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segunda-feira, 12 de julho de 2021

P416 - PARTE II - «OS ENFERMEIROS» RELEMBRANDO OS QUE, POR MISSÃO, TINHAM DE CUIDAR DAS FERIDAS CORPOREAS PROVOCADAS PELA METRALHA DA GUERRA COLONIAL (Jorge Araújo)

 MSG recebida em 07/06/2021

Caríssimo camarada Sousa de Castro

 Os meus melhores cumprimentos.

 Continuamos a recuperar algumas das "memórias cruzadas nas matas da Guiné", estas relativas ao universo dos camaradas da "Saúde Militar" do Exército que, durante as suas comissões de serviço no CTIG, foram condecorados com «Cruz de Guerra» por actos em combate, num total de 24 casos.

 Anexo a Parte II deste trabalho de investigação.

 Até breve.

Com um abraço de amizade.

Jorge Araújo.

(PARTE I)  MEMÓRIAS CRUZADAS NAS “MATAS” DA GUINÉ (1963-1974): RELEMBRANDO OS QUE, POR MISSÃO, TINHAM DE CUIDAR DAS FERIDAS CORPOREAS PROVOCADAS PELA METRALHA DA GUERRA COLONIAL: «OS ENFERMEIROS»

Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494

(Xime-Mansambo, 1972/1974)

MEMÓRIAS CRUZADAS

NAS “MATAS” DA GUINÉ (1963-1974):

RELEMBRANDO OS QUE, POR MISSÃO, TINHAM DE CUIDAR DAS FERIDAS CORPOREAS PROVOCADAS PELA METRALHA DA GUERRA COLONIAL: «OS ENFERMEIROS»

OS CONTEXTOS DOS “FACTOS E “FEITOS” EM CAMPANHA DOS VINTE E QUATRO CONDECORADOS DO EXÉRCITO COM “CRUZ DE GUERRA”, DA ESPECIALIDADE “ENFERMAGEM”

PARTE II

Foto 1 - Zona Leste > Sector L1 > Xime > Madina Colhido – «Operação Boga Destemida» realizada em 9 de Fevereiro de 1970 pelas CART 2520 (1969/70) e CCAÇ 12 (1969/71). Momento da Heli evacuação de feridos, em Madina Colhido, ocorrência registada no itinerário de regresso ao aquartelamento do Xime. Junto ao Heli pode ver-se, com t-shirt branca e de costas, uma enfermeira paraquedista. [Foto do álbum de Arlindo T. Roda - P19240-LG], com a devida vénia.

Foto 2 - Zona Leste > Sector L5 > Galomaro > CCS/BCAÇ 3872 (1971/74). Equipa de “saúde” em missão de prevenção durante a realização de uma «Operação». [Foto do álbum de Juvenal Amado - P11764-LG], com a devida vénia.

Foto 3 - Região do Óio > Mansoa > 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/1974). Momento da Heli evacuação de feridos, vítimas da emboscada ocorrida na estrada de Farim-Mansabá-Mansoa, em 15 de Julho de 1973. [Foto doálbum de Jorge Canhão - P11260-LG], com a devida vénia.

► Continuação do (P415)



1.   - INTRODUÇÃO

A emergência do presente trabalho de investigação surge por indução de um duplo significado. O mais recente, associado à «Expressão Pandémica do Covid-19 (2020-2021)», uma situação de “saúde pública” que não nos preocupa só a nós como, igualmente, à globalidade dos povos dos cinco continentes. O segundo, o mais remoto, por estar a uma distância temporal superior a meio século, vivido pela geração dos ex-combatentes na designada «Guerra Colonial / Guerra do Ultramar / Guerra de África» (1962-1974), cujo nome não é relevante para o caso, procura enfatizar o importante papel desempenhado pelos nossos camaradas da “saúde militar” (e igualmente no apoio a civis e população local) – médicos e enfermeiros/as (as paraquedistas; por exemplo a da foto 1) – na nobre missão de socorrer todos os que deles necessitassem, quer em situação de combate, quer noutras ocasiões de menor risco de vida (medicina geral), mas sempre a merecerem atenção e cuidados especiais.

