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segunda-feira, 26 de março de 2018

P338 - GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE - ATAQUE A BEDANDA EM 25 DE OUTUBRO DE 1969 (PARTE I) Por: Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494 (Xime-Mansambo, 1972/1974)

MSG de Jorge Araújo, ex.  com data de 19MAR2018


ATAQUE A BEDANDA (24OUT1969)


Jorge Araújo, ex. FUR MIL. Op. Esp./Ranger, CART 3494 - Xime e Mansambo, 1972/74
Mais uma narrativa original relacionada com o Relatório dos ataques realizados no último trimestre de 1969 contra alguns dos aquartelamentos das NT, situados nas regiões de Quinara e de Tombali, todos eles incluídos no "Plano de Operações na Frente Sul".

Trata-se, agora, da primeira de duas parte relativas ao ataque ao quartel de Bedanda, realizado em 24 de Outubro de 1969, o 3.º de um "pacote" de oito.

Com um forte abraço de amizade.

Jorge Araújo.


Fonte: http://ultramar.terraweb.biz/10Jun1968_Lisboa.htm (com a devida vénia).



GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE

“PLANO DE OPERAÇÕES NA FRENTE SUL” [OUT-DEZ’69] - ATAQUE A BEDANDA EM 25 DE OUTUBRO DE 1969 -
(AO TEMPO DA CCAÇ 6, 1967/1974)
(Parte I)


1.  - INTRODUÇÃO
Nas duas anteriores narrativas [P336 e P337], tivemos a oportunidade de partilhar com o colectivo do nosso blogue o calendário do “plano de acções militares” do PAIGC, aprovado para ser operacionalizado durante o último trimestre de 1969 nas regiões de Quinara e de Tombali, situadas na zona Sul da Guiné, envolvendo a mobilização de um numeroso contingente de guerrilheiros de infantaria apoiados por uma quantidade considerável de equipamentos de artilharia pesada, incluindo peças anti-aéreas DCK.
Aos oito ataques a diferentes aquartelamentos previstos nesse “plano”, os seus responsáveis militares, nomeadamente “Nino” Vieira (1939-2009), decidiram acrescentar mais um, exactamente ao mesmo local com que abriram as hostilidades – Buba, em 12OUT1969 – com o objectivo de corrigir os fracos desempenhos registados durante a primeira missão do seu “exército” neste “programa”, depois de ela ter sido considerada de “enormes fracassos”. Esta nova acção/missão, classificada como sendo um segundo ataque a Buba, ficou agendada para o dia 10 de Dezembro de 1969, com a qual se daria por encerrada esta “campanha”.
Recorda-se que a elaboração desta narrativa, como de todas as outras que fazem parte deste dossier, tem na sua génese o relatório “das operações militares na Frente Sul” [http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40082 (2018-1-20)], documento dactilografado em formato A/4, sem capa e sem nome do seu autor [mas que seguiremos em frente na busca da sua identificação], localizado no Arquivo Amílcar Cabral, existente na Casa Comum – Fundação Mário Soares. A esse documento base foram, ainda, adicionadas outras informações de diferentes fontes bibliográficas tendentes a ampliar a compreensão/explicação de cada ocorrência, gravadas nos dois lados do combate, instrumentos indespensáveis para o seu aprofundamento histórico.
2.  - AS ORIGENS DA CCAÇ 6 (COMPANHIA DE CAÇADORES N.º 6) – SUBSÍDIO HISTÓRICO
A CCAÇ 6 é a herdeira da estrutura orgânica da 4.ª CCAÇ (Companhia de Caçadores Nativos [ou Indígenas], esta criada e instalada primeiramente em Bolama em finais de 1959. Quatro anos e meio depois, em Julho de 1964, mudou-se para Bedanda, por necessidades operacionais, como resposta ao pedido de intervenção dos africanos no esforço da guerra. Foi aí, em Bedanda, que em 1 de Abril de 1967, decorridos três anos após a instalação dos seus primeiros efectivos, esta Unidade foi renomeada, passando a designa-ser por Companhia de Caçadores n.º 6 [CCAÇ 6 - “Onças Negras”].
Esta companhia de caçadores, constituída por praças africanas de Recrutamento Local, era enquadrada por oficiais, sargentos e praças especialistas oriundos da Metrópole, tal como as restantes que foram organizadas nessa época no CTIG, cumprindo os últimos o período da Comissão de Serviço obrigatório previsto na Lei. Quanto aos primeiros, estes mantinham-se, marioritariamente, ligados à sua Unidade de base, uma vez que um dos objectivos emergentes para a sua criação foi/era a segurança e/ou defesa das suas populações, estando implicita neste conceito a actividade operacional na luta contra os grupos da/de guerrilha armados.
Para além da CCAÇ 6, o Aquartelemanto de Bedanda dispunha também de um Pelotão de Canhões sem Recuo [PCS/R], de um Pelotão de Artilharia «obus 14 mm» [PArt] e de um Pelotão de Milícias [PMil n.º 143] da etnia fula.
Devido à sua intensa e porfícua acção operacional realizada ao longo dos anos, com importantes resultados obtidos nas múltiplas missões que lhe foram confiadas, a Companhia de Caçadores n.º 6 [CCAÇ 6] viria a ser merecedora de uma condecoração atribuída pelo Governo Central ao seu Estandarte [Cruz de Guerra de 1.ª Classe], em cerimónia pública presidida pelo Chefe de Estado, Almirante Américo Thomaz (1894-1987), de homenagem às Forças Armadas Portuguesas, realizada no Terreiro do Paço, em Lisboa, no dia 10 de Junho de 1968, data que até ao «25 de Abril de 1974» era também conhecida como “Dia de Camões, de Portugal e da Raça”.
Para que conste, eis a transcrição do texto que originou a condecoração tornado público na comunicação social [ex.: Diário de Lisboa, em 11 de Junho de 1968, p11; e Diário de Notícias, em 12 de Junho de 1968].



