Caríssimo Camarada Sousa de Castro,
Os meus melhores cumprimentos.
Por me ter disponibilizado na difícil tarefa de
reconstituição das memórias da Companhia de Caçadores 1586 [CCAÇ 1586], Unidade
que cumpriu a sua missão na Guiné entre 1966 e 1968, e que da sua história nada
consta na CECA, eis a primeira parte do que consegui reunir com esse propósito.
Sou de opinião de que a deveremos partilhar neste espaço
dedicado aos ex-combatentes da Guiné, no sentido de, eventualmente, algum
elemento deste contingente nos possa vir a dar o seu contributo, escrito ou em
imagens.
Com um forte abraço de amizade,
Jorge Araújo.
GUINÉ
Jorge Alves Araújo,
ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494
(Xime-Mansambo,
1972/1974)
COMPANHIA DE CAÇADORES 1586
PICHE, PONTE CAIUM, NOVA LAMEGO, BÉLI, MADINA DO BOÉ,
BAJOCUNDA, COPÁ E CANJADUDE
(1966-1968)
- SUBSÍDIOS PARA A RECONSTITUIÇÃO DA SUA HISTÓRIA -
(Parte I)
1. – INTRODUÇÃO
A
presente narrativa surge na sequência da publicação no blogue da «Tabanca
Grande» de dois postes: o P18149-LG e o P18158-LG, ambos em memória do Alferes QP
Augusto Manuel Casimiro Gamboa, pertencente à CCAÇ 1586 (1966/1968), e da
referência à emboscada que o vitimou, em 14 de Dezembro de 1967, na estrada
entre Canjadude e Nova Lamego.
Ela
é também, por um lado, um modesto contributo escrito (subsídio) visando ajudar
na reconstituição da História desta Unidade (a possível) e, por outro, a
concretização da promessa feita em comentário ao segundo texto, uma vez que, de
acordo a informação dada pelo camarada José Martins, especialista em Arquivo
Histórico Militar do Exército (Guerra do Ultramar), “no volume 7.º da CECA
[Comissão para o Estudo das Campanhas de África], consta que [da CCAÇ 1586] não
existe História da Unidade”.
Não
estando expressas as razões da ausência documental da sua História no AHM, não
é difícil presumir como uma forte possibilidade, quiçá a mais provável, que ela
tenha tido como principal causa a divisão física e logística permanente dos
seus efectivos e as responsabilidades que lhes foram atribuídas em cada um dos
locais onde esteve instalada, num total de oito, como se indica em título e
como se assinala no mapa abaixo.
Para
além desta probabilidade (suspeita), que naturalmente não podemos comprovar,
uma outra variável poderá ter influenciado também a sua não transcrição para o
papel, na justa medida em que estamos perante um colectivo militar
metropolitano que muito sofreu ao longo dos vinte e um meses da sua comissão (Ago’1966
a Mai’1968), fazendo fé nos factos que conseguimos apurar, entre eles os seus
mortos e feridos. Será que foram estas as principais causas?
Ainda
assim, admitimos a hipótese de terem existido outras razões/causas, para além
da que acima presumimos. Mas só o saberemos, em definitivo, se algum elemento
da CCAÇ 1586 tiver a resposta certa a esta questão. Vamos esperar que tal
aconteça ou que no aprofundamento deste projecto de investigação possamos
chegar lá.
Porém,
perante a caracterização sumária do quadro supra, compreende-se (compreendo) perfeitamente
as dificuldades em se estruturar ou organizar as suas memórias, pois foram,
certamente, muitos os factos e ocorrências que mereceriam ficar gravadas como
testemunhos históricos da sua presença na região do Gabu, situada a Leste do
território da Guiné, e que não foi possível centralizá-las ou juntá-las,
passando-as a escrito, devido à dispersão dos seus efectivos nas diferentes
frentes das muitas missões.
Lamentamos
que assim tenha sido.
Porque
não fazemos parte desse colectivo de camaradas (ex-combatentes), estes sim
fiéis depositários das suas memórias durante aquele período ultramarino, enquanto
principais personagens fazedores da sua história, esta narrativa não podia
deixar de não ser corolário da consulta realizada a diferentes fontes de informação,
escrita e oral, onde cada referência encontrada e relato obtido dos
directamente envolvidos, se considerou relevante para a concretização do
objectivo geral, ou seja, o início de um processo de reconstituição da História
da CCAÇ 1586.
