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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

P144 - MSG de: Jorge Alves Araújo, ex Fur. Mil. Op. Esp./RANGER da CART 3494


MSG de Jorge Alves Araújo, ex. Fur. Mil. Op. Esp./Ranger da Cart 3494 com data de: 22FEV2012, fazendo a sua apresentação para entrada na Tabanca Grande "Luís Graça & camaradas da Guiné". 
Recordo, que para além de ter participado na maioria dos convívios da CART 3494, foi  responsável pela organização e realização do XII e XXIII convívio anual da CART 3494 que teve lugar no Hotel da Costa da Caparica (Costa da Caparica/Almada) no dia 27MAI1997 e  07JUN2008, respectivamente.

Actualmente, exerce actividade profissional a nível universitário, com uma prática docente de mais de duas décadas ligado ao ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), em Portimão, do Grupo Lusófona, onde, para além de leccionar diversas Unidades Curriculares, coordena o ramo de Educação Física e Desporto, da Licenciatura em Educação Física e Desporto.
SC
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Caríssimo Castro,

Serve o presente para informar que enviei hoje para o blog do "Luis Graça & Camaradas da Guiné" a minha proposta de adesão à Tabanca Grande.
Se quiseres incluir este meu texto no blog da CART 3494, junto em anexo o mesmo conteúdo.

Um grande abraço,

Jorge Araújo.


GUINÉ
Jorge Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494
(Xime-Mansambo, 1972/1974)



Jorge A. Araújo, 2011
Jorge A. Araújo,1972
Cumprindo, tardiamente, a palavra dada no V Encontro Nacional realizado em Monte Real, em 26.Jun.2010, eis-nos à entrada da porta da TABANCA GRANDE esperando autorização para entrar.

Como manda a tradição, apresento a todos os camaradas que fazem parte desta já numerosa família de ex-combatentes na Guiné uma síntese daquela que é a nossa história de vida, em particular o «projecto militar», na medida em que ninguém é igual a ninguém; pois todo o Ser Humano é um estranho ímpar, como nos diz o poeta Carlos D. Andrade (1902-1987).

 CART 3494 bem representada no V encontro Nacional realizado em Monte Real no dia 26JUN2010
Da esq. para drt.: ex. FurMil. Jorge Araújo, Cor. Art. (na reforma) Pereira da Costa, 
ex. Alf.Mil. Acácio Correia. Ex. FurMil. Bonito e ex. 1º cabo radiot. A. Castro

Natural da Freguesia de Santa Maria dos Olivais, Lisboa, onde nasci em 10.Nov.1950, concluímos o período da recruta, do Curso de Sargentos Milicianos, no R.I.5, nas Caldas da Rainha, em 26.Set.1971, tendo seguido de imediato para o Centro de Instrução de Operações Especiais (C.I.O.E.),em Lamego/Penude, a fim de aí completar a nossa formação militar.

Concluído este processo, que seria o principal requisito de Mobilização para um dos três cenários possíveis da Guerra Ultramarina, eis que somos colocados no Regimento de Artilharia Pesada n.º 2 (RAP2), depois RASP; em Vila Nova de Gaia (Serra do Pilar), instituição que aguardava pela nossa chegada para nos dar a notícia que eu, e todos nós à época, já adivinhávamos – a mobilização (para o C.T.I.Guiné).
Seguiu-se, depois, a informação de que pertenceria à Companhia de Artilharia 3494, a última das três Companhias Operacionais que constituiriam o contingente do Batalhão de Artilharia 3873, o qual iria render o BART 2917 sediado na região de Bambadinca, leste da Guiné, local situado na margem esquerda do Rio Geba.
Considerando que o período final de instrução, também designado por I.A.O. foi realizado em Bolama durante o mês de Janeiro/1972, e uma vez que não tínhamos ainda gozado a Licença de Mobilização, nos termos do Artº. 20º das NNCCMU, a inclusão na CART 3494 foi adiada, vindo somente a ser concretizada no XIME, dois meses depois.
Durante a Comissão de Serviço, que durou até Abril de 1974, alguns foram os episódios que jamais esqueceremos, pelas aprendizagens que produziram em nós, em função da natureza de cada uma delas.

