
Gráfico 1 – Representação gráfica da população do estudo
agrupada na variável “posto”.
Neste
quinto fragmento analisaremos mais dois “casos”, o segundo e terceiro de 1966,
onde se recuperam mais algumas memórias, sempre dramáticas quando estamos
perante situações irreversíveis, como é a da morte.
3.
- OS CONTEXTOS DOS “FEITOS” EM CAMPANHA DOS MILITARES DO
EXÉRCITO CONDECORADOS COM “CRUZ DE GUERRA”, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE
DE “ENFERMAGEM” - (n=24)
3.9
- AMADEU IVO DA SILVA CORREIA, 1.º CABO AUXILIAR DE
ENFERMEIRO, DA CCAÇ 798, CONDECORADO COM A CRUZ DE GUERRA DE 4.ª CLASSE
A nona ocorrência a merecer
a atribuição de uma condecoração a um elemento dos «Serviços de Saúde» do
Exército, esta com medalha de «Cruz de Guerra» de 4.ª Classe - a segunda das distinções
contabilizadas durante o ano de 1966 - teve origem no desempenho tido pelo
militar em título, durante a «Operação Rebenta», realizada em 12 de Maio de
1966, 5.ª feira, ao socorrer, debaixo de fogo IN, vários feridos de outras
unidades que haviam participado no ataque à base de Cambeque/Cabonepo, situada
na região de Quitafine (infografia abaixo).
► Histórico
◙ Fundamentos relevantes
para a atribuição da Condecoração
▬ O.S. n.º 02, de 12
Janeiro de 1967, do QG/CTIG:
“Agraciado com a Cruz de Guerra de 4.ª
Classe, nos termos do artigo 12.º do Regulamento da Medalha Militar, promulgado
pelo Decreto n.º 35667, de 28 de Maio de 1946, por despacho do Comandante-Chefe
das Forças Armadas da Guiné, de 28 de Março de 1967: O 1.º Cabo auxiliar de
enfermeiro, n.º 4139364, Amadeu Ivo da Silva Correia, da Companhia de Caçadores
798 [CCAÇ 798] – Batalhão de Caçadores 1861, Regimento de Infantaria 1.”
●
Transcrição do louvor que originou a condecoração:
“Por
seu despacho de 09Jan67, considerou como sendo dado por si, o louvor constante
do
n.º 2 da alínea B) do artigo 2.º da OS n.º 300, de 26Dez66, do BCAÇ 1861,
conferido ao 1.º Cabo auxiliar de enfermeiro, n.º 4139364, Amadeu Ivo da Silva
Correia, da CCAÇ 798, porque fazendo parte dum grupo de combate em operações,
ter sempre demonstrado ser cumpridor e muito esforçado no desempenho das suas
funções, em especial na «Operação Rebenta», onde revelou sangue-frio e arrojo,
ao ter ido buscar debaixo de fogo IN, vários feridos, dando um belo exemplo de
dedicação e coragem, o que muito me apraz distinguir, como exemplo a seguir.”
(CECA; 5.º Vol.; p. 270).
◙►
CONTEXTUALIZAÇÃO DA OCORRÊNCIA
Para
contextualização da ocorrência que esteve na base da condecoração do 1.º Cabo
enfermeiro, Amadeu Ivo da Silva Correia, socorremo-nos das informações
publicadas no P9047-LG – “Memórias da CCAÇ 798: uma perspectiva a partir de
Gadamael Porto; Parte II; Actividade militar” – da autoria de Manuel Vaz
(ex-Alf Mil da mesma unidade, Gadamael Porto, 1965/67), referindo que «Operação
Rebenta» a concretizar na região de Quitafine, teve lugar em 12 de Maio de
1966, 5.ª feira. Para além da CCAÇ 798, mobilizou outras forças, cuja missão
visava o ataque às povoações de Cambeque e Cabonepo. O objectivo particular da
CCAÇ 798 era proteger a rectaguarda das restantes forças em acção. Entretanto,
por engano, a FAP fez quatro mortos e uma dezena de feridos das NT. A CCAÇ 798
teve de socorrer e evacuar os feridos para uma zona de segurança, tendo-se
distinguido o 1.º Cabo Amadeu Ivo da Silva Correia e o Soldado Agonia [Carlos
Gomes Caieiro, CECA, 5.º Vol; Tomo IV; p 272], que foram agraciados com a Cruz
de Guerra.
3.9.1
- SUBSÍDIO HISTÓRICO DA COMPANHIA DE CAÇADORES 798
= GANTURÉ - GADAMAEL -
MEJO
Mobilizada pelo Regimento de Infantaria 1 [RI
1], da Amadora, para cumprir a sua missão ultramarina no CTIG, a Companhia de Caçadores 798
[CCAÇ 798], embarcou em Lisboa em 23 de Abril de 1965, 6.ª feira, a bordo do
N/M «UÍGE», sob o comando do Capitão de Infantaria Rui Artur Vieira dos Santos,
tendo desembarcado em Bissau em 28 do mesmo mês.
