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sexta-feira, 22 de agosto de 2014

P213 - HISTÓRICO DOS ENCONTROS ANUAIS DA CART 3494 - PARTE III (Jorge Araújo)

Caríssimo Camarada Sousa de Castro
Os meus melhores cumprimentos.
Cumprindo o objectivo expresso na formulação do presente projecto temático, serve o presente para juntar a terceira parte do Histórico dos Encontros Anuais da nossa Companhia, esta referente aos anos de 1995 [10.º] a 2001 [16.º].
Tal como referi anteriormente, trata-se de uma resenha que considero curta, uma vez que para a sua elaboração apenas foram consideradas as informações documentais que disponho e que, por esse facto, ficam amputadas de outras quiçá mais importantes. No entanto, estes textos podem [sempre] receber novos contributos de quem tiver mais elementos que julgue importante partilhar, uma vez que cada um de nós sabe coisas diferentes e relevantes. Basta passá-los ao papel e divulgá-los na nossa rede de contactos.  
Ficamos aguardando por outros detalhes e novas fotos.
Um forte abraço e muita saúde.
Jorge Araújo.
18Ago2014.


GUINÉ
Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494
(Xime-Mansambo, 1972/1974)
HISTÓRICO DOS ENCONTROS/CONVÍVIOS DA CART 3494
(XIME-MANSAMBO)
- Do mais recente ao mais antigo – Parte III -  
IINTRODUÇÃO
Nas duas anteriores narrativas sobre este tema, estruturadas por grupos de sete anos [edições], procurámos descrever os antecedentes históricos relacionados com o processo de reorganização das/dos tropas da CART 3494 [BART 3873] no período subsequente à sua chegada a Lisboa, em Abril’1974, depois de concluída a sua missão ultramarina no CTIGuiné [Vd. P207 + P208]. Decorridos doze anos após aquela data [1986], concretizou-se o tão ansiado reencontro, ainda que com reduzida participação, servindo este de recompensa ao esforço despendido pelo grupo de pioneiros que porfiaram por esse momento e que, justamente, outros lhe deram continuidade.
Desde então, cada Encontro Anual dá lugar a uma efeméride que, por sua vez, serve de pretexto para recordar outras efemérides gravadas nos nossos diários como factos mais ou menos relevantes, relembrando e/ou recuperando ocorrências do dia-a-dia de tempos distantes, que não se repetem, e de lugares onde, há mais de quarenta anos, aprendemos a percorrer em comum itinerários impregnados de mistério e incertezas determinados por esse contexto, e que acabaram por fazer parte de uma etapa, bem musculada, dos nossos projectos de vida.
 Recordamos que o 1.º almoço/convívio dos militares ex-combatentes da CART 3494 foi realizado em 14/JUNHO/1986, em Aver-o-Mar [Póvoa de Varzim], e que acabaria por ser o embrião daquele que, desde então, se transformou num hábito ou tradição – o Encontro Anual – a ter lugar em várias localidades do País.
IIOS ENCONTROS MAIS RECENTES
- DO 29.º [2014] AO 17.º [2002]
Os Encontros Anuais já referidos anteriormente, num total de treze, foram os seguintes: «XXIX» [São Pedro de Moel (Marinha Grande), em 7Jun2014]; «XXVIII» [Sobrosa/Paredes (Felgueiras), em 15Jun2013]; «XXVII» [Barreiras (Ponte de Sor), em 9Jun2012]; «XXVI» [Seia, em 11Jun2011]; «XXV» [Lordelo (Guimarães), em 12Jun2010]; «XXIV» [Santa Catarina (Vagos), em 13Jun2009]; «XXIII» [Costa da Caparica (Almada), em 7Jun2008]; «XXII» [Telões (Amarante), em 9Jun2007]; «XXI» [RAP 2 (Vila Nova de Gaia), em 10Jun2006]; «XX» [Pataias (Alcobaça), em 11Jun2005]; «XIX» [Santa Catarina (Vagos), em 5Jun2004]; «XVIII» [Vila Fria (Viana do Castelo), em 7Jun2003] e «XVII» [Miramar (Espinho), em 8Jun2002].
Os organizadores, em processo individual ou em equipa, escolheram locais [Freguesias/Concelhos] de oito Distritos, conforme se indica abaixo.
Em função da opção metodológica seleccionada [das referências mais recentes às mais antigas] esta terceira narrativa iniciar-se-á pelo Encontro de 2001 [16.º] para o mais antigo, que neste caso será o de 1995 [10.º], em conformidade com a sequência apresentada no quadro abaixo.
Este procedimento continuará a ser seguido nos próximos resumos.