 Da Esq. para Dir.; Cap. Art. A. Pereira da Costa, Ex. Alf. Mil. Guimarães??, ex Alf. Mil. Art. Serradas Pereira, ex. Alf. Mil. Art. Maurício Viegas e ex Fur. Mil. Op. Esp/Ranger, Jorge Alves Araújo.
(Foto do Ex. CMDT da CART 3494 Cap. Art. António Pereira da Costa, hoje (Cor. Art. na Reforma)
Desde logo a primeira a acontecer foi no dia 22.Abr.1972, sábado, pelas 08:30 horas, na emboscada sofrida pelo nosso G.C. (4.º) na Ponta Coli (Xime) e referida no post. P6669 pelo nosso ex-comandante Cap. Art. António José Pereira da Costa (Coronel de Artª. na Reserva), em que, num total de 23 elementos no terreno, as NT tiveram um morto (Furriel), dezassete feridos e, apenas, cinco ilesos, um dos quais fomos nós. 
Fur. Mil. Bento (morto em combate na emboscada na Pta Coli -Xime no dia 22ABR72)
 com o Fur. Mil Carda.
(Foto de: ex. Fur. Mil. Carda, com a devida vénia)
No próximo dia 22 de Abril fará quarenta anos que registámos e guardamos as imagens desse contexto. Oportunamente passaremos a escrito essas imagens, dando, assim, resposta ao desejo do nosso camarada e amigo Coronel Pereira da Costa. 
De referir que nessa mesma data se comemorou, em Portugal e no Brasil, a passagem do 472.º aniversário da descoberta do Brasil por Pedro Álvares Cabral, conforme se prova na capa do Diário de Lisboa ao lado. São apenas meras coincidências. De referir, também, que esse mesmo dia 22 de Abril, mas de 1973, foi Domingo de Páscoa.
Seguiram-se outros episódios em que estivemos directamente ligados, cujas datas continuamos a lembrar: 10 de Agosto de 1972 (naufrágio no Rio Geba); 29 de Setembro de 1972 (ataque ao aquartelamento com armas pesadas, numa noite de intensa trovoada, dia em que o meu pai comemorou o seu 49.º aniversário); 01 de Dezembro de 1972, nova emboscada na Ponta Coli; 03 de Fevereiro de 1973, emboscada na Ponta Varela, entre outras.
Quanto ao presente, a nossa actividade profissional é a nível universitário, com uma prática docente de mais de duas décadas. Temos actualmente um vínculo institucional ao ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), em Portimão, do Grupo Lusófona, onde, para além de leccionarmos diversas Unidades Curriculares, coordenamos o ramo de Educação Física e Desporto, da Licenciatura em Educação Física e Desporto.
Realizamos o doutoramento na Universidade de León (Espanha) em 2009, em Ciências da Actividade Física e do Desporto, com a tese: «A prática Desportiva em Idade Escolar em Portugal – análise das influências nos itinerários entre a Escola e a Comunidade em Jovens até aos 11 anos».
Pelo exposto, espero merecer a confiança de todos os meus amigos ex- militares «atabancados».
Um grande abraço para todos, deste cidadão que é, apenas, uma partícula da terra.


terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

P 143 - OS ÚLTIMOS MILITARES PORTUGUESES A ABANDONAR A GUINÉ

MSG de Luís Vaz, filho do último CEM/CTIG Cor. Henrique Gonçalves Vaz) com data de: 21FEV2012

Caros Editores:

Conforme o prometido, segue em anexo finalmente, o meu artigo sobre "OS ÚLTIMOS MILITARES PORTUGUESES A RETIRAR DA GUINÉ (Dia 14 de Outubro de 1974)" -“RETIRADA FINAL DO TEATRO DE OPERAÇÕES  DA GUINÉ”
.
Para este artigo, além de consultar as notas pessoais do meu falecido pai, também entrevistei um primo meu, que era na altura marinheiro radio-telegrafista da "guarnição do Patrulha Lira (LFG Lira), com quem estive ainda na Guiné, mas que ficou lá até ao último dia, o dia 14 de Outubro de 1974, juntamente com muitos outros militares, um deles, o meu falecido pai, o último CEM/CTIG. Este meu primo, Manuel Aurélio de Araújo Beleza Ferraz, relatou-me na 1ª pessoa, as últimas horas  da retirada para o Navio UIGE, dos militares portugueses ainda presentes nesse dia em terra, para assegurarem a última cerimónia, o "Arrear da Bandeira Portuguesa", bem como me forneceu um conjunto de fotografias, que ilustram o "Artigo" e que poderão ser publicadas. Espero que não tenha "distorcido muito" estas últimas horas da nossa "Retirada Final" da Guiné, se o fiz, foi sem intenção. Por outro lado, peço desculpa não "elencar o nome" de todos aqueles militares que nesse mesmo dia, "deram o seu máximo" para não Manchar o Bom Nome da Nação, numa altura difícil da nossa longa história... se um de vós lá estava, então deixe aqui "o seu depoimento", pois assim enriquecerá este relato de mais um dos "episódios históricos da descolonização portuguesa".

Grande Abraço
Luís Gonçalves Vaz


(Dia 14 de Outubro de 1974)

“RETIRADA FINAL DO TEATRO DE OPERAÇÕES DA GUINÉ”

A ponte-cais em T, em Bissau, imagem tirada de bordo do navio Uíge,  onde se podem ver os últimos militares a aguardarem a vez de embarcarem. Na imagem são visíveis as viaturas GMC, Unimog,  Willys, viaturas do Exército características da época.  Ao fundo, a avenida marginal para o Pijiguiti, e o Forte da  Amura. Fotografia de ex-Alf. Médico, Alberto Lema Santos, BCaç 1933, 67/69  in: http://especialistasdaba12.blogspot.com. com a devida vénia

