Caríssimo Camarada Sousa de Castro,
Os meus melhores cumprimentos.
Antes de mais, reforço os votos de um BOM ANO de 2020.
Após um pequeno interregno, devido à quadra natalícia, eis
mais um fragmento - o terceiro - relacionado com as mortes, por afogamento nos
rios da Guiné, de militares do Exército ocorridas durante a "guerra do
ultramar".
Depois de no texto anterior termos analisado o primeiro dos
três principais acidentes na hidrografia da Guiné, como foi o caso no Rio
Cacheu, em 05Jan1965 (uma efeméride com cinquenta e cinco anos), neste
aprofundaremos mais alguns elementos historiográficos do segundo, este no Rio
Corubal, em Ché-Ché, no dia 06Fev1969, portanto, quatro anos após o anterior,
deixando para o último poste a análise ao acidente no Rio Geba, em 10Ago1972, onde
estiveram envolvidos militares da CART 3494.
Com um forte abraço de amizade, e votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
GUINÉ
Jorge
Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494
(Xime-Mansambo,
1972/1974)
ENSAIO SOBRE AS MORTES
POR AFOGAMENTO DE MILITARES DO EXÉRCITO DURANTE A GUERRA NO CTIG (1963-1974)
- OS TRÊS ACIDENTES NA
HIDROGRAFIA DA GUINÉ -
PARTE III
1. -
INTRODUÇÃO
Recordamos que nos dois primeiros fragmentos – P383 e P385 – demos a conhecer alguns dos resultados globais já apurados neste projecto de investigação titulado de «Ensaio sobre o número de militares do Exército que morreram afogados nos diferentes planos de água existentes na Guiné, durante o conflito armado (1963-1974)».
Ainda que continuemos a expandir os campos de consulta fora do âmbito das fontes “Oficiais”, a presente análise demográfica, quantitativa e qualitativa, reporta-se aos “casos da investigação” já coletados, onde se procedeu à sua organização estratificada em dois grupos (amostras): “corpos recuperados” e “corpos não recuperados”, com identificação das suas respectivas Unidades.
No primeiro fragmento, a análise estatística foi apresentada com quadros de distribuição de frequências, simples e acumuladas, em função das variáveis categóricas ou quantitativas relacionadas com os objectivos de cada contexto. No segundo, o método seguido foi a representação gráfica de distribuição de frequências, simples e acumuladas, expressa através de gráficos de barras ou de gráficos circulares, metodologia que continuaremos a utilizar no presente.
Como complemento à introdução estatística, a que corresponde um segundo ponto em cada um dos fragmentos, serão descritas as causas, factos e resultados que fazem parte da “História” dos três principais acidentes na hidrografia da Guiné, como foram os casos ocorridos no Rio Cacheu, em 05Jan65, durante a «Operação Panóplia» [já abordado no P385]; no Rio Corubal, em 06Fev69, na «Operação Mabecos Bravios», em Ché-Ché [a desenvolver na presente narrativa]; e no Rio Geba, no Xime, no âmbito de uma missão das NT, em 10Ago72 [a incluir no próximo poste].
2. –
ANÁLISE DEMOGRÁFICA DAS MORTES POR AFOGAMENTO DE MILITARES DO EXÉRCITO DURANTE
A GUERRA NO CTIG (1963-74)
(UNIVERSO - n=144)
Relembramos que a análise demográfica que comporta esta investigação incidiu
sobre os casos das mortes por afogamento de militares do Exército durante a
guerra no CTIG (1963-1974), identificados nos “Dados Oficiais” publicados pelo
Estado-Maior do Exército, elaborados pela Comissão para o Estudo das Campanhas
de África (1961-1974), 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II, Guiné; Livros 1
e 2; 1.ª Edição, Lisboa (2001).
O estudo mostra que durante o período em análise (1963-1974) em todos os
anos ocorreram mortes por afogamento. No final foram contabilizados cento e
quarenta e quatro náufragos. Durante os doze anos em que decorreu o conflito,
por quatro vezes (1/3) o número de mortes ultrapassou a dezena de casos, com
destaque para o ano de 1969, onde os números ultrapassaram a meia centena, em
consequência do «desastre da Jangada do Ché-Ché». Para esses valores globais
muito contribuíram os “acidentes” nos rios da Guiné – Cacheu, Corubal e Geba –
como foram os três casos referidos na introdução, equivalente a 40,3% (n=58).
