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sexta-feira, 27 de abril de 2018

P344 - (CONVÍVIOS) XXX CONVÍVIO DO BART 3873 (Bravos e sempre leais) EM S. PEDRO DO SUL, NO DIA 26 DE Maio de 2018 (Edgar Soares, ex Fur. Milº OP Esp.)

Mensagem de Edgar Soares do BART 3873 (CCS) com pedido de divulgação


XXX CONVÍVIO DO BART 3873
(Bravos e sempre leais)

EM S. PEDRO DO SUL,
NO DIA 26 DE Maio de 2018
 PROGRAMA


- 11,30 horas concentração em Stª. Cruz da Trapa, junto à Igreja
- 12,00 horas, Visita ao cemitério local, depondo uma coroa de flores na campa do nosso comandante, Cor. Artª António Tiago Martins, falecido no ano de 1992 (1919/1992)
- 13,00 horas almoço convívio no hotel Lisboa, junto das Termas de S. Pedro do Sul
- 16,00 horas Regresso a Casa;
Com a idade, a cada ano que passa, cada vez são menos os que estão disponíveis, mas, apesar de tudo, enquanto pudermos partilhar algo que, proporcionalmente, marcou as nossas vidas, o saldo será sempre positivo...
Um grande abraço! Contamos contigo.

Edgar Soares, ex. Fur. Milº Op. Esp.

Contactos: Gonçalves: 917 887 423 e Soares: 962 736 154

Vede Poste Convívios: XXXIII ENCONTRO/CONVÍVIO DA CART 3494 EM SEIA, NO DIA 09 DE JUNHO DE 2018, DISPONIBILIZA ESTE DIA PARA REVIVER E REPETIR AS ESTÓRIAS VIVIDAS E SOFRIDAS NA GUERRA DA GUNÉ AO SERVIÇO DE PORTUGAL. TAMBÉM HOMENAGEAR TODOS AQUELES QUE JÁ PARTIRAM!

P343 - GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE “PLANO DE OPERAÇÕES NA FRENTE SUL” [OUT-DEZ’69] - ATAQUE A BOLAMA EM 3 DE NOVEMBRO DE 1969 - (AO TEMPO DA CCAÇ 13 E CCAÇ 14) (Parte II)

- MSG com data de 24 de Abril de 2018

Pelo presente, anexo a segunda e última parte da análise ao ataque à cidade de Bolama, executado por forças do PAIGC em 3 de Novembro de 1969, tendo para o efeito utilizado foguetes/foguetões 122 mm, mais conhecidos por "GRAD".

Com um forte abraço de amizade.


Jorge Araújo.
Bissorã (1969/70) – A porta de armas do quartel por onde entrou a CCAÇ 13, substituindo a CCAÇ 2444 (1968/70 - companhia açoreana) na sua missão. Foto do camarada Armando Pires (ex-fur mil enf.º da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70), com a devida vénia. (P12023-LG). 