IIIHISTÓRICO DOS ENCONTROS (continuação)
- DO 16.º [2001] AO 10.º [1995]

A Comissão Organizadora deste Encontro foi a mesma da edição do ano anterior realizada em 10Jun2000, em Fátima, sendo constituída por um trio de camaradas: o Adelino A. Pereira [ex-1.ºC.; de Joane, Vila Nova de Famalicão], o Lúcio D. Monteiro Silva (Vizela) [ex-1.ºC.; de Moreira de Cónegos, Guimarães] e o Francisco F. Inocêncio (Taipas) [ex-Sold. Cond.; de Briteiros, Guimarães]. Esta reunião teve a particularidade de se ter comemorado uma efeméride – os trinta anos do ingresso na vida militar (1971-2001).
Os organizadores referiram, na sua mensagem expressa no programa, o seguinte:
A organização do XVI convívio da CART 3494 convida todos os colegas e familiares a participar em mais um convívio, que irá ser realizado na Penha, Guimarães, no Restaurante Dan José. A concentração é pelas 10 horas, do dia 9 de Junho, em frente ao Estádio D. Afonso Henriques [inaugurado em 1965], em Guimarães, seguindo a caravana pelas 12 horas em direcção à Penha.
- Foto de Família -
Aguarda-se envio de quem possua uma foto de família deste Encontro, particularmente dos seus organizadores, realizado na sala da imagem supra. 

A Comissão Organizadora deste Encontro foi nomeada em 29Maio1999, em Montargil (Ponte Sor), sendo constituída por três camaradas, a saber: Adelino A. Pereira [ex-1.ºC.; de Joane, Vila Nova de Famalicão], Lúcio D. Monteiro Silva (Vizela) [ex-1.ºC.; de Moreira de Cónegos, Guimarães] e Francisco F. Inocêncio (Taipas) [ex-Sold. Condutor; de Briteiros, Guimarães].
Como data para a sua realização foi escolhido o dia 11 de Junho, domingo.
- Foto de Família -
Não houve reportagem fotográfica, a não ser que alguém o tenha feito de forma individual. Aguarda-se imagem… e algo mais.
A Comissão Organizadora deste Encontro foi nomeada a 30Maio1998, em Buarcos (Figueira da Foz), sendo essa responsabilidade assumida pelo camarada António Espadinha Carda [ex-Fur. Art.; da Ponte de Sor]. Este convívio teve a particularidade de nele se terem comemorado os vinte e cinco anos da nossa chegada à Metrópole [1974-1999].
Como data para a sua realização foi escolhido o dia 29 de Maio, sábado.
- Fotos de Família -




 
 
A Comissão Organizadora deste Encontro foi nomeada a 24Maio1997, no Hotel da Costa da Caparica (Almada), sendo constituída por uma dupla de camaradas, a saber: Carlos S. Simões [ex-1.ºSargento Art.; de Carapinheira, Montemor-o-Velho] e António S. Bonito [ex-Fur. Art.; de Santana, Figueira da Foz].
Para a sua realização foi escolhida a localidade de Buarcos, uma Freguesia do Município da Figueira da Foz, Distrito de Coimbra, e o dia 30 de Maio, sábado, como data do almoço/convívio a ter lugar no Restaurante «O Teimoso», situado a três quilómetros do Cabo Mondego e do seu respectivo Farol [o 2.º], cujas obras decorreram entre 1917 e 1922. Como curiosidade, o 2.º Farol foi automatizado em 1988 com a instalação de um novo sinal sonoro e mecanismos redundantes para a rotação e substituição de lâmpadas. A instalação dos repetidores dos alarmes do equipamento do Farol só viria a ser concretizada em 1995 [faroisdeportugal.com].
Em relação ao Encontro, este teve a particularidade de nele ter sido apresentado um vídeo sobre a Guiné, realizado pelos camaradas Acácio Correia, José Peixoto, Lúcio Silva e Domingos Machado, na sequência da visita que aí fizeram no início desse ano de 1998 [ver foto de família, pois estão devidamente identificados com vestes tradicionais de cor branca].
De regresso ao que foram as suas memórias da guerra ultramarina ocorrida naquele T.O., entre 1972/1974, o documentário permitiu-nos estabelecer contrastes, uma vez que estavam já decorridas duas décadas e meia, com particular incidência na geografia, instalações e equipamento militar fixo das NT, e revisitar locais míticos, de elevado significado individual e/ou colectivo, factos gravados, alguns com sangue, suor e lágrimas, na historiografia do contingente da CART 3494, como são os casos do Xime, Ponta Coli, Rio Geba, Nhabijões, Amedalai, Ponte do Rio Udunduma, Enxalé, Bambadinca, Mansambo, Xitole, Saltinho, Bafatá, Nova Lamego, Bissau, entre outros [Vd. postes referenciados nas diferentes etiquetas deste blogue].

