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quinta-feira, 5 de abril de 2018

P339 - "Do outro lado do combate" [ATAQUE A BEDANDA EM 25 DE OUTUBRO DE 1969 - PARTE II] “PLANO DE OPERAÇÕES NA FRENTE SUL” [OUT-DEZ’69] - (AO TEMPO DA CCAÇ 6, 1967/1974)

MSG com data de: 03ABR2018 de Jorge Araújo

 "Do outro lado do combate"

 [ATAQUE A BEDANDA - PARTE II e última da série]



Para concluir o enquadramento e análise ao ataque ao aquartelamento das NT em Bedanda, realizado em 25 de Outubro de 1969, anexo a segunda (e última) parte.

Recordo que este ataque corresponde ao terceiro de um "programa" de oito acções militares incluídas no "Plano de Operações na Frente Sul", elaborado pelos responsáveis do PAIGC para serem levados à prática durante o último trimestre de 1969 nas regiões de Quinara e de Tombali.

Com um forte abraço de amizade.

Jorge Araújo.

Bedanda (Agosto de 1972) – O obus 14 e os artilheiros do PArt. em acção perante um ataque do PAIGC (P13324-LG). Foto de Vasco Santos (2011), com a devida vénia.

 Poste anterior da série, ataque a Bedanda PARTE I



“PLANO DE OPERAÇÕES NA FRENTE SUL” [OUT-DEZ’69] - ATAQUE A BEDANDA EM 25 DE OUTUBRO DE 1969 -
(AO TEMPO DA CCAÇ 6, 1967/1974)


1.   - INTRODUÇÃO
Com a presente narrativa, a última de duas relacionadas com o ataque a Bedanda em 25 de Outubro de 1969, ocorrido treze dias após o primeiro, encerra-se a análise à segunda missão do “plano de acções militares” do PAIGC, de um “pacote” de nove – mais uma do que inicialmente pensado, uma vez que Buba seria contemplada com outra flagelação “extra” devido aos fracassos registados por “Nino” Vieira (1939-2009), e seus guerrilheiros, na primeira – todos eles previstos concretizar durante o último trimestre desse ano, nas regiões de Quinara e de Tombali, contra os diferentes aquartelamentos das NT, cujo calendário se recorda abaixo.
Para a elaboração deste trabalho de pesquisa global, apresentado em fragmentos, continuaremos a utilizar um documento base, que é o relatório “das operações militares na Frente Sul” [http://hdl.handle.net/11002/ fms_dc_40082 (2018-1-20)], localizado no Arquivo Amílcar Cabral, existente na Casa Comum – Fundação Mário Soares, adicionando-lhe, sempre, outras informações de diferentes fontes bibliográficas, como metodologia de caracterização e de aprofundamento histórico.



2.   – O AQUARTELAMENTO DE BEDANDA E AS SUAS UNIDADES
Como foi referido no primeiro fragmento do ataque a Bedanda [P338], os antecedentes históricos da CCAÇ 6 têm a sua origem na estrutura orgânica da 4.ª CCAÇ (Companhia de Caçadores Nativos [ou Indígenas], esta criada e instalada, primeiramente, em Bolama em finais de 1959. Quatro anos e meio depois, em Julho de 1964, mudou-se para Bedanda, por necessidades operacionais, como resposta ao pedido de intervenção dos africanos no esforço da guerra. Em 1 de Abril de 1967, decorridos três anos após a instalação dos seus primeiros efectivos em Bedanda, esta Unidade foi renomeada, passando a designa-ser por Companhia de Caçadores n.º 6 [CCAÇ 6 - “Onças Negras”].

Um ano depois, em 10 de Junho de 1968, como reconhecimento da importante acção desenvolvida nas múltiplas missões que lhe foram confiadas, a CCAÇ 6 viria a ser merecedora de uma condecoração atribuída pelo Governo Central ao seu Estandarte [Cruz de Guerra de 1.ª Classe], em cerimónia pública presidida pelo Chefe de Estado, Almirante Américo Thomaz (1894/1987), de homenagem às Forças Armadas Portuguesas, realizada no Terreiro do Paço, em Lisboa.
Recorda-se o texto que originou a condecoração tornado público na comunicação social [DL, em 11 de Junho de 1968, p11; e DN, em 12 de Junho de 1968].
 
Para além da CCAÇ 6, o Aquartelemanto de Bedanda dispunha também de um Pelotão de Canhões sem Recuo [PCS/R], de um Pelotão de Artilharia «obus 14 mm» [PArt] e de um Pelotão de Milícias [PMil n.º 143] da etnia fula.
Bedanda (1970) – O obus 14 e os artilheiros do PArt. (P7693-LG) – foto de Hugo Moura Ferreira (2006), com a devida vénia

3.   - O ATAQUE A BEDANDA EM 24OUT1969… QUE PASSOU PARA 25OUT1969 DEVIDO A SUCESSIVAS FALHAS NA SUA ORGANIZAÇÃO
Desenvolvimento da acção: (Conclusão)
No dia 24 de Outubro [de 1969], às 17h15, as forças do Corpo Especial de Exército deviam atacar as instalações militares do campo de Bedanda mas, devido ao número insuficiente de transportadores não puderam concentrar no local toda a quantidade de munições necessária e muito menos distribui-la a tempo para as 3 posições de fogo, razão principal porque tiveram que adiar a missão.
No dia seguinte, com a aprovação do Comandante do Corpo Especial de Exército (“Nino” Vieira), as forças de Artilharia prontificaram-se a realizar a operação e a iniciá-la à mesma hora indicada para o dia anterior [17h15]. Às 17h00 todas as peças estavam prontas para o tiro, quando descobriram uma avaria na comunicação. Devido a esse imprevisto só meia hora mais tarde iniciaram o fogo de enquadramento com uma peça de canhão 75, desde a posição de fogo do “GRAD”. O inimigo [NT] respondeu imediatamente, cortando a instalação em dois pontos. Só 15 minutos depois foi retomada a direcção de tiro e deram por terminado o enquadramento para as [peças] GRAD [foguetes/foguetões de 122 mm]. Imediatamente as peças de canhão abriram fogo, realizando tiro indirecto desde a distância de 2.000 metros. Do posto de observação, pareceu (a visibilidade, dada a hora já avançada da tarde, era deficiente) ser um tiro efectivo, cobrindo a zona indicada.



