MSG com data de 09 de Março e 2018
Depois da publicação da PARTE I
da minha narrativa relacionada com os ataques a BUBA no último trimestre de
1969, que agradeço, eis agora a PARTE II com que encerraremos este tema.
Em breve, faremos chegar novos
textos tendo por base o mesmo "relatório" que tem servido de suporte
documental e historiográfico a este projecto de investigação.
Com um forte abraço de amizade.
Jorge Araújo.
Rebentamento de granada no Rio
Grande de Buba durante um ataque IN (período 1968/1971 – CCAÇ 2616/BCAÇ 2892). Foto
do ex-alf. Joaquim Rodrigues, in: http://guine6871.blogspot.pt/ (com
a devida vénia).
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Jorge Alves Araújo,
ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494
(Xime-Mansambo,
1972/1974)
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OS FRACASSOS ASSUMIDOS PELO PAIGC NO ATAQUE A BUBA [12OUT1969]
… E OS OUTROS QUE SE SEGUIRAM
(AO TEMPO DA CCAÇ 2382 / CCAÇ 2616 E PEL MORT 2138)
(Parte II)
1. -
INTRODUÇÃO
Este
segundo fragmento relacionado com os dois ataques a Buba ocorridos no último
trimestre de 1969 - o 1.º em 12OUT e o 2.º em 11DEZ - reforça o que, no
entender dos responsáveis do PAIGC, foram os seus maiores fracassos registados
durante o cumprimento do “plano de acções militares”, elaborado para a região
do Quinara e Tombali, executado com recurso a uma quantidade significativa de
equipamentos de artilharia e com mobilização de um numeroso contingente de
guerrilheiros de infantaria.
Esse
“plano” (ou “programa”), para o qual foi concebido um calendário concreto,
contemplava ataques a oito aquartelamentos das NT, que abaixo se identificam,
com a primeira acção a iniciar-se em Buba e que, devido aos resultados
desfavoráveis deste, foi entendido que se deveria realizar nova acção, com o
segundo ataque a ser agendado para o final desta “campanha”, a ter lugar no dia
10 de Dezembro de 1969.
Conforme
já referido anteriormente, a decisão de escrever esta narrativa surge na
sequência de uma investigação por nós realizada a propósito de uma foto de um
«espaldão de morteiro 81», localizada no Arquivo Amílcar Cabral, existente na
Casa Comum – Fundação Mário Soares. Aí tivemos acesso, também, a um relatório
dactilografado, formato A/4, com um total de vinte e três páginas, sem capa e
sem referência ao seu autor, elaborado no seguimento “das operações militares
na Frente Sul” [http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40082 (2018-1-20)], onde se referem os aspectos
mais importantes anotados antes, durante e depois de cada missão, nomeadamente:
efectivos, equipamento, desenvolvimento da acção e avaliação.
2. - OS
FRACASSOS ASSUMIDOS PELO PAIGC EM 12OUT1969…
E OS SEGUINTES…
Recorda-se que o primeiro ataque
a Buba [12OUT169] só foi concretizado depois de um longo período de minucioso reconhecimento sobre as melhores
condições geográficas para a actuação da artilharia com três posições de fogo
distintas. Por outro lado, esse reconhecimento previa também identificar as
melhores vias de acesso para a infantaria e locais para a sua disposição, uma
vez que iriam estar no terreno um universo superior a três centenas de
combatentes, comandados pelo cap. Pedro Peralta e por Nino Vieira.
Entretanto, durante esse reconhecimento, um grupo
de guerrilheiros foi descoberto pelas NT, em 7OUT69, quando o sentinela do Pel
Mort 2138, colocado no posto de vigia junto à Pista de aviação, detectou
elemento IN nas imediações da Pista. No dia seguinte (dia 8), na continuação do
reconhecimento supra, um grupo IN accionou uma mina A/P reforçada implantada
pelas NT junto ao cruzamento das estradas de Nhala e Buba (in: História do Pel
Mort 2138, p3).
Esta operação iniciou-se com um
atraso de meia hora, devido a dificuldades na instalação dos canhões. Eram
17h30 quando o ataque se iniciou com fogo dos canhões B-10, que falharam os
alvos, tendo apenas dois obuses atingido o quartel. O inimigo [NT] respondeu
com um nutrido fogo de morteiros [Pel Mort 2138], canhões [2.º Pelotão/BAC],
metralhadoras e armas ligeiras [CCAÇ 2382 (já com as ‘malas feitas’ para o seu
regresso à metrópole) + Pel Milícia]. Além disso, unidades inimigas [NT] de
infantaria cruzaram o rio [Grande de Buba], pondo sob a ameaça de liquidação do
posto de observação, os canhões, em retirada, e os morteiros.
Nestas condições, abortou a acção da artilharia, que
teve que se retirar, sempre debaixo do fogo das [NT]. Como não actuou a artilharia, tampouco actuou a infantaria. Tivemos duas
baixas na operação: dois feridos, um dos quais veio a falecer mais tarde. Além
disso, temos a lamentar a morte de um camarada de infantaria, por acidente.
