, da Companhia
de Cavalaria 489 [CCAV 489] – Batalhão de Cavalaria 490, Regimento de Cavalaria
n.º 3.”
●
Transcrição do louvor que originou a condecoração:
legais, o seguinte louvor, conferido a título póstumo, em Ordem de Serviço n.º 24, de 29 de Dezembro de 1963, do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné Portuguesa, ao Primeiro-Cabo, auxiliar de enfermeiro, Adozindo Carvalho de Brito, n.º 1826/62, da Companhia de Cavalaria 489 [CCAV 489] – Batalhão de Cavalaria 490, Regimento de Cavalaria n.º 3:
Porque
numa acção de fogo na região de Morés [«Operação Adónis B-3», em 02/03Nov63], na
qual tomou parte o Grupo de Combate a que pertencia, abnegadamente se dirigiu à
frente, debaixo de intenso fogo inimigo, a fim de fazer curativos a um seu
camarada ferido, o que executou com prontidão, desprezo pelo perigo e risco da
sua própria vida, após o que foi por sua vez gravemente atingido por ferimentos
que lhe vieram a causar a morte.
A
par da sua grande coragem, manteve até ao fim elevado moral e espírito de
sacrifício, tendo desta forma honrado da melhor maneira a Companhia de
Cavalaria a que pertenceu [CCAV 489], cujo pessoal, oficiais, sargentos e
praças, jamais poderão esquecer o dignificante exemplo dado por este
Primeiro-Cabo auxiliar de enfermeiro, em circunstâncias tão difíceis.” (CECA; 5.º
Vol., Tomo II, p 331).
◙►
CONTEXTUALIZAÇÃO DA OCORRÊNCIA
unidades de quadrícula (CCAV’s 487, 488 e 489), ficaram inicialmente instaladas na Capital, como forças de intervenção. A partir de 02Ago63, duas dessas subunidades passaram a actuar intensivamente na região do Óio-Morés e Mansoa, como reforço do BCAÇ 512 [22Jul63-12Ago65, do TCor Inf António Emílio Pereira de Figueiredo Cardoso].
É
neste âmbito que tem lugar a «Operação Adónis B-3», cuja missão seria a entrada
no acampamento IN (base) de Morés.
Assim,
em 02 de Novembro de 1963, sábado, a CCAV 489 iniciou esta acção militar sob o
comando do Cap Cav António Ferreira Cabral Pais do Amaral, que contou ainda com
a participação do Cmdt do BCAÇ 490, TCor Cav Fernando José Pereira Marques
Cavaleiro (1917-2012).
armado com uma PM [pistola-metralhadora], que se prontificou a colaborar para o cumprimento da missão de chegar ao Morés. O outro guerrilheiro ferido em fuga foi avistado, mas a uma distância que não foi possível tentar a sua perseguição.
Na
progressão foram encontradas várias munições e carregadores. Debaixo de fogo
intermitente, eram 08h30 quando as tropas penetraram na “Tabanca de Morés”. Aí
foi encontrado um casal idoso, ele acamado e a mulher ao lado. As informações
obtidas naquele momento confirmaram as anteriormente recolhidas. O acampamento
situava-se junto ao caminho que de Morés conduzia a Talicó [ver infografia
acima], a meio de duas bolanhas. Eram 10h00 quando um “heli” recolheu o
guerrilheiro ferido. Uma hora depois chegou, também de “heli”, o
Comandante-Chefe, Brigadeiro Fernando Louro de Sousa. Na presença do Cmdt-Chefe,
e pelas mãos de elementos da CCAV 489, foi hasteada a Bandeira Portuguesa no
Morés (Imagem - CECA; 6.º Vol., Tomo II, p 122).
Depois,
com a prisioneira (Mala Seidi) como guia, as tropas continuaram a progredir em
direcção à “casa de mato” que se pensava ser o “Quartel-General” dos grupos
que, desde Julho’63, vinham desencadeando acções contra a tropa e a população.
Os guerrilheiros aguardavam-nas pacientemente. Atacadas pelos flancos, as NT reagiram
com tiros de bazuca trazendo acalmia momentânea. A cada passo reacendia-se a
refrega. Momentos houve, que o relatório da operação minuciosamente descreve,
em que quase se combateu tiro a tiro, individualmente.
As
nossas tropas tinham feridos e corpos de guerrilheiros espalhavam-se pela mata.
O 1.º Cabo enfermeiro, Adozindo Carvalho de Brito, foi atingido quando estava a
socorrer um soldado ferido. Os alf mil Rui Noronha Ferreira e fur mil António
Covas transportaram para a rectaguarda um dos feridos mais graves. Foram 45
minutos de “inferno de fogo e sangue”, até que chegaram os «T-6», de acordo com
o pedido feito de intervenção sobre as zonas das casas de mato, que
metralharam.
Às
16h00, o Morés é atingido, ao mesmo tempo que começaram a chegar os “hélis”
para procederem à evacuação dos feridos mais graves, um dos quais o 1.º Cabo
enfermeiro, Carvalho de Brito, e que, lamentavelmente, foi o único que não
resistiu aos ferimentos recebidos.
