ATAQUE A BEDANDA (24OUT1969)
Jorge Araújo, ex. FUR MIL. Op. Esp./Ranger, CART 3494 - Xime e Mansambo, 1972/74 |
Trata-se, agora, da primeira de duas parte relativas ao
ataque ao quartel de Bedanda, realizado em 24 de Outubro de 1969, o 3.º de um
"pacote" de oito.
Com um forte abraço de amizade.
Jorge Araújo.
GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE
“PLANO
DE OPERAÇÕES NA FRENTE SUL” [OUT-DEZ’69] - ATAQUE
A BEDANDA EM 25 DE OUTUBRO DE 1969 -
(AO TEMPO DA CCAÇ 6, 1967/1974)
(Parte I)
1. -
INTRODUÇÃO
Nas
duas anteriores narrativas [P336 e P337], tivemos a oportunidade de partilhar
com o colectivo do nosso blogue o calendário do “plano de acções militares” do
PAIGC, aprovado para ser operacionalizado durante o último trimestre de 1969
nas regiões de Quinara e de Tombali, situadas na zona Sul da Guiné, envolvendo a
mobilização de um numeroso contingente de guerrilheiros de infantaria apoiados por
uma quantidade considerável de equipamentos de artilharia pesada, incluindo
peças anti-aéreas DCK.
Aos
oito ataques a diferentes aquartelamentos previstos nesse “plano”, os seus responsáveis
militares, nomeadamente “Nino” Vieira (1939-2009), decidiram acrescentar mais
um, exactamente ao mesmo local com que abriram as hostilidades – Buba, em
12OUT1969 – com o objectivo de corrigir os fracos desempenhos registados
durante a primeira missão do seu “exército” neste “programa”, depois de ela ter
sido considerada de “enormes fracassos”. Esta nova acção/missão, classificada
como sendo um segundo ataque a Buba, ficou agendada para o dia 10 de Dezembro
de 1969, com a qual se daria por encerrada esta “campanha”.
Recorda-se
que a elaboração desta narrativa, como de todas as outras que fazem parte deste
dossier, tem na sua génese o relatório “das operações militares na Frente Sul”
[http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40082 (2018-1-20)], documento dactilografado
em formato A/4, sem capa e sem nome do seu autor [mas que seguiremos em frente
na busca da sua identificação], localizado no Arquivo Amílcar Cabral, existente na Casa Comum – Fundação
Mário Soares. A esse documento base foram, ainda, adicionadas outras
informações de diferentes fontes bibliográficas tendentes a ampliar a
compreensão/explicação de cada ocorrência, gravadas nos dois lados do combate,
instrumentos indespensáveis para o seu aprofundamento histórico.
2. - AS
ORIGENS DA CCAÇ 6 (COMPANHIA DE CAÇADORES N.º 6) – SUBSÍDIO HISTÓRICO
Esta companhia de caçadores, constituída
por praças africanas de Recrutamento Local, era enquadrada por oficiais,
sargentos e praças especialistas oriundos da Metrópole, tal como as restantes
que foram organizadas nessa época no CTIG, cumprindo os últimos o período da
Comissão de Serviço obrigatório previsto na Lei. Quanto aos primeiros, estes
mantinham-se, marioritariamente, ligados à sua Unidade de base, uma vez que um
dos objectivos emergentes para a sua criação foi/era a segurança e/ou defesa
das suas populações, estando implicita neste conceito a actividade operacional
na luta contra os grupos da/de guerrilha armados.
Para além da CCAÇ 6, o
Aquartelemanto de Bedanda dispunha também de um Pelotão de Canhões sem Recuo
[PCS/R], de um Pelotão de Artilharia «obus 14 mm» [PArt] e de um Pelotão de
Milícias [PMil n.º 143] da etnia fula.
