Carta à Guiné-Bissau
Por: Drª Brígida Brito
Querida Guiné-Bissau,
Hoje escrevo-te cheia de
dúvidas e de perplexidades. Sabes bem que não te tenho acusado de nada e que
tenho procurado compreender as tuas razões, respeitando-as. Mas deixa-me que te
diga que a ideia que transmites é de estares a chegar ao limite de ti mesma, a
perder as forças e o sentido da razão.
Não entendo o que se passa
contigo para andares nessa angústia permanente, nesse estado de ansiedade
revoltada e revoltosa, com conflitos latentes e, sempre que o momento chega,
manifestando-te de forma sangrenta e impensável. Tu é que sabes o que queres,
ou pelo menos julgas saber o que não queres, e tenho de reconhecer que isso é
qualquer coisa de que todos nos devemos congratular. Mas não conseguirás
afirmar-te depois de te libertares desse enredo fechado de conflitos e
intrigas, de lamúrias e vinganças, de instabilidade e violência. Não
conseguirás, de uma vez por todas, revelar o que de melhor tens, ultrapassando
essa ânsia de poder, essa vontade escondida de demonstrares o que na verdade
não és, essa ambição desmedida e que facilmente foge ao teu controle.
Querida Guiné-Bissau
promete-me que te vais tranquilizar, que vais encontrar uma forma de
conseguires aceitar as tuas próprias fraquezas, que vais fazer um esforço para
minimizar as dores e as tristezas que tanto te marcam e que vais olhar para o
futuro com uma consciência esperançada. Promete-me que vais encontrar forças
onde julgas impossível para ultrapassar diferenças e barreiras, que vais fazer
um esforço por aceitar que o caminho se faz caminhando. Promete-me, por favor,
que vais pelo menos tentar...
(* ) Brígida Rocha Brito,
é socióloga e doutorada em Estudos Africanos, professora no ensino superior e
investigadora sobre questões africanas, trabalhando sobre os PALOP, em particular
Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola e Cabo Verde - o lado do Atlântico.
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