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terça-feira, 2 de dezembro de 2008

P9: A ESCOLA DURANTE A LUTA DE LIBERTAÇÃO (1961-1974 )

PAIGC (Partido Independência Guiné e Cabo Verde)

Segundo a visão dos nacionalistas da guerra colonial na Guiné, a instituição de uma contra escola em zonas libertadas propiciava uma doutrinação anti - colonial. Criaram uma rede escolar na base de uma contra pedagogia. Nos primeiros anos foram recrutados professores sem critérios habituais em todas as regiões militares. Mais de metade destes professores não sabiam construir perfeitamente uma frase em português. A questão era simplesmente saber escrever, ler bem ou mal um texto, somar ou multiplicar, etc., pois havia uma famosa palavra de ordem do PAIGC que marcou os militantes quem sabe deve ensinar os que não sabem.
Mas quando se verificou que o crioulo suplantava o português e que a mediocridade ia por conseguinte desmoronar o próprio sistema de ensino, este partido - movimento de libertação promoveu acções de superação do pessoal docente em Conakry e Boé, por um pessoal forçado a ser pedagogo de circunstância, provavelmente para não ser incorporado no exército real de libertação. A extensão deste sistema de ensino de miséria deu origem à semelhante acção eufórica no espaço controlado pelo exército colonial: a administração portuguesa promoveu uma nova escola e uma campanha de reconstrução das aldeias danificadas pela guerra, e, simultaneamente, construía habitações estratégicas à volta ou perto das suas instalações militares.

Todo esse esforço servia para sensibilizar a comunidade internacional, a população da sua área de influência política e, por fim para conter o avanço da oposição armada e isola-la. Também na sequência da aplicação deste programa de contra propaganda, baptizado por Guiné Melhor para uma nova portugalidade, que se criou um centro de formação acelerada de professores de primária em Bolama (sul do país). Sem dúvida, a massificação do ensino em ambos os lados foi notável sucesso estatístico, em poucos anos a população escolar e o número de alfabetizados (militares e civis) aumentaram de tal forma que a qualidade foi absorvida por uma mediocridade espantosa.

DA INDEPENDÊNCIA AO RESTAURO DA ORDEM INSTITUCIONAL - (1974-2001).
Uma situação complicada tem marcado o país depois da evacuação das tropas coloniais e, por conseguinte a tomada do poder pelo PAIGC, foi o encontro de dois sistemas antagónicos que partilhavam o território nacional durante a luta de libertação nacional: por um lado, o sistema de ensino colonial; por outro, um sistema de ensino super politizado que vigorava no espaço controlado pelo PAIGC durante a luta de libertação nacional.
Ambos estavam em dissonância clara com as prioridades de desenvolvimento dos guineenses, de igual modo com os desafios do tempo.
A este caso juntaram-se outros:

1. A presença de três cortes de docentes: a primeira, vinda das regiões libertadas sem formação inicial convencional em ensino, tinha sérias dificuldades académicas; a segunda embora tivesse passado pela escola de formação de Bolama, transpirava na maioria um perfil duvidoso para o novo poder; a terceira, voluntária e moldada também no ex-espaço de influência colonial, incluía até alunos com ensino básico completo.

2. Os poucos formados em técnicas de ensino só conheciam os programas e os manuais da autoria de antigo regime político, e, haviam um clima de medo do novo regime, na época, era onda de fuzilamento de compatriotas acusados de estarem ao lado dos colonialistas no tempo da luta.

3. A inexistência de verdadeiros programas e manuais nas bagagens dos libertadores.

4. A censura política dos manuais coloniais: paginas arrancadas sem contrapartida didáctica

5. A introdução da sócio-erosiva disciplina conhecida pelo espantoso nome de Formação Militante um instrumento de detecção de correntes indesejáveis, de doutrinação e de captação. Entre os docentes desta disciplina e alunos excelentes, o regime recrutava informadores da sua polícia política, professores de história sem mínima formação, activistas políticos e directores de escolas, para além de muitas outras vantagens sociais.

Bem ou mal a maquina arrancou na engrenagem da contradição que tem prevalecido entre a realidade, a propaganda política e o programa de educação inadaptado. O estado, a despeito da persistência da crise económica, consagrava uma porção dos seus magros recursos à educação cujo orçamento votado aumentava cada ano. Realmente, regime foi forçado a comportar-se dessa maneira porque o povo, em cada acontecimento político importante, fora dos centros urbanos declarava que queria uma escola, um posto de saúde e ‘um armazém do povo. Nas suas respostas habituais, os representantes do partido-estado, para agradarem as populações das tabancas (aldeia) visitada, faziam declarações comprometedoras, foi assim que, sem estudos prealáveis, muitas escolas foram implantadas: a maioria era composta de barracas e muito longe das zonas mais populosas.

Outro paradoxo grosseiro é a persistência da morosidade, o salário de miséria acumulados, a sobreposição de estruturas, etc. A única dinâmica saliente é alternância entre gerações de medidas improdutivas e de inadequações sistemáticas, ambas concorrendo à porfia em detrimento do rigor e da qualidade.
JAILSON CUINO
Licenciado em História pela Universidade de Coimbra
DESS em Planificação e Gestão de Educação pelo Instituto Internacional de Planificação de Educação, Paris, França

Fonte: Agência Bissau
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6 de Novembro de 2007 – 19h25

1 comentário:

Anónimo disse...

Todos sobreviventes de CONACRY, políticos, intelectuais, familiares, historiadores e interessados deveriam criar uma base de dados para reconstituir toda dinâmica que remonta dos anos 50 até aos anos 60.

Há uma tendência de minimizarem o nacionalismo oriundo da Guinée Conacry que envolveu a criação, fundação de partidos e movimentos de libertações.
O papel relevante da mobilização e outras actividades com repercussão internacional em prol da libertação pelos movimentos de libertação nos territórios sob dominação Portuguesa.
Os historiadores contemporâneos ou todos os intervenientes, estudiosos e interessados na importância da génese do nacionalismo libertário supostamente honestos e sérios deveriam congregar esforços para reconstituir toda essa dinâmica.
Deveria ser criado um banco de dados onde seriam não só lançados dados úteis como doações de espólios.
Esta cooperação permitiria uma credibilização e reposição valorização de uma das etapas tão nobres do nacionalismo tão genuíno como as outras.
Deveria haver uma preocupação de interligar todos centros de pesquisa histórica para restituir a verdadeira grandeza de Conacry reconstituindo a sua génese.
A s vozes dos nacionalistas se vão apagando e a história continua a não testemunhar a verdadeira dinâmica.
Será que o MPLA como força política acompanhará todas as consequências da globalização?
Todos esses processos de desenvolvimento serão compatíveis com a essência nuclear vigente do MPLA de hoje?
Afinal o que é que separa os objectivos do MPLA de hoje em relação ao MPLA de Conacry?