O
TCor Fernando Cavaleiro decidiu que se devia permanecer em Morés até ao dia
seguinte. Escolheram-se os locais para as sentinelas, limparam-se alguns
arbustos e improvisaram-se abrigos. Às 19h00 recomeçou o tiroteio, interrompido
pela reacção das NT e recomeçando às 22h00. Elementos IN, ao abrigo da
escuridão, aproximaram-se do improvisado aquartelamento e arremessaram granadas
de mão. Às 01h, 02h e 03h00 os ataques foram feitos com mais força e as
flagelações vinham de vários lados… numa longa noite de muitas “memórias”. (…)
●
Fonte: P3329-LG (adap.): “Breve resumo da História do BCAV 490” (Virgínio
Briote).
Ø Outras
consultas sugeridas: P19993-LG e P20013-LG.
3.1.1
- SUBSÍDIO HISTÓRICO DA COMPANHIA DE CAVALARIA 489
= MANSABÁ - ILHA DO COMO - CUNTIMA -
BULA - BISSAU (1963-1965)
Mobilizada
pelo Regimento de Cavalaria 3 [RC3], de Estremoz, a Companhia de Cavalaria 489
[CCAV 489] embarcou em Lisboa, a 17 de Julho de 1963, 4.ª feira, a bordo do N/M
«Niassa», sob o comando do Capitão de Cavalaria António Ferreira Cabral Pais do
Amaral, rumo à Guiné (Bissau), onde chegou a 22 de Julho.
3.1.2
- SÍNTESES DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CCAV 489
Após
a sua chegada a Bissau, a CCAV 489 e o restante contingente do seu BCAV 490,
ficaram provisoriamente instaladas na capital como forças de intervenção.
Durante cinco meses, de 02Ago63 a 27Dez63, esteve instalada em Mansabá, onde na
função de força de intervenção reforçou o BCAÇ 512, tendo participado em
diversas operações na região do Óio, nomeadamente nas zonas de Mansabá, Bissorã
e Morés. Neste intervalo de tempo, ainda cumpriu outra missão, tendo sido
atribuída temporariamente ao BCAÇ 236 [23Jul61-19Out63, do TCor Inf José Alves
Moreira], e depois ao BCAÇ 600 [18Out63-20Ago65, do TCor Inf Manuel Maria
Castel Branco Vieira], para colaborar na segurança e protecção das instalações da
área de Bissau, de 03Set63 a 21Out63, a fim de colmatar a saída da CCAÇ 154
[21Jun61-03Set63, do Cap Inf Fernando Barroso de Moura].
Integrada
nas forças do seu Batalhão envolvidas na «Operação Tridente», que decorreu nas
Ilhas de Como, Caiar e Catungo, durante o primeiro trimestre de 1964,
contabilizou um novo deslocamento até Sitató, desta vez em conjunto com a
“irmã” CCAV 488 [do Cap Cav Fernando Manuel Lopes Ferreira (1.º); Cap Cav Manuel
Correia Arrabaça (2.º) e Ten Cav Lourenço de Carvalho Fernandes Tomás (3.º)],
instalando-se em Cuntima em 31Mai64, onde substituiu forças da CCAÇ 461
[20Jul63-07Ago65; do Cap Mil Inf Joaquim Lourenço da Rocha e Santos (1.º) e Cap
Inf Joaquim de Jesus das Neves (2.º)] e da 1.ª CCAÇ, assumindo a
responsabilidade do respectivo subsector, então criado e ficando integrada no
dispositivo e manobra do seu Batalhão.
Em
06Jun65, foi rendida pela CART 732 [14Out64-07Ago66; do Cap Art Guy Stélio
Pereira de Magalhães], tendo recolhido seguidamente a Bissau com o seu Batalhão
e onde se manteve até ao seu embarque de regresso, verificado em 12 de Agosto
de 1965. Entretanto, a partir de 13Jun65, dois dos seus Grs Comb estiveram
temporariamente deslocados em Bula, em reforço do BCAV 790 [28Abr65-08Fev67; do
TCor Cav Henrique Alves Calado], por períodos de 10 a 15 dias, com vista à
realização de patrulhamentos e contactos com as populações da região de S. Vicente.
Foto 6 –
Elementos da CCAÇ 489 (1963-1965), na curva da picada para Jumbembem - P14827-LG,
com a devida vénia.
Continua…
►
Fontes consultadas:
Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o
Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das
Campanhas de África; 5.º Volume; Condecorações Militares Atribuídas; Tomo II;
Cruz de Guerra, 1962-1965; Lisboa (1991).
Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o
Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das
Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª
edição, Lisboa (2002).
Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o
Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das
Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1;
1.ª edição, Lisboa (2001).
Ø Outras: as referidas em cada caso.
Termino agradecendo a atenção
dispensada.
Com um forte abraço de amizade e votos de
muita saúde em 2021.
Jorge Araújo.
12MAI2021
1 comentário:
Camarada Sousa de Castro,
Obrigado pelo teu trabalho de fixação do texto.
Vou enviar a Parte II.
Bom fim-de-semana e muita saúde.
Um abraço, Jorge Araújo.
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