3.  - O ATAQUE A BEDANDA EM 24OUT1969… QUE PASSOU PARA 25OUT1969 DEVIDO A SUCESSIVAS FALHAS NA SUA ORGANIZAÇÃO 

Desenvolvimento da acção:

No dia 24 de Outubro [de 1969], às 17h15, as forças do Corpo Especial de Exército deviam atacar as instalações militares do campo de Bedanda com as seguintes forças, assim constituídas [apresentamos um quadro comparativo entre o 1.º ataque a Buba, em 12OUT1969, e este 2.º a Bedanda]:
Contavamos com a ajuda de 80 “povo” [carregadores] no transporte das munições até à posição de fogo. Devido ao número insuficiente de transportadores não pudemos concentrar no local toda a quantidade de munições necessária e muito menos distribui-la a tempo para as 3 posições de fogo, razão principal porque tivemos que adiar a missão.
Por acaso, as forças de infantaria tinham tido muitas dificuldades e atrasado bastante a sua chegada ao local e a tomada de posição no trerreno, não se verificando portanto qualquer desajuste.

Citação: (1963-1973), "Combatente do PAIGC com um grupo de jovens carregadores", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43743 (2018-2-11) (com a devida vénia).
No dia seguinte, e com a aprovação do camarada “Nino” [Vieira], Comandante do Corpo Especial de Exército, nos prontificamos (as forças de Artilharia) a realizar a operação e a iniciá-la à mesma hora indicada para o dia anterior [17h15].
Realmente, às 15h30 inciamos a colocação das peças e a instalação das ligações telefónicas. Às 17h00 todas as peças estavam prontas para o tiro, quando descobrimos avaria na comunicação, devido a esse imprevisto só às 17h30 iniciamos o fogo de enquadramento com uma peça de canhão 75, desde a posição de fogo do GRAD. O inimigo [NT] respondeu imediatamente, cortando a instalação em dois pontos. Só 15 minutos depois retomamos a direcção de tiro e demos por terminado o enquadramento para as [peças] GRAD [foguetões de 122 mm].
Imediatamente as peças de canhão abriram fogo, realizando tiro indirecto desde a distância de 2.000 metros. Do posto de observação, pareceu-nos (a visibilidade, dada a hora já avançada da tarde, era deficiente) ser um tiro efectivo, cobrindo a zona indicada.


Citação: (1966-1970), "Guerrilheiros do PAIGC transportando as peças de um canhão sem recuo [B-10]", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/ fms_dc_44172 (2018-2-11) (com a devida vénia).
Final da Parte I.
Na Parte II desta narrativa, serão abordados os seguintes pontos:
1 – Conclusão do desenvolvimento da acção e respectivos resultados.
2 – Análise crítica à actuação da artilharia.
3 – Correcção das informações obtidas posteriormente pelo PAIGC.
4 – Quadro de baixas militares da CCAÇ 6 (de 1Abr1967 a 27Abr1974).
5 – Quadro de baixas militares da 4.ª CCAÇ (de Jul1963 a Fev1967).


Obrigado pela atenção.
Com forte abraço de amizade,
Jorge Araújo.


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