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quinta-feira, 31 de maio de 2018

P346 - PAIGC - BIGRUPO DE QUINTINO GOMES (PARTE II)

Caríssimo Camarada Sousa de Castro,
Os meus melhores cumprimentos.

Para concluir os estudos sócio-demográficos sobre os bigrupos dos Cmdt Mário Mendes e Quintino Gomes, anexo a segunda, e última, parte.

É de referir que este segundo fragmento surge na sequência de diversos comentários postados no Blogue da «Tabanca Grande», onde o estudo foi divulgado inicialmente.

Até breve.

Com um forte abraço de amizade.

Jorge Araújo

Maio'2018.



GUINÉ
Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494
(Xime-Mansambo, 1972/1974)
GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE
OUTROS ELEMENTOS SOCIODEMOGRÁFICOS DOS BIGRUPOS DOS CMDT MÁRIO MENDES (1943-1972) E DE QUINTINO GOMES (1946-1972)

1.   INTRODUÇÃO
Não podia ficar indiferente aos importantes contributos transmitidos pelos diferentes tertulianos nos seus comentários, postados nos P18487-LG e P18493-LG, a propósito dos meus trabalhos de investigação sociodemográfica tendo por universo dois bigrupos de guerrilheiros do PAIGC, o primeiro relacionado com o do Cmdt Mário Mendes (1943-1972) e este último com o do Cmdt Quintino Gomes (1946-1972), falecidos em combate em Maio e Fevereiro de 1972, no Xime e em Empada, respectivamente.
A todos agradeço os seus comentários de igual modo, mas com particular destaque para os do nosso amigo, e colaborador permanente, Cherno Baldé, que continua a ajudar-nos a decifrar alguns dos enigmas socioculturais dos seus pares e da sua terra, território onde passámos mais de dois anos da nossa juventude. Obrigado!
Pelo superior valor que lhes atribui, fui em busca de novos dados sociodemográficos de modo a alargar e/ou a complementar os já publicados.
Em resultado dessa investigação, curta no tempo mas bem-sucedida, apresento-vos abaixo o que consegui apurar, agora no âmbito do “estado civil” de cada um dos sujeitos da investigação, cujo tema poderá servir de ponto de partida para novas reflexões, singulares e colectiva.
Mais uma vez a análise centra-se nos documentos consultados no acervo de Amílcar Cabral disponíveis na CasaComum - Fundação Mário Soares.
Quanto à data da elaboração das fichas de inspecção e coordenação do Conselho de Guerra das FARP/PAIGC, acreditamos que elas tenham ocorrido no início do ano de 1970, uma vez que os documentos agora consultados, que também não estão datados, referem a existência da “Bateria Especial Grad” da Frente Sul e que, como sabemos, foi criada no último trimestre de 1969.

2.   – RESULTADOS DO ESTUDO SOBRE O “ESTADO CIVIL” DOS CONSTITUINTES DOS DOIS BIGRUPOS
O quadro abaixo foi elaborado a partir das fichas de inspecção coordenação do Conselho de Guerra, já publicadas anteriormente. Foi dividido por bigrupo, correspondente a cada um dos Cmdt’s, e agrupado quantitativamente por frequências relacionadas com o ano de nascimento de cada sujeito. Consideram-se apenas as duas variáveis categóricas do “estado civil” referidas na ficha: solteiro e casado.
Não nos é possível referir o ano da “união” ou “uniões”, por desconhecimento, uma vez que o segundo documento consultado dá-nos conta da existência de casos de “poligamia”.
Na segunda coluna da esquerda indicam-se as idades dos sujeitos no ano de 1970, por ser o ano (deduzimos) em que foi elaborado o documento acima referido, respeitante ao número de sujeitos “casados” em cada um dos bigrupos, número de mulheres e filhos, e que daremos conta em quadros originais obtidos na investigação.
Quadro 1 – distribuição de frequências em relação ao “estado civil” de cada bigrupo

Da análise ao quadro 1, verifica-se que o bigrupo do Cmdt Quintino Gomes regista sete “casados” (20.6%) em trinta e quatro casos, enquanto o bigrupo do Cmdt Mário Mendes tem treze “casados” (34.2%) em trinta e oito casos.
Quando comparados os dois bigrupos, e estratificadas as idades, constata-se que o maior número de “casados”, três em cada bigrupo, nasceram no ano de 1946. O bigrupo de Mário Mendes repete igual cifra em 1942.
Por outro lado, os nascidos no ano de 1948 e seguintes, sete (9.7%) eram “solteiros” (n=72), não existindo nenhum “casado”.

Da análise ao quadro 2, verifica-se que os “casados” do bigrupo do Cmdt Mário Mendes eram treze (34.2%), cada um com uma mulher. Dois “casados”, no mínimo, não tinham filhos.

Quadro 3 – distribuição de frequências dos “casados”, mulheres e filhos, do bigrupo do Cmdt Quintino Gomes, tendo por base a região do Quinara (frente Sul)
Citação: (s.d. [1970]), "Tabela referente ao estado civil e situação familiar dos militares do CE da Frente Sul e Leste", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40459 (2018-4-6) (com a devida vénia)
Da análise ao quadro 3, verifica-se que os “casados” do bigrupo do Cmdt Quintino Gomes eram sete (20.6%), sendo as mulheres em número superior (nove). Algumas das mulheres teriam mais de um filho.

Citação: (1963-1973), "Costureira numa tabanca", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43991 (2018-4-6). (com a devida vénia).

3.   – CONCLUSÕES
Da análise aos quadros supra concluímos:
1.    Existe diferença no número total de “casados” entre os dois bigrupos.
2.    No bigrupo do Cmdt Mário Mendes existe um rácio igual entre o número de homens e mulheres, sendo que nem todas as mulheres têm filhos (ou são mães).
3.    No bigrupo do Cmdt Quintino Gomes, o número de homens é inferior ao das mulheres, o que pressupõe a existência de casos em que há homens que têm mais do que uma mulher (poligamia). Neste bigrupo, o número de filhos é superior ao número de mulheres (mães) o que significa a existência de mulheres (mães) com mais de um filho. Pode-se considerar, como hipótese académica, a existência de mulheres sem filhos.
À vossa consideração.
Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
25MAI2018.

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