Os últimos Aquartelamentos a serem entregues ao PAIGC, foram o “Complexo militar de STª Luzia”, onde se encontrava o QG/CTIG (Quartel General do Comando Territorial Independente da Guiné), e o QG/CCFAG (Quartel General do Comando-chefe das Forças Armadas da Guiné) instalado no histórico Forte da Amura, que se localiza mesmo em frente à ponte-cais em Bissau (ver figura). A entrega destes dois últimos redutos das Forças Armadas Portuguesas na Guiné, foram  “negociados” em 11 de Outubro (apenas 3 dias antes da saída dos últimos militares portugueses deste território),  numa reunião  no Forte da  Amura com os comandantes do PAIGC, Gazela,  Bobo Keita e o comandante  Correia,  sob a coordenação do então CEM/CTIG (Chefe do Estado-Maior do CTIG) coronel Henrique Gonçalves Vaz.  Os “Planos  de Entrega destes Aquartelamentos”, foram realizados pelo Coronel CEM/CTIG, coronel Henrique G. Vaz com a colaboração do sr. Major Mourão, e entregues  ao Brigadeiro Fabião , no dia 10 de Outubro de 1974, um dia antes da reunião com os comandantes do PAIGC.  A entrega do “complexo militar de STª Luzia” foi efectuada no dia 13 de Outubro, pelas 15 horas, enquanto o Forte da Amura, o último “reduto militar português” a ser entregue, foi entregue apenas no dia 14 de Outubro, o dia previsto para a “retirada final”, e reservado para o embarque do que restava das tropas portuguesas na Guiné. Como tal foi concentrado aí na véspera da partida, o último contingente do Exército Português .

A lancha de fiscalização grande (LFG) Lira, atracada na ponte-cais,  poucos dias antes da “retirada final” em 14 de Outubro de 1974. (Fotografia do marinheiro radio-telegrafista, Manuel Beleza Ferraz)

O ex-marinheiro radiotelegrafista , Manuel Beleza
Ferraz, (da guarnição do Patrulha Lira), testemunha da
Missão“Retirada Final” da Guiné, em 14/10/1974
O que vos vou passar a relatar, será uma pequena narrativa, dos últimos momentos da nossa “retracção do dispositivo militar”, deste último reduto de militares portugueses, para os navios da Armada Portuguesa e para o navio Uíge (o navio Niassa já se encontrava ao largo de Bissau) , que se encontravam frente à Ponte-cais, mas a alguns metros do cais, com os motores ligados (pairavam todos os navios). Esta descrição foi-me feita pelo meu primo  e ex-marinheiro radiotelegrafista da Armada Portuguesa, Manuel Aurélio de Araújo Beleza Ferraz, que fazia parte da guarnição da LFG (Lancha de Fiscalização Grande) Lira, um dos navios que fez a segurança de rectaguarda, durante o embarque dos últimos militares portugueses na Guiné.
Foto actual;
Ex-marinheiro radiotelegrafista 812/70
Manuel Beleza Ferraz
No dia 14 de Outubro, decorreu a última cerimónia de “Arrear da Bandeira Portuguesa”, ao qual se seguiu o “Hastear de Bandeira da República da Guiné-Bissau”, como tal nesse mesmo momento, todo o que restava do contingente militar português, encontrava-se agora em território estrangeiro. Nessa cerimónia encontrar-se-iam o Governador (Brigadeiro Carlos Fabião), o Comandante Militar (brigadeiro Galvão de Figueiredo), o Chefe do Estado-Maior do CTIG (coronel Henrique Gonçalves Vaz), outros oficiais, alguns sargentos e praças. Os primeiros depois de assistirem ao embarque de todos os militares nos navios que se encontravam ao largo no estuário do Rio Geba, seguiram para o Aeroporto, onde mantínhamos ainda um dispositivo de segurança. Mal acabou a cerimónia referida anteriormente, e segundo testemunho do ex-marinheiro radiotelegrafista, Manuel Aurélio A. Beleza Ferraz, que se encontrava nesta altura na LFG LIRA, todas as guarnições dos nossos navios que se encontravam na zona, estavam por ordens superiores, em posição de combate (para qualquer eventualidade), estando todos os operacionais equipados com coletes salva-vidas, capacetes metálicos e as Bofors (peças de artilharia antiaéreas de 40 mm) sem capa e municiadas, prontas a realizar fogo de protecção à retirada das nossas tropas, que ainda se encontravam em terra. Segundo o ex-marinheiro radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz, os navios que se encontravam a realizar a “segurança de rectaguarda” mais próxima, ás tropas que iriam retirar-se para os navios ao largo no Rio Geba, eram a LFG Órion e a LFG Lira. Encontravam-se também ao largo em missão de Segurança um patrulha (NRP Quanza) e o navio NRP Comandante Roberto Ivens, este último a comandar as operações navais desta missão de “retirada Final”.

Evacuação de pessoal civil de Jemberem ou de Gadamae (?), passagem dos civis de uma lancha de desembarque, para a LFG Lira, em pleno Rio Cacine, muito abaixo da “marca lira”. (Fotografia do ex-marinheiro radio-telegrafista, Manuel Beleza Ferraz)
Após o “Arrear da Bandeira Portuguesa”, as tropas portuguesas dos 3 Ramos das Forças Armadas, presentes na referida cerimónia, logo de seguida, foram transportadas em Zebros e LDM (lanchas de desembarque médias) para o Navio Uige, que os aguardava no meio do Rio Geba, a cerca de 400 metros afastados do cais, onde se encontrava já com as máquinas em pleno funcionamento (pairavam) por razões de segurança.

