E-mail do: Alexandre da Costa Coutinho e Lima
Cor. de Artª. Ref.
Ex Comandante do COP 5, em GUILEJE
comentando o artigo publicado no blogue: "OAdamastor" em
sábado, 22 de Junho de 2013: "GUINÉ, GUILEJE, E O
DESNORTE DO REINO" de autoria do Ten. Cor. Piloto Aviador (ref.) - Cmd. Linha Aérea,
João José Brandão Ferreira.
1. Considerando, ser um assunto muito sensível e delicado, muito debatido e discutido nomeadamente no blogue "Luis Graça & Camaradas da Guiné" aconselho, antes de fazerem qualquer juízo de valor, a leitura atenta sobre o
artigo publicado no blogue em referência que se intitula:
SC
Assunto
|
Fwd: Artigo "Guiné, Guileje e o desnorte do
reino, do Sr. TC Brandão Ferreira (BF)
|
De
|
Coutinho e Lima
|
Para
|
Sousa de Castro;
Delfim Santos
|
Enviado
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quinta-feira, 23 de
Outubro de 2014 17:46
|
Caro Amigo
Junto envio um comentário sobre o artigo em epígrafe.
As razões por que escrevi este comentário são porque
me assiste o direito de resposta e porque "quem não se sente não é filho
de boa gente" e eu prezo muito a memória dos meus pais.
Embora o artigo em questão tenha sido publicado no blogue do
Sr,TC BF, considero mais adequada a publicação do meu comentário no nosso, para
assim todos os tabanqueiros dele tomarem conhecimento.
Coutinho e Lima
Comentário ao artigo Guiné, Guileje e o desnorte do reino
1ª. Parte
Há umas semanas,
fazendo uma pesquisa no Google, sob a rubrica “retirada de Guileje –
comentários”, encontrei um artigo, com o título referido acima, da autoria do
Sr. Ten. Cor. Pil Av. (Ref.) Brandão Ferreira, com data de 22 JUN 2013,
publicado no seu blogue Novo Adamastor. Neste, o autor apresenta-se como
Comandante de Linha Aérea e Mestre em Estratégia.
Antes de entrar na análise do artigo indicado,
importa referir que o Sr. Ten. Cor. nasceu em Setembro de 1953; por esse facto,
na data de 25 de Abril de 1974 (referido, na sua escrita, como “21/4”, o que,
só por si, tem o seu significado), tinha 20 anos, estando portanto no início da
sua vida militar. Por esta razão, não pôde participar na guerra – Angola, Guiné
e Moçambique; em consequência, a sua experiência nestas guerras é igual a ZERO.
Não obstante este facto, não se coíbe de fazer afirmações sobre a nossa guerra
em África, como se tratasse de um catedrático na matéria, com longa experiência
no campo de batalha. Talvez o Curso de Comandante de Linha Aérea e o Mestrado
em Estratégia o tenham habilitado com as ferramentas necessárias para perorar
sobre assuntos que desconhece.
“Presunção e água benta cada qual toma a que quer”.
No que diz respeito
a experiência de guerra, devo informar que cumpri 3 comissões, por
imposição, na Guiné: a 1ª. (63/65), comandando a Companhia de Artilharia
494 (CART 494), que esteve em Ganjola (Norte de Catió), desde Setembro a
Dezembro de 1963; em Gadamael, com um destacamento em Ganturé, desde Dezembro
de 1963 até Maio de 1965; todas estas localidades, foram ocupadas pela primeira
vez, pela CART 494. Além da missão prioritária, que era a actividade de
contra-subversão, contra um inimigo bastante aguerrido, a Companhia teve que
construir 3 aquartelamentos, partindo praticamente do zero.
Na 2ª. Comissão (68/70),
fui colocado no Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné,
em Bissau. Não se pense que esta colocação foi consequência de alguma “cunha”;
na verdade estava habilitado com o Curso de Observador Aéreo de Artilharia
(COAA), frequentado em Vendas Novas e Tancos, em 1958; o COAA era especialidade
de mobilização (já o era em 63), razão pela qual tive esta colocação. Refiro
que o Sr. Comandante Chefe era. durante toda esta Comissão,
o Sr. General António de Spínola.
Na 3ª. Comissão
(72/74), com o posto de Major, fui mobilizado, em rendição individual, de novo
para a Guiné; de SET a DEZ 72, prestei serviço no Centro de Instrução Militar (CIM) em Bolama; de JAN a MAI 73, fui Comandante do Comando Operacional nº. 5 (COP 5), em Guileje; de MAI 73 a MAI 74, estive na situação preventiva, em Bissau, como consequência de ter decidido efectuar a Retirada de Guileje. Regressei a Lisboa, em 12 MAI 74.
para a Guiné; de SET a DEZ 72, prestei serviço no Centro de Instrução Militar (CIM) em Bolama; de JAN a MAI 73, fui Comandante do Comando Operacional nº. 5 (COP 5), em Guileje; de MAI 73 a MAI 74, estive na situação preventiva, em Bissau, como consequência de ter decidido efectuar a Retirada de Guileje. Regressei a Lisboa, em 12 MAI 74.
Portanto, comparando a minha experiência de combate e a do
Sr. Ten. Cor. Brandão Ferreira estamos conversados.
Depois de ler o artigo do Sr. Ten. Cor., que contem algumas,
poucas, afirmações verdadeiras, tem, porém, muitas mentiras, imprecisões e
omissões, fica claro que o articulista não conhece, verdadeiramente, o que se
passou e, presumo que não leu o meu livro “A Retirada de Guileje”, pois se o
tivesse feito, não dizia tantas asneiras.