- Foto de Família -
 


A Comissão Organizadora deste Encontro, de um só elemento, foi nomeada a 9Jun1996, em Pinhanços (Seia), cabendo essa responsabilidade ao camarada Jorge A. Araújo [ex-Fur. Op.Esp./Ranger; de Lisboa]. Esta Reunião/Convívio, agendada para o dia 24 de Maio, sábado, teve a particularidade de ser a primeira vez que o colectivo da CART 3494 se deslocou para a zona da Grande Lisboa, da qual faz parte a Cidade de Almada, situada na margem esquerda do Rio Tejo.  
Para a sua realização foi escolhida a localidade de Costa da Caparica, uma Freguesia do Município de Almada, e o local do repasto decorreu no Restaurante Panorâmico [8.º andar], do Hotel da Costa da Caparica, onde foi servido o buffet.
A propósito da divulgação do evento e respectivo convite, foi remetida uma circular a todos os camaradas Fantasmas do Xime, referindo o seguinte:
Caro Amigo,
Longe vão já os anos em que vivemos, por circunstâncias que todos nós conhecemos, cerca de três dezenas de meses da nossa história (cada Ser é uma história) sob o efeito da interacção de um conjunto de factores psicológicos adversos, nomeadamente a angustia, a incerteza e a solidão.
Privados das famílias nucleares e dos amigos, dos hábitos e dos costumes que constituíam a nossa prática social e cultural neste “país à beira-mar plantado” (como nos diz o poeta), rumámos até África (Guiné) onde conhecemos outras coisas, tais como: ‘palhotas’ e ‘tabancas’, ‘beijudas’ e ‘homens grandes’; ‘bolanhas’, ‘macaréus’ e ‘crocodilos’; ‘fulas’, ‘balantas’, ‘manjacos’, ‘papéis’…; tendo saboreado, durante o tempo de estada, a peitoral ‘dobrada à Xime’, ‘estilhaços com arroz e esparguete’, ‘macaco cão’, ‘pelicano’, ‘gazela’ e ‘vaca pranha’, ….
Certamente, mesmo passado este tempo, tudo está ainda gravado na nossa memória, bem como os batimentos cardíacos alterados ao som das inesquecíveis ‘costureirinhas’ e ‘canhoadas’.
A dor moral de então, de um tempo quase infinito, em que cada um soube passar melhor ou pior, deu lugar ao aprofundamento de uma nova relação, tipo familiar, que todos desejam perpetuar. Assim, e porque o Homem é um animal de ritos e celebrações, pois não só gosta de marcar as datas que lhe parecem importantes, como, inclusivamente, não pode deixar de o fazer, tem esta missiva o objectivo de te informar de que sou o responsável pela organização do “CONVÍVIO” deste ano, em XII edição, responsabilidade assumida o ano transacto em Nogueira de Cravo.
O Almoço terá lugar no próximo dia 24MAI1997, no Hotel Costa da Caparica, sito na Costa da Caparica (Almada), como aliás foi já divulgado no cartão de Boas Festas.
A participação é aberta, naturalmente, aos cônjuges e filhos. Oportunamente darei mais informações úteis, entre elas a realização de um concurso que dará direito a um fim-de-semana, para duas pessoas, no sobredito Hotel. Cumprimentos. JA.
- Foto de Família -
A Comissão Organizadora deste Encontro, de um só elemento, foi nomeada a 10Jun1995 no almoço/convívio realizado em Barco do Porto (Viana do Castelo), sendo essa responsabilidade assumida pelo camarada José E. S. Vicente [ex-Sold. Trms; de Nogueira do Cravo, Oliveira do Hospital]. Para a sua realização foi escolhida a localidade de Pinhanços, uma Freguesia do Município de Seia, Distrito da Guarda, e reservado o dia 9 de Junho, domingo, para a confraternização anual. Entretanto, foi escolhido o serviço gastronómico do Restaurante Manjar da Serra da Estrela, sito na mesma localidade.
- Fotos de Família -

