Guiné - Xime 1972: O Sousa de Castro no seu posto de trabalho, operando o Rádio AN-GRC 9.
"O AN-GRC 9" foi o rádio com que operei durante mais tempo. Utilizamos também o "Racal" (TR - 28) para além do "AVP-1"
© Sousa de Castro (2005)
Alguns dados curiosos retirados da monografia da Guiné editados em 1971 pelo Estado-Maior do Exército com o título MISSÃO NA GUINÉ.
Composto e impresso nas Oficinas Gráficas da SPEME.
Composto e impresso nas Oficinas Gráficas da SPEME.
O Rádio AN-GRC-9. Foto gentilmente disponibilizada pelo nosso camarada Afonso M. F. Sousa, que vive actualmente em Maceda, Ovar, ex-Furriel Miliciano de Transmissões da CART 2412; esteve na região do Cacheu (Bigene, Binta, Guidage e Barro), entre Agosto de 1968 e Maio de 1970.
População
A população da Guiné era, segundo o censo de 1960, de 544.184 habitantes o que representava um aumento de 33.407 habitantes em relação ao censo de 1950. É característica na Província a diversidade étnica dos seus habitantes (3).
Não falando já dos não autóctones – brancos, mestiços, cabo-verdianos e libaneses, na sua grande maioria – num total aproximado de 15.000, a população autóctone (nativa) guineense apresenta uma grande variedade de tipos, correspondentes a diferentes grupos étnicos (tribos), entre as quais as principais são:
- Balantas (quantitativo referido a 1962 – 150 000).
Habitam entre os rios Geba e Cacheu, com uma ramificação importante na região de Catió-Bedanda, no Sul da Província.
Dotados de boa condição física, são trabalhadores, valentes, enérgicos, com grande força de vontade e viva inteligência.
Bons agricultores, vão buscar à terra, principalmente às regiões alagadas («bolanhas»), os meios de subsistência de que necessitam. Alimentam-se de arroz, azeite de palma, milho e mandioca; apreciam muito a carne, o peixe e os mariscos.
O gado bovino que possuem destinam-no às cerimónias de sacrifício dos ritos que acompanham os funerais («choros»).
Condenam o celibato.
Extremamente supersticiosos, acreditam na transfiguração da alma, atribuindo à feitiçaria todas as suas desgraças.
Praticam o roubo, em especial de gado, com a consciência de um acto não criminoso, mas sim revelador da perícia própria da tribo.
São animistas.
- Fulas (Fulas-Forros e Fulas-Pretos) (120 000).
Os primeiros fulas a entrar na Província foram os fulas-forros, que subjugaram e escravizaram grande número de mandingas, a quem designaram por fulas-pretos.
De um modo geral, são hospitaleiros, considerando mesmo a hospitalidade como um dever sagrado.
Apesar da influência que o islamismo tem entre eles, praticam também o animismo.
Dedicam-se ao cultivo do arroz, sem grande entusiasmo, milho e amendoim e à pesca, à linha ou por envenenamento das águas.
Do gado que criam, considerando como um sinal de prestígio apenas aproveitam o leite para sua alimentação.
- Futa-Fulas (10 000).
Povoam grande parte da região do Boé.
Nos futa-fulas, originários do Futa Djalon, donde lhes veio o nome, não existe unidade de tipo, apresentando as mais diversas características, e, normalmente, a face marcada pr dupla incisão vertical que faz lembrar o n.º 11.
Consideram-se, em tudo, superiores aos restantes fulas.
De elevada estatura, argutos e inteligentes, dedicam-se à agricultura, à criação de gado e ao comércio ambulante. Alimentam-se de arroz, de «fundo» (tipo de cereal semelhante à alpista) e de toda a variedade de frutos. Comem carne, com excepção da do porco, e não bebem vinho por a sua religião (o islamismo) o não permitir.
São polígamos, embora predominem os casamentos com uma só mulher.
São islamizados.
- Manjacos (65 000).
Habitam a região compreendida entre o rio Cacheu e a ria de Mansoa e as ilhas de Jeta e de Pecixe.
São curiosos, astutos, dedicados, hospitaleiros, com perfeita compreensão dos princípios morais e de justiça, preocupando-se em adquirir hábitos civilizados. Têm certa tendência para o comércio e aptidão para as tarefas marítimas. Dedicam-se ao cultivo do arroz, exploração de palmares, pesca e extracção do sal.
São animistas.
- Mandingas (60 000).
Habitam na região de Farim, Óio, Bafatá e Gabú.