Felizmente que, depois do 25 de Abril de 1974, há liberdade
de expressão e, em consequência, também há liberdade para a ASNEIRA.
Vou agora analisar o conteúdo do artigo em causa, nesta 1ª.
Parte apenas no que respeita à retirada de Guileje; na 2ª. Parte abordarei os
aspectos relativos a Guidage e Gadamael, assim como referirei documentos
relacionados com a guerra dos 3 G – Guidage, Guileje e Gadamael.
Começo com a seguinte referência:
“…e ao mito
que se veio a criar que a guerra na
Guiné estava perdida…”
Sobre este “mito”, reporto-me ao livro MARECHAL COSTA GOMES – No centro da tempestade, da autoria de LUIS NUNO RODRIGUES (pág. 101 a 103),
referindo uma viagem, em JUN 73 à Guiné:
“… A posição de Costa Gomes relativamente
à situação no teatro de operações da Guiné era bastante clara. Na sua opinião,
o “desenvolvimento da manobra em curso” e a “manutenção do actual dispositivo”
só seria possível mediante a “disponibilidade de volumosos meios adicionais que
permitissem o reforço adequado das guarnições de fronteira”. Nisso concordava
com Spínola. No entanto, nas condições existentes em Portugal, tanto humanas
como materiais, a Guiné não poderia contar com o “reforço adequado de meios por
absoluta impossibilidade de os fornecer actualmente”. A solução, sob o ponto de
vista militar, passaria pela “adopção de uma manobra visando o encurtamento de
área efectivamente ocupada, evitando-se desse modo a contingência de
aniquilamento das guarnições de fronteira que se impõe a todo o transe evitar,
atentas as repercussões militares e políticas externas e internas”.
De acordo com Costa
Gomes, esta modificação do dispositivo implicava a retirada de todas as forças
colocadas nas fronteiras pra uma zona onde não pudessem ser “vítimas” dos
“chamados morteiros de 120”, uma arma terrível, utilizada pelo PAIGC “com muita
facilidade”.
…Na sua opinião, a
Guiné era “defensável” caso o dispositivo fosse modificado, retirando para o
interior as guarnições militares que estavam a defender as povoações
localizadas junto à fronteira. Tudo isto, porém, na condição de o PAIGC não
utilizar os Migs que se sabia
possuir. …
Deste modo, se o
PAIGC viesse a dispor dos aviões Migs poderia bombardear Bissau, “nós
perderíamos imediatamente a guerra.”
Relativamente aos meios aéreos de que o PAIGC dispunha nessa
altura, transcreve-se o que o Sr. Chefe
da Repartição de Informações do Comandante Chefe afirmou, na Reunião de
Comandos, realizada em Bissau, em 15 MAI 73:
“…Para complementar o
quadro da evolução do potencial material do IN, resta acrescentar, no que se
refere a meios aéreos, que o PAIGC dispõe já de 4 aviões ligeiros e aguarda o
fornecimento de mais 6 de tipo não revelado, contando já com 28 pilotos…
…no quadro do potencial aéreo inimigo, os
meios que a REP GUINÉ pode empenhar e em relação aos quais se refere:
- A recente chegada
de 6 pilotos estrangeiros (líbios e argelinos) à REP GUINÉ para substituir, nos
MIG-15 e MIG-17, os pilotos guinenses cuja imperícia se revelou em alguns
acidentes.
- A chegada à REP
GUINE de 2 helicópteros MI-8 em fins de Abril.
- A promessa da REP
GUINÉ ceder uma pista ao PAIGC para manobra dos seus aviões.”
Pelo que fica escrito, parece que não se tratava
propriamente de um “mito”.
Continuando com as afirmações do Sr. Ten. Cor.:
“No meio da ofensiva
referida veio a ter destaque, pelas piores razões, o abandono do quartel e povoação de Guileje, no dia 22 de Maio.
Piores razões, porque
marca uma página negra da História Militar Portuguesa, dado que uma guarnição
que estando longe de ser batida, quebrou o dever militar, ao abandonar a sua
área de operações sem ordem para o fazer e sem razão que o justificasse. A
única que o fez em 13 anos de combate.”
“Pelas piores razões”, é a opinião do Sr. Ten. Cor., mas não
é, seguramente, a da esmagadora maioria (com uma única excepção) dos militares
que estavam em Guileje, que, para mim, é incomensuravelmente a mais importante.
Felizmente não é o Sr. Ten. Cor. que faz a História Militar
Portuguesa e por isso vamos esperar para
ver se os historiadores consideram o facto “uma página negra”.
A guarnição, contrariamente ao articulista afirma (até
parece que estava lá…), “estando longe de ser batida”, estava, com toda a
certeza, muito próxima de ficar completamente cercada pelo PAIGC (o cerco
estaria completo no dia 22 MAI 73).
Não considero que tenha quebrado “o dever militar”, porque,
além de não estar vedada a retirada (só o estaria se a Missão fosse “defesa a
todo o custo”, o que não era o caso), esta foi efectuada “sem ordem para o fazer”,
pelo facto de o quartel ter ficado privado de qualquer meio de comunicação,
porque o centro de comunicações foi totalmente destruído pela flagelação
sofrida na tarde do dia 21 MAI 73.