3.9.2
- SÍNTESE DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CCAÇ 798
Após
a sua chegada, a CCAÇ 798 ficou colocada em Bissau na dependência do BCAÇ 600
[18Out63-20Ago65; do TCor Inf Manuel Maria Castel Branco Vieira], rendendo a
CCAÇ 526 [08Mai63-29Abr65; do Cap Inf Hélder José François Sarmento], onde
efectuou uma instrução de adaptação operacional e colaborou na realização de
patrulhamentos e na segurança das instalações e das populações até 25Mai65.
Após um Gr Comb ter seguido em 08Mai65 para o destacamento de Ganturé, assumiu
em 28Mai65, por troca com a CART 494 [22Jul63-24Ago65; do Cap Art Alexandre da
Costa Coutinho e Lima], a responsabilidade do subsector de Gadamael, mantendo
um Gr Comb destacado desde 11Mai65 e integrando-se no dispositivo e manobra do
BCAÇ 600 e depois do BCAÇ 1861 [23Ago65-17Abr67; do TCor Alfredo Henriques
Baeta (1917-2011)]. Destacou ainda um Gr Comb para Mejo, de 03Ago66 a 24Out66
em reforço da guarnição local, tendo tomado parte em operações realizadas na
região de Salancaur, onde obteve excelentes resultados. Em 19Jan67, foi rendida
no subsector de Gadamael pela CART 1659 [17Jan67-30Out68; do Cap Mil Art Manuel
Francisco Fernandes de Mansilha], recolhendo a Bissau, a fim de aguardar o
embarque de regresso à metrópole, o qual ocorreu em 08 de Fevereiro de 1967, a
bordo do N/M «VERA CRUZ». (CECA; 7.º Vol.; p. 340).
3.10
- ALBERTO DO ROSÁRIO PEREIRA, FURRIEL MILICIANO DO SERVIÇO
DE SAÚDE, DA CCAÇ 1487, CONDECORADO COM A CRUZ DE GUERRA DE 4.ª CLASSE
A décima ocorrência a
merecer a atribuição de uma condecoração a um elemento dos «Serviços de Saúde»
do Exército, esta com medalha de «Cruz de Guerra» de 4.ª Classe - a terceira
das distinções contabilizadas durante o ano de 1966 - teve origem no desempenho
tido pelo militar em título ao longo da sua comissão, com particular relevância
para a «Operação Naja», em 18 de Junho de 1966 (sábado) e «Operação Nortada I»,
em 06 de Dezembro de 1966, 3.ª feira, ambas na zona de Jufá, situada na região
de Quinara (infografia abaixo).
► Histórico
◙ Fundamentos relevantes
para a atribuição da Condecoração
▬ O.S. n.º 15, de 30 de
Maio de 1967, do QG/CTIG:
“Agraciado com a Cruz de Guerra de 4.ª
Classe, nos termos do artigo 12.º do Regulamento da Medalha Militar, promulgado
pelo Decreto n.º 35667, de 28 de Maio de 1946, por despacho do Comandante-Chefe
das Forças Armadas da Guiné, de 07 de Julho de 1967: O Furriel Miliciano,
Alberto do Rosário Pereira, da Companhia de Caçadores 1487 [CCAÇ 1487] –
Batalhão de Artilharia 1904, Regimento de Infantaria 15.”
●
Transcrição do louvor que originou a condecoração:
“Louvo
o Furriel Miliciano enfermeiro, Alberto do Rosário Pereira, da CCAÇ 1487, pela
maneira abnegada, eficiente e profundamente dedicada como sempre tem
desempenhado as suas funções, não só no que respeita a tratamento de pessoal
militar, como também no que se refere à população civil.
Muito
correcto, sempre pronto a atender quem dele necessita, revelou perfeita
compreensão dos seus deveres, quaisquer que fossem as circunstâncias em que os
seus serviços se tornassem necessários, designadamente debaixo de fogo em que
por diversas vezes se expôs, completamente indiferente ao risco que corria,
para prestar socorros a feridos em combate.
Ferido
ele próprio, gravemente, em 18Jun66, durante a «Operação Naja», na região de
Jufá, dirigiu o tratamento de outros feridos enquanto não foi evacuado e, em
06Dez66, durante a «Operação Nortada I», no decorrer de um violento contacto
com o IN na mesma região e muito próximo do local onde havia sido ferido
anteriormente, não hesitou em se dirigir para junto de pessoal atingido e,
debaixo de fogo, lhe prestar a assistência necessária.
Em
todas as situações, demonstrou o Furriel enfermeiro Rosário Pereira, abnegação,
eficiência, dedicação, coragem, sangue-frio e total desprezo pelo perigo,
quando se tornou necessário enfrentá-lo para cumprimento da sua missão.” (CECA,
5.º Vol.; p. 387).
