CART 3494/BART 3873 Guiné, Xime, Enxalé e Mansambo
DEC1972/ABR1974
Sousa de Castro, ex. 1º cabo radiotelegrafista
Sousa de castro 1972 |
Sousa de Castro 2019 |
Aí
vem elas! PUUUM PUUUM PUUUM. É o primeiro ataque ao quartel sofrido pela CART
3494 Guiné- Xime. Estamos no dia 27 de março de 1972, pelas 23,00 horas, praticamente
no início da comissão, os velhinhos da cart 2715 que nós rendemos tinham ido
embora nesse dia.
É
de noite, o Alf. Pinho cmdt da artilharia (obuses) está no posto de trms á
conversa com o pessoal quando surge o ataque. Diz; é um ataque com morteiro 82
mm e canhão s/recuo, à minha ordem toda a gente para o abrigo tal, vamos ouvir
a saída das canhoadas… é agora, corram rápido, temos pouco tempo entre a saída
das canhoadas e o rebentamento.
Xime 1972 - OBUS 10,5 cm |
Assim
fizemos, alguns atiraram-se de cabeça para o abrigo, daí resultaram
alguns
ferimentos ligeiros em alguns camaradas, foi o pânico geral, algumas
canhoadas e morteiradas rebentaram ao lado da cozinha, foi o desespero,
agachei-me debaixo da mesa onde tínhamos o E/R AN-GRC9 no posto de TRMS,
lembro-me de rezar a nossa senhora em surdina, para nos proteger, fugi para o
abrigo conforme ordem do homem experiente de muitos meses de comissão, um
ataque com 15 ou 20 minutos de duração que nos pareceu uma eternidade, nessa
noite ninguém dormiu, muitos lamentos, tudo em alerta máximo, qualquer sinal
parecido com uma saída de canhoada ou morteirada
era uma correria a fugir para os abrigos, devo dizer que nós TRMS não tínhamos
abrigo, tanto o posto de rádio como o local onde dormíamos, era um espaço
coberto com chapas de zinco.
Assim sendo, e devido à situação em que vivíamos, por iniciativa do Fur. TRMS Luís Coutinho Domingues, procedeu-se à reconstrução e
ampliação de um abrigo, (foto ao lado) onde montamos o novo posto de rádio e um espaço a que chamávamos
de caserna, sendo aproveitado o chassis da carroçaria traseira de uma viatura, fazendo de vigamento, para reforço. A cobertura em chapa de bidões de duzentos litros previamente cortados, por cima colocamos troncos de
árvores que fomos cortar na mata, auxiliados por um GR de combate a fazer segurança, enchemos com bastante terra e de novo a chapa de bidões, assim sentíamos
mais ou menos seguros. Esse abrigo foi deixado pelo Alf. Pinho
(cmdt dos Obuses) quando foi embora por ter terminado a sua comissão de serviço. Aquela primeira noite, foi de terror. Foram 17 ataques ao quartel, à média
de um por mês, sempre que havia lua cheia, era de esperar um ataque. Felizmente
que não houve danos mortais. Em 27 de abril de 1973 mudamos para Mansambo
devido ao baixo moral da companhia, era uma zona muito boa em ralação ao que
passamos no Xime. Mas foi muito complicado. Nota: O Alf. Mil. Art. Pinho na sua
despedida, ofereceu-me um livro autografado, de ALL CAINE "O ESCRAVO"
que ainda disponho, muito obrigado Alf. Pinho.
Sousa
de Castro ex. 1º cabo radiotelegrafista
07
de Março de 2020
Fotogaleria
Xime 1972 - Matança da Vaca para refeições ao lado a cozinha, ao fundo refeitório |
Da esq. para drtª: Castro (trms), Machado (cozº), Torres (cozº) e Ramos (trms) já falecido |
Nota: comentários extraidos do Facebook com a devida vénia
5 comentários:
Tiveste mais sorte que eu! A ccac 12 que vos foi render no Xime , permaneceu lá de Março de 73 a Setembro de 74! Tivemos os mesmos problemas e aquando dos ataques vi colegas a chorar convulsivamente ! Só quem por lá passou pode avaliar a dor e saudades da família.
João Silva (CCAÇ 12)
Castro António também passei por uma situação complicada, fomos atacados, e quando assim acontecia tinha que a central ser reforçada com mais um radiotelegrafista, tocou-me a mim, vou a correr da camarata para o COP. o fogo começou a cair na zona da Central não sei o que se passou fiquei desorientado e a correr para o perigo, quando um camarada vinha a correr em sentido inverso para o abrigo agarrou-me e puxou-me para lá, numa pequena pausa aventureir-me e lá fui eu reforçar a central. Foi um MAIO de 1973 para esquecer mas São estas situações que fazem parte do nosso passado,da nossa história.
Fernando Guerra
Gostei de ler, porque recordar é viver,,,,, também passei alguma em 1963-1965, e o maior foi das 21,00 às 06,00,, não dava para fugir para debaixo da mesa,,,, pois aconteceu no mato,, apesar de haver, M.,F, de parte a parte, também tivemos a mão de Deus,, e já se passaram 57 anos,,,, e nunca esquece
Luciano Lamy
Estamos vivos camaradas e veteranos de Guerra. Deixem que o governo pense os cobardes não foram nem vão à guerra. Abraço
Joao Pepino
Castro, o meu primeiro embrulhanço, foi convosco, a 16 de setembro 1972, tinha chegado em Agosto.
Estávamos na messe de sargentos quando saíram as primeiras canhoadas. Toda a malta fugiu e eu... também fui atrás para o abrigo junto à messe. Até aí tudo bem, não fosse o Fur Neves mandar-me um berro e dizer para ir para o obús! Só aí me lembrei que era Fur de Artilharia e a minha função não era ir para um abrigo mas sim para o obús!
A partir do primeiro, foi sempre a correr para a meu obús, lá em cima depois do heliporto. Foi tudo uma questão de hábito, com a primeira saída, toca a correr, quando caía, já estava protegido pelo edifício da mecânica, só tinha a descoberto o heliporto. Felizmente nunca fui apanhado, o pior só quando vieram à crista!
Hoje não passa de recordações, mas foram muitos embrulhanços e alguns bem duros!
Manuel Lino (CART 3494) Ex. FUR. Milº Artilharia (OBUSES)
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