Tenho sérias dúvidas que o abandono de Guileje tenha sido o
único; o Sr. Ten. Cor. contradiz-se, quando refere em (1) que em 30/1/73
(enganou-se no ano, pois foi em 74 e não em 73), também foi abandonado Copá;
não tenho a certeza se também o quartel de Canquelifá não terá sido também abandonado
e em seguida reocupado em 74.
Continuando a análise, afirma o Sr. Ten. Cor:
“Depois de abandonar
o serviço activo, escreveu um livro, profere conferências e entra em debates,
no sentido de descrever o que se passou, explicar as razões por que tomou a
decisão que tomou e insurgindo-se contra o processo de que foi alvo”
Será que só o Sr. Ten. Cor. está autorizado a
escrever, proferir conferências e entrar em debates? Continuarei a fazê-lo,
quando para isso for solicitado, mesmo com a sua discordância.
Nunca me insurgi contra o processo de que fui alvo (isto é
mais uma invenção do Sr. Ten. Cor.), porque sabia que a instauração de um auto
de corpo de delito era inevitável.
O que censuro, com a maior veemência, é a maneira,
verdadeiramente tendenciosa, como o mesmo processo foi levado a efeito. Sabe-se
que o objectivo primário da investigação é o apuramento da verdade;
seguramente, não foi esta a preocupação do Sr. Oficial da Polícia Judiciária
Militar (PJM) – Sr. Brigadeiro Leitão Marques; não sei se este recebeu algumas
orientações específicas para conduzir o processo, nem isso interessa muito. O
Sr. Brigadeiro foi o único responsável pela forma como dirigiu a investigação,
da qual resultou a intenção deliberada de me acusar.
No processo, podem verificar-se várias anomalias, apontadas
no meu livro. Indico algumas:
- Depoimentos
contraditórios de duas testemunhas, sobre a destruição dos carros
sanitários, sem que o Sr. Oficial da PJM tenha feito qualquer diligência para
esclarecer o assunto.
- Não aceitação da
procuração em que eu nomeava meus defensores 4 Advogados, Oficiais Milicianos,
todos a prestar serviço militar na Guiné, prejudicando assim a minha defesa.
- O interrogatório
que o Sr. Brigadeiro Leitão Marques fez à testemunha, Sr. Ten. Cor. Pinto de
Almeida, Chefe da Repartição de Operações do Comando Chefe (pág 692 a 697 do processo),
em que nem uma pergunta foi feita sobre os acontecimentos ocorridos em
Guileje; todas as perguntas versaram sobre o que ocorrera em Guidage.
Sobre este último assunto escrevi no meu livro:
“Após ter feito a primeira leitura do depoimento do S. Chefe
da Repartição, fiquei com dúvidas se teria lido bem. Voltei a ler, com toda a
atenção, e fiquei perplexo e estupefacto; na realidade, o caso não era
para menos; não é que, tratando-se de um processo sobre a retirada de Guileje,
o Sr. Oficial da PJM não formulou nenhuma pergunta acerca do objecto dos autos!
Isto tem um nome, que é DESONESTIDADE
INTELECTUAL.”
A testemunha podia, por sua iniciativa, fazer declarações
sobre Guileje, mas assim não entendeu.
Não tenho qualquer dúvida, que se tratou de UM VERDADEIRO CONLUIO ENTRE O SR. OFICIAL
DA PJM E A TESTEMUNHA, o que considero gravíssimo, especialmente por se ter
verificado no Exército Português.
Continuando a análise do artigo, o Sr. Ten. Cor. afirma:
“ Foram escolhidas
pois estavam mesmo junto à fronteira…”
Referia-se a Guidage e Guileje; enquanto que a primeira localidade está mesmo na fronteira, já
Guileje dista da dita fronteira, cerca de 8 quilómetros, em linha recta, o que significa que, mais uma vez, não sabe do que estava a falar.
“No meio desta
ofensiva séria, foi atacado o aquartelamento de Guileje, no dia 18 de Maio,
possivelmente como diversão, para obrigar forças que estavam a auxiliar
Guidage.”
A “ofensiva séria” era em Guidage, podendo por isso
entender-se que, em Guileje, a “ofensiva era a brincar…”. No mínimo, haja
respeito por quem lá estava.
Não admira que o Sr. Ten. Cor. confunda tudo, porque da guerra da Guiné, não percebe nada.
Para seu esclarecimento, devo informá-lo que, pelo chamado “corredor
de Guileje”, que vindo da República da Guiné Conacri, passava bem longe do
aquartelamento de Guileje, o PAIGC fazia entrar cerca de 60/70% dos
abastecimentos, de toda a ordem, para todo o nosso território. Daí a
importância atribuída pelo IN à nossa presença, o que fez com que preparasse,
com muitos meses de antecedência um “ataque com toda a força a Guileje”, na
própria expressão do PAIGC.
Não tenho qualquer dúvida que o ataque a Guidage (de acordo
com informações recolhidas no Simpósio Internacional de Guileje, em Mar 2008,
em Bissau, devia ter início ao mesmo tempo que o ataque a Guileje e só não
houve simultaneidade porque, no primeiro caso, foram detectados pelas NT, as
comunicações do IN, obrigando este a desencadear o ataque mais cedo), era uma
manobra de diversão, sendo o ataque a Guileje a acção principal.
A intenção do PAIGC era obrigar o Comando Chefe , em Bissau, a socorrer as duas guarnições, tendo que repartir as suas reservas. Para o IN, a actuação do Sr. General Spínola não podia ser-lhe mais favorável, ao hipotecar praticamente todas as suas reservas no socorro a Guidage. Mais à frente voltarei a este assunto.