4 Lanchas de Fiscalização Grandes (LFG), uma pequena, e uma LDM na Ponte-Cais em Bissau, no ano de 1974, poucos dias antes da “retirada final” do dia 14 de Outubro do mesmo ano. É visível o navio Uige ao fundo, preparado para transportar os últimos militares portugueses da Guiné. (Fotografia do ex-marinheiro radio-telegrafista, Manuel Beleza Ferraz).
O ex-marinheiro radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz, fonte destes testemunhos históricos, aqui relatados, informou-me ainda de que as ordens vindas do Comando Naval, com apenas 24 horas de antecedência, foram entregues em mão, aos Comandantes das duas LFG (Órion e Lira) e do patrulha Cuanza, presentes ao largo do cais, no caso do seu navio, o patrulha Lira, recebeu directamente o seu comandante, 1º Tenente Martins Soares. Como tal, os comandantes destes três navios  que constituiam nesse dia,  a “força naval” em frente ao cais de Bissau, receberam ordens expressas, “para se posicionarem em postos de combate”, com todas as peças Bofors de 40 mm, devidamente municiadas e preparadas para realizarem fogo, como apoio de rectaguarda á retirada das nossas tropas, de terra para os navios, nomeadamente o UIGE. Felizmente tudo correu bem, não sendo preciso fazer fogo nenhum, já que a retirada se desenrolou como o previsto, sem altercação de qualquer natureza. De seguida, no final dos transbordos, os Zebros e as lanchas (LDM) foram presas numa boia em frente ao cais (abandonadas), e imediatamente a “Flotilha portuguesa”, escoltou  o  navio Uige e o Niassa (este já navegava mais à frente) até águas internacionais, seguindo a maioria dos navios da Armada para Cabo-Verde, de onde alguns deles, partiriam pouco depois, em direcção a Angola.
As Tropas portuguesas na ponte-cais, em Bissau a prepararem-se para embarcar no Navio Uíge, com destino a Lisboa. Fotografia de: ex-Alf. Médico, Alberto Lema Santos, BCaç 1933, 67/69  in: http://especialistasdaba12.blogspot.com   com devida vénia

O marinheiro radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz, ainda informou que a “flotilha” que rumou em direção a Cabo-verde, além dos navios já referidos (NRP Comandante Roberto Ivens, LFGs  Órion e Lira e patrulha Cuanza) faziam parte também as LDGs “Ariete”,“Alfange” e “Bombarda”,  tendo estes navios da Armada atracado em 20 de Outubro no porto de Mindelo na ilha de  S. Vicente, Cabo Verde.

A comitiva constituída pelo Governador (Brigadeiro Carlos Fabião), o Comandante Militar (brigadeiro Figueiredo), o Chefe do Estado-Maior do CTIG (coronel Henrique Gonçalves Vaz),  bem como alguns outros oficiais do Estado-Maior, sargentos e praças, depois de assistirem ao embarque de todos os militares nos navios, que se encontravam ao largo do estuário do Rio Geba, e assegurando-se que tudo tinha corrido sem problemas e de acordo com o previsto nos “Planos de Retirada”, elaborados pelo CTIG/CCFAG que nesta altura, se afirmava como o único Comando das Forças Armadas Portuguesas neste TO da Guiné, seguiram directamente para o Aeroporto de Bissalanca, onde mantínhamos ainda um dispositivo de segurança.

Elementos da guarnição do NRP Lira, em convívio na sala comum/refeitório. Foram estes os marinheiros que no dia 14 de Outubro de 1974, nos seus lugares de combate e outros, asseguraram a operacionalidade da NRP Lira, no que diz respeito ao apoio e segurança na evacuação do último contingente militar do território da Guiné. Estima-se que seriam algumas centenas de militares dos 3 Ramos das Forças Armadas Portuguesas. Neste grupo estavam representadas as várias especialidades do navio, nomeadamente, artilheiros, eletricistas, telegrafistas e manobras. Este navio, o NRP Lira, sob o comando do 1º Tenente Martins Soares, teve um papel importante na missão de “Retirada Final”, já que era o navio de apoio de rectaguarda que se encontrava mesmo em frente à Ponte-cais de Bissau, como tal o navio mais próximo do Forte da Amura. O marinheiro radio-telegrafista, Manuel Beleza Ferraz é o que está a olhar para o fotógrafo.
Às 23 horas do dia 14 de Outubro de 1974, estes militares serão os últimos a retirar da Guiné, nesse momento estiveram presentes alguns Comandantes do PAIGC, que quiseram despedir-se dos “seus antigos inimigos”, e assim foi o Fim da colonização da guiné com cerca de 500 anos. Mas antes, de finalizar este artigo, gostaria aqui de referir o árduo trabalho atribuído ao último CEM/CTIG, Coronel Henrique Manuel Gonçalves Vaz, já que foi o responsável, por “despacho escrito do Brigadeiro/ Governador”, Carlos Fabião, pela elaboração dos “Planos de Retirada do nosso Exército”, da “Carta sobre a Redução de Efectivos e Comissões Liquidatárias”, dos “Planos de entrega dos Aquartelamentos da Ilha de Bissau”,  do “Estudo da Comissão Liquidatária do QG/CTIG em Lisboa”,  das "Cargas dos aviões", entre outras responsabilidades .