Dessa
análise global e da sua triangulação, como metodologia da investigação,
procurou-se caminhar na busca do que considerámos fidedigno, idóneo, exacto ou
válido, enquanto sinónimos do mesmo valor, deixando à reflexão de cada leitor o
que se pode considerar, inquestionavelmente, genuíno ou, pelo contrário, uma trapalhice
(propaganda), uma vez que circulámos por ambos os lados do combate.
Em
função do já pesquisado e dos resultados obtidos, decidimos dividir o trabalho
em diferentes partes, sendo esta a primeira, onde se divulgam aspectos
relacionados com a sua mobilização, locais das principais actividades
operacionais e quadro das baixas em combate.
2. – MOBILIZAÇÃO
E LOCAIS DAS MISSÕES NO CTIG
Mobilizada
no Regimento de Infantaria n.º 2, em Abrantes, a Companhia de Caçadores 1586
[CCAÇ 1586] embarcou no Cais da Rocha, em Lisboa, a 30 de Julho de 1966,
sábado, zarpando rumo a Bissau a bordo do N/M Uíge, numa altura em que a
cronologia da guerra registava já três anos e meio. Aí desembarcou a 4 de
Agosto, 5.ª feira, sendo destacada para o Sector do Batalhão de Caçadores 1856
[BCAÇ 1856], assumindo a 8 do mesmo mês a responsabilidade do subsector de
Piche, substituindo dois pelotões da Companhia de Caçadores 1567 [CCAÇ 1567], e
guarnecendo o destacamento da Ponte do Rio Caium com um pelotão, até 21 de
Setembro de 1966.
A
partir desta data assumiu, também, funções de unidade de intervenção na zona de
Nova Lamego, reforçando diversas localidades, entre elas: Nova Lamego, de 10 de
Outubro de 1966 até princípios de Dezembro desse ano; Béli, de 25 de Janeiro a
15 de Abril de 1967 e Madina do Boé, de 10 de Fevereiro a 1 de Maio de 1967.
A
6 de Abril de 1967 foi rendida no subsector de Piche, assumindo o subsector de
Bajocunda no dia seguinte [7Abr1967], rendendo a Companhia de Caçadores 1417
[CCAÇ 1417] e guarnecendo Copá com um pelotão, mantendo-se integrada no
dispositivo de manobra do Batalhão de Caçadores 1933 [BCAÇ 1933] e posteriormente
do Batalhão de Caçadores 2835 [BCAÇ 2835].
Entre
28 de Outubro e 4 de Dezembro de 1967, integrou, com um pelotão, o sector
temporário de Canjadude.
Foi
rendida no subsector de Bajocunda a 27 de Abril de 1968 pela Companhia de
Caçadores 1683 [CCAÇ 1683], embarcando em Bissau, de regresso à metrópole, a 9
de Maio de 1968, 5.ª feira, a bordo do N/M Niassa, com a chegada a Lisboa a
acontecer a 15 de Maio, 4.ª feira, ou seja, seis dias depois [adap. do P3797-LG,
José Martins, ex-Fur Trms CCAÇ 5 (1968/1970)].
Bissau (Cais), 9 de Maio de 1968. Preparativos
para o regresso à metrópole da CCAÇ 1586 a bordo do Niassa (fotos gentilmente
cedidas pelo ex-Fur Trms Aurélio Dinis)
|
3. – MAPA
DOS LOCAIS ONDE A CCAÇ 1586 DESEMPENHOU AS SUAS DIFERENTES ACTIVIDADES
OPERACIONAIS
No
mapa abaixo, sinalizadas no interior de elipses, encontram-se os locais onde a
CCAÇ 1586 desempenhou as suas diferentes actividades operacionais.
4. – QUADRO
DE BAIXAS DURANTE A COMISSÃO
No
âmbito da pesquisa realizada, foram identificadas e agrupadas por datas as
baixas contabilizadas pela CCAÇ 1586 durante a sua comissão, cujo quadro se
apresenta de imediato.
A
organização do quadro, segundo esta metodologia, corresponde à ordem da
descrição dos factos conhecidos sobre cada causa ou ocorrência, e que daremos
conta ao longo das próximas narrativas.
Fontes: http://www.apvg.pt/
+ http://ultramar.terreweb.biz/
(com a devida vénia)
|
Final
da Parte I
Obrigado
pela atenção.
Com
forte abraço de amizade,
Jorge
Araújo.
22JUN2018.
Poste anterior aqui: https://cart3494guine.blogspot.com/2018/05/p346-paigc-bigrupo-de-quintino-gomes.html
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