A intenção do PAIGC era obrigar o Comando Chefe , em Bissau, a socorrer as duas guarnições, tendo que repartir as suas reservas. Para o IN, a actuação do Sr. General Spínola não podia ser-lhe mais favorável, ao hipotecar praticamente todas as suas reservas no socorro a Guidage. Mais à frente voltarei a este assunto.
“A guarnição do Comando
Operacional 5 sofreu um morto e dois feridos. O Comandante, Major Coutinho e
Lima, decidiu ir a Bissau expor a situação. Regressou no dia seguinte e tomou a
decisão de abandonar o quartel, levando consigo toda a população para Gadamael-
Porto, uma povoação a poucos quilómetros.”
Esta narrativa (como agora se diz) do Sr. Ten. Cor., muito
sintética, sobre o que se passou em Guileje, fica muito aquém da realidade,
além de incluir várias incorreções e deturpação dos factos. Passo a esclarecer:
As baixas sofridas pelas NT, na emboscada de 18 MAI 73, foram:
um morto, sete feridos graves e quatro feridos ligeiros (e não um morto e
dois feridos).
Não decidi ir a Bissau, conforme afirma o Sr. Ten.
Cor.
Após a emboscada
montada pelo IN, impedindo, pela primeira vez, a realização da coluna de
reabastecimento, tive a noção perfeita de que estávamos perante uma situação
grave. Nestas condições, enviei, em 18 MAI 73, às 09H05, uma mensagem
RELÂMPAGO (a de maior prioridade, sendo as prioridades seguintes: IMEDIATO,
URGENTE e ROTINA), para a REP/OPER, com o seguinte texto:
“VIRTUDE FORTE
EMBOSCADA COLUNA HOJE SOLICITO VINDA ESTE DELEGADO ESSA DELEGADO COAT”.
(COAT = Comando Aero-Táctico da Força Aérea)
Quando enviei esta mensagem, não sabia ainda que a Força
Aérea não ia a Guileje, o que vim a verificar depois.
A resposta foi dada, no mesmo dia, às 13H13,
com uma mensagem IMEDIATO:
“ REF S/…AGUARDA-SE
ENVIO RELIM” (RELIM= Relatório Imediato).
Às15H10, enviei nova mensagem RELÂMPAGO:
“ S/…INFO RELIM
INSUFICIENTE. ASSUNTO TRATAR DIZ RESPEITO FALTA APOIOS EFECTIVOS REALIZAÇÃO
COLNS FACE POTENCIAL IN. SOLICITO INFORME ESTA VIA QUANDO VÊM DELEGADOS.”
Continuando sem resposta da REP/OPER, enviei nova mensagem
RELÂMPAGO, às 22H45 desse dia 18MAI:
“M/…SOLICITO RESPOSTA
ESTA VIA POIS TENHO POSSIBILIDADE SEGUIR MANHÃ 19 MAI GADAMAEL PORTO.”
Preocupado com a vinda os delegados, enviei em 19 MAI, às
03H50, a mensagem RELÂMPAGO:
“CASO HAJA
DIFICULDADE VINDA DELEGADOS SOLICITO AUTORIZAÇÃO IDA BISSAU E TRANSPORTE PARTIR
GADAMAEL PORTO FIM EXPOR SITUAÇÃO.”
Esta mensagem foi respondida, no mesmo dia, às 11H11
(07H21 depois, o que é um exagero, inadmissível, para responder a uma mensagem
RELÂMPAGO):
“ REF S/… DE 19 MAI
73, SITUAÇÃO LOCAL NÃO ACONSELHA SAÍDA DEMORADA DO SECTOR. ESTE TENTOU IR MAS
FAEREA SO VAI GADAMAEL EMERGENCIA, EXPONHA SITUAÇÃO ESTA VIA.”
Esta mensagem foi enviada apenas para o COP 5
(Guileje), onde a REP/OPER sabia que eu não estava, o que demonstra a maneira
desleixada (para não ser mais contundente), como o assunto foi tratado; o
procedimento correcto era enviar a mensagem também para Gadamael e Cacine,
havendo assim a certeza que eu a receberia, na hora.
Em consequência, só tive conhecimento do seu teor no dia
20 MAI, pelas 03H00, quando foi retransmitida de Guileje para Cacine, onde
eu me encontrava.
Tendo chegado a Cacine na manhã do dia 19 MAI, donde
foram evacuados os feridos pela Força Aérea (a REP/OPER não se lembrou de
utilizar este transporte para enviar os delegados que eu, insistentemente
pedia), e não recebendo resposta de Bissau (recordo que a mensagem acima só foi
do meu conhecimento no dia seguinte), desesperado com tanta negligência, fui tentando resolver a situação, inclusivamente solicitando
transporte ao Comando de Defesa Marítima, que tinha um avião à sua disposição,
o que não foi possível.
Entretanto Guileje estava sujeito à acção do IN, com
flagelações de dia e de noite.
No dia 20 MAI, às 03H20, após tomar conhecimento da
mensagem da REP/OPER do dia 19 MAI, (11H11), pelas razões apontadas, enviei, de
Cacine, a seguinte mensagem RELÂMPAGO:
“ SUA…DE 19 MAI 73
CMDT PRESENTE NESTA INFORMA NECESSITA UMA COMPANHIA TROPA ESPECIAL FIM EFECTUAR
REFORÇO TEMPORÁRIO REABASTECIMENTO GUILEJE. NECESSÁRIO TAMBÉM REFORÇO VIATS E
ESTIVADORES. VIRTUDE SE ENCONTRAR NESTA JULGA ACONSELHÁVEL IR BISSAU
REGRESSANDO IMEDIATAMENTE”.