Enfim o Brigadeiro Carlos Fabião, determinou que este oficial do Corpo do Estado Maior e Chefe do Estado-Maior do CTIG/CCFAG, coronel Henrique Gonçalves Vaz, se responsabilizasse por todos estes assuntos, como tal fica aqui a minha homenagem a ele, bem como a todos os oficiais, sargentos e praças, que sob o seu comado, o ajudaram a realizar essa importante tarefa, nomeadamente o sr. Tenente-coronel de Art.ª Joaquim José Esteves Virtuoso, o  sr. Major Mourão, o sr. Capitão Lomba, e outros oficiais, sargentos e praças, que colaboraram nesta última missão militar no TO da Guiné, a “Retirada Final”, a todos eles, a minha homenagem, o meu respeito e uma grande admiração, pois ficaram neste episódio da longa história portuguesa.
20 de Fevereiro de 2012
Luís Filipe Beleza Gonçalves Vaz (filho do último CEM/CTIG)



Nota do Autor: Um agradecimento especial ao meu primo e ex-marinheiro radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz, marinheiro da guarnição de um dos últimos navios a abandonar as águas da Guiné, o Patrulha Lira, pois sem o seu testemunho, não poderia ter dado parte importante das informações, relatadas nesta minha pequena narrativa sobre a “retirada final da Guiné”. A ele o meu muito obrigado.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

P142 - Medalha Comemorativa das Campanhas e Comissões de Serviços Especiais


Medalha Comemorativa das Campanhas,
com a legenda "Guiné 1971-1974"

Medalha (frente e verso) atribuída à maioria dos que Prestaram Serviço Militar no Ultramar 


 


 










Dimensões: Ø.38mm


Meus amigos! Em Outubro de 2011 enviei requerimento ao "Arquivo Geral do Exército" a solicitar a entrega da Medalha Comemorativa das Campanhas com a legenda "GUINÉ 1971/74", conforme está descrito na Caderneta Militar, Medalha que não me foi entregue nem à maioria dos ex. Combatentes. Recebi ofício do Ministério da Defesa Nacional  informando do deferimento em 15DEC2011, conforme podem verificar no documento anexo. Fico agora à espera que o Arquivo Geral do Exército resolva rapidamente a requisição e me entregue.





Ofício da Repartição de Condecorações e Louvores da Direcção de Justiça e Disciplina do Exército Português:
Para download do requerimento ao Exm.º Senhor Chefe do Arquivo Geral do Exército: Clique aqui


Pode – e deve – ser usada por todo aquele a quem tenha sido averbada, na respectiva caderneta militar, a sua concessão pela competente entidade militar (vd Port.22838, DG.194, 1ªsérie, 21Ago67); mas, na falta (ou extravio) daquela caderneta, uma cópia integral do processo individual militar, no caso do Exército, poderá ser solicitada por carta dirigida ao Exmº Chefe do ArqGEx [Arquivo Geral do Exército], mediante «requerimento [com assinatura notarialmente reconhecida] dirigido ao Exmº Chefe do Estado-Maior do Exército, no qual deve indicar o que pretende concretamente e para que «finalidade», com informe da «data de nascimento, freguesia e concelho de naturalidade e recenseamento militar».

Esclarecimento (cedido por um Veterano):

Qualquer veterano do Ultramar que, em tempo próprio, tenha sido agraciado com a citada Medalha Comemorativa das Campanhas, e que, tendo-a recebido, actualmente não saiba onde a terá guardado, ou que a mesma pela competente autoridade militar nunca lhe tenha sido entregue, poderá dirigir a sua questão ao Director do Arquivo Geral do Exército [vd mailbox do ArqGEx] (no caso de ex-militares daquele Ramo das FA's), juntando digitalização da página da sua caderneta militar onde tal concessão se encontre mencionada.
                      
Neste específico caso de "Medalha Comemorativa das Campanhas", o direito à sua posse e seu uso, por parte de um veterano, não carece que o mesmo tenha sido, por expressa menção em Ordem de Serviço, com aquela condecoração agraciado, existindo inumeráveis situações em que na respectiva caderneta militar e/ou processo individual um tal agraciamento ficou omisso, sendo no entanto certo que a qualquer militar que tenha cumprido serviço no Ultramar é devida aquela Medalha Comemorativa.
Seja qual fôr a Província Ultramarina onde o militar tenha prestado serviço, o modelo de Medalha adoptado é único (idêntico anverso e reverso) – e bem assim a miniatura "para uso com traje civil de passeio na lapela do lado esquerdo" –, consistindo a diferença nas cores da "fita de suspensão" (consoante a PU) e bem assim a "legenda da passadeira" (ano de início - ano de fim, encimado pelo nome da PU).

Note-se que, em qualquer das situações supra referidas – averbamento na caderneta militar ou omissão da respectiva concessão –, um veterano que tenha perdido ou queira obter a sua "Medalha Comemorativa das Campanhas", actualmente terá de a pagar do seu bolso: mesmo que o requerimento seja formalmente dirigido ao ArqGEx e que o Ministro da tutela, decorridos alguns meses, venha a despachar favoravelmente; sendo que, nesta hipótese, o solicitante terá de se deslocar à sede do MDN, na capital de Portugal, para a receber em mão própria.