GUINÉ
Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494
(Xime-Mansambo, 1972/1974)
GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE
“PLANO DE OPERAÇÕES NA FRENTE SUL” [OUT-DEZ’69] - ATAQUE A BOLAMA EM 3 DE NOVEMBRO DE 1969 -
(AO TEMPO DA CCAÇ 13 E CCAÇ 14)
(Parte II)
1.   - INTRODUÇÃO
Com este segundo e último fragmento relacionado com o ataque a Bolama, em 3 de Novembro de 1969, 2.ª feira, damos por concluída a análise à terceira missão do “plano de acções militares”, de um conjunto de nove flagelações a diferentes aquartelamentos das NT, situados nas regiões de Quinara e de Tombali, todas agendadas para o último trimestre desse ano.
No caso particular da flagelação à cidade de Bolama, as forças mobilizadas pelo PAIGC eram constituídas por cerca de cento e vinte elementos, correspondentes a um grupo de artilharia com duas peças “GRAD”, cada uma delas preparada para projectar dois foguetes de 122 mm, e três bigrupos de infantaria, para segurança aos artilheiros, todos agindo sob as ordens do comandante Umaro Djaló (1940-2014) que, como foi referido na parte I deste trabalho [P342], viria a morrer a 29 de Maio de 2014, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, com 74 anos.
Este efectivo mais reduzido, quando comparado com os anteriores, é justificado pelos seus objectivos específicos e, também, pelo facto de estarem programados outros ataques para os dias imediatos, como eram os casos de Cacine e Cabedú, por esta ordem, conforme pode ser confirmado no quadro abaixo.
Para a concretização desta missão, os efectivos referidos tiveram que percorrer a pé cerca de setenta quilómetros, correspondente à distância entre a base de saída [Botché Chance] e o local escolhido para a posição de fogo [Ponta Bambaiã]. Este percurso demorou cinco dias, com a partida a acontecer às 17 horas do dia 29 de Outubro, 4.ª feira, e a chegada à Ponta Bambaiã às 16 horas do dia 3 de Novembro de 1969, 2.ª feira, o que equivale a uma caminhada média/dia de quinze quilómetros.
O percurso foi o seguinte: saída de Botché Chance pelas 17 horas do dia 29 de Outubro de 1969, 4.ª feira. Cambança do rio em Botché Col até às imediações de Gândua (dia 30). Nova cambança do rio Tombali em Iangue com chegada à Bolanha Longe (dia 1). Travessia de novo plano de água até atingir Paiunco de manhã (dia 3), com chegada a Ponta Bambaiã pelas 16 horas, onde iniciaram os preparativos do ataque.
Cumpridos os objectivos da missão, que durou dez minutos, os elementos desta força regressaram às suas origens, utilizando o mesmo itinerário mas, agora, em sentido inverso.

Citação: (1963-1973), "[dez?] Combatentes do PAIGC atravessando um rio de canoa", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_44127 (2018-3-10), com a devida vénia.
Referimos, uma vez mais, que para a elaboração desta narrativa, como para todas as outras que fazem parte deste dossier específico, já publicadas ou a publicar, foi utilizado o relatório “das operações militares na Frente Sul” [http://hdl.handle.net/11002/fms _dc_40082 (2018-1-20)], documento dactilografado em formato A/4, sem capa e sem referência ao seu autor, localizado no Arquivo Amílcar Cabral, existente na Casa Comum – Fundação Mário Soares.


2.   – DESTINATÁRIOS DO ATAQUE A BOLAMA EM 3NOV1969:
  - A CCAÇ 13 (CCAÇ 2591), A CCAÇ 14 (CCAÇ 2592) E O C.I.M.
Recordam-se, com vista aérea de Bolama e respectiva legenda, os espaços mais frequentados pelos militares durante a sua premanência naquela cidade. Imagem postada pelo camarada grã-tabanqueiro ex-Alf Mil Rui G. Santos, Bedanda e Bolama da 4.ª CCAÇ (1963/1965) – in: http://riodosbonssinais.blogspot.pt/search/label/bolama ou “Bolama… no meu tempo – Guerra do Ultramar”, com a devida vénia.
No C.I.M. (Centro de Instrução Militar) de Bolama, em finais de Outubro de 1969, estavam em fase de conclusão de instrução/formação mais duas Companhias de Caçadores designadas por CCAÇ 13 e CCAÇ 14, saídas da união entre praças africanas do Recrutamento Local e oficiais, sargentos e praças especialistas oriundos da Metrópole. Os quadros metropolitanos destas novas Unidades Independentes, mobilizados pelo Regimento de Infantaria 16, de Portalegre, pretenciam à CCAÇ 2591, que deu origem à CCAÇ 13, e a CCAÇ 2592 à CCAÇ 14, respectivamente.
No caso deste ataque a Bolama, ele foi presenciado pelos colectivos das duas Unidades acima, uma vez que se encontravam no cais da cidade preparando-se para o embarque em LDG, rumo a Bissorã e a Cuntima, locais onde passariam a desempenhar as suas missões operacionais.