Devido à sua intensa e porfícua
acção operacional realizada ao longo dos anos, com importantes resultados
obtidos nas múltiplas missões que lhe foram confiadas, a Companhia de Caçadores
n.º 6 [CCAÇ 6] viria a ser merecedora de uma condecoração atribuída pelo
Governo Central ao seu Estandarte [Cruz de Guerra de 1.ª Classe], em cerimónia
pública presidida pelo Chefe de Estado, Almirante Américo Thomaz (1894-1987),
de homenagem às Forças Armadas Portuguesas, realizada no Terreiro do Paço, em
Lisboa, no dia 10 de Junho de 1968, data que até ao «25 de Abril de 1974» era
também conhecida como “Dia de Camões, de Portugal e da Raça”.
Para que conste, eis a
transcrição do texto que originou a condecoração tornado público na comunicação
social [ex.: Diário de Lisboa, em 11 de Junho de 1968, p11; e Diário de Notícias,
em 12 de Junho de 1968].
3. - O ATAQUE
A BEDANDA EM 24OUT1969… QUE PASSOU PARA 25OUT1969 DEVIDO A SUCESSIVAS FALHAS NA
SUA ORGANIZAÇÃO
Desenvolvimento da acção:
No dia 24 de Outubro [de 1969],
às 17h15, as forças do Corpo Especial de Exército deviam atacar as instalações
militares do campo de Bedanda com as seguintes forças, assim constituídas
[apresentamos um quadro comparativo entre o 1.º ataque a Buba, em 12OUT1969, e
este 2.º a Bedanda]:
Contavamos com a ajuda de 80 “povo”
[carregadores] no transporte das munições até à posição de fogo. Devido ao
número insuficiente de transportadores não pudemos concentrar no local toda a
quantidade de munições necessária e muito menos distribui-la a tempo para as 3
posições de fogo, razão principal porque tivemos que adiar a missão.
Por acaso, as forças de
infantaria tinham tido muitas dificuldades e atrasado bastante a sua chegada ao
local e a tomada de posição no trerreno, não se verificando portanto qualquer
desajuste.
Citação: (1963-1973), "Combatente do PAIGC com um grupo de
jovens carregadores", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43743
(2018-2-11) (com a devida vénia).
No dia seguinte, e com a
aprovação do camarada “Nino” [Vieira], Comandante do Corpo Especial de
Exército, nos prontificamos (as forças de Artilharia) a realizar a operação e a
iniciá-la à mesma hora indicada para o dia anterior [17h15].
Realmente, às 15h30 inciamos a
colocação das peças e a instalação das ligações telefónicas. Às 17h00 todas as
peças estavam prontas para o tiro, quando descobrimos avaria na comunicação,
devido a esse imprevisto só às 17h30 iniciamos o fogo de enquadramento com uma
peça de canhão 75, desde a posição de fogo do GRAD. O inimigo [NT] respondeu
imediatamente, cortando a instalação em dois pontos. Só 15 minutos depois
retomamos a direcção de tiro e demos por terminado o enquadramento para as
[peças] GRAD [foguetões de 122 mm].
Imediatamente as peças de canhão
abriram fogo, realizando tiro indirecto desde a distância de 2.000 metros. Do
posto de observação, pareceu-nos (a visibilidade, dada a hora já avançada da
tarde, era deficiente) ser um tiro efectivo, cobrindo a zona indicada.
Citação: (1966-1970), "Guerrilheiros do PAIGC
transportando as peças de um canhão sem recuo [B-10]", CasaComum.org,
Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/ fms_dc_44172
(2018-2-11) (com a devida vénia).
Final
da Parte I.
Na
Parte II desta narrativa, serão abordados os seguintes pontos:
1
– Conclusão do desenvolvimento da acção e respectivos resultados.
2 – Análise crítica à actuação da artilharia.
3 – Correcção das informações obtidas posteriormente
pelo PAIGC.
4 – Quadro de baixas militares da CCAÇ 6 (de 1Abr1967 a
27Abr1974).
5 – Quadro de baixas militares da 4.ª CCAÇ (de Jul1963
a Fev1967).
Obrigado
pela atenção.
Com
forte abraço de amizade,
Jorge
Araújo.
|
Sem comentários:
Enviar um comentário