São sóbrios, inteligentes, observadores, aguerridos, alegres e comunicativos. Com preceitos morais que os colocam acima das outras tribos, admitem o regime de castas (nobres, ferreiros – com uma importância muito especial -, ourives, sapateiros, etc.). As profissões passam obrigatoriamente de pais para filhos e os casamentos só se realizam entre membros de famílias de nobres, ferreiros, ourives, sapateiros, etc.
Dedicam-se à cultura do milho, mas comercialmente o produto mais importante é a mancarra.
O islamismo não fez desaparecer entre eles as práticas animistas.
- Papéis (40 000).
Povoam a ilha de Bissau.
São aguerridos, enérgicos, decididos, desconfiados e nadas expansivos.
Tal como os manjacos, têm certa aptidão para as práticas marítimas. Alimentam-se de arroz, mandioca, batata-doce, milho, «fundo» e peixe seco. Dedicam-se à agricultura (arroz mancarra, em especial) e ao trabalho de carregador nos centros urbanos.
São animistas.
- Beafadas (13 500).
Habitam a região de Quinara.
Embora robustos, são indolentes por natureza.
Progressivamente islamizados, mantêm-se, ainda, agarrados às práticas animistas.
- Brames (Mancanhas) 12 500.
Vivem nos regulados do Có e Bula, na ilha de Bissau, na ilha de Bolama e na região continental fronteira a esta ultima ilha.
Têm grandes afinidades com os mandingas e fulas, de quem descendem por cruzamento.
São inteligentes e assimilam com facilidade os usos e costumes dos europeus.
Consideram como delitos de somenos importância, quando não mesmo louváveis, o falso testemunho, as ofensas corporais, o estupro, a violação e o adultério.
Veneram o «Irã».
Dedicam-se, sobretudo, à cultura do milho e da mancarra.
- Bijagós (12 500).
Povoam o arquipélago de Bijagós.
São tímidos, belicosos e desconfiados. Vivendo constantemente no mar, são excelentes marinheiros.
Em questões de namoro e de casamento, a escolha é feita pela mulher, que os bijagós têm na conta de um ser superior.
São hábeis artistas na escultura da madeira e dedicam-se à pesca e à extracção do sal.
- Felupes (6000).
Habitam na região de Varela e Susana.
São fortes e ágeis, praticantes entusiastas do exercício físico. Bons atiradores de azagaia e flechas, cujas pontas envenenam, dedicam-se à caça.
São animistas.
Consideram falta muito grave a união da mulher felupe com um nativo de tribo diferente (4).
- Baiotes (5500).
Habitam ao norte do rio Cacheu, no extremo ocidental da Província.
Têm grandes afinidades com os felupes, pois constituem com eles o grupo étnico dos diolas.
A diferençá-los apenas existe um dialecto diferente e a sua distribuição geográfica.
São animistas.
- Nalus (5500).
Habitam as regiões do Tombali e de Cacine.
São pouco robustos e de estatura média. Muito individualistas, recusam-se a manter relações com as tribos vizinhas. Têm um conceito perfeito da justiça. Encontram-se em grande parte islamizados.
- Sossos (2000).
Constituem um ramo dos mandingas.
São islamizados e têm grandes afinidades com as populações fronteiriças.
Todos os grupos étnicos da Guiné praticam a poligamia, embora existam em maior percentagem lares monógamos. O maior número de lares monógamos encontra-se nos Felupes, Cassangas e Futa-Fulas, que atingem uma percentagem superior a 70%.
As menores percentagens de lares monógamos encontram-se entre os Beafadas e os Mandingas.
A poligamia praticada incide na bigamia. São insignificantes as percentagens de lares com mais de 4 esposas.
Entre as tribos guineenses existem para cima de 20 línguas e dialectos diferentes.
Introduzido pelos primeiros colonos e aceite facilmente pelos nativos, fala-se também o crioulo, que não é mais que uma mistura de palavras portuguesas (algumas muito antigas) e palavras das línguas e dialectos locais.
O crioulo permite aos nativos entenderem-se entre si.
O povoamento da Guiné é muito irregular, verificando-se serem regiões do litoral e as regiões vizinhas de Farim e Bafatá (os dois principais centros de comunicação da Província) as mais habitadas, e as do Boé e do sueste do Óio as menos habitadas.
"MISSÃO NA GUINÉ" de: Estado Maior do Exército
"MISSÃO NA GUINÉ" de: Estado Maior do Exército
Sousa de Castro
ex. 1º cabo radiotelegrafista CART 3494
ex. 1º cabo radiotelegrafista CART 3494
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