De entre aqueles que viveram a emoção/tensão de ouvirem e sentirem o rebentamento dos foguetes 122 mm, recupero os testemunhos dos camaradas ex-furriéis Carlos Fortunato (CCAÇ 13/CCAÇ 2591) e Eduardo Estrela (CCAÇ 14/CCAÇ 2592), ambos membros da nossa «Tabanca».

Carlos Fortunato refere que “no dia 3/11/1969 quando a CCAÇ 13 [CCAÇ 2591 - “Os Leões Negros”] estava no cais de Bolama, preparando-se para embarcar numa LDG [rumo a BISSORÃ], ouviu-se um longínquo ‘pof’ vindo da parte continental (zona de Tite). Um dos africanos disse ‘saída’ sorrindo, mas logo a seguir passaram sobre as nossas cabeças 3 [no relatório constam quatro] foguetões de 122 mm. Um acertou numa das pequenas vivendas que corriam ao lado da rua principal [imagem abaixo], que ligava o porto ao largo principal da cidade, apenas a uns escassos 30m do local onde estávamos. Outro caiu no largo principal um pouco mais acima, e o terceiro mais longe, já fora da zona habitacional. Corremos de imediato para o local dos impactos para prestar assistência às eventuais vítimas, mas felizmente apenas houve ferimentos muito ligeiros entre a população”. […] “Os morteiros 107 mm existentes no quartel de Bolama responderam ao fogo”. […] [sítio: CCAÇ 13 – Os leões Negros: Memórias da Guerra na Guiné (1969/71)]. [P9337-LG].
Rua principal de Bolama, onde caiu o primeiro foguete 122 mm. Imagem postada pelo camarada grã-tabanqueiro ex-Alf Mil Rui G. Santos, Bedanda e Bolama da 4.ª CCAÇ (1963/65) – in “Bolama… no meu tempo – Guerra do Ultramar”, com a devida vénia.