Recorda-se, a propósito da estrutura global do trabalho, que este foi/está dividido em partes, onde procuramos descrever cada um dos contextos da “missão”, analisando “factos” e “feitos” (os encontrados na literatura) dos seus actores directos “especialistas de enfermagem”, onde cada caso acabaria por influenciar a Chefia Militar na argumentação para um “louvor” e que se transformaria, depois, em “condecoração” com «Cruz de Guerra», maioritariamente de 3.ª e 4.ª Classe. Para o efeito, a principal fonte de informação/consulta utilizada foi a documentação oficial do Estado-Maior do Exército, elaborada pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974).

2.   - OS “CASOS” DO ESTUDO

Como referido anteriormente, foram vinte e quatro os militares “condecorados”, no TO do CTIG (1963/1974) com a «Cruz de Guerra» pertencentes aos «Serviços de Saúde Militar», três dos quais a «Título Póstumo», distinção justificada por “actos em combate”, conforme consta no quadro nominal elaborado por ordem cronológica e divulgado no primeiro fragmento – P415.

Como complemento demográfico, apresenta-se no ponto abaixo o quadro de distribuição de frequências referente ao universo dos “casos” do estudo, segundo as variáveis: “ano da ocorrência” e o “posto” do militar condecorado, bem como o competente gráfico relacionado com a segunda variável: “posto”.

- QUADRO E GRÁFICO DOS MILITARES DE ENFERMAGEM DO EXÉRCITO CONDECORADOS COM «CRUZ DE GUERRA» POR “ACTOS EM CAMPANHA (COMBATE) NO CTIG 1963-1974) – (N=24

Quadro 1 – Da análise ao quadro supra, verifica-se que o número total de indivíduos do Exército, com formação específica na área dos «Serviços de Saúde Militar», condecorados com medalha de «Cruz de Guerra» por “actos” em combate, e considerados como fazendo parte da população (universo) deste estudo, é de 24 (vinte e quatro), todos eles pertencentes a diferentes Unidades de Quadrícula em missão no TO.

Verifica-se, também, que desse universo, 1 era Alferes médico (4.2%), 4 eram Furriéis enfermeiros (16.6%), 15 eram 1.ºs Cabos Enfermeiros (62.5%), 1 era 1.º Cabo maqueiro, 1 era Soldado auxiliar de enfermagem (4.2%) e 2 eram Soldados maqueiros (8.3%).

É relevante o facto de entre os anos de 1968 e 1971 não ter havido “condecorações” na mesma especialidade do grupo do estudo, assim como no último ano do conflito (1974), uma vez que no 1.º triénio (1963-1965) foram registados 7 casos (29.2%) e no 2.º triénio (1966-1968) os distinguidos foram 15 (62.5%).

É de relevar, ainda, que durante o 1.º sexénio (1963-1968), foram contabilizadas 22 condecorações (92% dos casos), equivalente à soma dos dois primeiros triénios, enquanto no 2.º sexénio (1969-1974) só se verificaram, apenas, duas (8%).

● O que se terá passado nos anos de 1968 a 1971, em relação a condecorações?


3.   - OS CONTEXTOS DOS “FEITOS” EM CAMPANHA DOS MILITARES DO EXÉRCITO CONDECORADOS COM “CRUZ DE GUERRA”, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE “ENFERMAGEM” - (n=24)

 

3.3        - MANUEL PIRES MONTEIRO, 1.º CABO AUXILIAR DE ENFERMEIRO DA CART 565, CONDECORADO COM A CRUZ DE GUERRA DE 4.ª CLASSE 

A terceira ocorrência a merecer a atribuição de uma condecoração a um elemento dos «Serviços de Saúde» do Exército, esta com medalha de «Cruz de Guerra» de 4.ª Classe, por sinal a primeira e única registada no ano de 1964, foi atribuída pela qualidade do desempenho com que executou as funções de enfermagem até ao momento em que o militar em título sofreu ferimentos graves provocados pelo rebentamento de uma mina anticarro sob a viatura que o transportava, no decurso de uma coluna em Fulacunda, em Agosto de 1964, que determinaram a sua evacuação para a Metrópole.