◙►
CONTEXTUALIZAÇÃO DA PRIMEIRA OCORRÊNCIA
– «OPERAÇÃO NAJA»
Referente
à contextualização da primeira ocorrência, que suporta a fundamentação da condecoração
do Furriel enfermeiro Alberto do Rosário Pereira, da CCAÇ 1487, socorremo-nos
das fontes oficiais indicadas no ponto 1, citando: “Em 18Jun66 – «Operação Naja» – Consistiu numa batida na península de
Jabadá, com acções sobre os acampamentos de Jufá, S. José, Bissilão, Flaque
Cibe e Gã Pedro. Foi executada por forças da CCAÇ 1487, CCAÇ 1549, CCAÇ 1566, PMort
1039, GCmds "Os Vampiros" e 1 GC do Destacamento de Jabadá.
Destruídos os acampamentos de Jufá e S. José, causados ao lN 10 mortos, todos
fardados, e capturado material diverso, munições, 4 espingardas e 1 pistola.
Posteriormente, na reacção das NT a uma emboscada lN, causaram-lhe 2 mortos e outras
baixas prováveis e obrigaram-no a debandar. Capturaram, além de material
diverso, 1 pistola-metralhadora e destruíram um acampamento em Bissilão e outro
em Flaque Cibe. As NT montaram uma emboscada, onde foi morto 1 elemento lN
portador de 1 lança-granadas foguete, que foi capturado. Foi ainda destruído um
acampamento em Gã Pedro.” (CECA; 6.º Vol.; pp 402/403).
3.10.1 - SUBSÍDIO HISTÓRICO DA COMPANHIA DE
CAÇADORES 1487
= BISSAU - FULACUNDA - NHACRA - SAFIM
- PONTE DE ENSALMÁ - JOÃO LANDIM E DUGAL
Mobilizada pelo Regimento de Infantaria 15
[RI 15], de Tomar, para cumprir a sua missão ultramarina no CTIG, a Companhia de Caçadores 1487
[CCAÇ 1487], embarcou em Lisboa em 20 de Outubro de 1965, 4.ª feira, a bordo do
N/M «NIASSA», sob o comando do Capitão de Infantaria Alberto Fernão de
Magalhães Osório, tendo desembarcado em Bissau em 26 do mesmo mês.
3.10.2 - SÍNTESE DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DA
CCAÇ 1487
Inicialmente, a
CCAÇ 1487 ficou instalada em Bissau, na dependência do BCAÇ 1857 [06Ago55-03Mai67;
do TCor Inf José Manuel Ferreira de Lemos], tendo substituído a CCAÇ 557
[03Dez63-29Out65; do Cap Inf João Luís da Costa Martins Ares] no dispositivo de
segurança e protecção das instalações e das populações da área. De 10 a
18Nov65, efectuou instrução de adaptação operacional na região de Mansoa, sob orientação
do BART 645 [10Mar64-09Fev66; do TCor Art António Braamcamp Sobral], tendo
tomado parte numa operação realizada na zona de Sabá.
Em
08Jan66, rendendo a CCAÇ 1420 [06Ago65-03Mai67; do Cap Inf Manuel dos Santos
Caria], assumiu a responsabilidade do subsector de Fulacunda, ficando integrada
no dispositivo e manobra do BCAÇ 1860 [23Ago65-15Abr67; TCor Inf Francisco
Manuel da Costa Almeida] e efectuando várias operações nas regiões de Naja
(Braia), Jufá e Gã Formoso, entre outras, de que se destaca, pelos resultados
obtidos, a «Operação Negaça», em 18Mai66.
Em
15Jan67, foi substituída pela CCAÇ 1624 [18Nov66-18Ago68; do Cap Mil Art
Fernando Augusto dos Santos Pereira] e foi colocada no subsector de Nhacra, com
destacamentos em Safim, Ponte de Ensalmá, João Landim e Dugal, a fim de render
a CCAÇ 797 [28Abr65-19Jan67; Cap Inf Carlos Alberto Idães Soares Fabião
(1930-2006)], ficando integrada no dispositivo e manobra do BART 1904
[18Jan67-31Out68; do TCor Art Fernando da Silva Branco], com vista à segurança
e protecção das instalações e das populações. Em 31Jul67, foi rendida no subsector
de Nhacra pela CART 1646 [18Jan67-31Out68; do Cap Mil Art Manuel José
Meirinhos], a fim de efectuar o embarque de regresso, o qual ocorreu em 01 de
Agosto de 1967. (CECA; 7.º Vol; p. 351).
Continua…
►
Fontes consultadas:
Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o
Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das
Campanhas de África; 5.º Volume; Condecorações Militares Atribuídas; Tomo II;
Cruz de Guerra, 1962-1965; Lisboa (1991).
Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o
Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das
Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II;
Guiné; Livro I; 1.ª Edição; Lisboa (2014)
Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o
Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das
Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª
edição; Lisboa (2002).
Ø Outras: as referidas em cada caso.
Termino, agradecendo a atenção
dispensada.
Com um forte abraço de amizade e votos de
muita saúde.
Jorge Araújo.
17NOV2021