A Comissão Organizadora deste Encontro foi nomeada a 10Jun1994, em Pateira de Fermentelos (Águeda), sendo constituída por uma dupla de camaradas: o A. Sousa Castro [ex-1.ºC. Radiotelegrafista; de Viana do Castelo] e o João D. Machado [ex-1.ºC. Cozinheiro; da Póvoa de Varzim].
Para a sua realização foi escolhida a Quinta de São Miguel, sita no Barco do Porto, um lugar da Freguesia de Serreleis, pertença do Município de Viana do Castelo, e o dia 10 de Junho, sábado, como data do 10.º almoço/convívio.
Como curiosidade, a Freguesia de Serreleis ficou na história dos referendos em Portugal, uma vez que foi aí que teve lugar a realização do primeiro para resolver um diferendo entre o executivo da Junta de Freguesia, da época, e o Pároco da Igreja local. O acto decorreu em 25ABR1999, e o referendo tinha por objectivo definir o local da construção de um ringue polidesportivo. Os fundamentos em presença tinham a ver com o seguinte: A Junta queria o equipamento nas traseiras do Salão Paroquial, perto da Igreja, mas o Pároco não concordava, alegando que poderia perturbar o normal funcionamento dos actos de culto. A população afluiu em massa às urnas, tendo votado 726 dos 947 eleitores então inscritos na Freguesia, o que deu uma taxa de abstenção de apenas 23,33%. Por 15 votos de diferença, venceu a tese do Pároco, e o polidesportivo acabou por ser construído a 50 metros do local da discórdia, tendo sido inaugurado a 25ABR2005.
Entretanto, a concentração deste 10.º Encontro anual teve lugar no Mosteiro de Santa Luzia, realizando-se a confraternização no Restaurante-Marisqueira «Barco do Porto», na Quinta de São Miguel, como acima foi referido.
Pela primeira vez na história dos Encontros, a organização tomou a iniciativa de formalizar o convite/programa através de um comunicado, com o seguinte teor:
Vila Fria, 95/04/15.
Chegados ao 10.º convívio da CART 3494, que terá lugar no dia 10 de Junho de 1995, em Viana do Castelo, vimos convidar-te a estar presente juntamente com os teus familiares, para assim podermos, uma vez por ano, conviver, recordar tempos passados e também apreciar como se encontra cada um de nós, depois de ter passado vinte e um anos da nossa chegada.
Não pretendemos ser saudosistas da guerra em que participámos, mas há sempre algo que nos une, laços de amizade que nos obriga a recordar esses tempos, porque, como deves compreender, para além de tudo o que passámos também tivemos momentos de algum prazer. Para aqueles que virão pela primeira vez, dizemos-te que viverão momentos inesquecíveis.
Para os que estiveram presentes no 9.º convívio em Fermentelos, conjuntamente com o BART 3873 (em termos de experiência) ficou decidido que realizaríamos o encontro neste ano (1995) independentes, tal como tem acontecido em anos anteriores. Foi uma experiência que não agradou à maioria da CART 3494. Estamos mesmo convencidos de que houve pessoas da CART 3494 que não se representaram precisamente por ser conjuntamente com o BART 3873.
Devemos dizer também, que isto não nos impede de participar nos encontros organizados pelo Batalhão, se for essa a vontade de cada um. Simplesmente, teremos de lembrar o que foi deliberado pela maioria dos presentes no Encontro de 10 de Junho de 1994; continuar a fazer os convívios separadamente. Essa tese terá/teremos de respeitar.
Apelamos para que não faltes a mais um convívio de fraternidade e amizade. Com elevada estima e consideração, subscrevemo-nos.
- Fotos de Família -






IVHISTÓRICO DOS ENCONTROS/CONVÍVIOS DA CART 3494
- DO 9.º [1994] AO 5.º [1990]
No quadro seguinte identificam-se mais sete Encontros/Convívios organizados cronologicamente entre os anos de 1994 e 1990. Estes, no seu conjunto, correspondem ao conteúdo a abordar em nova narrativa histórica a publicar proximamente – Parte IV – sobre este tema.

Tal como referimos anteriormente, os camaradas que estiveram envolvidos na organização de algum deles, e que tenham fotos ainda não divulgadas neste blogue, façam o favor de as enviar por correio electrónico.
Obrigado pela atenção.
Fico a aguardar as V. notícias.
Um forte abraço e votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
18Ago2014.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

P212 - In Memoriam: Desencarnou mais um ex. combatente que calcorreou o Xime, Manuel Vieira Moreira, ex. 1º cabo mec auto, CART 1746

Manuel Vieira Moreira - 1945/2014

1) Aos 13 de Agosto de 2014, faleceu subitamente, em sua casa em S. Martinho

Manuel V. Moreira 1967
- Aguada de Cima o ex. 1º cabo mec auto da CART 1746, serviu o estado Português na Guiné (Bissorá, Xime e Ponta do Inglês, 1967/69.
A CART 1746, embarcou em 20JUL67 e regressou em 13JUN69.