No dia 20 MAI, à tarde, veio finamente a Cacine um
helicóptero, que me transportou para Bissau.
Pelo que fica escrito, espero que o Sr. Ten. Cor. se
convença que não decidi ir a Bissau.
“Do que se sabe o
General Spínola …e não lhe explicou nada. Podia ter-lhe dito…eu agora não lhe
posso valer pois tenho todas as minhas reservas empenhadas (o que era verdade),
volte para lá, aguente-se, que logo que possa envio-lhe auxílio”.
Realmente o Sr. General Spínola não me explicou nada.
Contrariamente ao que afirma o Sr. Ten. Cor., não é verdade que todas as
reservas estivessem empenhadas. Conforme se pode verificar pelo depoimento
do Sr. Chefe de Repartição de Operações, já indicado atrás, em resposta à
pergunta do Sr. Oficial da PJM:
“… qual a situação
das reservas do TO em vinte de Maio de mil novecentos e setenta e três…”, a
resposta foi:
“…A trigésima quinta
de Comandos encontrava-se em Bissau com a missão de segurança ao Palácio do
Governo. …A Companhia de Caçadores Paraquedistas cento e vinte e um
encontrava-se em Bissau em descanso desde vinte de Abril de mil novecentos e
setenta e três.”
Portanto, se o Sr. General Spínola quisesse (e não quis),
podia reforçar Guileje, de imediato, com a 35ª. Companhia de Comandos (depois
de substituída na missão que lhe estava atribuída, o que não era
particularmente difícil) e com a Companhia de Paraquedistas 121; refere-se que,
esta Companhia foi reforçar Guidage, desde as 17H00 do dia 20 MAI 73
(ironicamente, depois de eu ter pedido reforço - ver mensagem anterior, enviada às
03H20 desse mesmo dia 20 - esta Compª foi mandada para Guidage) até às 15H00
do dia 31 MAI73.
O argumento de que não havia reservas para reforçar
Guileje, como se vê, é verdadeiramente falacioso. Acrescenta-se que
estavam, em 20 MAI 73, em Cufar, as Companhias de Paraquedistas 122 e 123
(Sector do COP 4), que quinze dias mais tarde, foram reforçar Gadamael. Estas
duas Companhias também podiam socorrer Guileje, de imediato, se recebessem essa
missão do Comandante Chefe.
Se o Sr. General tivesse dito (e não disse), …”logo que
possa envio-lhe auxílio”, isto equivaleria a dizer que a guerra, em Guileje,
poderia esperar. Na prática, foi o que o Sr. General determinou, com a sua
decisão de não atribuir qualquer reforço. Esqueceu-se foi do PORMENOR do envio
de uma mensagem RELÂMPAGO, de teor semelhante ao seguinte:
VIRTUDE TER TODAS
MINHAS RESERVAS EMPENHADAS GUIDAGE, SOLICITO PARAGEM TEMPORÁRIA VOSSA ACÇÃO
GUILEJE. LOGO QUE RESOLVA PROBLEMA NORTE, INFORMAREI ESTA VIA.
António de Spínola
Talvez Nino Vieira tivesse sido sensível à solicitação!
Continuando a análise do artigo,
“E quando se despediu
dele humilhou-o dizendo “regressa a Guileje e daqui a um ou dois dias irá lá
ter o Coronel Durão e você passa a adjunto dele”. Ou seja passou-lhe um
atestado de incompetência”.
Mais uma vez o Sr. Ten. Cor. deturpa o que aconteceu. O Sr.
General não me disse quando o Sr. Coronel Durão iria para Guileje.
Afirma que me passou
um atestado de incompetência. Conhecendo como eu conhecia o Sr. General Spínola
(tinha obrigação disso, porque trabalhei, sob as suas ordens, durante dois
anos - 68/70), pude verificar que lidava muito mal com a incompetência, tendo
dado sobejas provas desse facto. Se me considerasse incompetente, teria sido
retirado do Comando do COP 5, na hora. A minha interpretação foi que tinha
perdido confiança na minha acção de Comando. Este sentimento era recíproco,
pois quando em 18 MAI 73, não foram feitas, a partir de Guileje, as evacuações
solicitadas, contrariamente à sua garantia dada na sua última visita, em 11MAI
73, perdi toda a confiança na sua palavra, o que foi partilhado pelos
militares, em Guileje.
Além disso, tendo o Sr. General Spínola, no final da minha
comissão no Comando Chefe, decidido atribuir-me um louvor, se me considerasse
incompetente era a admissão que se tinha enganado (louvando um incompetente), o
que não era propriamente o seu forte – admitir que errara.
Perante a decisão do Sr. General, podia ter declarado que,
perante a sua falta de confiança, não aceitava a solução, sujeitando-me,
obviamente, às respectivas consequências, ficando assim liberto do problema
que, responsavelmente, estava a tentar resolver.
Nunca tal me passou pela cabeça, pois a minha preocupação
era chegar o mais rapidamente a Guileje, donde tinha saído no dia 18 de manhã.