► Histórico


 ◙ Fundamentos relevantes para a atribuição da Condecoração

▬ Portaria de 24 de Maio de 1965:

“Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Exército, condecorar com a


Cruz de Guerra de 4.ª Classe, ao abrigo dos artigos 9.º e 10.º do Regulamento da Medalha Militar, de 28 de Maio de 1946, por serviços prestados em acções de combate na Província da Guiné Portuguesa: O Primeiro-Cabo, auxiliar de enfermeiro, n.º 658/59, Manuel Pires Monteiro, da Companhia de Artilharia 565 [CART 565] – Batalhão de Caçadores 599, Regimento de Infantaria n.º 15.”

● Transcrição do louvor que originou a condecoração:

“Louvo o 1.º Cabo auxiliar de enfermeiro, n.º 658/59, Manuel Pires Monteiro, da CART 565/BCAÇ 599, por se ter revelado, em quaisquer situações, muito cumpridor, desembaraçado, disciplinado, dedicado e competente, encarando com grande entusiasmo as suas funções, salientando-se no entanto a sua actividade no âmbito da acção psicossocial.

Tomando parte em inúmeras acções de combate, em que manteve inalteráveis estas suas qualidades, revelou ainda ser corajoso, indiferente ao perigo, socorrendo todos os seus camaradas em quaisquer circunstâncias e mesmo debaixo de fogo.

Posteriormente, em 27 de Agosto de 1964 [no decurso de uma coluna em Fulacunda], veio a sofrer ferimentos graves em virtude do rebentamento de um fornilho sob a viatura em que o transportava, determinando a sua evacuação para a Metrópole.

Esta praça, pelos serviços prestados e pelas suas qualidades militares, é digna de estima e consideração dos seus camaradas e superiores.” (CECA; 5.º Vol; Tomo II, p 434).

CONTEXTUALIZAÇÃO DA OCORRÊNCIA

Para melhor contextualização da ocorrência que originou e fundamentou a atribuição da condecoração ao 1.º Cabo auxiliar de enfermeiro, Manuel Pires Monteiro, socorremo-nos da entrevista dada ao «cmjornal» pelo camarada da mesma Unidade – CART 565 – José Carlos Marques, condutor auto rodas, publicada na edição de 26 de Abril de 2015, com o título: “Mina matou seis dos nossos” – “Fiquei gravemente ferido na explosão de uma mina”.

Como testemunha desta ocorrência, por nela ter estado envolvido, José Carlos Marques


conta que em Julho de 1964, foi necessário organizar uma coluna auto, a fim de transportar uma força militar [n/n] para uma unidade aquartelada a cerca de trinta km de Fulacunda.

Refere que, “dessa vez não houve problema, mas o pior aconteceu quando fomos buscar os militares, um mês depois. Eu conduzia o Unimog que fechava a coluna de sete viaturas. Eram 16h00 do dia 27 de Agosto de 1964 (5.ª feira). Chovia torrencialmente quando a viatura que eu conduzia pisou uma mina anticarro. Foi um estrondo enorme, a viatura voou e eu fui projectado a mais de 30 metros. Fiquei ferido com gravidade, mas havia colegas em pior estado. Seis dos nossos homens morreram ali, no terreno [foram cinco, como se demonstra no quadro abaixo].

Instintivamente, disparei a G3 para o capim, procurando evitar que o inimigo nos atacasse, o que conseguimos. Naquelas condições meteorológicas, era impossível o helicóptero vir buscar os feridos, pelo que tiveram de ser transportados a pé e depois nas viaturas do resto da coluna. Passei quatro meses a recuperar no Hospital de Bissau (HM 241). Quando tive alta, segui outra vez para Fulacunda, para cumprir mais seis meses de comissão. (…)”.

(Fonte: http://www.cmjornal.pt/mais-cm/domingo/detalhe/mina_matou_seis_dos_nossos), com a devida vénia.