Quanto aos “corpos não recuperados”, estes representam 43,8% (n=63), contra
56,2% (n=81) dos “recuperados”. Sobre esta cifra não se consideraram os “corpos
recuperados” no Ché-Ché, por desconhecimento do número exacto, ainda que no
blogue da Tabanca Grande [P6073] se refira que foram onze.
Da análise global ao quadro e gráfico acima, verificou-se que nos anos
1963 (n=3), 1971 (n=8), 1973 (n=6) e 1974 (n=5), todos os náufragos foram
“recuperados”. Durante o segundo triénio (1966-1968), dos vinte e sete
afogamentos, só três, um em cada ano, não foram “recuperados” (1,1%). Em
sentido contrário está o caso do ano de 1969, pelas razões já analisadas
anteriormente, com 96,1% (n=49).
3. – OS
TRÊS ACIDENTES NOS RIOS DA GUINÉ:
- CONTEXTO DE CADA UMA DAS OCORRÊNCIA
Para a
estruturação deste ponto, relativo a cada uma das três ocorrências
identificadas no gráfico acima, foi relevante a consulta efectuada ao vasto espólio
de informação disponível no blogue da «Tabanca». No caso particular do episódio
da “Jangada do Ché-Ché”, ocorrido no âmbito da «Operação Mabecos Bravios”,
existem algumas dezenas de referências, onde se cruzam os dois conceitos, por
exemplo, as dos P DXXVI; P509; P5778; P5858; P5866; P5954; P6063 e P6073
(as mais antigas) e P12136; P18871; P19473 e P19474 (as mais recentes). Para
além desse significativo contributo, e mantendo a metodologia anterior, os
conteúdos utilizados neste capítulo têm por base os documentos “Oficiais”,
publicados pelo Estado-Maior do Exército, elaborados pela Comissão para o
Estudo das Campanhas de África (1961-1974), 6.º Volume; Aspectos da Actividade
Operacional; Tomo II, Guiné; Livros II; 1.ª Edição, Lisboa (2015).
3.1 - O
CASO NO RIO CORUBAL EM 06FEV1969 = O SEGUNDO
Infogravura (Rio Corubal).
No estuário do Geba (a Oeste) vem desembocar, entre a Ponta Varela e Gampará,
um dos mais importantes cursos de água da Guiné, talvez mesmo o maior. É o
Corubal (traço a vermelho). Este rio nasce a cerca de 160 kms da fronteira, no
maciço de Mali, pertencente ao grupo de montanhas do Futa-Djalon, na sua parte
norte, recebendo vários tributários importantes, até que entra no território da
Guiné pelo norte de Cadé, servindo aí de fronteira entre Candica e os rápidos de
Chibata. […] Inflecte então para oeste, passa através de alguns rápidos e vaus,
desviando-se finalmente para noroeste até desembocar no Geba. Na parte inferior
do seu curso, até ao vau de Ugui [onde há a possibilidade de passagem a pé
através do rio, dada a sua escassa profundidade], é navegável. Aí fica a
Tabanca de Xitole, na margem direita. Este rio tem para montante várias secções
navegáveis por canoas, o que facilita as comunicações com o Forreá [Aldeia
Formosa/Mampatá/Chamarra] e as demais regiões ricas que atravessa. Contudo, os
seus rápidos e secções de perfil diferenciado tornavam impossível a navegação
por embarcações um pouco maiores.
Fonte: João Freire (2018) – A Colonização Portuguesa da Guiné
(1880-1960): Contributos sobre o papel da Marinha - com dois apêndices sobre
Cabo Verde e São Tomé e sobre a caça aos negreiros de Angola. Lisboa.
Edição: Comissão Cultural da Marinha. Maio de 2018, p. 242.