Bedanda (Agosto de 1972) – O obus 14 e os artilheiros do PArt. em acção perante um ataque do PAIGC (P13324-LG). Foto de Vasco Santos (2011), com a devida vénia.

Terminado o fogo dos canhões, as peças do “GRAD” fizeram o seu primeiro disparo que, do posto de observação, pelo clarão produzido, pareceu-nos ter atingido o objectivo. [Este disparo ficou na história da guerra por ter sido o primeiro foguete 122 mm a ser lançado por uma peça “GRAD” contra as NT]. Mais tarde, segundo os camaradas de infantaria situados a poucas centenas de metros do objectivo, esse disparo caiu dentro do objectivo. Deu-se a ordem de tiro de bataria e, salvo um foguete danificado, foram lançados os restantes [cinco], os quais se dispersaram pela periferia do objectivo.
Finalmente, os morteiros 82 iniciaram fogo, da mesma posição de fogo dos canhões, realizando fogo rápido, mas desordenado e sem muita afectividade, devido à impossibilidade de dirigir tiro naquela altura (tinha anoitecido já completamente) pois haviam roto [danificado] completamente as instalações telefónicas.



Citação: (1963-1973), "Combatentes do PAIGC deslocando uma peça de artilharia anticarro", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_ 43753 (2018-2-12) (com a devida vénia)

Conclusão
1.    O tiro de artilharia, no seu conjunto, não foi efectivo como esperávamos, especialmente devido à falta de direcção continua e ordenada do tiro e isso motivado pelas interrupções sistemáticas das instalações telefónicas.
2.    Dada a distribuição dos quarteis (com pequenas concentrações em 3 pontos), Bedanda não é um objectivo muito favorável à utilização das [peças] “GRAD”. Prova-o o facto do primeiro obus ter caído dentro do objectivo e os restantes terem-se dispersado sem atingi-lo.
3.    Com a experiência herdada de B1, concluímos que a direcção de fogo feita com a utilização de telefone não dá a mínima garantia. A introdução de rádios impõe-se como uma necessidade urgente para que a realização dessas operações tenham o mínimo de garantia e coordenação com os bi-grupos de infantaria.




4.    Não é recomendável a realização de tiro de enquadramento de noite. A observação e as respectivas correcções são vagas e imprecisas.
   5.  O transporte de munições até aos pontos desejados é algo que deve ser encarado   com toda a responsabilidade e garantido contra quaisquer atrasos ou imprevistos



Actuação da Infantaria
A infantaria deveria actuar imediatamente depois do bombardeamento artilheiro.
Contava com os seguintes efectivos assim distribuidos:
- 3 bi-grupos no quartel do meio, com 5 bazookas RPG-7 (4 granadas cada)
- 2 bi-grupos no quartel de cima (onde estão as lojas), com 2 RPG-7 (4 granadas cada)
A acção da infantaria, prevista para as 17h45 (a operação devia ter início às 17h15) só foi possível 3 horas mais tarde, devido à reacção do inimigo [NT], que abandonou os quarteis, refugiando-se no mato, contra o intenso, embora não muito efectivo, fogo da artilharia. Três horas depois, quando o inimigo [NT] regressava aos quarteis, foi completamente surpreendido com fogo de bazookas (21 RPG-7) e outras armas de infantaria. Sofreu grande número de baixas, que, segundo informações posteriores, ultrapassou os 30 [trinta].
A retirada foi sem problemas, pois o canhão inimigo [NT] e sua dotação foram destruídos pelo primeiro foguete do “GRAD”.






Correcção às informações obtidas posteriormente pelo PAIGC:
De acordo com a base de dados existente na Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra (sítio: http://apvg.pt), relativa ao número de militares – continentais e de recrutamento local – falecidos nos TO ultramarinos, verificou-se que durante o período em que a Companhia de Caçadores n.º 6 (CCAÇ 6) prestou serviço em Bedanda [de 01Abr1967 a 27Abr1974 = sete anos] o número total de baixas foi de 12 (doze), sendo 10 (dez) do Recrutamento Local e 2 (duas) do Contingente Metropolitano.
Das 10 (dez) baixas de naturais da Guiné, 5 (cinco) morreram em combate (50%), 3 (três) por acidente (30%), 1 (um) por doença (10%) e 1 (um) por afogamento (10%).
Para que conste, foi elaborado o competente quadro nominal.


Pelo acima exposto, conclui-se que as informações obtidas por parte do PAIGC, quanto ao número de mortos durante esta acção, carecem de fundamento (são absolutamente falsas), na medida em que este seu ataque não provocou qualquer baixa mortal.
Por outro lado, desde o início do conflito [1963] e até à alteração do nome para CCAÇ 6 [1967], a 4.ª CCAÇ contabilizou 15 (quinze) baixas, sendo 5 (cinco) do Contigente Metropolitano e 10 (dez) do Recrutamento Local.
Seguindo o mesmo procedimento anterior, apresenta-se o respectivo quadro nominal.




Continuaremos a desenvolver este tema com a apresentação dos principais factos ocorridos em cada um dos restantes ataques.
Com forte abraço de amizade,
Jorge Araújo.
03ABR2018.


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