Estes 3 dias da minha ausência, foram um total desperdício. O Comando Chefe e o
seu Estado Maior ficaram muito mal na fotografia, ao proceder da maneira
displicente como trataram este assunto, sem atribuírem nenhuma prioridade à
situação, gravíssima, que se vivia em Guileje
Se os delegados, cuja comparência insistentemente pedira, se
tivessem deslocado a Cacine, no dia 19 MAI, aproveitando o meio aéreo que lá
foi fazer as evacuações, eu teria regressado a Guileje, o mais tardar, no dia
20 MAI. Mesmo sem a ida dos delegados, o Comando Chefe podia ter ordenado o meu
regresso imediato, o que não fez.
“Mas prova ainda
outra coisa: que a retirada já teria sido preparada do anterior, pois era
praticamente impossível organizar tal operação na hora. Será que estariam à
espera que Spínola autorizasse a saída? Até que ponto haveria acção subversiva
feita por eventuais infiltrados simpatizantes, idos da Metrópole? Eis duas
questões que seria interessante dilucidar.”
Mais uma vez o Sr. Ten. Cor. entra em dissertações que são
totalmente fantasiosas.
A retirada foi decidida, apenas, quando regressei a
Guileje, ao fim da tarde do dia 21 MAI. Tal pode ser comprovado pelos militares
que lá estavam (que só ouviram, da minha boca, falar em tal hipótese, naquela
hora). Bem sei que, para o Sr. Ten. Cor. interessa muito mais o “jornal da
caserna” e, sendo assim, pode perguntar ao seu “apoiante”, ex-Soldado
Constantino Costa, que estava em Guileje, se eu abordei esse tema, anteriormente.
A decisão foi por mim tomada, sem pressão de quem quer que
seja. Depois de tomar a decisão, perguntei a todos os que estavam no abrigo em
que me encontrava, qual a opinião de cada um e todos manifestaram a sua
concordância. Podia aproveitar para afirmar que tive a aprovação dos que ouvi,
mas não o fiz, porque esta concordância foi “à posteriori” e porque prezo muito
a verdade.
A ideia de esperar que o Sr. General Spínola “autorizasse a
saída”, além de absurda, como podia ser expectável, se o que eu pedira era
reforço!
A ideia de “acção subversiva por eventuais infiltrados” não
me merece qualquer comentário. Como até agora, os argumentos do Sr. Ten. Cor.
não são convincentes (excepto o seu autoconvencimento), resolveu inventar a “teoria da conspiração”.
Repito: TOMEI A DECISÃO SEM PRESSÃO DE NINGUÉM. Se não percebeu, POSSO FAZER UM
DESENHO.
Espero que o Sr. Ten. Cor. tenha ficado dilucidado, sobre
estas duas matérias.
“Guileje tinha,
porém, um ponto fraco: não tinha um poço artesiano, que lhe fornecesse água
potável, a qual tinha que ser obtida a cerca de 2 Km…”
Esta afirmação do Sr. Ten. Cor., que se saúda, é muito
incompleta.
Além da falta de água, no quartel, que era um
condicionalismo inultrapassável, tinha outros pontos fracos. Vou referir
alguns:
- Só havia uma única ligação, por estrada, a Gadamael;
interdita esta, por acção do IN (emboscada no dia 18 MAI 73), Guileje ficou
totalmente isolado.
- As outras guarnições mais próximas - Bedanda a Oeste e
Aldeia Formosa a Norte, não estavam em condições de prestar qualquer auxílio,
porque os respectivos itinerários eram dominados pelo IN e, há muito tempo, não
eram utilizados pelas NT.
- Impedido o reabastecimento, por estrada, dependíamos
totalmente do que havia em Guileje. Pelo facto de se aproximar a época das
chuvas, na qual a estrada para Gadamael ficava intransitável, tinha sido já
feito um grande esforço de abastecimento. Mesmo assim, ainda estava em Gadamael
(e em Bissau) um grande volume de materiais, necessários para sobreviver
durante 6 meses.
- Em virtude das sucessivas flagelações do IN (37 em 80
horas), as munições, especialmente de Artilharia e Morteiros (10,7 e 81),
estavam a chegar ao fim, não obstante a preocupação de poupar, desde a primeira
hora. Quando acabassem, só por acção exterior, não dependente do Comando do COP
5, chegaria a Guileje o respectivo reabastecimento.
- Relativamente ao material de Artª., o que se passou foi o
seguinte: em 24 JAN 73 (3º. dia da minha estadia em Guileje), enviei uma nota
para o Grupo de Artª. nº. 7 (GA7) em Bissau, com conhecimento ao Sr. Chefe de
Estado Maior do Comando Chefe e à Repartição de Operações, propondo a
substituição das 3 Peças de 11,4 cm (as que estavam em Guileje) por 3 Obuses de
14 cm. A razão desta proposta era o conhecimento que eu tinha da existência de
poucas munições de 11,4 e muita dificuldade na sua aquisição. Na proposta
sugeria ainda que, mesmo depois de ser efectuada a substituição do material de
Artª., se ainda existissem munições de 11,4 em Guileje, se mantivessem as Peças
de 11,4, conjuntamente com os Obuses de 14, só regressando aquelas a Bissau, no
final da época das chuvas. Desta forma, o aquartelamento ficaria com um reforço
de Artª., durante o período de isolamento.