Assim, aconselha-se qualquer legal interessado a que se dirija pessoalmente (ou por escrito), a um estabelecimento comercial especializado e oficialmente reconhecido pelo Exército (como, por exemplo, a "Casa Buttuller" - Site:
http://casabuttuller.com/ endereço de e-mail: geral@casabuttuller.com), apresentando provas documentais sobre a condecoração militar que pretende adquirir.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

P27 - GRUPO DE COMBATE DA CART 3494 SOFRE 2 EMBOSCADAS NA PONTA COLI - XIME em 1972

EMBOSCADOS na Pta Coli - XIME 1972

- 22 de Abril 1972, 1º GR COMBATE 
- 01 de Dezembro de 1972, 4º GR COMBATE

Cor Art. na reserva
António J. Pereira da Costa
MSG. do Cor. Artª na reserva, António José Pereira da Costa (ex. Cap. Artª da CART 3494) com data de: 2009-03-22 ref. 1ª emboscada.

Cheguei à companhia na sequência da emboscada. Creio que seria bom sabermos o que se passou, porquê e como. Parece-me que foi um dos momentos cruciais da companhia. Terá havido outros. Quais? E os guias? Quem eram? Há grandes diferenças entre o Malan - velho - e o Mankaman - mais novo, mas com algo a esconder?
Quem tiver coisas para dizer que o diga. Um Ab.

Nota: Lembro que Cap. Artª António José Pereira da Costa comandou a CART 3494 desde Agosto de 1972 até Novembro do mesmo ano, tendo sido transferido para a CART 3567 Mansabá. Veio o Cap. Milº. Luciano Carvalho da Costa comandar a companhia desde Novembro de 1972 até o final de comissão (ABR74). Refiro também que a CART 3494 teve como 1º CMDT o Cap. de ART. Victor Manuel da Silva Marques, desde Dezembro de 1971 a Agosto 1972.

Fur. Mil. Bento (morto em combate em 22ABR72)
 com Fur. Mil. Carda. (Xime1972)
Foto de: António E. Carda
- O 1º GC sofre a primeira emboscada a 22ABR72, morreu em combate o Fur. Mil. Manuel da Rocha Bento, natural de Ponte de Sor, onde está sepultado e tivemos 19 feridos, 7 dos quais graves. 

Pelas qualidades de coragem e sangue-frio e desprezo pelo perigo, foram louvados em 23ABR72 pelo Exmo CMDT do CAOP 2;

- Fur. Mil. Manuel da Rocha Bento, a título póstumo.
- Fur. Mil. António Espadinha Carda.

 Louvados com o PRÉMIO DO GOVERNADOR DA GUINÉ por SUA EXA O GOVERNADOR E COMANDANTE-CHEFE, em 23ABR72

- 1º Cabo Manuel Amorim do Alto  
- Sol. Manuel de Sousa Monteiro


 

- Na segunda emboscada (01DEC1972) (4º GR COMBATE) tivemos 02 feridos graves e 02 ligeiros, capturamos 02 guerrilheiros, 01 Arma Automática "HK47" (Kalashnicov), 01 Lança Granadas de Foguete, para além de diverso material. Pela bravura demonstrada nesta accção, todo grupo de combate foi louvado pelo Exmo CMDT Militar em 22FEV73.

ex. Fur. Mil. Carda, 01DEC72 Xime
- Alf. Mil. António Joaquim Serradas Pereira
- Fur. Mil. Raul Magro de Sousa Pinto
- 1º Cabo Carlos José Pereira
- 1º Cabo Manuel de Sousa Freitas
- 1º Cabo Joaquim Olimpo M. Volta e Silva
- 1º Cabo António Augusto de Jesus Santos
- 1º Cabo Manuel de Medeiros
- Sol. Carlos Dias da Silva
- Sol. José Joaquim Terra
- Sol. Ricardo Silva de Nascimento
- Sol. Mário Rodrigues da Silva
- Sol. Luís dos Santos
- Sol. Manuel Gonçalves da Costa
- Sol. António Pereira Pinto
- Sol. Manuel Carvalho de Sousa
- Sol. Artur Silveira Sequeira
- Sol. Carlos dos Santos Monteiro
- Sol. Joaquim Moreira de Sousa
- Sol. Milícia Salo Balete



Na História do "BART 3873"

BAMBADINCA no 1º e 9º Fascículo Pág. 59 e 90 Alíneas d) Sub-Sector do XIME  está assim registado.

1.     (…) Em 260600ABR72 grupo IN emboscou a segurança da PTA COLI (01 GRCOMB da CART 3494). As NT e Artilharia do XIME pôs o IN em fuga.
Sofremos 01 morto (Furriel), 07 feridos graves e 12 ligeiros.
ex. 1º cabo cripto "Pinóquio" e
ex. 1ºcabo radiotelegrafista. A. Castro

 
  2.    (…) Em 010730DEC72 o grupo especial de «Bazookas» de COLUNA DA COSTA e o bigrupo de MAMADU TURÉ e PANA DJATA emboscaram na PTA COLI o 4º Gr Combate da CART 3494 que garantia a segurança ao tráfego da estrada XIME/BAMBADINCA. A emboscada foi conjugada com accionamento de 02 minas comandadas à distância. As NT sofreram 02 feridos graves e os guerrilheiros 02 capturados, perdendo 01 pistola, o1 espingarda automática, 01 L.G. Fog. E 02 granadas de origem soviética. É a segunda acção deste tipo que se desencadeia no lugar (a primeira verificou-se em 22ABR72), desde que o BART 3873 iniciou a sua comissão.