2) Em meu nome pessoal e de todos ex. combatentes da CART 3494, apresentamos à família enlutada o nosso voto de pesar e sentidas condolências.

3) Este camarada e amigo encontrou-me no Blogue: "Luís Graça & Camaradas da Guiné" no ano de 2009, manifestou de imediato interesse em conhecer um camarada que como ele também calcorreou o Xime, trocamos vários e-mails, falamos telefonicamente e conhece-mo-nos pessoalmente em Monte Real no dia 21ABR2012 no VII encontro da Tabanca Grande. 
Era um homem muito dado ás letras de fado, tinha gosto pela quadra popular, era autor entre outras da "Canção da Fome" 
Tratava-o por "avozinho do xime"



CANÇÃO DA FOME 

Estamos num destacamento,
A favor de sol e vento,
Na Ponta do Inglês .
Não julguem que é enorme
Mas passamos muita fome,
Aos poucos de cada vez.

A melhor refeição
Que nos aquece o coração,
É de manhã o café;
Pão nunca comi pior
Nem café com mau sabor
Na Província da GUINÉ.

Ao almoço atum a rir
E um pouco de piri-piri,
Misturado com Bianda,
E sardinha p´ró jantar
E uma pinga acompanhar
Sempre com a velha manga.

Falando agora na luz
Que de noite nos conduz
As vistas par' ó capim:
Se o gasóleo não vem depressa,
Temos Turras à cabeça,
Não sei que será de mim.

Quando o nosso coração bole,
Passamos tardes ao Sol
Junto ao Rio, a esperar
De cerveja p'ra beber
E batatas p'ra comer
Que na lancha hão-de chegar.

A fome que aqui se passa
Não é bem p'ra nossa raça,
Isto não é brincadeira
E com isto eu termino
E desde já me assino


Vd. Poste: CART 1746 Bissorá, Ponta do Inglês e Xime 1967/69

(Convívios) CART 3494 de peso e em peso no VII encontro nacional da "Tabanca Grande" (blogue Luís Graça & camaradas da Guiné), 21ABR2012

sábado, 9 de agosto de 2014

P211 - RELEMBRANDO O RIO GEBA E O MACARÉU - O NAUFRÁGIO DE 10AGO1972 E FACTOS ASSOCIADOS - (Por: Jorge Araújo)

Caríssimo Camarada Sousa de Castro

Os meus melhores cumprimentos.
O Naufrágio no Rio Geba ocorrido no dia 10AGO1972, independentemente de estar a uma distância de quarenta e dois anos – faz hoje – foi, é e continuará a ser um tema sensível no contexto dos ex-combatentes da CART 3494, do BART 3873, por ter provocado, de forma perfeitamente estúpida, o desaparecimento de três dos seus membros por afogamento.

Por esse facto, e porque estivemos envolvidos nessa experiência de forma intensa, em que durante alguns minutos vivemos entre a água e o céu, entre a terra e o inferno, entre a vida e a morte, como referimos na introdução, consideramos tarefa difícil fazer-se o seu luto, tão fortes foram as emoções e as tensões que ocasionaram.

Dito isto, não podia deixar de prestar, nesta data, mais uma singela homenagem aos camaradas naufragados, relembrando/recordando alguns detalhes desse evento, adicionando-lhe outros factos associados que merecem a nossa relevância social e histórica.

Obrigado.

Um forte abraço.

Jorge Araújo.

10Ago2014.


GUINÉ

Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494

(Xime-Mansambo, 1972/1974)

