Da autoria dum jovem de 63 anos
(isso mesmo!)...
«Geração à rasca foi a minha. Foi uma
geração que viveu num país vazio de gente por causa da emigração e da
guerra colonial, onde era proibido ser diferente ou pensar que todos
deveriam ter acesso à saúde, ao ensino e à segurança social.
Uma Geração de opiniões censuradas a lápis azul. De mulheres com poucos
direitos, mas de homens cheios deles. De grávidas sem assistência e de
crianças analfabetas. A mortalidade infantil era de 44,9%. Hoje é de 3,6%.
Que viveu numa terra em que o casamento era para toda a vida, o divórcio
proibido, as uniões de facto eram pecado e filhos sem casar uma desonra.
Hoje, o conceito de família mudou. Há casados, recasados, em
união de facto, casais homossexuais, monoparentais, sem filhos por opção,
mães solteiras porque sim, pais biológicos, etc.
A mulher era, perante a lei, inferior. A sociedade subjugava-a ao marido, o
chefe de família, que tinha o direito de não autorizar a sua saída do país
e que podia, sem permissão, ler-lhe a correspondência.
Os televisores daquele tempo eram a preto e branco, uns autênticos
caixotes, em que se colocava um filtro colorido, no sentido de obter
melhores imagens, mas apenas se conseguia transformar os locutores em
"Zombies" desfocados.
Hoje, existem plasmas, LCD ou Tv com LEDs, que custam uma pipa
de massa.
Na rádio ouviam-se apenas 3 estações, a oficial Emissora
Nacional, a católica Rádio Renascença e o inovador Rádio Clube Português.
Não tínhamos os Gato Fedorento, só ouvíamos Os Parodiantes de Lisboa, os
humoristas da época.
Havia serões para trabalhadores todos os sábados, na Emissora
Nacional, agora há o Toni Carreira e o filho que enchem pavilhões quase
todos os meses. A Lady Gaga vem cantar a Portugal e o Pavilhão Atlântico
fica a abarrotar. Os U2, deram um concerto em Coimbra em 2010, e UM ANO
antes os bilhetes esgotaram.
As Docas eram para estivadores, e o Cais do Sodré para marujos. Hoje são
para o JET 7, que consome diariamente grandes quantidades de bebidas, e não
só...
O Bairro Alto, era para a malta ir às meninas, e para os
boémios. Éramos a geração das tascas, do vinho tinto, das casas do fado e
das boites de fama duvidosa. Discotecas eram lojas que vendiam discos, como
a Valentim de Carvalho, a Vadeca ou a Sasseti.
As Redes Sociais chamavam-se Aerogramas, cartas que na nossa juventude
enviávamos lá da guerra aos pais, noivas, namoradas, madrinhas de guerra,
ou amigos que estavam por cá.
Agora vivem na Internet, da socialização do Facebook, de SMS e
E-Mails cheios de "k" e vazios de conteúdo.
As viagens Low-Cost na nossa Geração eram feitas em Fiat 600, ou então nas
viagens para as antigas colónias para combater o "inimigo".
Quem não se lembra dos celebres Niassa, do Timor, do Quanza, do Índia entre
outros, tenebrosos navios em que, quando embarcávamos, só tínhamos uma certeza... ...a viagem de ida.
Quer a viagem fosse para Angola, Moçambique ou Guiné, esses
eram os nossos cruzeiros.
Ginásios? Só nas coletividades. Os SPAS chamavam-se Termas e
só serviam doentes.
Coca-Cola e Pepsi, eram proibidas, o "Botas", como
era conhecido o Salazar, não nos deixava beber esses líquidos. Bebíamos,
laranjada, gasosa e pirolito.
Recordo que na minha geração o País, tal como as fotografias, era a preto e
branco.
A minha geração sim, viveu à rasca. Quantas vezes o meu almoço
era uma peça de fruta (quando havia), e a sopa que davam na escola. E, ao
jantar, uma lata de conserva com umas batatas cozidas, dava para 5 pessoas.
Na escola, quando terminei o 7ºano do Liceu, recebi um beijo
dos meus pais, o que me agradou imenso, pois não tinham mais nada para me
dar. Hoje vão comemorar os fins dos cursos, para fora do país, em grupos
organizados, para comemorar, tudo pago pelos paizinhos.
Têm brutos carros, Ipad's, Iphones, PC's, .... E tudo em
quantidade. Pago pela geração que hoje tem a culpa de tudo!!!
Tiram cursos só para ter diploma. Só querem trabalhar
começando por cima.
Afinal qual é a geração à rasca...???
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