3.1.1 - O CONTEXTO DA «JANGADA DO RIO CORUBAL»
EM 06FEV1969
Na sequência do trágico acidente no Rio Corubal, em 06 de Fevereiro de
1969, uma das datas mais dramáticas vividas pelas Forças Armadas Portuguesas
durante a Guerra do Ultramar, ou da Guerra Colonial, foi elaborado pelo Cmdt da
CCAÇ 1790, Cap Inf José Alberto Ponces de Carvalho Aparício [hoje, TCor Apos.],
um relatório [classificado de “NOTA”] do qual retirámos a seguinte passagem
sobre a “história da Jangada”.
“Na Guiné
[Bissau] nos anos 60 [do século passado] a travessia do Rio Corubal para a
região do Boé era feita [como naquela data] junto à povoação do Ché-Ché onde
durante a guerra se encontrava ali em permanência uma força militar de um
pelotão de infantaria, reforçado com uma secção de morteiros 81 mm.
Esta travessia
era então obrigatória para a rendição das forças militares portuguesas
estacionadas em Madina do Boé e Beli, e ainda para o reabastecimento daquelas
forças que na época das chuvas (cerca de seis meses) ficavam completamente
isoladas. Por isso, durante a época seca realizavam-se normalmente duas colunas
por mês, cada uma escoltada por uma companhia reforçada com um pelotão de
autometralhadoras “Fox” ou “Daimler” e com protecção aérea permanente. Cada
Coluna era constituída por um elevado número de viaturas, cerca de 20 a 30,
carregadas com munições e reabastecimentos.
A travessia do
Rio Corubal era então feita por uma jangada constituída por uma plataforma
sobre duas canoas; um longo cabo ligando dois pontos fixos instalados em cada
margem corria numa roldana instalada na plataforma; a impulsão necessária para
mover a jangada erar dada pela força braçal dos militares puxando manualmente o
cabo. Como segurança do movimento, uma embarcação “Sintex” com motor fora de
bordo acompanhava lateralmente cada movimento de vaivém, pronta para qualquer
emergência.” (Op. Cit; 6.º Vol, p 353).
3.1.2 - ANTECEDENTES HISTÓRICOS QUE LEVARAM AO
ABANDONO DAS FORÇAS INSTALADAS EM MADINA DO BOÉ E NO CHÉ-CHÉ
Com
a chegada a Bissau, no início de Junho de 1968, do então Brigadeiro António
Sebastião Ribeiro de Spínola [1910.04.11-1996.08.13], em substituição do
General Arnaldo Schulz [1910.04.06-1993], são elaboradas pelo novo Governador e
Comandante Militar da Guiné [promovido a General em 04Jul69], as primeiras
directivas.
A
primeira Directiva – a n.º 1/68, de 08Jun – tinha em vista a remodelação do
dispositivo na região do Boé. Determinava a transferência do aquartelamento de
Madina do Boé para local mais adequado, na região do Ché-Ché. Ordenava a
recolha imediata a Madina do Boé do Destacamento de Béli, devendo ser
destruídas as instalações e material que não fosse recuperável. Determinava,
ainda, o reconhecimento da região do Ché-Ché, em ordem a escolher o local do
novo aquartelamento, devendo satisfazer as seguintes condições: situar-se em
“área-chave” da região do Ché-Ché, de modo a permitir o lançamento de acções
dinâmicas na região do Boé e na margem norte do Rio Corubal. Se possível, que
desse garantias de segurança à passagem deste rio no Ché-Ché (Ibidem. p.175).
Uma
outra Directiva – a n.º 59/68, de 26Dez – mandava executar a manobra
esquematizada na Directiva anterior – a n.º 58/68, de 16Dez – onde se
determinava a execução de diferentes acções/missões no Sector Leste, entre elas:
“(i) - Exercer acções de reconhecimento,
em ordem a detectar eixos de infiltração do IN na faixa fronteiriça com a
República do Senegal e República da Guiné-Conacri até ao “marco 49” e a norte
do Rio Corubal a partir deste “marco”, com especial incidência nos regulados de
Pachisse, Maná e Chanha. (ii) - Reforçar o efectivo das NT na ponte do
Saltinho, com vista a garantir a defesa efectiva da ponte e a exercer acção
dinâmica no regulado do Corubal. (iii) - Consolidar o esforço de autodefesa nas
tabancas marginais da estrada Bambadinca-Xitole-Saltinho. (iv) -
Retirar as forças instaladas em Madina do Boé e em Ché-Ché, minando e armadilhando
as instalações para que possam ser utilizadas pelas NT em fase ulterior da
manobra de contra-subversão.” (…) (Ibidem. p 206).