RELEMBRANDO O RIO GEBA E O MACARÉU

- O NAUFRÁGIO DE 10AGO1972 E FACTOS ASSOCIADOS -
I – O NAUFRÁGIO NO RIO GEBA – 10AGO1972
- Introdução

       Em 2012, faz hoje precisamente dois anos [Vd. P159], tomei a iniciativa de divulgar, na primeira pessoa, as ocorrências relacionadas com um acontecimento que marcou a vida colectiva dos ex-combatentes da CART 3494, em particular daqueles que directamente nele estiveram envolvidos – uma secção do 1.º GComb – e que ficou conhecido, na história da Companhia e do BART 3873, como o «Naufrágio no Rio Geba».
Como referi nesse testemunho histórico, durante alguns minutos vivemos entre a água e o céu, entre a terra e o inferno, entre a vida e a morte, sendo que este último conceito viria a aplicar-se, lamentavelmente, a três dos catorze militares que naquela 5.ª feira, 10AGO1972, faz hoje quarenta e dois anos, tinham por missão fazer a travessia entre as margens esquerda e direita do Rio Geba, por esta ordem, com o objectivo operacional de sinalizar eventuais vestígios deixados no terreno pelo IN (inimigo), vulgo reconhecimento à zona circunvolvente ao Destacamento de Mato Cão.
Relembramos, neste contexto, que a travessia do Rio Geba, a iniciar-se no Cais do Xime, sito a 250/300 metros do Aquartelamento da Companhia, seria feita com recurso a um bote de fibra de vidro conhecido por Sintex, com motor fora de bordo de 50 cavalos, sendo sugerido no protocolo de utilização, como elemento de segurança, que a sua lotação não deveria ultrapassar a dezena de indivíduos, incluindo o barqueiro. Contudo o universo de efectivos militares destacados para esta missão era constituído por nove praças devidamente equipados, por mim próprio, e ainda pelo CMDT da Companhia, o ex-Cap. Pereira da Costa, pelo ex-Alf. Sousa, em situação de Estágio Operacional e pelo ex-Major de Operações Henrique Jales Moreira [o mais graduado], bem como pelo barqueiro do Sintex. 
- O naufrágio [relembrando alguns detalhes] 
Com a navegação a cargo do barqueiro, como seria natural e normal, com o motor a desempenhar a sua função e com as águas muito agitadas por efeito do macaréu*,  cada um de nós não deixou de se interrogar quanto ao sucesso da «aventura» em que tínhamos embarcado e que, pouco tempo depois, deixou de ter hipóteses de retrocesso. 
O pânico subia à medida que a embarcação se aproximava da cabeça do macaréu, cada vez com mais agitação e remoinhos à mistura. Naquele momento, um novo conceito surgiu no léxico dos militares, particularmente nas praças, que traduzia o sentimento que estavam a viver… “eu não sei nadar”, no princípio entre-dentes e depois mais audíveis e expressivos. O cenário começava, então, a ficar cinzento, deslizando para uma cor cada vez mais escura, independentemente de estar um dia óptimo, cheio de sol e com a temperatura ambiente a aumentar.
Xime, "Macaréu" - Foto de David Guimarães da CART 2716 do BART 2917


          A pergunta filosófica que, certamente, cada um formulou para si, era a de saber como poderíamos sair daquele imbróglio, sãos e salvos? Entretanto, uma nova ordem foi dada, visando criar alguma réstia de esperança quanto à possibilidade e/ou às probabilidades de sobrevivência colectiva, apontando para uma “navegação o mais perto possível da margem esquerda”, ou seja, a mesma donde partíramos.
          Quando nos encontrávamos a cerca de quatro/cinco metros do tarrafo – zona de lodo ainda não submersa, e onde habitualmente a comunidade de crocodilos [alfaiates; conceito militar] se organizava em frisa apanhando os seus banhos de sol [imagem abaixo] e, eventualmente, observava as suas presas – eis que se escuta uma nova ordem: “haja um que salte para o tarrafo levando consigo as correntes do bote com o objectivo de o poder suster”.  
 
Olhando à minha volta, e perante a ausência de candidatos e/ou voluntários disponíveis para o cumprimento deste desiderato, eis que tomámos em mãos esse desafio. Porque a embarcação continuava instável face à movimentação das águas [imagem abaixo], o salto só poderia acontecer quando a distância entre o bote e a lodo fosse de molde a facilitar a operação proposta. Não sendo possível identificar o melhor momento para o salto, eis que no tempo «X» saltámos levando nas mãos a dita corrente já referida anteriormente. Durante o salto, feito de frente para o tarrafo, ouvimos, vindo da nossa rectaguarda, um ruído provocado pelo embate da proa do bote na parte mais alta do lodo, tendo como consequência a inclinação do mesmo projectando para a água todos os seus ocupantes. Primeiro os que se encontravam no lado esquerdo da embarcação e depois os do lado direito, por efeito do desequilíbrio provocado pela transferência de peso que então ocorrera [lei da física].
 De seguida, na água a luta era extremamente desigual entre o poder do Homem versus o poder da maré. Cada um dos militares, equipado e vestido com o seu camuflado que lhe dificultava a mobilidade no meio daquele líquido espesso e lodoso [imagem acima], procurava chegar a terra firme o mais rapidamente possível, pondo-se a salvo. E isso aconteceu a oito de um total de catorze elementos.
Dos seis em falta, três conseguiram entrar no bote: o barqueiro, o Miranda [1.º cabo de dilagramas] que, remando com a sacola das suas granadas, ajudou a recolher o ex-Major Jales Moreira em situação problemática. E os três seguiram ao sabor da corrente na direcção de Bambadinca, local onde estava sediado o Batalhão.