Por outro lado, Eduardo Estrela, da CCAÇ 14 [CCAÇ 2592], acrescenta que “partimos em 3 de Novembro de 1969 para a zona operacional que nos tinha sido destinada, CUNTIMA, junto à linha de fronteira do Senegal. Ainda em Bolama (…) sofremos, à hora da saída da LDG, um ataque onde o PAIGC utilizou pela primeira vez foguetões terra-terra. Ninguém sabia que tipo de armamento o PAIGC utilizara e só em Bissau, no dia seguinte, nos foi comunicado o tipo de arma”. [P11365-LG].
Cuntima (1970) – 4.º Pelotão da CCAÇ 14, do ex-fur António Bartolomeu, o 1.º da direita. [P9456-LG], com a devida vénia.
Para concluir esta narrativa histórica resta-nos referir, no ponto seguinte, alguns aspectos técnicos relacionados com o uso da peça “GRAD”, arma utilizada neste ataque a Bolama, assim como dos resultados obtidos que constam no relatório.
Encerraremos o trabalho apresentando os quadros das baixas [mortes] de cada uma das Unidades, desde a sua criação [1969] até ao final do conflito [1974].
3.   - O ATAQUE A BOLAMA EM 3NOV1969… COM FOGUETES 122 MM “GRAD” LANÇADOS DA PONTA BAMBAIÃ
Objectivos da acção:
O objectivo definido para esta acção previa o bombardeamento de Bolama, através da utilização de quatro foguetes 122 mm lançados de duas peças “GRAD” colocadas na orla costeira da zona sudoeste da região de Quinara, mais precisamente na Ponta Bambaiã [ver imagem de satélite abaixo].
Porém, a escolha deste local está ligado a muitos outros antecedentes históricos. O primeiro de todos, a 23 de Janeiro de 1963, teve por cenário o ataque ao quartel de Tite, aquele que ficaria gravado como o do início do conflito armado, e que faz parte da mesma região, Quinara.
De acordo com a obra do historiador africano Leopoldo [Victor Teixeira] Amado, nascido em Catió em 1960, e que em 2010 concluiu o seu doutoramento em História Contemporânea pela Universidade de Lisboa, nela é referido que “a partir do dia 12 de Março de 1963 o PAIGC aumentou substancialmente a sua actividade. Assim, destruíram vários pontões nas áreas de Tite e de Buba; flagelaram Dar-es-Salam, na península de Empada; cortaram as estradas de acesso a esta povoação e os locais de embarque para Bolama; incendiaram o barco a motor da carreira Bolama-Ponta Bambaiã; impediram o carregamento de mancarra e arroz num barco atracado em Dana, a nordeste de Fulacunda, no rio Corubal; atacaram a tabanca fula de Priame, junto a Catió; flagelaram Cufar e Fulacunda… […] Finalmente, em 25 [Março’63], capturaram no porto de Cafine (rio Cumbijã) os barcos a motor «Mirandela», da Casa Gouveia, e «Arouca», da Casa Brandão, tendo-os levado para a República da Guiné-Conacri com a conivência de parte da tripulação”. In: “Guineidade & Africanidade: Estudos, Crónicas, Ensaios e Outros Textos”, Lisboa, Edições Vieira da Silva, 2013, pp 117-118.
A 30 de Março de 1963, cinco dias depois desta ocorência, Amílcar Cabral (1924-1973) dirige uma carta a “Nino” Vieira [MARGA, pseudónimo de guerra] elogiando o seu desempenho na captura dos barcos, nos seguintes termos:
Em particular quero felicitar-te pela operação que terminou pelo envio para aqui dos motores «Mirandela» e «Arouca». Esta operação, pela sua importância no quadro da nossa luta, do género de luta que o nosso Partido adoptou, pelo sucesso total de que foi coroado, vem provar-nos que somos capazes de realizar tudo o que o nosso Partido projectou fazer para a conquista da liberdade, e para a construção da felicidade do nosso povo”. […] 
Citação: (1963), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/ 11002/fms_dc_36648 (2018-3-10)
Trabalho técnico da artilharia na posição de fogo [peças “GRAD”]
1.    Localização exacta da posição de fogo no mapa.
2.    Medição, pelo mapa, da distância entre a posição de fogo e o centro da cidade – 9.800 metros.
3.    Localização no terreno e no mapa de um ponto de referência bem determinado (observatório do porto de Bolama).
4.    Medição, pelo mapa, do desvio angular entre a direcção do ponto de referência escolhido e a direcção de fogo – o-35, à esquerda.
5.    Determinação aproximada das correcções a introduzir em virtude da pressão atmosférica e temperatura – (-100 metros).
6.    Determinação da alça pela tabela de tiro.
7.    Determinação da deriva a partir do ponto de referência. Como há que introduzir sempre uma correcção de (0-35, à direita) resultou que a deriva foi de 30-00 apontando para o ponto de referência.
8.    Instalação das peças, introdução dos dados obtidos e fogo.
Reacção das tropas colonialistas que abriram fogo de várias armas – metralhadoras, morteiros, canhões (de barco), sem no entanto terem localizado o local donde tinham partido os foguetes.
Retirada sem problemas pelo mesmo itinerário do acesso ao lugar.
Resultados
Segundo informações [pouco ou nada] fidedignas, na manhã do dia 4 de Novembro, 3.ª feira, ainda havia incêndio em Bolama. Todos os obuses caíram dentro da cidade e provocaram grandes destruições.
Na impossibilidade da elaboração de uma infogravura referente ao itinerário percorrido pelas forças mobilizadas para este ataque, já referido na introdução, optei por utilizar a imagem de satélite abaixo, indicando a vermelho a Ponta Bambaiã, local escolhido para o disparo dos foguetes 122 mm sobre Bolama.
4.   – BAIXAS
        - CCAÇ 13 (ex-CCAÇ 2591)
Desde a sua criação [Nov’1969], a CCAÇ 13 contabilizou 9 (nove) baixas, sendo 2 (duas) do Contigente Metropolitano e 7 (sete) do Recrutamento Local.
        - CCAÇ 14 (ex-CCAÇ 2592)
Desde a sua criação [Nov’1969], a CCAÇ 14 contabilizou 8 (oito) baixas, sendo 2 (duas) do Contigente Metropolitano e 6 (seis) do Recrutamento Local.
Continua…