Para
a execução da manobra prevista nas Directivas acima mencionadas, foi organizada
uma operação, designada por «Mabecos Bravios», a levar a cabo entre 02 e
07Fev1969. Para esse efeito foram mobilizadas as seguintes Unidades militares:
CCaç 1790, CArt 2338, CCaç 2403, CCaç 2405, CCaç 2436, CArt 2440, 1 GC/CCaç 5,
PMil 161, PAMetr "Daimler" 1258, PSap BCaç 2835, com APAR, as quais
efectuaram uma escolta no itinerário Nova Lamego - Madina do Boé - Nova Lamego.
(…) Na travessia do Rio Corubal, um acidente com a jangada que transportava forças
de segurança da retaguarda provocou a morte de quarenta e sete militares das NT
(2 sargentos, 43 praças e 2 Milícias). (Ibidem.
p 353).
Sobre o desenrolar desta operação, no
relatório acima citado, elaborado pelo Cap Inf José Carvalho Aparício [hoje,
TCor Apos.], Cmdt da CCAÇ 1790, é referido o seguinte: “Em Fevereiro de 1969, após a decisão do
Comando-Chefe da Guiné de abandonar todo o Boé – Beli já tinha sido abandonado
meses antes retirando para Madina do Boé todas as forças ali estacionadas – foi
desencadeada a operação "Mabecos Bravios" sob o Cmd do Agr 2957
[sedeado em Bafatá]. Uma enorme coluna com cerca de 50 viaturas pesadas
escoltadas por duas CCaç’s, e dois pelotões de autometralhadoras, e com apoio
aéreo permanente, chegou a Madina do Boé na tarde de 05Fev69.
[Antes] a esquadra de helicópteros simulou
durante a tarde lançamento de forças nas colinas de Madina para tentar evitar
as habituais flagelações por morteiros e canhões sem recuo. Durante toda a
noite desse dia as viaturas foram carregadas com toneladas de munições,
armamento pesado, e todo o equipamento e material aproveitável ali existente.
Na manhã de 05Fev iniciou-se o movimento para o Ché-Ché, onde a coluna chegou
no final da tarde desse dia. Por decisão do comandante da operação [TCor Hélio
Augusto Esteves Felgas (1920.8.25-2008.6.23)], o número de dias previsto para a
sua realização foi reduzido de vários dias, para libertar os meios aéreos
empenhados; e a travessia do Rio Corubal iniciou-se logo de seguida, com
inúmeras travessias efectuadas durante a noite com muitas dificuldades e
problemas no embarque na jangada das viaturas carregadas ao limite.” (Ibidem. pp 354-355).
O
relatório refere ainda:
“Para
a realização da operação de evacuação do Boé foi contruída uma jangada nova,
maior que a anterior, com um estrado sobre três canoas. Em vez da corda
inicial, o movimento da embarcação era garantido pelo “Sintex” com motor fora
de bordo amarrado à jangada, do lado de jusante do rio, e operado por um sargento
da Marinha requisitado para o efeito. A velha jangada esteve sempre acostada na
margem direita. Nas travessias do rio durante a noite, com as viaturas foram
também indo passando secções dos militares empenhados. No início da tarde de
06Fev69, na última e fatídica viagem, embarcaram a parte que restava dos
militares das CCAÇ 2405 e da CCAÇ 1790, cerca de 80 a 90 militares. A meio do
rio, uma aceleração brusca do motor do “Sintex” fez erguer a frente de bombordo
da jangada, tendo sido dada logo ordem para reduzir a velocidade, a jangada fez
o movimento pendular inverso, desta vez mergulhando ligeiramente no rio a
frente de estibordo, as canoas ficaram cheias de água mas o tabuleiro ficou
flutuando, com os militares a bordo com água pelos tornozelos. Chegados à
margem direita, ao proceder-se à contagem constatou-se a falta de quarenta e
sete militares das duas Companhias”. (Ibidem. p 355). [sendo: 26 da CCAÇ 2405, 19 da CCAÇ 1790 e mais
dois milícias, conforme se indica nos dois quadros abaixo]:
No
final, o relatório refere que “o acidente
em causa deu origem a um Auto de Corpo de Delito, e a longas e complexas
averiguações, incluindo todos os aspectos da operação, que em 1970 terminaram
em julgamento em Lisboa, no 3.º Tribunal Militar Territorial, que durou várias
sessões e que terminou com a absolvição do único réu, o alferes miliciano
comandante do Destacamento estacionado no Ché-Ché.” (Ibidem. p 355).