3. - O
SEGUNDO ATAQUE A BUBA EM 10DEZ1969… QUE PASSOU PARA 11DEZ1969 DEVIDO A
SUCESSIVAS FALHAS NA SUA ORGANIZAÇÃO,
Desenvolvimento da acção: [conclusão]
Como tivémos a oportunidade de
dar conta no texto anterior [Parte I – P336], o início do ataque deveria
começar com o disparo dos foguetões das peças GRAD, seguida dos morteiros 120
para permitir o assalto por parte das forças de infantaria [10DEZ69]. Para
garantir o cumprimento dos objectivos definidos para esta acção, a comunicação
entre o posto de observação e a posição de fogo das peças de artilharia
far-se-ia, pela primeira vez, através dos rádios [modelo] “104”. Aconteceu,
porém, que estes não funcionaram no momento em que devia iniciar-se o ataque
pelo que foi decido adiá-lo para o dia seguinte [11DEZ69], optando-se pela
substituição dos rádios por telefones.
No dia seguinte, nova decisão de
suspender o ataque devido a uma série de falhas nas instalações
telefónicas e, mais tarde desistir da utilização da artilharia, dada a actuação
independente da infantaria, com a qual, por falta de meios de comunicação, não
foi possível combinar um outro plano em substituição do que estava previsto.
Deste modo, este ataque contou, exclusivamente, com o desempenho da
infantaria, que teve o seguinte desenvolvimento:
Actuação da Infantaria
Desconhece-se o número de baixas sofridas pelo inimigo [NT]. Várias
casernas foram destruídas. Do nosso lado houve um ferido ligeiro.
4. -
AVALIAÇÃO (CONCLUSÕES)
Impressões Finais
A páginas 19 e 20 deste
“relatório” encontramos uma avaliação ao modo como foram acontecendo os vários
ataques previstos no “plano”, e os diferentes factores que influenciaram o
desenrolar das “operações”.
Assim, quanto ao reconhecimento
dos quarteis, é referido o seguinte:
1. O reconhecimento aos quarteis
inimigos (NT) demorou bastante, já que teve de ser feito completamente novo. Em
quase todos os sectores, nunca se tinha levado a cabo um trabalho do género, e
portanto não se dispunha de dados concretos sobre as vias de penetração nos
campos inimigos (para infiltração da infantaria) e sobre possíveis posições de
fogo com as respectivas distâncias (para a artilharia), já que dispomos de
poucos mapas.
2.
Quanto
à questão do equipamento.
Fez-se sentir bastante
agudamente a falta de farda e, especialmente, de botas. Para ilustrar bem este
caso, basta dizer o seguinte: quando a bataria de artilharia que vinha de
Cubucaré, depois do ataque a Cabedu [5.º - 6NOV69], chegou a Tombali, de 72
homens que tinha, só podemos conseguir para o ataque a Empada [7.º - 14NOV69] 5
peças de morteiros 82 (20 homens), porque grande parte dos camaradas estavam
com os pés feridos por terem andado descalços e à noite.
3.
Quanto
à questão da alimentação.
Sujeitos a um grande esforço
físico, com pouca alimentação (às vezes nenhuma), os camaradas “adoeciam”
muito, dando como resultado uma grande falta de pessoal e enfraquecimento da
disciplina.
4.
Quanto
à questão das comunicações.
Assinalamos as grandes
dificuldades e por vezes a total impossibilidade em estabelecer comunicação
entre o posto de observação e a posição de fogo e para uma coordenação efectiva
entre a artilharia e a infantaria. Em todas as acções em que foram usados
telefones ou os rádios de que dispomos actualmente, houve grandes problemas com
esses equipamentos.
O “relatório” acrescenta ainda
que:
1.
O
funcionamento do corpo de exército estava melhorando dia-a-dia, quer
isoladamente, artilharia dum lado e infantaria doutro lado, quer a coordenação
entre as duas armas, e, o que é importante, a infantaria já estava confiando um
pouco mais na precisão da artilharia.
2.
A
actuação da artilharia melhorou sensivelmente. Tanto os canhões sem recuo,
morteiros de 82 mm, e particularmente a arma especial (GRAD), demonstraram isso
na operação de Cufar [8.º - 24NOV69] (a [pen]última que realizámos).
3.
A
actuação da infantaria estava melhorando também sensivelmente:
- aproximação
rápida e silenciosa dos quarteis inimigos;
- disciplina de fogo;
-
grande segurança na ocupação das posições e progressão durante o combate. Basta
assinalar que durante todas as operações só
tivemos 3 mortos, todos no primeiro ataque a Buba (a nossa primeira
operação) – um por mina, durante o reconhecimento, outro por acidente com arma
de fogo e o terceiro por estilhaço de morteiro na resposta inimiga [NT] ao
ataque de artilharia – e oito feridos
ligeiros.
4.
Apesar
de todas as dificuldades materiais, e do grande esforço físico exigido no
transporte dos materiais pesados, o moral dos nossos combatentes esteve sempre
elevado.
5.
O
uso das armas antiaéreas durante as operações, pelo seu peso com a respectiva
munição, revelou-se uma carga demasiado pesada para as nossas unidades (para
transportar com relativa facilidade uma peça DCK com a sua munição são
necessários uns 10 homens). Além disso, à excepção de Cacine [4.º - 4NOV69] (1ª
operação iniciada às 16h45) todas as outras operações foram desencadeadas a
horas em que a aviação e os helicópteros não podem já agir com eficácia.
Iremos continuar a desenvolver este tema com a apresentação
dos principais factos ocorridos em cada um dos restantes ataques.
Com
forte abraço de amizade,
Jorge
Araújo.
05MAR2018.
Vd. Poste anterior da série:
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