Obrigado pela atenção.
Com forte abraço de amizade,
Jorge Araújo.
24ABR2018.

quarta-feira, 18 de abril de 2018

P342 - GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE - ATAQUE A BOLAMA EM 03 DE NOVEMBRO DE 1969 (JORGE ARAÚJO)


MSG com data de 12ABR2018

Dando continuidade à partilha historiográfica de factos gravados durante a nossa presença militar no CTIG, eis mais uma narrativa elaborada a partir da consulta ao Relatório dos ataques realizados no último trimestre de 1969 contra alguns dos aquartelamentos das NT, situados nas regiões de Quinara e de Tombali, todos eles mencionados no "Plano de Operações na Frente Sul", e concretizados pelas forças do PAIGC.


O presente texto corresponde ao primeiro de dois fragmentos relativos ao ataque à cidade de Bolama, realizado em 3 de Novembro de 1969, com recurso à utilização de foguetes/foguetões 122 mm, vulgo peças "GRAD".

Com um forte abraço de amizade.

Jorge Araújo.


GUINÉ
Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494
(Xime-Mansambo, 1972/1974)

GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE
“PLANO DE OPERAÇÕES NA FRENTE SUL” [OUT-DEZ’69] - ATAQUE A BOLAMA EM 3 DE NOVEMBRO DE 1969 -
(AO TEMPO DA CCAÇ 13 E CCAÇ 14)
(Parte I)
1.  - INTRODUÇÃO
Nove dias depois do ataque a Bedanda (25OUT’69 – o 2.º) e três semanas após terem realizado igual acção a Buba (12OUT’69 – o 1.º), as forças do PAIGC voltaram a concretizar nova flagelação prevista no seu “plano”, a terceira, desta vez à cidade de Bolama, a 3 de Novembro de 1969, 2.ª feira, com recurso exclusivo a duas peças “GRAD”, cada uma delas preparada para projectar dois foguetes 122 mm.
Recorda-se que este “plano de acções militares”, num total de nove ataques, havia sido delineado para ser cumprido durante o último trimestre desse ano nas regiões de Quinara e de Tombali, situadas na zona Sul da Guiné, com recurso a uma logística considerável de equipamentos de artilharia pesada (morteiros 82 e 120; foguetes 122 “GRAD” e peças anti-aéreas “DCK”) e a mobilização de um numeroso contingente de guerrilheiros, pertencentes ao “Corpo Especial do Exército”, comandado por “Nino” Vieira (1939-2009).
No caso particular da cidade de Bolama, o efectivo destacado para esta missão era constituído por cerca de cento e vinte elementos comandados por Umaro Djaló, uma força menor do que as anteriores, uma vez que no “calendário” estavam programados outros ataques para os dias imediatos, como eram os casos de Cacine e Cabedú, por esta ordem, conforme se indica no quadro abaixo.

