MSG com data de, 30JAN2018 por:
Jorge Alves Araújo,
ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494
(Xime-Mansambo,
1972/1974)
Caríssimo Camarada Sousa de Castro,
Os meus melhores cumprimentos.
Depois de ter encontrado resposta à dúvida suscitada por uma
foto de um espaldão de morteiro 81 localizada no Arquivo Amílcar Cabral, a que
chamámos «Espaldão com História», eis que, por via dessa investigação, foi
possível elaborar mais esta narrativa tendo por fonte privilegiada um relatório
elaborado pelos principais responsáveis pelo ataque do PAIGC a Buba, em 12 de
Outubro de 1969.
Com um forte abraço de amizade,
Jorge Araújo.
Citação: (1963-1973), "Ponto de tiro de morteiros, do
pelotão de morteiros 2139, do exército português.", CasaComum.org, Disponível
HTTP:http://casacomum.net/cc/visualizador?pasta=05360.000.325
GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE
ATAQUE A BUBA EM 12 DE OUTUBRO DE 1969
(AO TEMPO DA CCAÇ 2382 E DO PEL MORT 2138)
- OS FRACASSOS ASSUMIDOS PELO PAIGC -
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1. -
INTRODUÇÃO
Como
tive a oportunidade de referir na anterior narrativa sobre este tema, uma foto
de um “espaldão de morteiro” localizada na Casa Comum - Fundação Mário Soares -
na pasta: 05360.000.325, com o título/assunto: “Ponto de tiro de morteiros, do
pelotão de morteiros 2138, do exército português… estrutura militar portuguesa
à beira de um rio [?]: ponto de tiro de morteiros, do pelotão de morteiros
2138”, deu lugar a uma nova investigação, tendo duas questões de partida: 1. - como chegou ela (foto do espaldão)
às mãos da guerrilha e/ou aos arquivos de Amílcar Cabral (1924-1973); 2. - em que aquartelamento das NT teria
ele sido construído?
Quanto
à primeira questão, creio ser difícil, quase impossível, obter uma resposta
fiável, a não ser que o seu autor tomasse a iniciativa de se identificar.
Quanto à segunda, foram várias e imediatas as respostas, dando-nos conta tratar-se
do «Espaldão do morteiro 81» colocado na embocadura do rio Grande de Buba, junto
ao arame farpado do Aquartelamento de Buba.
Para
além da preciosa ajuda dos nossos camaradas tertulianos que por lá passaram,
destaco aqui o contributo do Fernando Oliveira (Brasinha) do Pel Mort 2138, que
fez o favor de nos mandar algumas fotos desse local… com história, e que muito
agradecemos. Para que conste, apresentaremos abaixo duas fotos desse espaldão,
a primeira, talvez de 1973 ou princípios de 1974 [?] (a do arquivo de fotos de
Amílcar Cabral), a segunda do tempo do Pel Mort 2138 (1969/1971), do baú de
memórias do camarada “Brasinha”.
Posição do espaldão do
morteiro 81, na embocadura do rio Grande de Buba [P18231]
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Efectivos:
Dispunhamos para a operação dos
seguintes efectivos:
Artilharia
- 9 canhões
sem recuo B-10, com 90 obuses;
- 9 morteiros
82, com 180 obuses;
- 2 peças
GRAD, com 7 foguetes;
Infantaria
- 5 bi-grupos
para o assalto ao quartel;
- 3 bi-grupos
para isolar Buba dos visinhos;
- 1 bi-grupo
para a segurança da artilharia;
Defesa
anti-aérea
- 12 DCK
Desenvolvimento da acção:
A operação devia ter início no
dia 12 de Outubro [1969] às 17 horas, mas devido a atrasos na instalação dos
canhões, só foi possível iniciá-la às 17h30.
Os canhões efectuariam tiro
directo a uma distância de 1.200 metros; os morteiros 82 e GRAD estavam em
ligação telefónica com o posto de observação, situado a 800 metros do quartel.
A posição dos morteiros estava a 2.200 metros e a das peças de GRAD a 3.950
metros do quartel.
Primeiro abriram fogo os canhões
B-10, que falharam completamente, tendo apenas dois obuses atingido o quartel.
O inimigo respondeu com um nutrido fogo de morteiros [Pel Mort 2138], canhões
[2.º Pelotão/BAC], metrelhadoras e armas ligeiras [CCAÇ 2382 + Pel Milícia],
concentrando sobre o posto de observação (possivelmente já descoberto por ele),
sobre a posição do fogo dos canhões e sobre o itinerário percorrido pela linha
telefónica; como resultado da explosão dos obuses o fio telefónico foi cortado
em 7 [sete] lugares diferentes, ficando a ligação interrompida.
Além disso, unidades inimigas de
infantaria cruzaram o rio, pondo sob a ameaça de liquidação do posto de
observação, os canhões, em retirada, e os morteiros.
Conclusão:
Nestas condições, abortou a acção da artilharia, que
teve que se retirar, sempre debaixo do fogo das armas pesadas do inimigo.
Como não actuou a artilharia, tampouco actuou a
infantaria.
Tivemos duas baixas na operação: dois feridos, um
dos quais veio a falecer mais tarde. Além disso, temos a lamentar a morte de um
camarada de infantaria, por acidente.
Fonte:
Casa Comum – Fundação Mário Soares.
Pasta: 07073.128.011. Título:
Relatório das operações militares na Frente Sul. Assunto: Relatório das
operações militares do PAIGC contra Buba, Bedanda, Bolama, Cacine, Cabedu,
Empada, Mato Farroba, Cufar. Utilização dos foguetes. Algumas impressões sobre a
utilização da arma especial (GRAD) na Frente Sul durante os meses de Outubro e
Novembro de 1969. Data: c. Novembro de 1969. Observações: Doc. incluído no
dossier intitulado Relatórios 1965-1969. [Guileje]. Fundo: DAC - Documentos
Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.
Em jeito de conclusão, podemos dizer que os dois
relatórios se complementam, pela adição dos detalhes particulares observados em
cada um dos lados do combate.
Obrigado
pela atenção.
Com
forte abraço de amizade,
Jorge
Araújo.
22JAN2018.
Poste anterior da série:PELOTÃO DE MORTEIROS 2138 BUBA, NHALA, MAMPATÁ, ALDEIA FORMOSA E EMPADA (1969-1971)
1 comentário:
Que bem conheci. Fui protagonista do ataque a Buba em 12 de Outubro de 1969, em serviço na C.Caç. 2382. Este não foi o pior... Considero o ataque â Povoação de "Contabane" em 22/Junho/1968 onde corri mais risco. Faz parte do passado, mas por vezes relembramos esses infelizes acontecimentos. Abraço
Alberto Silva
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