 (Fonte: CECA; 8.º Vol., Tomo II, pp 71/73)

Foto 4 – Região de Quinara > Fulacunda (1964): Elementos do 4.º GrComb da CART 565; (foto do álbum de José Carlos Marques. (fonte: http://www.cmjornal.pt/mais-cm/domingo/detalhe/mina_matou_seis_dos _nossos), com a devida vénia.

 3.3.1   - SUBSÍDIO HISTÓRICO DA COMPANHIA DE ARTILHARIA 565

= BISSAU - FULACUNDA - NHACRA - SAFIM (1963-1965)

Mobilizada pelo Regimento de Artilharia Pesada 2 [RAP2], de Vila Nova de Gaia, a Companhia de Artilharia 565 [CART 565], embarcou em Lisboa, em 12 de Outubro de 1963, sábado, a bordo do N/M «Índia», sob o comando do Capitão de Artilharia Luís Manuel Soares dos Reis Gonçalves, tendo chegado a Bissau seis dias depois.

3.3.2   - SÍNTESES DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CART 565

Após a sua chegada a Bissau, a Companhia Independente «CART 565» foi atribuída ao BCAÇ 600 [18Out63-20Ago65; do TCor Inf Manuel Maria Castel Branco Vieira], a fim de substituir a CCAÇ 152 [28Jun61-18Out63; do Cap Inf Carlos Alberto Blasco Gonçalves] no dispositivo e manobra de segurança e protecção das instalações e das populações da sua área, estabelecendo a sua sede na Capital.

Em 18Dez63, foi transferida para Fulacunda, rendendo por troca a CCAÇ 274 [28Jan62-17Jan64; do Cap Inf Adérito Augusto Figueira], ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 599 [18Out63-28Ago65; do TCor Inf Carlos Barroso Hipólito], com vista à actuação em patrulhamentos, batidas, emboscadas e segurança das populações naquela zona de acção.

Em 10Ago65, foi substituída no sector de Fulacunda pela CCAÇ 1420 [06Ago65-03Mai67; do Cap Inf Manuel dos Santos Caria (1.º); Cap Inf Herberto Amaro Vieira Nascimento (2.º) e Cap Mil Inf Adolfo Melo Coelho de Moura (3.º)], seguindo para o subsector de Nhacra, com um Gr Comb em Safim, onde rendeu a CART 495 [22Jul63-24Ago65; do Cap Art Ângelo Rafael Leiria Pires, em 12Ago65, ficando então integrada no BCAÇ 1857 [06Ago65-03Mai67; do TCor Inf José Manuel Ferreira de Lemos]. Em 26Out65, foi substituída no subsector de Nhacra pela CCAV 1484 [26Out65-27Jul67; do Cap Cav Rui Manuel Soares Pessoa de Amorim] e seguiu para Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso, ocorrido em 28 de Outubro de 1965, a bordo do N/M «Niassa». (CECA; 7.º Vol; p. 44).

3.4   - JOSÉ SOARES BISCAIA, 1.º CABO AUXILIAR DE ENFERMEIRO DA CCAV 703, CONDECORADO COM A CRUZ DE GUERRA DE 4.ª CLASSE 

A quarta ocorrência a merecer a atribuição de uma condecoração a um elemento dos «Serviços de Saúde» do Exército, esta com medalha de «Cruz de Guerra» de 4.ª Classe, que seria a primeira de quatro distinções contabilizadas durante o ano de 1965, teve origem no desempenho tido pelo militar em título durante os ataques de que a sua Unidade [CCAV 703] foi alvo em Cufar, nos dias 23 e 25 de Janeiro desse ano.

► Histórico


 
◙ Fundamentos relevantes para a atribuição da Condecoração

▬ O.S. n.º 31, de 16 de Abril de 1965, do QG/CTIG:

“Agraciado com a Cruz de Guerra de 4.ª Classe, nos termos do artigo 12.º do Regulamento


da Medalha Militar, aprovado pelo Decreto n.º 35667, de 28 de Maio de 1946, por despacho do Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, de 19 de Março de 1966: O 1.º Cabo, auxiliar de enfermeiro, n.º 2555/63, José Soares Biscaia, da Companhia de Cavalaria 703 [CCAV 703] – Batalhão de Cavalaria 705, Regimento de Infantaria n.º 7.”