Para a elaboração da presente narrativa, como para todas as outras que fazem parte deste dossier específico, já publicadas ou a publicar, continuaremos a utilizar o relatório “das operações militares na Frente Sul” [http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40082 (2018-1-20)], documento dactilografado em formato A/4, sem capa e sem referência ao seu autor [mas acreditamos ser possível identificá-lo no decurso desta pesquisa], localizado no Arquivo Amílcar Cabral, existente na Casa Comum – Fundação Mário Soares.
Para além deste facto histórico a que o comandante Umaro Djaló ficou ligado [primeiro ataque a Bolama com foguetes/foguetões 122 mm], outros actos ou acontecimentos haveriam, mais tarde, de constar no seu projecto de vida, como sejam:
No pós «25 de Abril de 1974», no contexto do processo negocial com os representantes do governo português, visando a independência da Guiné-Bissau, fez parte da delegação do PAIGC que se deslocou a Londres para participar nas sessões de trabalho de 25 e 26 de Maio de 1974. A delegação do PAIGC era constituída por Pedro Pires (chefe da missão), Umaro Djaló, José Araújo, Lúcio Soares, Júlio Semedo e Gil Fernandes.
Três meses depois, a 26 de Agosto de 1974, o acordo era finalmente assinado em Argel, ficando definido o dia 10 de Setembro como o do reconhecimento da República da Guiné-Bissau. Neste acto participaram, então, como representantes do PAIGC: Pedro Pires (1934-), Umaro Djaló (1940-2014), José Araújo (1933-1992), Otto Schacht (-1980/ass.), Lúcio Soares (1942-) e Luís Oliveira Sanca.
Depois da Independência, tomou parte do I Governo da República da Guiné-Bissau, constituído por João Bernardo “Nino” Vieira (1939-2009/ass.), Umaro Djaló (1940-2014), Constantino Teixeira, Carlos Correia (1933-), Paulo Correia (-1986/ass.), Vítor Saúde Maria (1939-1999/ass.), Filinto Vaz Martins (1937-), João da Costa e Fidelis Cabral d’Almada [da esqª/ditª na imagem abaixo]. Era então Presidente da República Luís Cabral (1931-2009). Aquando do “golpe militar” de Novembro de 1980, que levou “Nino” Vieira ao poder, Umaro Djaló era chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas.


Citação: (1974), "Tomada de posse do I Governo da República da Guiné-Bissau", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43933 (2018-3)


A 29 de Maio de 2014, Umaro Djaló travou o último combate da sua vida, vindo a falecer no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, depois de aí lhe terem sido prestados, durante alguns meses, os cuidados e a intervenção clínica especializada em função do seu “problema” de saúde.
2.  – DESTINATÁRIOS DO ATAQUE A BOLAMA EM 3NOV1969:
- A CCAÇ 13 (CCAÇ 2591), A CCAÇ 14 (CCAÇ 2592) E O C.I.M.
Certamente que a data escolhida para o ataque a Bolama [Ilha] não foi por acaso, pois é credível que a mesma tenha sido aprovada sobre informações recolhidas pela sua “secreta”, aliás procedimento habitual em qualquer contexto de guerra, e mais natural seria, em função do método utilizado na guerra de guerrilha que tem no conceito “surpresa” o seu princípio estratégico.
Sendo Bolama a cidade do C.I.M. (Centro de Intrução Militar) por excelência, onde muitas das unidades metropolitanas realizavam o seu I.A.O. (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional), visando a adaptação ao clima e às condições da guerra, como foi o caso da minha CART 3494 (Xime) e restante contingente do BART 3873 (1971-1974) – [Bambadinca (CCS), Mansambo (CART 3493) e Xitole (CART 3492)] –, um ataque bem sucedido seria visto como um “grande ronco” e, por consequência, poderia influenciar o comportamento prospectivo das NT.