Mesmo em tempo de guerra, a burocracia emperrava tudo. Foi
por isso que, em I8 MAI 73, isto é, praticamente passados 3 meses da data da
minha proposta, a situação do material de Artª. era: estavam em Guileje 2
Obuses de 14, tendo um deles chegado avariado; o 3º. Obus estava em Gadamael, a
aguardar a próxima coluna de reabastecimento. Entretanto, as 3 Peças de 11,4 já
tinham saído de Guileje. Quando era necessário o maior apoio de fogo de Artª.,
estávamos reduzidos a 2 Obuses e um deles avariado.
Como eu não estava
sempre em Guileje, porque as guarnições de Gadamael e Cacine também estavam nas
minhas preocupações,
além das minhas ausências, resultantes de ordem superior (lembro-me que me
desloquei para participar, naquela altura, para participar numa reunião de
Comandantes da Zona Sul), não tomei conhecimento da ordem para as Peças de 11,4
regressarem a Bissau (deve ter sido recebida na minha ausência). Se a tivesse
recebido, seguramente que não as tinha deixado sair sem, no mínimo, terem
chegado a Guileje os 3 Obuses de 14.
Além de o apoio de Artª. estar diminuído, em número de bocas
de fogo, a sua eficiência era muito menor. Devido à orografia do terreno da
Guiné, com poucas elevações, a regulação do tiro de Artª. só era eficaz quando
feita por observação aérea. Enquanto que o tiro das Peças de 11,4 tinha sido
regulado, em JUN 72, por avião, relativamente aos Obuses de 14 tal procedimento
não foi possível, devido à restrição dos meios aéreos.
- Não evacuação de feridos, garantida pelo Sr. General
Spínola (a partir do quartel), na sua última visita a Guileje, em 11 MAI 73,
perante formatura geral. O Sr. General foi, no mínimo, muito imprudente, ao
fazer tal afirmação, porque nessa data, a Força Aérea já tinha decidido que
nenhum meio aéreo se deslocava a Guileje (e não me parece aceitável que o Sr.
Comandante Chefe não tivesse conhecimento dessa decisão).
Na sequência da emboscada do dia
18 MAI 73, foi pedida a evacuação dos feridos, no pressuposto de que seria
satisfeita, conforme se pode constatar no período anterior. O que aconteceu foi
que nenhum helicóptero apareceu e, um dos feridos graves (um cabo metropolitano)
faleceu, cerca de 4 horas depois. Foi um “grande murro no estômago” para todos
nós, ficando a confiança na palavra do Sr. Comandante Chefe fortemente abalada,
bem como o moral de todo o pessoal.
Como fica escrito, tinha muito
mais que um ponto fraco, (qual era a falta de água potável).
“…a FA garantia apoio
pelo fogo de dia, com os “ Fiats” e de noite com um “C-47” modificado, em
bombardeamento de área…
Realmente a FA prestava apoio de fogo, através dos Fiat G-9,
quando as condições atmosféricas o permitiam. Depois do aparecimento dos
mísseis terra-ar Strella do IN, os aviões voavam acima dos 3.000 pés, por uma
questão de segurança, empregando bombas mais potentes.
Relativamente ao C-47, transcrevo parte do depoimento da
testemunha, Sr. Cor. Pil Av. Lemos Ferreira (folhas 106 a 108 do processo):
“…tendo perguntado ao
Guileje se necessitava de mais alguma coisa foi-lhe pedido o envio de um avião
durante a noite para a zona do Guileje para funcionar como ligação de
comunicações, tendo-lhe sido respondido que o que fosse possível fazer se
faria;…no próprio momento do pedido de Guileje, entrei em contacto com o Centro
de Operações Aero-Tácticas, para que vissem a viabilidade de aprontar um C-47
equipado com flairs iluminantes e
granadas de Morteiro 81, tendo sido informado estarem os C-47 indisponíveis por
falta de sobressalentes, não havendo qualquer hipótese de pôr um em serviço;
esta informação, porém, não foi transmitida ao Guileje.”
Portanto, mesmo nos assuntos respeitantes à Força Aérea, o Sr.
Ten. Cor. está mal informado! O C-47 nocturno foi uma miragem.
“Que o PAIGC estava ainda longe de querer
assaltar a povoação, já que só deu pela evacuação três dias depois (entrando
quase todos em coma alcoólico depois de esgotado o stock de bebidas existente…).”
Em virtude de o 3º. Corpo de
Exército (CE) do PAIGC se encontrar na mata de MEJO (mensagem IMEDIATO, - 19H00horas
do dia 20 MAI da REP/INFO), era quase certo que no dia 22MAI completasse
o cerco ao quartel, desse lado. Aliás, na tarde do dia 21, já tinha actuado, flagelando
elementos da população que tinham tentado reabastecer-se de água na bolanha,
junto ao aquartelamento, tendo sido metralhados pelo avião pilotado pelo Sr.
Cor. Lemos Ferreira.
No Simpósio Internacional de
Guileje (1 a 7 MAR 2008), um elemento daquele CE, informou que, no dia 22 MAI,
de manhã, veio fazer reconhecimento junto do quartel (já tínhamos retirado), o
que confirma o que afirmei no parágrafo anterior.
A razão por que só deu pela
evacuação três dias depois, só o PAIGC pode esclarecer. Seguramente, porque foi
surpreendido.
Quando cheguei a Gadamael,
comandando a retirada, já lá se encontrava o Sr. Cor Durão, que enviou uma
mensagem RELÂMPAGO, às 12H15 para o Comando Chefe a comunicar o que
tinha acontecido. Esta mensagem, terminava assim:
“…QUANDO CHEGADA GADAMAEL PORTO FACE DESTRUIÇÕES HAVIDAS VERIFICO SER
IMPOSSÍVEL REOCUPAÇÂO TEMPOS PRÓXIMOS”.