● Transcrição do louvor que originou a condecoração:

“Louvo o 1.º Cabo auxiliar de enfermeiro, n.º 2555/63, José Soares Biscaia, da CCav 703, porque sempre mostrou espírito de abnegação no desempenho da sua missão.

Em todas as operações em que tomou parte e principalmente durante os ataques de que a Companhia foi alvo no estacionamento de Cufar, nos dias 23 e 25 de Janeiro [1965], não se poupou a esforços no sentido de estar sempre presente onde eram necessários os seus serviços como enfermeiro.

Sob o fogo Inimigo, transportou feridos de uma zona desabrigada e intensamente batida pelo fogo IN, para o posto de socorros, indiferente a qualquer perigo, regressando imediatamente para junto do seu Pelotão.

Pela ajuda grande e generosa que sempre assegurou a todos que do serviço da sua especialidade necessitaram, tornou-se não só credor da amizade e simpatia de todos os camaradas como, ainda, merecedor de toda a estima a admiração da parte dos seus superiores.” (CECA; 5.º Vol; Tomo III, p. 187).

CONTEXTUALIZAÇÃO DAS OCORRÊNCIAS

De acordo com os fundamentos que estão na origem da condecoração supra, foram vários os


contextos onde o 1.º Cabo enfermeiro, José Soares Biscaia, deu provas da sua indiferença pelo perigo, mostrando sempre uma total disponibilidade e entrega à missão que dele era esperada, em particular daqueles que, por efeito da “metralha”, necessitaram dos seus serviços de enfermagem.

No quadro das diferentes missões em que esteve envolvido, que validaram o merecimento da distinção, são relevantes os seus desempenhos na «Operação Tomado”, realizada na região do Cantanhez, de 19 a 21Set64; na «Operação Base”, efectuada na região do Óio, de 04 a 07Out64, e nas «Operação Rescaldo”, «Operação Flores» e «Operação Notável», realizadas na região do Morés-Óio, de 04 a 23Nov64, sob o comando directo do BCAV 705. Para concluir a lista de ocorrências, merece destaque a actividade desenvolvida na “mata de Cufar Nalu”, na região de Catió, entre 19 e 22Dez64, seguida da «Operação Campo», com o objectivo da ocupação e instalação em Cufar da CCAV 703, onde se manteve de 17Jan65 a 18Mar65.

Depois de instalada em Cufar, a Companhia viria a sofrer dois ataques: o primeiro em 23Jan65, sábado, e dois dias após, o segundo, em 25Jan65, 2.ª feira.

Relativamente à última missão do ano de 1964, recupera-se o depoimento do camarada Manuel Luís Lomba, sobre a “batalha” pela ocupação da mata de Cufar Nalu – P10508.

A primeira surtida da CCav 703 à mata de Cufar Nalu ocorreu em 19 e 20 de Dezembro de 1964, em interacção com aquela unidade e subunidade de quadrícula e fomos três vezes repelidos, não obstante a simultaneidade da acção dos Paraquedistas e os bombardeamentos da aviação mais a Sul, na área de Cafine, a condicionar Nino Vieira ao envio de reforços, acoitados em Quitafine. O capitão Fernando Lacerda estava de licença e não comandou essa operação. Será o comandante da ocupação das ruínas da fábrica de descasque de arroz, a quinta de Cufar e a nomadização da CCAV 703, entre Janeiro e Marco de 1965 – Operação Campo.” (Manuel Lomba).