3. Curiosamente, tenho registado nas minhas notas pessoais uma referência a esta 2ª emboscada dizendo o seguinte:

(Estes dados, era baseado em conversas que nós nas TRMS tínhamos uns com os outros nomeadamente com os Op. Criptos).

(…) Dia 01/12/72 Emboscada preparada ao grupo de segurança da estrada Bambadinca/Xime, ás 07,30 horas GR IN de 52 elementos 04 sapadores, 05 armas ligeiras, morteiros e RPG.
Apoio aéreo eficaz. Capturados 01 feridos e 01 morto IN, 01 Kalashnikove (AK47), 01 pistola automática, 01 Roquete (LGF) e diverso material (granadas e carregadores). Sofremos, 02 feridos graves e 02 ligeiros (…)

Sousa de Castro

Nota: Recortes de imprensa, da revista do Exército da época, foto de Sousa de Castro

Vd. Posts: http://cart3494guine.blogspot.com/2010/05/p-67-actividade-da-cart-3494-do-bart.html

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

P- 141 História no Ultramar com José Pedro Gonçalves Vaz (filho do último CEM/CTIG COR Henrique G. Vaz) Local: Bissau-Cufar-Cadique


Msg de Luís Gonçalves Vaz com data de 021410FEV12, contando-nos uma "estória" de seu irmão, José Pedro Gonçalves Vaz com 17 anos de idade, passada na Guiné em Dezembro de 1973, quando este, gozava férias com os Pais.

Recordo, que tanto o Luís como o Pedro são filhos do último CEM do CTIG; Coronel Henrique Gonçalves Vaz.

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(...) José Pedro Gonçalves Vaz, na altura com 17 anos, com alguma formação militar e em Férias de Natal, pois estava na Escola Naval em Lisboa, era Cadete. Há uma parte que ele nao se lembrava bem, que foi a ida de Bissau a Cufar, mas daí até Cadique, lembra-se muito bem.... como "descreve corretamente o Aquartelamento de Cadique, segundo alguns combatentes como o Eduardo Campos da CCAÇ 4540. E segundo um outro meu irmão (António), esse com 15 anos e meio nessa altura, afirma que ele e o meu pai nessa noite não puderam regressar a Bissau (o piloto não tinha condições de regressar ao aeroporto de Cufar...), como tal... tiveram de ficar (pernoitar) em Cacine (Plano B), num Barco da Marinha, e puderam durante a noite "verificar in loco, algumas flagelações a Aquartelamentos na Zona.... Tendo o próprio barco feito "Fogo Amigo", como apoio de artilharia, sobre algumas zonas, onde se presumia concentração de forças do IN. Só regressaram a Bissau no dia seguinte. Este irmão que dá estes pormenores lembra-se muito bem, de ir ao Aeroporto de Bissalanca, com um dos condutores do meu pai, o  Djaló, buscar o meu Pai e o meu irmão Pedro.(...)

L.G.VAZ


História no Ultramar com José Pedro Gonçalves Vaz
Local: Bissau-Cufar-Cadique

Data: Dezembro de 1973


José Pedro Gonçalves Vaz, 17 anos, Guiné 1974
(filho do último CEM do CTIG –Guiné)
Sempre tive algum receio de voar, para não dizer medo (que fica muito mal para quem hoje viaja tanto de avião como eu), mas nos meus 17 anos eu queria muito era experimentar o helicóptero.
Estava eu na Guiné a passar umas férias de Natal com os meus pais, quando soube que o meu pai, que era na altura, o Chefe do Estado-Maior do CTIG, coronel Henrique Gonçalves  Vaz,  ia visitar uns aquartelamentos no Sul da Guiné.  Julgo que era Cufar e Cadique ! O plano de visitas dessa semana ao “Mato” do meu pai, era esse. O que me lembro melhor é que soube que iria de helicóptero, oh que maravilha… Passei essa semana a pedir ao meu pai que me levasse nessa saída. Para que se perceba, eu apesar de ter apenas 17 anos, era já um jovem cadete da Escola Naval, como tal seria “normal” ir-me habituando ao Teatro de Operações da Guiné, no entanto não era esse o meu pensamento, o que eu queria era “ter Acção” de helicóptero!
Depois de muito insistir, ele lá concordou em me levar. No dia D, pelo mês de Dezembro de 1973 (minhas férias de Natal), entregou-me, logo ao início da manhã, um camuflado (e uma G3) e disse: Veste-o, e prepara-te bem já que “vais ver o que te espera logo que saíres da Escola Naval! Eu, todo contente, lá o vesti. O tamanho, era de um tipo muito mais pequeno do que eu! Ficava com metade das pernas e dos braços, “descamuflados”! Tenho pena de não ter fotografias dessa minha experiência marcial. Depois das habituais recomendações, que incluíam o uso da G3 em caso de ataque e a responsabilidade do grupo, lá nos dirigimos para o local de embarque.
Último  CEM do CTIG, nesta fotografia ainda major Henrique Gonçalves Vaz, não no rio Cumbijã na Guiné, mas no rio Chiloango em Cabinda (1964 ) com apoio dos Fuzileiros, e como era de sua “tradição”, visitava todos os aquartelamentos, para onde realizava operações como oficial do Estado-Maior, Cadique não foi esquecido, como muitos outros aquartelamentos no Teatro de operações da Guiné, nos anos de 1973 e de 1974.

