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segunda-feira, 25 de julho de 2016

P274 - MEMÓRIAS DE MÉDICOS CUBANOS (1966-1969) – ‘V’ - O CASO DO CLÍNICO AMADO ALFONSO DELGADO (I) Por: Jorge Araújo



MSG do Jorge Araújo com data de: 19JUL2016
- Concluída a entrevista ao médico Domingo Diaz Delgado, segue-se agora a segunda, utilizando-se a mesma metodologia seguida anteriormente.
Pelo exposto, anexo o 1.º fragmento relacionado com o clínico Amado Alfonso Delgado, que esteve na Guiné entre Janeiro de 1968 e Setembro de 1969 e que durante algum tempo da sua missão movimentou-se nas matas do Fiofioli, de que fazem parte locais míticos que continuam presentes nas minhas memórias do CTIG, e a de muitos de nós, como foram os casos do Xime, Ponta Coli, Ponta Varela, Poindon e Ponta do Inglês, entre outros.


GUINÉ
Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494
(Xime-Mansambo, 1972/1974)
GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE
MEMÓRIAS DE MÉDICOS CUBANOS (1966-1969) – ‘V’
- O CASO DO CLÍNICO AMADO ALFONSO DELGADO (I) -
Entrevista com 25 questões [P1> da 1.ª à 5ª]
“Cirurgias com a ténue luz de fachos de palha ardendo”
hospital nem falavam com o paciente. Em contrapartida, quando iam operar numa clínica privada, conversavam com a pessoa, a idolatravam, e, por isso, desliguei-me do grupo. A outra foi sobre a “Crise de Outubro” (Crise dos Mísseis), que fiquei indeciso.
[O princípio da crise dos misseis em Cuba, nome atribuído ao conflito entre os Estados Unidos, a União Soviética (ex-URSS) e Cuba em outubro de 1962, tem a sua origem na descoberta, por parte de espiões americanos, de bases de mísseis nucleares soviéticos em território cubano. De imediato, os Estados Unidos bloquearam a costa cubana e durante treze dias esteve eminente o início, em Cuba, de uma guerra nuclear, ou seja, a III Guerra Mundial, só ultrapassada pelo acordo a que chegaram as duas potências. Mesmo assim os Estados Unidos decidem bloquear totalmente a Ilha impondo um embargo ao comércio com Cuba e proibindo os seus aliados de estabelecerem relações comerciais com aquele país. (enquadramento histórico em: https://www.youtube.com/watch?v=wCDPnluyOtE].
Daí, as pessoas conversarem sobre este episódio e diziam-me que havia que acordar, uma vez que uns pensavam no socialismo e outros no capitalismo, mas se acontecesse algum conflito havia que estar do lado dos americanos. Esses dois factos levaram-me a cortar com as relações que tinha. Estive em Santa Clara e Guantánamo e quando regressei conclui a formação, embora os meus colegas de curso praticamente que não me conheciam.
Voltando ao tema de partida, acrescento que o director municipal de saúde de Gran Tierra de Baracoa comunica-me que José Ramón Machado Ventura, então ministro da Saúde Pública, necessitava de alguém para uma missão, mas que devia ter absoluta garantia de que a cumpriria. Disse-lhe que iria até onde fosse necessário, perguntando-lhe se seria para o Vietnam, mas apenas me foi dito que seria uma missão dura.
1.    = Encontrou-se com Machado Ventura?
De Guantánamo apanhei um avião até Havana para me encontrar com Machado Ventura, o qual já conhecia do tempo da pós-graduação, pois esteve no hospital aonde fui director. Um dia ele apareceu por lá, quando estava cheio de utentes. Porque soube que ele vinha, pensando que era uma inspecção, preparei-lhe um quarto, e pus-lhe uma coberta limpa na cama. Mas, em vez de nela se deitar, fê-lo no chão. Perguntei-lhe porquê? Respondeu-me se eu gostaria que ele sujasse a coberta.

Após a entrevista, o doutor Machado Ventura despediu-se e pediu-me que estivesse contactável. Três ou quatro dias depois, fui contactado para que comparecesse no Ministério onde dois funcionários se reuniram comigo e disseram-me que a missão era para a Guiné Portuguesa [hoje Guiné-Bissau]. Comecei a preparar-me, pois deram-me roupa, fiz uma carta de despedida e recebi um passaporte como engenheiro agrícola.



1.    = Como e quando fez a viagem?
Eu e outro médico voamos do Aeroporto de Havana, fazendo escala em Gander (Canadá), Praga, Paris, Senegal e Guiné-Conacri. Embarcámos no dia 24 de dezembro de 1967, chegámos a Praga a 25 e seguimos para Paris, onde permanecemos dois dias. Na República da Guiné ninguém nos esperava. Recorremos a um carro de aluguer e pedimos para nos levarem até à embaixada cubana. Levaram-nos, então, a uma casa, tocámos e apareceu um companheiro que nos informou que havia uma reunião em casa do embaixador. Dirigimo-nos até lá. Estava a decorrer uma festa e pensei: “disseram-me que isto era duro e quando chego encontro as pessoas comendo porco e bebendo rum”. A festa, afinal, tinha a ver com a despedida do primeiro e segundo grupos de internacionalistas que regressavam a Cuba [aonde estava, certamente, o cirurgião Domingo Diaz Delgado, o primeiro entrevistado neste trabalho].
O médico que viajou comigo era militante da Juventude [comunista] e disseram-nos que um de nós iria para um hospitalito junto da fronteira com a Guiné-Bissau e o outro iria acompanhar a guerrilha. Pensei que muito provavelmente esta situação seria para o outro, mas foi para mim e que aceitei.

Porém, antes da nossa partida de Havana, tinha viajado por barco um outro grupo de trinta combatentes e seis médicos [final de novembro ou início de dezembro’1967] que, quando cheguei a Conacri, já estavam no interior da Guiné-Bissau.
Continua…
Obrigado pela atenção.
Com um forte abraço de amizade.
Jorge Araújo.
19JUL2016.

[Consulta em 30 de maio de 2016]. Disponível em:

Vd. Poste: http://cart3494guine.blogspot.pt/2016/07/p273-do-outro-lado-do-combate-parte-iv.html