Os outros três elementos em falta eram: José Maria da Silva Sousa [de S. Tiago de Bougado, Trofa Velha (Santo Tirso)], Manuel Salgado Antunes [de Quimbres, São Silvestre (Coimbra)] [Vd. P180] e Abraão Moreira Rosa [da Póvoa de Varzim], que acabariam por desaparecer nas águas escuras e lodosas do Rio Geba, sem que existisse qualquer hipótese de salvamento [Vd. P159].

- A recuperação dos náufragos
A angústia e a ansiedade dominaram o resto deste dia e dos subsequentes, desenvolvendo-se a crença e/ou a expectativa dos corpos dos desaparecidos poderem ser recuperados. Porém, essa crença e/ou expectativa apenas se concretizou uma vez, lamentavelmente. Decorridas mais de trinta horas após o acidente foi localizado um corpo/cadáver junto ao Cais do Xime [imagem abaixo]; era o do José Maria da Silva Sousa [o Bazuqueiro]. O seu corpo estava desnudo e em processo de transformação, como é natural neste tipo de ocorrência. O seu comprimento aumentara substancialmente, ultrapassando largamente os dois metros, assim como o seu peso, agora com valores a rondar os cento e cinquenta quilos.

Durante mais alguns dias, todos os olhares estiveram direccionados para o Rio Geba, esperando que ele nos devolvesse os outros dois corpos, mas em vão.

Em 13AGO1972, domingo, procedemos à realização do funeral do camarada José Maria da Silva Sousa, numa tarde de autêntico dilúvio [estávamos na época das Chuvas] e com direito a Honras Militares, função desempenhada pelo 3.º GComb., ficando o seu corpo sepultado no Cemitério de Bambadinca, sede do BART 3873.
Campa do J. Sousa em Bambadinca do filme
             "A Dor Adormecida" exibido na RTP em 20 de Setembro de 2006
- Factos associados
Mesmo estando decorridos quarenta e dois anos da data desta lamentável ocorrência continuam a persistir dúvidas a nível de alguns Quadros de Comando do BART 3873,
Campa do: José M. S. Sousa
em Bambadinca
nomeadamente quanto aos dois náufragos não recuperados. Em nome da verdade dos factos, confirmo que só um dos três corpos foi recuperado pelo contingente da CART 3494, pelo que só uma das três campas existentes no Cemitério de Bambadinca se refere ao militar metropolitano: José Maria da Silva e Sousa, natural de Santiago do Bougado - Trofa Velha, conforme foto original, cedida pelo ex. 1º cabo condutor-auto Abílio Soares Rodrigues.
Quanto às outras duas (?!) campas que o ex-Major Jales Moreira me informou aí existirem, em contacto recente, é de admitir, como probabilidade credível, que se refiram a dois combatentes do PAIGC, mortos no dia 01DEC1972 na 2.ª emboscada na Ponta Coli [Vd. P152], ou seja, três meses e meio depois do naufrágio.
Ainda hoje se não entendem as motivações que influenciaram a decisão de omitir, na HISTÓRIA DO BART 3873, este acontecimento marcante para todos nós, dele fazendo-se “tábua rasa”, nomeadamente no seu 5.º fascículo referente às actividades/acções do mês de «Agosto-1972» [pp. 77/79; pontos 35/40]. O único apontamento que conhecemos está expresso no Capítulo III – Baixas, Punições, Louvores e Condecorações [pp. 145/165]. Na pg. 149; Agosto-72; 1.Baixas; pode-se ler na alínea d) “Por Outras Causas” [nome dos três camaradas naufragados] “todos da CART 3494, mortos por afogamento, no acidente do rio Geba, em 10AGO72”.
É inacreditável…, pois nunca houve justificação para tal.
IIHISTÓRIA DIVULGADA POR FAMILIAR DE UM NÁUFRAGO
- o caso do Manuel Salgado Antunes
No dia 25Mai2013 Miguel Ribeiro Antunes, sobrinho de Manuel Salgado Antunes, na sequência de ter lido neste blogue a narrativa sobre o Naufrágio no Rio Geba de 10AGO1972, onde se fazia referência, justamente, aos nomes dos três náufragos [sendo um deles o de seu tio], tomou a iniciativa de nos escrever dando conta do que sabia sobre este tema [Vd. P180].
Miguel Antunes
A residir na Suíça, onde é arquitecto, Miguel Antunes refere que nunca conheceu o seu tio, que era irmão de seu pai. Sobre este caso, afirma que a sua família nunca soube muito bem o que se passou. A sua avó morreu há dois anos [2011] e no último dia de vida perguntou-lhe o que é que eu “Manuel” [confundindo-o com o seu filho/tio] estava ali a fazer quando estivera tanto tempo sem aparecer. Para Miguel foi o seu maior desgosto por ver aquela mulher, que ele adorava, morrer sem nunca ter tido uma certeza nem um corpo para fazer um funeral. Mais estranho é o facto de no dia em que sua avó morreu, esteve um senhor na sua casa afirmando saber onde estavam os restos mortais do seu tio na Guiné, e caso estivessem interessados em tratar deste assunto, ele era um ex-combatente.