Oh… grande desilusão! Afinal, por qualquer razão logística de que não me lembro (talvez a necessidade do helicóptero nesse dia para evacuar feridos nalguma zona do TO), a viagem não ia ser realizada de helicóptero mas sim por outros meios de transporte. Não me lembro bem até chegar ao rio Cumbijã, mas o que era costume (informações de ex-combatentes) era ter ido de avião até CUFAR (que fica entre Catió e Bedanda) e depois, e disso lembro-me muito bem, fomos de sintex (pequeno barco rápido) até Cadique, na outra margem do Cumbijã. Chegados ao rio tivemos direito a um pequeno briefing para iniciarmos a parte mais crítica, visitar Cadique pelo rio Cumbijâ. O medo e a adrenalina estavam em níveis crescentes, e finalmente recebi instruções e lá me instalei com o restante pessoal, deitado no fundo da embarcação com a G3 apoiada na borda a apontar para a minha margem. Saímos do porto grande no rio Cumbijã em direcção ao Aquartelamento de Cadique seguindo rio abaixo  até que chegámos  ao nosso destino, no lado oposto do rio relativamente  ao ponto de partida.  Nesse percurso lembro-me muito bem da tensão na viagem, sempre à espera de sentir uma saraivada de balas disparadas de alguma das margens com o tarrafo bastante alto, mas eu estava bem “mentalizado” para uma reacção imediata da nossa parte. Hoje penso que tivemos muita sorte em não termos sido atacados. 
Ten. Cor. Art. Sousa Teles

Naquela altura, terei ficado um pouco desiludido já que, nessa idade somos todos um pouco loucos. Do que lembro hoje, a viagem decorreu sem qualquer incidente, com uma duração que me pareceu um eternidade, mas não foi, já que cada barco “sintex”, tinha um valente motor de 50 cavalos, com uma velocidade de cerca de 18 nós e, o percurso não teria mais que meia dúzia de km. A “escolta” do CEM/CTIG, não ultrapassaria dois Sintex com uma dúzia de militares bem equipados e com sentido de missão. Chegámos, finalmente, a  Cadique  e tive mais uma desilusão,  o nosso destino não passava de um aquartelamento cercado de arame farpado com meia dúzia de “tabancas” em redor. O Comandante, o Tenente-coronel Sousa Teles (1), teve de um “meeting” com o meu pai, do qual recordo apenas a discussão sobre o número de rádios e outros equipamentos que o Comando do CTIG,  poderia  disponibilizar para esse aquartelamento. A minha impressão actual é que a visita do meu pai, o CEM/CTIG, coronel Henrique Vaz, teria também o objectivo de expressar um apoio aos militares que ali combatiam em condições adversas já que, pelo que sei hoje, Cadique era frequentemente fustigada por ataques do PAIGC. Depois de tratarem dos “negócios” militares, convidou-nos então a dar uma volta de jeep pelo exterior do quartel.
Recorte de uma imagem do mapa da Guiné, onde é possível ver a localização do campo de aviação em Cufar, bem como o itinerário entre o porto novo de Cufar e Cadique,
Mais uma surpresa, naquele fim de mundo havia uma estrada asfaltada, no meio de uma selva cerrada, que, não acredito, levasse a lugar algum!
Ao fim de algum tempo (pouco…), encontrámos duas mulheres negras que caminhavam na nossa direcção. O Comandante parou o jeep e iniciou uma conversa com as mulheres numa linguagem para mim completamente estranha. Subiu uns pontos na minha consideração, pois falava perfeitamente o dialecto local… Impressionante! Depois de se despedir das mulheres, virou-se para o meu pai e disse: Meu coronel os “turras” estão aqui perto pelo que, sem escolta (só íamos os três, mas eu levava a minha G3…), não é aconselhável ir mais além. O meu pai concordou com o oficial conhecedor da “realidade” local e voltámos para trás.
Do regresso, nada me lembro, não me impressionou comparado com o que tinha acabado de viver naquele local recôndito, bonito mas perigoso. 
Cadique em 2008, integrado na área do Parque Nacional de Cantanhez.
(fotografia gentilmente cedida para este artigo pelo ex-combatente Eduardo Campos)

Nunca me esqueci de duas coisas desta estória, e que foram importantes na minha vida: o dilema que o meu falecido pai, coronel Henrique Gonçalves Vaz, deve ter tido para me autorizar a ir com ele e o profissionalismo daquele Comandante do mato.
Um ano após este episódio cheguei à conclusão que a minha vocação não era a carreira militar e mudei de ramo.

(1)    - Informação gentilmente dada pelo ex-combatente Eduardo Campos C. Caç 4540.
Curitiba, 30 de Janeiro de 2012
 José Pedro Beleza Gonçalves Vaz