Mensagem com data de 17/11/221.
Continuamos a recuperar algumas das "memórias cruzadas nas matas da Guiné", estas relativas ao universo dos camaradas da "Saúde Militar" do Exército que foram condecorados com a medalha de «Cruz de Guerra» por actos em combate, num total de 24 casos, durante as suas comissões de serviço no CTIG (1963-1974).
Para esse efeito anexo a PARTE V.
Com um abraço de amizade,
Jorge Araújo.
GUINÉ
Jorge
Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494
(Xime-Mansambo,
1972/1974)
MEMÓRIAS CRUZADAS
NAS “MATAS” DA GUINÉ
(1963-1974):
RELEMBRANDO OS QUE, POR
MISSÃO, TINHAM DE CUIDAR DAS FERIDAS CORPOREAS PROVOCADAS PELA METRALHA DA
GUERRA COLONIAL: «OS ENFERMEIROS»
OS CONTEXTOS DOS
“FACTOS E FEITOS” EM CAMPANHA DOS VINTE E QUATRO
CONDECORADOS DO EXÉRCITO COM “CRUZ DE GUERRA”, DA ESPECIALIDADE “ENFERMAGEM”
PARTE V
Foto 1 – Assistência a
feridos na sequência da deflagração de uma mina A/C, durante a «Operação
Mabecos Bravios», realizada em 06 de fevereiro de 1969, a propósito da retirada
de Madina do Boé. Foto do álbum do Cor Inf Hélio Esteves Felgas (1920-2008),
Cmdt da Operação – P15719-LG e In: Camões - Revista de Letras e Culturas Lusófonas,
n.º 5, abril-junho 1969, p 12, com a devida vénia.
Foto 2 – Região de
Cacheu > Ingoré > CCAÇ 2381 (1968/70) > Antotinha > Recordando os
tempos de enfermagem na tabanca em construção de Antotinha. Foto do álbum de
José Teixeira – P11881-LG, com a devida vénia.
Foto 3 – Região de Boé
> 12 de Setembro de 1969 > Evacuação de feridos provocados pelo
rebentamento de uma mina anticarro ocorrida entre Canjadude e Nova Lamego. Foto
do álbum de José Corceiro, 1.º Cabo Trms, CCAÇ 5, Canjadude (1969/71) – P6117-LG,
com a devida vénia.
► Continuação do P419 (IV) (29.10.21)
1. - INTRODUÇÃO
Visando contribuir para a reconstrução do puzzle da
memória colectiva da «Guerra Colonial» ou «Guerra do Ultramar», em particular a
do TO da Guiné, continuamos a partilhar no blogue os resultados obtidos na
investigação acima titulada. Procura-se valorizar também, através deste estudo,
o importante papel desempenhado
pelos nossos camaradas da “saúde militar” (e igualmente no apoio a civis e população
local) – médicos e enfermeiros/as – na nobre missão de socorrer todos os que
deles necessitassem, quer em situação de combate, quer noutras ocasiões de
menor risco de vida, mas sempre a merecerem atenção e cuidados especiais.
Considerando a dimensão global da presente
investigação, esta teve de ser dividida em fragmentos, onde procuramos descrever
cada um dos contextos da “missão”, analisando “factos e feitos” (os encontrados
na literatura) dos seus actores directos “especialistas de enfermagem”, que
viram ser-lhes atribuída uma condecoração com «Cruz de Guerra»,
maioritariamente de 3.ª e 4.ª Classe. Para esse efeito, a principal fonte de informação
e consulta utilizada foi a documentação oficial do Estado-Maior do Exército,
elaborada pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974).
2. - OS
“CASOS” DO ESTUDO
De acordo com a coleta de dados da pesquisa, os
“casos do estudo” totalizaram vinte e quatro militares condecorados, no CTIG
(1963/1974), com a «Cruz de Guerra» pertencentes aos «Serviços de Saúde
Militar», três dos quais a «Título Póstumo», distinção justificada por “actos
em combate”, conforme consta no quadro nominal elaborado por ordem cronológica
e divulgado no primeiro fragmento – P415.
No
gráfico abaixo, já publicado anteriormente, está representada a população do
estudo agrupada pela variável “posto” (n-24).