Naquele contexto de muito pesar, a sua mãe não fixou o nome do senhor ex-combatente, tendo apenas a ideia de tratar-se de alguém duma localidade perto de Quimbres, de nome Carapinheira.
Pelo exposto, acredita que é o primeiro familiar de Manuel Salgado Antunes a
Manuel Salgado Antunes
saber, verdadeiramente, a história de seu tio, solicitando, se possível, mais informações sobre este caso, pois mantem presente essa curiosidade, agora que estão passados tantos anos.
Ainda nesse mesmo dia, na sequência de ter recebido notícias do camarada Sousa de Castro, que agradeceu, acrescentou que este assunto sempre se falou em sua casa sem problemas, mas nunca se aprofundou muito. A incerteza quanto ao incidente era alguma, até porque outras pessoas da aldeia e arredores, ex-combatentes, contavam várias histórias diferentes e ao longo dos anos talvez a versão original se tenha dissipado.
Porque se encontra na Suíça, por ser mais um que teve de deixar o País, não pode enviar fotos do seu tio. Mas, quando vier de férias a Portugal, promete enviar algumas que tem e que estiveram escondidas durante anos, decisão tomada pelo seu pai para que a sua avó não vivesse agarrada a esse passado – histórias da vida.
Perante estes dois contactos carregados de angústia e emoção, e como resposta ao interesse demonstrado em saber algo mais, escrevi-lhe o seguinte:
Caro Miguel,
Antes de mais receba os meus melhores cumprimentos e um bem-haja pela iniciativa que tomou. Com efeito, foi uma boa notícia saber que um familiar do Manuel Antunes, a mais de dois mil quilómetros da sua terra natal, tomou conhecimento, mais de quarenta anos depois, dos factos reais relacionados com a morte de seu tio, assunto que durante todo este tempo esteve envolto em mistério, suscitando naturais dúvidas e incredulidade no seio da sua família.
Considero este seu contacto, por isso, uma recompensa à iniciativa de tornar pública essa ocorrência estúpida, como são todas aquelas que poderiam ser evitadas, e que fez com que o seu tio naufragasse naquele dia 10Ago1972, nas águas revoltas do Rio Geba, na Guiné, e de mais dois camaradas seus.
Reafirmo o que ficou expresso na minha narrativa: - os corpos dos nossos camaradas Manuel Antunes, seu tio, e o do Abraão Rosa, nunca apareceram pelo que não existem restos mortais recuperados. Daí ninguém poder afirmar que conhece as suas localizações, o que lamento e lamentam todos os ex-militares constituintes da CART 3494. Lamento, ainda, a falta de ética e moral como trataram este assunto junto dos seus familiares directos, ocultando a verdade dos factos, entretanto tornados públicos. Por via da existência deste nosso blogue, que é a expressão colectiva de todos quantos partilharam o mesmo contexto, pretendemos continuar a prestar um verdadeiro “serviço público”.
Uma vez que gostaria de voltar a este assunto, e porque certamente o Miguel já fez circular estas notícias por outros membros da sua família, muito grato ficaria se pudesse acrescentar algo mais ao que já referiu nos seus comentários, em particular a opinião de seu pai [a resposta ainda não chegou…]. J.A.
Porque este foi, é e continuará a ser um tema sensível no contexto da CART 3494, do BART 3873, os acontecimentos no Rio Geba [Xime-Bambadinca], no dia 10AGO1972, continuarão a ser relembrados/recordados… sempre, na medida em que é difícil fazer-se o seu luto.
Obrigado pela atenção.
Um grande abraço, muita saúde e boas férias.
Jorge Araújo.
10Ago2014.
*MacaréuSublevação brusca das águas, que se produz em certos estuários no momento da cheia e que progride rapidamente para as nascentes sob forma violenta, capaz de fazer estragos em pequenas embarcações.
PS: Gostaríamos que algum familiar ou amigos do nosso camarada ABRAÃO MOREIRA ROSA, natural da Póvoa de Varzim, desaparecido no fatídico acidente no rio Geba manifestasse a intenção de partilhar algo, como fotos por exemplo, ou o que achar relevante para enriquecimento da história da CART 3494.