Recordam-se, com vista aérea de Bolama e respectiva legenda, os espaços mais frequentados pelos militares durante a sua premanência na cidade. Imagem postada pelo ex-Alf Mil Rui G. Santos, Bedanda e Bolama da 4.ª CCAÇ (1963/1965) – in: http://riodosbonssinais.blogspot.pt/search/label/bolama ou “Bolama… no meu tempo – Guerra do Ultramar”, com a devida vénia.
Entretanto no C.I.M., em finais de Outubro de 1969, estavam em fase de conclusão de formação/instrução mais duas Companhias de Caçadores designadas por CCAÇ 13 e CCAÇ 14, saídas da união entre praças africanas do Recrutamento Local e oficiais, sargentos e praças especialistas oriundos da Metrópole. Os quadros metropolitanos destas novas Unidades Independentes, mobilizados pelo Regimento de Infantaria 16, de Portalegre, pretenciam à CCAÇ 2591, que deu origem à CCAÇ 13, e a CCAÇ 2592 à CCAÇ 14, respectivamente.
Sobre as emoções, sensações e experiências gravadas por todos aqueles que, ao fim daquela tarde de 2.ª feira, a primeira do mês de Novembro de 1969, assistiram à explosão dos foguetões de 122 mm, recupero os testemunhos dos camaradas ex-furriéis Carlos Fortunato (CCAÇ 13/CCAÇ 2591) e Eduardo Estrela (CCAÇ 14/CCAÇ 2592), ambos membros da nossa «Tabanca».
Carlos Fortunato refere que “no dia 3/11/1969 quando a [companhia da etnia balanta] CCAÇ 13 [CCAÇ 2591 - “Os Leões Negros”] estava no cais de Bolama, preparando-se para embarcar numa LDG [rumo a BISSORÃ], ouviu-se um longínquo ‘pof’ vindo da parte continental (zona de Tite). Um dos africanos disse ‘saída’ sorrindo, mas logo a seguir passaram sobre as nossas cabeças 3 [no relatório constam quatro] foguetões de 122 mm. Um acertou numa das pequenas vivendas que corriam ao lado da rua principal, que ligava o porto ao largo principal da cidade, apenas a uns escassos 30m do local onde
estávamos. Outro caiu no largo principal um pouco mais acima, e o terceiro mais longe, já fora da zona habitacional. Corremos de imediato para o local dos impactos para prestar assistência às eventuais vítimas, mas felizmente apenas houve ferimentos muito ligeiros entre a população”. […] “Os morteiros 107 mm existentes no quartel de Bolama responderam ao fogo”. […] [sítio: CCAÇ 13 – Os leões Negros: Memórias da Guerra na Guiné (1969/71)]. [P9337-LG].
Por outro lado, Eduardo Estrela, da CCAÇ 14 [companhia das etnias mandinga e manjaca] - [CCAÇ 2592], acrescenta que “partimos em 3 de Novembro
de 1969 para a zona operacional que nos tinha sido destinada, CUNTIMA, junto à linha de fronteira do Senegal. Ainda em Bolama (…) sofremos, à hora da saída da LDG, um ataque onde o PAIGC utilizou pela primeira vez foguetões terra-terra. Ninguém sabia que tipo de armamento o PAIGC utilizara e só em Bissau, no dia seguinte, nos foi comunicado o tipo de arma”. [P11365-LG].
Na linha desta investigação daremos conta, no ponto seguinte, do que consta no relatório elaborado a propósito deste ataque. 
3.  - O ATAQUE A BOLAMA EM 3NOV1969… COM FOGUETES 122 MM “GRAD” LANÇADOS DA PONTA BAMBAIÃ
Objectivos da acção:
O objectivo definido para esta acção concretizou-se no dia 3 de Novembro de 1969, ao fim da tarde, com o bombardeamento da cidade de Bolama, através da utilização de quatro [testemunhas referem três]  foguetes 122 mm lançados de duas peças “GRAD” colocadas na orla costeira da zona sudoeste da região de Quinara, mais precisamente na Ponta Bambaiã. Para esta missão foram mobilizadas forças de infantaria e artilharia, as primeiras só com funções de segurança e apoio ao desempenho das segundas.
Como elemento de comparação entre as logísticas dos ataques já divulgados, apresentamos o respectivo quadro.