Gráfico 1 – Representação gráfica da população do estudo
agrupada na variável “posto”.
Neste
quinto fragmento analisaremos mais dois “casos”, o segundo e terceiro de 1966,
onde se recuperam mais algumas memórias, sempre dramáticas quando estamos
perante situações irreversíveis, como é a da morte.
3.
- OS CONTEXTOS DOS “FEITOS” EM CAMPANHA DOS MILITARES DO
EXÉRCITO CONDECORADOS COM “CRUZ DE GUERRA”, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE
DE “ENFERMAGEM” - (n=24)
3.9
- AMADEU IVO DA SILVA CORREIA, 1.º CABO AUXILIAR DE
ENFERMEIRO, DA CCAÇ 798, CONDECORADO COM A CRUZ DE GUERRA DE 4.ª CLASSE
A nona ocorrência a merecer
a atribuição de uma condecoração a um elemento dos «Serviços de Saúde» do
Exército, esta com medalha de «Cruz de Guerra» de 4.ª Classe - a segunda das distinções
contabilizadas durante o ano de 1966 - teve origem no desempenho tido pelo
militar em título, durante a «Operação Rebenta», realizada em 12 de Maio de
1966, 5.ª feira, ao socorrer, debaixo de fogo IN, vários feridos de outras
unidades que haviam participado no ataque à base de Cambeque/Cabonepo, situada
na região de Quitafine (infografia abaixo).
► Histórico
▬ O.S. n.º 02, de 12
Janeiro de 1967, do QG/CTIG:
“Agraciado com a Cruz de Guerra de 4.ª
Classe, nos termos do artigo 12.º do Regulamento da Medalha Militar, promulgado
pelo Decreto n.º 35667, de 28 de Maio de 1946, por despacho do Comandante-Chefe
das Forças Armadas da Guiné, de 28 de Março de 1967: O 1.º Cabo auxiliar de
enfermeiro, n.º 4139364, Amadeu Ivo da Silva Correia, da Companhia de Caçadores
798 [CCAÇ 798] – Batalhão de Caçadores 1861, Regimento de Infantaria 1.”
●
Transcrição do louvor que originou a condecoração:
n.º 2 da alínea B) do artigo 2.º da OS n.º 300, de 26Dez66, do BCAÇ 1861, conferido ao 1.º Cabo auxiliar de enfermeiro, n.º 4139364, Amadeu Ivo da Silva Correia, da CCAÇ 798, porque fazendo parte dum grupo de combate em operações, ter sempre demonstrado ser cumpridor e muito esforçado no desempenho das suas funções, em especial na «Operação Rebenta», onde revelou sangue-frio e arrojo, ao ter ido buscar debaixo de fogo IN, vários feridos, dando um belo exemplo de dedicação e coragem, o que muito me apraz distinguir, como exemplo a seguir.” (CECA; 5.º Vol.; p. 270).
◙►
CONTEXTUALIZAÇÃO DA OCORRÊNCIA
Para
contextualização da ocorrência que esteve na base da condecoração do 1.º Cabo
enfermeiro, Amadeu Ivo da Silva Correia, socorremo-nos das informações
publicadas no P9047-LG – “Memórias da CCAÇ 798: uma perspectiva a partir de
Gadamael Porto; Parte II; Actividade militar” – da autoria de Manuel Vaz
(ex-Alf Mil da mesma unidade, Gadamael Porto, 1965/67), referindo que «Operação
Rebenta» a concretizar na região de Quitafine, teve lugar em 12 de Maio de
1966, 5.ª feira. Para além da CCAÇ 798, mobilizou outras forças, cuja missão
visava o ataque às povoações de Cambeque e Cabonepo. O objectivo particular da
CCAÇ 798 era proteger a rectaguarda das restantes forças em acção. Entretanto,
por engano, a FAP fez quatro mortos e uma dezena de feridos das NT. A CCAÇ 798
teve de socorrer e evacuar os feridos para uma zona de segurança, tendo-se
distinguido o 1.º Cabo Amadeu Ivo da Silva Correia e o Soldado Agonia [Carlos
Gomes Caieiro, CECA, 5.º Vol; Tomo IV; p 272], que foram agraciados com a Cruz
de Guerra.