Às 13H05, seguiu outra
mensagem:
“ REF M/…221215…SUGIRO DESTRUIÇÃO COMPLEMENTAR GUILEJE POR MEIOS
AÉREOS”.
A resposta foi a seguinte (às
18H40):
“REF..SEXA JULGA PREMATURO BOMBARDEAR GUILEJE COAT EXECUTA
BOMBARDEAMENTO AREA CIRCUNDANTE…”
Não consegui obter, no Estado
Maior da Força Aérea (Arquivo Histórico), elementos relativos a este
bombardeamento, determinado pelo Sr. Comandante Chefe.
Também não tenho nenhuma
informação sobre a vigilância sobre Guileje, até o PAIGC lá entrar; esta
deveria ter sido determinada, em minha opinião, por motivos óbvios; se não foi,
é mais um erro grave, como igualmente foi a decisão de não bombardear Guileje,
a não ser que o Sr. Comandante Chefe tivesse a intenção de determinar a
reocupação, o que não se verificou.
Talvez o Sr. General Pil. Av.
(Ref) da Força Aérea António Martins de Matos, que na altura era Tenente Pil.
Av. na Base Aérea de Bissau, possa responder às seguintes perguntas:
- Qual foi o bombardeamento
efectuado sobre a área circundante de Guileje, no período 22/25 MAI 73,
determinado pelo Sr. Comandante
Chefe.
- Qual a vigilância da Força
Aérea sobre Guileje, no mesmo período, no sentido de detectar o momento em que
se verificasse a entrada do PAIGC, que seria uma oportunidade ímpar para
provocar ao In baixas incontroláveis. Isto no caso de aquela vigilância ter
sido determinada.
- Em sua opinião, qual foi a
razão por que não foi detectada a entrada do PAIGC, em Guileje, no dia 25 MAI
73. Se tivesse sido detectada, também não teria havido o “coma alcoólico”,
referido pelo Sr. Ten. Cor. Brandão Ferreira.
“…e escreveu um livro com a sua versão dos eventos…”
Não Sr. Ten. Cor., o meu livro
não é a minha “versão dos eventos”, mas tão só A VERDADE DOS FACTOS, que é o
subtítulo do livro, e “contra factos não há argumentos”. Não conheço nenhuma
versão ou factos diferentes e, se alguém tem esse conhecimento, é a altura
própria de tornar público o que sabem
sobre este assunto.
Para terminar este comentário,
que já vai longo e que, mesmo assim, não aborda todas as questões postas pelo
Sr. Ten. Cor. Brandão Ferreira (posso voltar ao assunto se o Sr. Ten. Cor. não
ficou devidamente dilucidado), quero afirmar o seguinte:
Não me considero louco nem
inconsciente. Por isso, ao tomar a decisão de retirar de Guileje, nas
circunstâncias conhecidas, sabendo que não teria aceitação do Comando Superior
e que iria sofrer as respectivas consequências, entre as quais, se não tivesse
acontecido o 25 de Abril de 1974 (25/4 para o Sr. Ten. Cor.), teria sido o meu
julgamento e, cumprida a pena máxima, a minha exclusão do Exército, teria que
haver uma situação muito grave, para não hesitar na decisão que adoptei. Esta
era o perigo iminente de, tanto a guarnição militar quanto a população, sofrer
mortos e feridos em número incalculável e, os que restassem, serem feitos
prisioneiros pelo PAIGC e posteriormente expostos à comunicação social em
Conacri.
E, para mim, a segurança de
todos, que era a minha missão e a vida humana não têm preço.
Foi por isso que não hesitei,
sabendo o que me esperava, abdicando do interesse pessoal que, naquelas
circunstâncias, não tinha a mínima relevância.
Para quem achar este cenário
exagerado, terá oportunidade de verificar, na 2ª. Parte do comentário ao artigo
em análise que, entidades do Escalão Superior, fizeram a mesma previsão.
A enorme diferença entre o Sr.
Ten. Cor. Brandão Ferreira e a minha pessoa, relativamente a Guileje, é que eu
estava lá e o Sr. Ten. Cor. conhece Guileje do mapa; ao ter visto este, “junto
à fronteira”, das duas uma: ou precisa de mudar de lentes, se usa óculos ou
então terá que procurar Guileje num mapa em que a sua localização esteja
correcta, por exemplo a carta militar de escala 1/50.000.
Cumprimentos
Alexandre da Costa Coutinho e
Lima
Cor. de Artª. Ref.
Ex Comandante do COP 5 , em
GUILEJE
4 comentários:
Sem dúvida uma resposta à altura. Os seus homens, ou seja, nós, lhe agradecemos o acto corajoso de tomar tal decisão que iria prejudicar toda a sua vida, Militar e Civil. Vozes de Burro não chegam ao céu.
José Carvalho
ex fur mil Op Esp
CCAV 8350
Ao fim e ao cabo foi mesmo o Nino Vieira quem lhes valeu pois, se fossem atacados no caminho para Gadamael, o que era bem provável, afinal estavam cercados, aí então é que morriam mesmo todos.
Caro anónimo,
Agradeço v/comentário, mas não como anónimo, assim sendo agradeço desde já que se identifique.
Sousa de Castro (SdC)
João Marques, ao seu dispor.
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