3.3.1   - SUBSÍDIO HISTÓRICO DA COMPANHIA DE CAVALARIA 703

= BULA - CUFAR - FULACUNDA - NOVA LAMEGO - BURUNTUMA (1964-1966)

Mobilizada pelo Regimento de Cavalaria 7 [RC7], de Lisboa, a Companhia de Cavalaria 703 [CCAV 703], a segunda unidade de quadrícula do BCAV 705, do Cmdt TCor Cav Manuel Maria Pereira Coutinho Correia de Freitas [1919-2003], embarcou em Lisboa, em 18 de Julho de 1964, sábado, a bordo do N/M «ÍNDIA», sob o comando do Capitão de Cavalaria Fernando Manuel dos Santos Barrigas Lacerda, tendo desembarcado em Bissau em 24 do mesmo mês.

3.3.2   - SÍNTESES DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CCAV 703

Após a sua chegada a Bissau, a Companhia de Cavalaria 703 [CCAV 703], bem como as


suas “irmãs” CCAV 702 e CCAV 704, cumpriram um curto período de treino operacional no sector de Bula, sob orientação do BCAÇ 507, regressaram a Bissau, onde ficaram instaladas com a função de intervenção como reserva do Comando-Chefe.

Nessa condição, foram utilizadas em diversas operações de maior vulto, nomeadamente na «Operação Tomado», realizada na região do Cantanhez, na dependência do «CDMG» [Comando de Defesa Marítima da Guiné], de 19 a 21Set64, na «Operação Base», realizada na região do Óio, na dependência do BART 645, de 04 a 07Out64 e nas Operações «Rescaldo», «Flores» e «Notável», realizadas na região do Morés-Óio sob o comando directo do seu Batalhão, de 04 a 23Nov64.

Depois, como reforço do BCAÇ 507, para intervenção na região de Bula, participou na «Operação Fisga», de 03 a 07Dez64. Seguidamente em reforço do BCAÇ 619, na região de Catió, de 19 a 22Dez64, continuada com a «Operação Campo», com consequente ocupação e instalação em Cufar, onde se manteve de 17Jan65 a 18Mar65, sendo substituída pela CCAÇ 763.

Nesta última data, recolheu a Bissau, dondo seguiram, em 01Abr65 para Bolama, tendo cedido dois Grs Comb ao BCAÇ 513 para operações em Fulacunda. Tomou, ainda, parte na «Operação Razia», na região de Cufar, de 09 a 23Abr65, em reforço do BCAÇ 619, após o que recolheu a Bissau.

Em 28Mai65, foi colocada em Nova Lamego, para intervenção em reforço do BCAÇ 512 e depois do seu Batalhão. Em 24Jun65, rendendo a CART 731, assumiu a responsabilidade do subsector de Buruntuma, igualmente integrada no dispositivo e manobra do seu Batalhão. Em 08Mai66, foi rendida pela CCAÇ 1418, recolhendo a Bissau para embarque de regresso, que ocorreu em 14 de Maio de 1966 a bordo do N/M «UIGE», (CECA; 7.º Vol; pp 256-258). 

Foto 5 - Região de Tombali > Cufar > Gr Comb da CCAV 703 (1964-1966), durante um patrulhamento encabeçado pelo fur mil Simas. [foto do álbum de Manuel Luís Lomba – P16580-LG], com a devida vénia.

Continua…

► Fontes consultadas:

Ø  Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 5.º Volume; Condecorações Militares Atribuídas; Tomo II; Cruz de Guerra, 1962-1965; Lisboa (1991).

Ø  Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição, Lisboa (2002).

Ø  Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001).

Ø  Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

07JUN2021

1 comentário:

Jorge Araujo disse...

Caro Camarada Sousa de Castro e restante auditório:

Acabo de ler este meu segundo fragmento relativo ao histórico dos camaradas Enfermeiros do Exército condecorados com a "Cruz de Guerra" por actos em campanha no CTIG.

Entretanto, por lapso meu, indiquei que esta PARTE II era a continuação do P21404 (30.09.20) quando, efectivamente, deveria ter escrito P415, de 02 de Junho de 2021, aliás como se prova no poste abaixo.

Por este lapso, apresento as minhas desculpas.

Sem mais, por hoje, despeço-me com amizade.

Um grande abraço... e muita saúde.

Jorge Araújo.