3.9.1
- SUBSÍDIO HISTÓRICO DA COMPANHIA DE CAÇADORES 798
= GANTURÉ - GADAMAEL -
MEJO
Mobilizada pelo Regimento de Infantaria 1 [RI
1], da Amadora, para cumprir a sua missão ultramarina no CTIG, a Companhia de Caçadores 798
[CCAÇ 798], embarcou em Lisboa em 23 de Abril de 1965, 6.ª feira, a bordo do
N/M «UÍGE», sob o comando do Capitão de Infantaria Rui Artur Vieira dos Santos,
tendo desembarcado em Bissau em 28 do mesmo mês.
3.10
- ALBERTO DO ROSÁRIO PEREIRA, FURRIEL MILICIANO DO SERVIÇO
DE SAÚDE, DA CCAÇ 1487, CONDECORADO COM A CRUZ DE GUERRA DE 4.ª CLASSE
A décima ocorrência a
merecer a atribuição de uma condecoração a um elemento dos «Serviços de Saúde»
do Exército, esta com medalha de «Cruz de Guerra» de 4.ª Classe - a terceira
das distinções contabilizadas durante o ano de 1966 - teve origem no desempenho
tido pelo militar em título ao longo da sua comissão, com particular relevância
para a «Operação Naja», em 18 de Junho de 1966 (sábado) e «Operação Nortada I»,
em 06 de Dezembro de 1966, 3.ª feira, ambas na zona de Jufá, situada na região
de Quinara (infografia abaixo).
► Histórico
▬ O.S. n.º 15, de 30 de
Maio de 1967, do QG/CTIG:
“Agraciado com a Cruz de Guerra de 4.ª
Classe, nos termos do artigo 12.º do Regulamento da Medalha Militar, promulgado
pelo Decreto n.º 35667, de 28 de Maio de 1946, por despacho do Comandante-Chefe
das Forças Armadas da Guiné, de 07 de Julho de 1967: O Furriel Miliciano,
Alberto do Rosário Pereira, da Companhia de Caçadores 1487 [CCAÇ 1487] –
Batalhão de Artilharia 1904, Regimento de Infantaria 15.”
●
Transcrição do louvor que originou a condecoração:
maneira abnegada, eficiente e profundamente dedicada como sempre tem desempenhado as suas funções, não só no que respeita a tratamento de pessoal militar, como também no que se refere à população civil.
Muito
correcto, sempre pronto a atender quem dele necessita, revelou perfeita
compreensão dos seus deveres, quaisquer que fossem as circunstâncias em que os
seus serviços se tornassem necessários, designadamente debaixo de fogo em que
por diversas vezes se expôs, completamente indiferente ao risco que corria,
para prestar socorros a feridos em combate.
Ferido
ele próprio, gravemente, em 18Jun66, durante a «Operação Naja», na região de
Jufá, dirigiu o tratamento de outros feridos enquanto não foi evacuado e, em
06Dez66, durante a «Operação Nortada I», no decorrer de um violento contacto
com o IN na mesma região e muito próximo do local onde havia sido ferido
anteriormente, não hesitou em se dirigir para junto de pessoal atingido e,
debaixo de fogo, lhe prestar a assistência necessária.
Em
todas as situações, demonstrou o Furriel enfermeiro Rosário Pereira, abnegação,
eficiência, dedicação, coragem, sangue-frio e total desprezo pelo perigo,
quando se tornou necessário enfrentá-lo para cumprimento da sua missão.” (CECA,
5.º Vol.; p. 387).
◙►
CONTEXTUALIZAÇÃO DA PRIMEIRA OCORRÊNCIA
– «OPERAÇÃO NAJA»
Referente
à contextualização da primeira ocorrência, que suporta a fundamentação da condecoração
do Furriel enfermeiro Alberto do Rosário Pereira, da CCAÇ 1487, socorremo-nos
das fontes oficiais indicadas no ponto 1, citando: “Em 18Jun66 – «Operação Naja» – Consistiu numa batida na península de
Jabadá, com acções sobre os acampamentos de Jufá, S. José, Bissilão, Flaque
Cibe e Gã Pedro. Foi executada por forças da CCAÇ 1487, CCAÇ 1549, CCAÇ 1566, PMort
1039, GCmds "Os Vampiros" e 1 GC do Destacamento de Jabadá.
