Na sequência das minhas
últimas narrativas, anexo mais um texto relacionado com as "minhas visitas
a Buba", cruzando-o com o espólio do Arquivo Amílcar Cabral,
particularmente a que se refere ao 2.º ataque, efectuado em 11 de Dezembro de
1969 - PARTE I.
Até breve.
Com um forte abraço de
amizade.
Jorge Araújo.
OS FRACASSOS ASSUMIDOS PELO PAIGC NO ATAQUE A BUBA [12OUT1969]
… E OS OUTROS QUE SE SEGUIRAM
(AO TEMPO DA CCAÇ 2382 E DO PEL MORT 2138)
(Parte I)
1. -
INTRODUÇÃO
Nas
últimas três narrativas estivemos focalizados na região de Buba, ao tempo da
CCAÇ 2382 e Pel Mort 2138, com a primeira visita a acontecer por acaso, quando
encontrámos uma foto de um «espaldão de morteiros 81» no Arquivo Amílcar
Cabral, localizada na Casa Comum – Fundação Mário Soares, e que, após
identificado o local, nos permitiu chegar ao episódio de um ataque a esse
Aquartelamento ocorrido em 12 de Outubro de 1969, domingo. Desse ataque foi
produzido um “Relatório do Ataque”, como procedimento habitual das NT, redigido
pelo CMDT da CCAÇ 2382, ex-Cap Mil Carlos Nery Gomes de Araújo [vidé P333].
Por
efeito da pesquisa com ela relacionada [foto], na qual se adicionou o
contributo escrito sobredito, tivemos acesso, «do outro lado do combate», a um
relatório, sem referência ao seu autor, elaborado a propósito “das operações militares na Frente Sul”,
realizadas pelo PAIGC no último trimestre de 1969, onde se incluía a análise
crítica a um primeiro ataque a Buba efectuado naquele dia 12 de Outubro, com se
indica acima [http://hdl.handle.net/ 11002/fms_dc_40082 (2018-1-20).
Aí
são apresentadas as principais razões para os fracassos contabilizados nessa
acção [P334].
Finalmente,
e para concluir a investigação sobre os Pelotões de Morteiros que passaram pelo
Aquartelamento de Buba, foi elaborado um cronograma com essas Unidades,
tendente a identificar os períodos das suas respectivas comissões, no quadro
temporal iniciado em 1964 e até 1974 [P335].
Por
todas estas razões, o presente trabalho procura dar sequência ao modo como os
responsáveis do PAIGC (re) agiram aos fracassos anteriores e o que preconizaram
fazer depois disso, e com que resultados.
2. - OS
FRACASSOS ASSUMIDOS PELO PAIGC EM 12OUT1969…
E OS SEGUINTES…
Recorda-se que este primeiro
ataque só foi concretizado depois de
um longo período de minucioso reconhecimento sobre as melhores condições
geográficas para a actuação da artilharia com três posições de fogo distintas.
Por outro lado, esse reconhecimento previa também identificar as melhores vias
de acesso para a infantaria e locais para a sua disposição, uma vez que iriam
estar no terreno um universo superior a três centenas de combatentes,
comandados pelo capitão cubano Pedro Peralta e por Nino Vieira.
Entretanto, durante esse reconhecimento, um grupo
de guerrilheiros foi descoberto pelas NT, no dia 7 de Outubro, quando o
sentinela do Pel Mort 2138, colocado no posto de vigia junto à Pista de
aviação, detectou um guerrilheiro nas imediações da Pista. No dia seguinte (dia
8), na continuação do reconhecimento supra, um grupo IN accionou uma mina A/P
reforçada implantada pelas NT junto ao cruzamento das estradas de Nhala e Buba
(in: História do Pel Mort 2138, p3, recorte abaixo).
Pelo acima exposto, confirma-se, então, o que é
descrito no relatório da acção do PAIGC; “no
cumprimento desta última missão de reconhecimento temos a lamentar a morte de
um camarada e o ferimento de outros dois, entre os quais o camarada CAETANO
SEMEDO, em consequência da detonação duma mina antipessoal” [P18244-LG].
Esta operação, que deveria ter
início pelas 17 horas, só se iniciou meia hora mais tarde devido a atrasos na
instalação dos canhões. O ataque iniciou-se com fogo dos canhões B-10, que
falharam os alvos, tendo apenas dois obuses atingido o quartel. O inimigo [NT]
respondeu com um nutrido fogo de morteiros [Pel Mort 2138], canhões [2.º
Pelotão/BAC], metrelhadoras e armas ligeiras [CCAÇ 2382 + Pel Milícia]. Além
disso, unidades inimigas [NT] de infantaria cruzaram o rio [de Buba], pondo sob
a ameaça de liquidação do posto de observação, os canhões, em retirada, e os
morteiros.
Citação: (1963-1973), "Irénio Nascimento Lopes; ensinando
os combatentes do PAIGC a manobrar um canhão sem recuo [B-10] de origem
soviética", [será que se trata do actual presidente da Federação de
Futebol da Guiné-Bissau - Manuel Irénio Nascimento Lopes “Manelito”?] CasaComum.org,
Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/ fms_dc_43809
(2018-2-2).