Desenvolvimento da acção: (as forças do PAIGC)
As nossas forças estavam constituídas por 3 bi-grupos de infantaria e duas peças de GRAD sob a responsabilidade do camarada [cmdt] UMARO DJALÓ.
Saída de Botché Chance pelas 17 horas do dia 29 de Outubro [de 1969], 4.ª feira. A operação deveria realizar-se no dia 3 de Novembro, 2.ª feira, à caída da noite. Na noite de 29 para 30 de Outubro a coluna cruzou o rio em Botché Col, e na manhã do dia 30 atingiu as imediações de Gândua. Na noite de 31 de Outubro para 1 de Novembro, a coluna cruzou o rio Tombali em Iangue, e na manhã do dia 1 de Novembro chegou a Bolanha Longe. A coluna deveria cruzar o rio na noite de 1 de Novembro, mas por falta de canoas só o pode fazer na noite de 2 de Novembro, domingo, tendo atingido Paiunco na manhã de 3 de Novembro, 2.ª feira. Chegada da coluna à Ponta de Bambaiã às 16 horas do dia 3 de Novembro (ponto escolhido de antemão para posição de fogo).
Citação: (1963-1973), "Umaro Djaló e outros combatentes numa base do PAIGC", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43455 (2018-3)
Na impossibilidade da elaboração de uma infogravura referente ao itinerário percorrido pelas forças do PAIGC mobilizadas para este ataque, por dificuldade em identificar os locais referidos no relatório, o que lamento, optei por utilizar a imagem de satélite abaixo.

Final da Parte I.
Na Parte II desta narrativa, serão abordados os seguintes pontos:
1 – O trabalho técnico da artilharia na posição de fogo – uso do GRAD.
2 – Reacção das NT.
3 – Resultados.
4 – Quadro de baixas da CCAÇ 13 (de 14Nov1969 a 23Abr1973).
5 – Quadro de baixas da CCAÇ 14 (de 11Nov1970 a 4Abr1974).


Obrigado pela atenção.
Com forte abraço de amizade,
Jorge Araújo.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

P340 - (In Memoriam) Augusto Vieira Fidalgo 05FEV1950/04ABR2018. Soldado da CART 3494/BART 3873 – Guiné - Xime, Enxalé e Mansambo - DEC1971/ABR1974


Coube-me de vos dar a notícia do falecimento de mais um camarada que trilhou os caminhos da guerra na Guiné, desta vez foi o Fidalgo. São num total de 29 camaradas que deixaram a vida terrena. Soube da notícia da sua hospitalização pelo nosso camarada e amigo Lúcio (Vizela), no dia 03 de Abril, informando-me da gravidade da situação.

Hoje recebi telefonema de seu filho dando-me conta de que seu pai padecia de um temor no fígado com ramificações nos pulmões, doença que evitou ao máximo para que a sua família não se apercebesse, desencarnou no dia 04 de Abril e foi sepultado no dia 05, no cemitério da freguesia de Coimbrões – Vila Nova de Gaia.

Em meu nome pessoal e de toda a CART 3494, apresentei aos familiares, sentidas condolências e que sua alma descanse em Paz.
XXXII convívio em Tondela, 11JUN2017 - Augusto Vieira Fidalgo e sua esposa

Quem era o Fidalgo? Lembro-me, (se a memória não me atraiçoa) que o Fidalgo para além de ser um soldado disciplinado, exerceu funções de professor das crianças no Enxalé, também foi o autor da publicação da “HISTÓRIA DA UNIDADE” BART3873 – (CCS, CART 3492, CART 3493 e CART 3494).
Participou praticamente em todos os convívios que a CART 3494 realizou. Foram até ao momento 32. Exercia como sua última actividade, industrial de táxis no Porto.

Algumas fotos:
07JUN2003 - Família Fidalgo no XVIII convívio em Vila Fria - Viana do Castelo

07JUN2003 - XVIII convívio em Viana do Castelo