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domingo, 23 de março de 2014

P200 - 23 DE MARÇO DE 1972 - A PARTIDA – FOI HÁ QUARENTA E DOIS ANOS (Antero Santos ex. Fur. Milº Atirador/Minas e armadilhas - Guiné 72/74 CCAÇ 3566 Empada e CCAÇ 18 Aldeia Formosa)

Mensagem do nosso camarigo, Antero Francisco Carvalho dos Santos, residente na Vila de Avintes, ex. Fur. Milº atirador, minas e armadilhas, esteve na Guiné ao serviço do Estado Português desde Março72 a Junho de 1974, pertenceu à CCAÇ 3566, EMPADA - Março a Dezembro de 1972 e CCAÇ 18, ALDEIA FORMOSA - Janeiro 1973 a Junho de 1974.
SC


                             


Antero em Aldeia Formosa
No dia 20 de Fevereiro de 1972, no Batalhão de Caçadores 10, em Chaves, recebi a notícia de que havia sido mobilizado para a Guiné; iria fazer parte da CCAÇ 3566 – Companhia de Caçadores 3566, e tinha como destino a povoação de Empada. A Companhia adoptou o nome  “OS METRALHAS”. Foi nomeado comandante da Companhia, o Capitão Miliciano João Rocheta Rua.
No dia 22 de Março de 1972, por volta das onze horas da noite, em autocarros da Auto-Viação do Tâmega, a CCAÇ 3566 partiu de Chaves rumo a Lisboa. Chegamos a Lisboa, ao Aeroporto Militar de Figo Maduro, por volta das sete horas da manhã do dia 23 e às duas da tarde partimos para Bissau.
Depois de quatro horas de voo, chegamos a Bissau, ao Aeroporto de Bissalanca, às catorze horas locais. 
A primeira sensação que tive, ainda no avião, quando sobrevoava a cidade, era de que só se via vegetação. Depois de aterrar e quando saí do avião, senti um calor abrasador. Seguimos em camiões militares para o quartel do Batalhão de Intendência.

Depois de instalados no Batalhão de Intendência aproveitamos para visitar a cidade; ao fim da tarde regressamos ao quartel onde iríamos passar esta noite; no dia seguinte seguiríamos para Bolama; aproveitei para me deitar a fim de descansar um pouco e adormeci; em determinada altura sou acordado e olhando para o indivíduo que me acordou, pergunto:
“Então Rocha, ainda há tão pouco tempo foste para a Guiné e já cá estás de férias?”
Tratava-se do José Rocha, filho do Jorge Arouca, de Aldeia Nova, que era Furriel Miliciano no Batalhão de Serviço de Material e que sabia que eu chegava naquele dia. O meu corpo já estava na Guiné mas a minha mente ainda estava na Metrópole – confusão total dos meus neurónios.
O meu grupo de combate da CCAÇ 18 pronto para mais uma saída de dois dias
Ficamos esta noite em Bissau e no dia 24 cada um de nós recebeu duas rações de combate “tipo E20” para os dois dias seguintes (pequeno almoço, almoço e jantar) e, de novo em camiões, seguimos para o cais de Bolola, no Rio Geba, em Bissau onde chegamos às oito horas da manhã, hora para o embarque na LDG - Lancha de Desembarque Grande - de nome ALFANGE –– para a ilha de Bolama; o embarque acabou por acontecer somente às onzehoras e chegamos somente ao fim da tarde a Bolama, já que a viagem demorou cerca de sete horas. O atraso na hora de embarque não permitiu beneficiar da maré cheia e a viagem não pôde ser efectuada pelo canal, pelo que se teve contornar toda a Ilha de Bolama. Pelo canal, a viagem demoraria metade do tempo. Depois da chegada a Bolama, ficamos instalados no CIM – Centro de Instrução Militar – com a finalidade de fazer a IAO – (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional). A IAO constava de actividades idênticas àquelas que iriam ser a realidade dos nossos dias quando estivéssemos no mato. Fiz parte do 4º grupo de combate, comandado pelo Alferes Magalhães (da Póvoa de Varzim) e de que faziam parte também os Furriéis Milicianos Miguel Souto (de Cervos, Boticas) e Horácio Ferreira (da Póvoa de Varzim). Durante este período, aconteceu o meu baptismo de fogo: a cidade de Bolama foi alvo de um ataque do inimigo. Neste ataque o IN lançou vários mísseis (foguetões de 122mm) mas não houve consequências para as NT porque todos os mísseis falharam o alvo.

Depois deste dia 23 de Março de 1972 seguiram-se longos nove meses divididos por Bolama e Empada; depois de frequentar um Estágio de Enquadramento em Unidades Africanas fui destacado para uma Companhia Africana - a 4 de Janeiro de 1973 segui para a CCAÇ 18, em Aldeia Formosa; foram os tempos mais difíceis - dezassete meses em Aldeia Formosa, numa Companhia Africana; Aqui soube verdadeiramente o que foi combater.
 Na primeira ou segunda semana de Junho/74 regressei a Empada para levantar dois campos de minas (um total de quarenta e quatro minas) que havia montado na mata de Cantora e em Caur de Cima, cerca de vinte e dois meses antes; procedi ao levantamento de quarenta e duas minas; infelizmente duas das montadas em Caur de Cima (povoação abandonada) haviam sido accionadas.
Regressei no dia 24 de Junho de 1974 depois de oitocentos e vinte e três dias na Guiné (com o intervalo de trinta dias de férias em Fevereiro/Março de 1973).
O regresso- 24 de Junho de 1974 - Aeroporto de Bissalanca - Bissau

Para além da experiência vivida e que apesar de tudo acabou por ser fantástica, dos louvores, da Medalha Comemorativa das Campanhas de África - Guiné 72/74, do “prémio anual” no valor de 150 euros/ano pelos 27 meses ao serviço da Pátria, tenho de “conviver” diariamente com o maldito stress pós-traumático de guerra. Mas a vida continua, com a consciência de que fiz o que a Pátria me pediu.
 “Defendeste a Pátria, cumpriste o teu dever; a Pátria foi ingrata, fez o que costuma fazer”. Padre António Vieira.

Antero Santos
A vermelho grosso as zonas que "palmilhei" à volta de Empada e à volta de Aldeia Formosa. O percurso para Buba era feito de Berliet - as célebres colunas de reabastecimento

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