Destruídos os acampamentos de Jufá e S. José, causados ao lN 10 mortos, todos
fardados, e capturado material diverso, munições, 4 espingardas e 1 pistola.
Posteriormente, na reacção das NT a uma emboscada lN, causaram-lhe 2 mortos e outras
baixas prováveis e obrigaram-no a debandar. Capturaram, além de material
diverso, 1 pistola-metralhadora e destruíram um acampamento em Bissilão e outro
em Flaque Cibe. As NT montaram uma emboscada, onde foi morto 1 elemento lN
portador de 1 lança-granadas foguete, que foi capturado. Foi ainda destruído um
acampamento em Gã Pedro.” (CECA; 6.º Vol.; pp 402/403).
3.10.1 - SUBSÍDIO HISTÓRICO DA COMPANHIA DE
CAÇADORES 1487
= BISSAU - FULACUNDA - NHACRA - SAFIM
- PONTE DE ENSALMÁ - JOÃO LANDIM E DUGAL
Mobilizada pelo Regimento de Infantaria 15
[RI 15], de Tomar, para cumprir a sua missão ultramarina no CTIG, a Companhia de Caçadores 1487
[CCAÇ 1487], embarcou em Lisboa em 20 de Outubro de 1965, 4.ª feira, a bordo do
N/M «NIASSA», sob o comando do Capitão de Infantaria Alberto Fernão de
Magalhães Osório, tendo desembarcado em Bissau em 26 do mesmo mês.
3.10.2 - SÍNTESE DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DA
CCAÇ 1487
Inicialmente, a
CCAÇ 1487 ficou instalada em Bissau, na dependência do BCAÇ 1857 [06Ago55-03Mai67;
do TCor Inf José Manuel Ferreira de Lemos], tendo substituído a CCAÇ 557
[03Dez63-29Out65; do Cap Inf João Luís da Costa Martins Ares] no dispositivo de
segurança e protecção das instalações e das populações da área. De 10 a
18Nov65, efectuou instrução de adaptação operacional na região de Mansoa, sob orientação
do BART 645 [10Mar64-09Fev66; do TCor Art António Braamcamp Sobral], tendo
tomado parte numa operação realizada na zona de Sabá.
Caria], assumiu a responsabilidade do subsector de Fulacunda, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1860 [23Ago65-15Abr67; TCor Inf Francisco Manuel da Costa Almeida] e efectuando várias operações nas regiões de Naja (Braia), Jufá e Gã Formoso, entre outras, de que se destaca, pelos resultados obtidos, a «Operação Negaça», em 18Mai66.
Em
15Jan67, foi substituída pela CCAÇ 1624 [18Nov66-18Ago68; do Cap Mil Art
Fernando Augusto dos Santos Pereira] e foi colocada no subsector de Nhacra, com
destacamentos em Safim, Ponte de Ensalmá, João Landim e Dugal, a fim de render
a CCAÇ 797 [28Abr65-19Jan67; Cap Inf Carlos Alberto Idães Soares Fabião
(1930-2006)], ficando integrada no dispositivo e manobra do BART 1904
[18Jan67-31Out68; do TCor Art Fernando da Silva Branco], com vista à segurança
e protecção das instalações e das populações. Em 31Jul67, foi rendida no subsector
de Nhacra pela CART 1646 [18Jan67-31Out68; do Cap Mil Art Manuel José
Meirinhos], a fim de efectuar o embarque de regresso, o qual ocorreu em 01 de
Agosto de 1967. (CECA; 7.º Vol; p. 351).
Continua…
►
Fontes consultadas:
Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o
Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das
Campanhas de África; 5.º Volume; Condecorações Militares Atribuídas; Tomo II;
Cruz de Guerra, 1962-1965; Lisboa (1991).
Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o
Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das
Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II;
Guiné; Livro I; 1.ª Edição; Lisboa (2014)
Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o
Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das
Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª
edição; Lisboa (2002).
Ø Outras: as referidas em cada caso.
Termino, agradecendo a atenção
dispensada.
Com um forte abraço de amizade e votos de
muita saúde.
Jorge Araújo.
17NOV2021
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