Nestas condições, abortou a acção da artilharia, que
teve que se retirar, sempre debaixo do fogo das armas pesadas do inimigo [NT]. Como não actuou a artilharia, tampouco actuou a infantaria. Tivemos duas
baixas na operação: dois feridos, um dos quais veio a falecer mais tarde. Além
disso, temos a lamentar a morte de um camarada de infantaria, por acidente.
Infogravura adaptada do
livro «Guerra Colonial», do Diário de Notícias, p. 295.
As setas a amarelo
servem para referenciar a zona onde se iniciou o ataque.
Em função do desempenho das NT, que certamente teria
provocado uma “louca correria” [digo eu] dos diferentes grupos em direcção a
terrenos mais protegidos e estáveis, o que não é de estranhar neste contexto, não
houve tempo para utilizar a totalidade do material de guerra transportado para
o local do ataque e que, em princípio, seria todo para “queimar”. Assim sendo,
e porque era mais cómodo e mais fácil correr sem pesos nas mãos ou noutros
locais, grande parte desse material ficou no terreno, sendo recolhido no dia
seguinte pelas NT. Disso dá-nos conta a “História do Pel Mort 2138, p.90”.
15h30, quando elementos da mesma Unidade
- CCAÇ 2382/BCAÇ 2834 (1968/1969) -, que se encontravam perto do cruzamento de
Buba, contactaram com uma coluna de reabastecimento IN, causando a estes baixas
prováveis. Foram apreendidas 74 granadas RPG, 16 granadas de Morteiros 82, 3
minas anticarro, 11 minas antipessoais, 20 cunhetes 7,9 mm, muitos medicamentos
e géneros enlatados [in; História da Unidade, da qual retirámos a citação que
abaixo se reproduz].
Buba - material capturado ao PAIGC em 23NOV1968.
Foto do camarada Francisco Gomes, 1.º Cabo
Escriturário da CCS/BCAÇ 2834 (Buba, Aldeia Formosa,
Guileje, Cacine, Gadamael (1968/1969), In: https://guine6869.wordpress.com/album/, Com a devida vénia.
Como consequência dos sucessivos fracassos observados nas suas acções
contra o contingente sedeado em Buba [NT], foi aprovado pelos comandantes da
Frente Sul [que desconhecemos] a realização de um segundo ataque a esse
aquartelamento, com a inclusão de alterações estratégicas e de outros
procedimentos operacionais.
Como elemento histórico, seguidamente daremos conta do seu conteúdo,
dividido em pequenos fragmentos, ficando a sua conclusão para a Parte II, a
publicar oportunamente.
3. – O
SEGUNDO ATAQUE A BUBA EM 10DEZ1969 QUE, DEVIDO A SUCESSIVAS FALHAS NA SUA
ORGANIZAÇÃO, PASSOU PARA 11DEZ1969
Dado o fracasso da primeira
operação contra Buba, tentada no dia 12 de Outubro [1969], foi decidido cumprir
a missão de atacar Buba na fase final da campanha [último trimestre]. Para isso
levámos a cabo novos reconhecimentos: novas vias de acesso para a infantaria e
escolha de novo posto de observação.
As nossas forças deviam actuar
no dia 10 de Dezembro [1969], quarta-feira, com os seguintes efectivos [indicam-se
no quadro abaixo, como elemento de comparação logística, as quantidades
utilizadas no 1.º ataque]:
Desenvolvimento da acção:
Deviam actuar primeiro as peças
do GRAD, em seguida os morteiros 120 da mesma posição de fogo que as peças do
GRAD e, por último, a infantaria devia assaltar o quartel.
Utilizávamos,
pela primeira vez, os “rádios 104” para garantir a comunicação entre o posto de
observação e a posição de fogo. Infelizmente, estes não funcionaram no momento
em que se devia iniciar a operação, forçando-nos a adiá-la para o dia seguinte,
com a substituição dos rádios por telefones.
Citação: (1963-1973), "Operador de rádio da
guerrilha", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43758
(2018-2-2)
De novo
tivemos de suspender a operação que devia ter lugar no dia 11 [Dez’69], devido
a uma série de falhas nas instalações telefónicas e, mais tarde desistir da
utilização da artilharia, dada a actuação independente da infantaria, com a
qual, por falta de meios de comunicação, não foi possível combinar um outro
plano em substituição do que estava previsto.
Final
da Parte I.
Na
Parte II deste tema, serão abordados os seguintes pontos:
1
– Conclusão do desenvolvimento da acção e respectivos resultados.
2 – Análise crítica sobre os aspectos que influenciaram
a marcha das operações, como sejam: o reconhecimento dos quartéis; equipamento
(fardamento); alimentação; comunicações e funcionamento do corpo de exército.
Obrigado
pela atenção.
Com
forte abraço de amizade,
Jorge
Araújo.
Vd. poste anterior aqui: BUBA E OS SEUS PELOTÕES DE MORTEIROS 81 - UM ESPALDÃO COM HISTÓRIA
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