3.1.3 – AS DECISÕES QUE FORAM TOMADAS PARA
RECUPERAR OS CORPOS DOS MILITARES NAUFRAGADOS EM 06FEV1969 NO CHÉ-CHÉ
Em
reunião de Comandos realizada em Bissau, o Comandante-Chefe Militar entregou ao
CDMG [Comando de Defesa Marítima da Guiné] e ao CZAGCV [Comando da Zona Aérea
da Guiné e Cabo Verde], com data de 19Fev, a Directiva n.º 16/69, determinando
a realização de uma «Operação no Rio Corubal», constituída por quatro pontos, a
saber:
►
1
– Confirmando a ordem verbal dada em reunião de Comandos, determino a
realização de uma operação no Rio Corubal, com o fim de recuperar os corpos dos
militares mortos no trágico acidente de 06Fev69, que se encontram à superfície
das águas.
►
2
– A operação deve realizar-se na base do helitransporte de uma vaga de
“Fuzileiros Especiais”, fortemente apoiada por meios aéreos.
►
3
– Os corpos devem ser agrupados e enterrados no local, devendo as campas ser
assinaladas com cruzes de ferro.
►
4
– Desejo ser helitransportado ao local, conjuntamente com um capelão para
assistir à cerimónia fúnebre, e colocar nas campas e lançar ao rio coroas de
flores com a legenda “A Pátria agradecida”. […] (Ibidem. p 317).
Sobre
esta “Operação”, no P6073-LG, como indicado no ponto 2, o camarada Rui Ferrão, acrescenta
que “foi do seu Destacamento de
Fuzileiros Especiais – o 10.º - que saíram duas secções, passados alguns dias,
para o local do acidente, com a missão de recolher os corpos a boiar no
referido rio. Dos 47 afogados, foram resgatados 11 cadáveres, que foram
sepultados com todas as honras militares na margem do rio. Os restantes [?]
ficaram dispersos pelo rio à mercê dos crocodilos e doutras espécies afins.”
[…]
Entretanto,
como complemento desta informação, o camarada Vítor Oliveira, ex-1.º Cabo
Melec, BA 12 (1967/1969), na sua narrativa no P5853-LG, a que chamou “O desastre do Cheche visto do ar”,
afirma no ponto 7º: “passados uns dias
[?] com uma DO 27 o TCor Pilav Costa Gomes, um Ten Pilav, do qual não recordo o
nome, e eu, sobrevoámos o rio e vimos cenas horríveis, os corpos a boiar e os
crocodilos à volta deles. O TCor Pilav Costa Gomes entrou em contacto com os
Fuzileiros para recolher os corpos. Creio que fizeram um pequeno cemitério próximo
do Cheche onde colocaram os corpos.”
Eis,
em suma, algumas das memórias que fazem parte da “historiografia” deste trágico
acidente, impregnado de dor e sofrimento, não só para os sobreviventes, como
para todos os camaradas que nele estiveram envolvidos directamente, ou
indirectamente, os familiares e amigos de todos aqueles jovens que pereceram
nas águas do Rio Corubal.
Continua…
Fontes consultadas:
Ø Estado-Maior
do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974).
Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da
Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; 1.ª edição, Lisboa (2015).
Ø Estado-Maior
do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974).
Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em
Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 23-569.
Ø Estado-Maior
do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974).
Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em
Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 2; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 23-304.
Ø Outras:
as referidas em cada caso.
Termino, agradecendo a atenção dispensada.
Com um forte abraço de amizade e votos de
muita saúde.
Jorge Araújo.
07JAN2020.
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