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sábado, 21 de janeiro de 2012

P-139 Situação Militar no Teatro de Operações da Guiné no ano de 1974 (Parte III)

MSG de Luís G. Vaz com Data/Hora: 202244JAN12


Situação Militar no Teatro de Operações da Guiné no ano de 1974

Por: Luís Gonçalves Vaz  (filho do último Chefe do Estado Maior do CTIG, Coronel Henrique Gonçalves Vaz)


(Parte III)



DOSSIÊ SECRETO (ou talvez não)


Adaptação/transcrição de Alguns Excertos do; "Relatório da 2ª Repartição do QG do CTIG”, autenticado pelo Chefe da 2ª Repartição, o Major de Infantaria, Tito José Barroso Capela.

Bissorã - 20/10/1973 - Passagem de revista pelo general Bettencourt Rodrigues
(Fotos do capitão Carlos Oliveira - CCAÇ 13)
NOTA INTRODUTÓRIA de Luís Gonçalves Vaz :

Para quem não esteve na Guiné no ano de 1974, seguem as datas de alguns ataques do PAIGC, logo no início desse ano. ..."Este foi mais um ano de guerra, e nada fácil, e foi logo no início desse ano, no mês de Janeiro,  que se realizou a  a 1ª Operação planeada pelo General Bettencourt Rodrigues, seu Estado Maior e Estado-Maior do CTIG e demais ramos das Forças Armadas, segundo nota do último chefe do Estado-Maior do CTIG, Coronel de Cavalaria, Henrique Gonçalves Vaz, publicada anteriormente neste Blog..."

General José Manuel de Bethencourt Conceição Rodrigues
 Em 29 de Setembro de 1973 assume em Bissau, os cargos de governador e CCFA da Guiné
(fotografia retirada de: http://ultramar.terraweb.biz/index.htm)
3 de Janeiro de 1974 – Ataque do PAIGC a Canquelifá, na fronteira da Guiné com o Senegal, com intenso fogo de morteiros e granadas, durante mais de dez horas. Sob coordenação de Nino Vieira, comandante da Frente Leste do PAIGC.

3 de Janeiro de 1974 – Ataque do PAIGC ao destacamento de Copá, na Guiné, durante duas horas.

3 de Janeiro de 1974 – Ataque do PAIGC ao destacamento de Buruntuma, na Guiné.

4 de Janeiro de 1974 – Ataque do PAIGC ao destacamento de Piche, na Guiné.

Guiné,  Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ3546 (Piche e Camajabá, 1972 / 1974)  Destacamento da Ponte Caium

6 de Janeiro de 1974 – Novo ataque do PAIGC a Canquelifá, Norte da Guiné, com intenso fogo de foguetões, durante três horas.

6 de Janeiro de 1974 – Novo ataque do PAIGC a Buruntuma, na Guiné, durante cinquenta minutos.

7 de Janeiro de 1974 – Uma força portuguesa do recrutamento local interceptou uma coluna do PAIGC em Canquelifá, causando-lhe pesadas baixas. (segundo notas pessoais do Coronel CEM, Henrique Gonçalves Vaz), foram mortos em combate, 6 Cubanos e mais 6 Africanos do IN. Neste combate morreu um militar das N.T, o  Ranger:LUÍS FILIPE PINTO SOARES (Furriel Miliciano de Operações Especiais) Companhia de Caçadores 3545.

7 de Janeiro de 1974 – Emboscada do PAIGC a uma coluna militar portuguesa na estrada Bajocunda-Copá, causando dois mortos e 19 feridos.

7 de Janeiro de 1974 – Disparos de mísseis do PAIGC contra dois aviões Fiat em Bedanda, Guiné.

7 de Janeiro de 1974 – Ataque do PAIGC ao destacamento de Copá, na Guiné.

21 de Janeiro de 1974 - Acção do PAIGC na cidade de Bissau, com lançamento de engenhos explosivos contra autocarros da Força Aérea, seguidos, uma semana depois, de dois outros engenhos do mesmo tipo num café da mesma cidade, frequentado por militares portugueses.

14 de Fevereiro  de 1974  - Carta do Movimento dos Capitães da Guiné sobre a situação geral e a necessidade de ser passar à acção contra o regime.

  22 de Fevereiro de 1974   - Rebentamento de uma carga explosiva no Quartel-General do Exército de Bissau, tendo ficado feridos  o segundo-comandante e o Chefe do Estado-Maior  (este apenas com pequenas escoriações), acção  reivindicada pelas Brigadas Revolucionárias.

22 de Fevereiro  de 1974  - Publicação do livro de António de Spínola, Portugal e o Futuro.

  15 de Março de 1974   - Demissão de Costa Gomes e António de Spínola dos cargos de chefe e vice-chefe do Estado Maior General das Forças Armadas.
 
16 de Março de 1974   - Pronunciamento do RI 5, das Caldas da Rainha, primeira tentativa de golpe militar do movimento dos oficiais das Forças Armadas, que conduz à prisão de cerca de 200 homens.

31 de Março de 1974   - Violento ataque do PAIGC à guarnição militar portuguesa de Bedanda, com utilização de viaturas blindadas. (...)



Fuzileiros, desembarcando de um bote pneumático Zebro III, na Guiné (fotografia da esquerda). O pequeno mas robusto Alouette III foi um dos cavalos de batalha das operações em África (fotografia da direita). In: http://forumarmada.no.sapo.pt/docs/FA-Marverde/marverde1.html

(...) No seguimento desta atitude (ver fim da Parte I), o SG do PAIGC determinou a 31 de Maio, face às MANOBRAS que classificou de “ DILATÓRIAS” da Delegação de Lisboa, o reinício das operações de Guerrilha como forma de “pressão”, com a finalidade e provocar cedências da parte portuguesa.
   Tal ordem seria no entanto anulada na manhã de 2 de Junho, após a chegada a CONAKRY da Delegação do PAIGC, vinda de LONDRES. Poucos dias passados, verificava-se a interrupção da guerrilha, em todo o Teatro de Operações da Guiné, o que originaria um “Cessar-Fogo” de facto a partir d o início de Junho.
    Continuaram no entanto a ser detectados alguns engenhos explosivos, de implantação antiga, nas semanas seguintes.

13/6/1974 - Bissorã- Cabá Santiago ao meio, à sua esquerda o comandante do PAIGC da zona de Maqué, Joaquim Tó, que veio até Bissorã com um grande grupo de guerrilheiros.

   O estado de “Tréguas” que passou a vigorar no território, a  consequente paragem da actividade operacional e o prosseguimento de conversações oficiais entre o Governo Português e o PAIGC a 13 de Junho, possibilitou às FARP a concretização de uma manobra original, abrangendo todo o teatro operacional, que modificou rápida e profundamente a situação militar anteriormente existente na nossa Província Ultramarina da Guiné. O desenvolvimento daquela manobra traduziu-se em duas categorias de acções:

         •    _ as que visaram o contacto intensivo com a população de todas as Etnias e com as nossas forças a diversos níveis, levado a efeito localmente pelos elementos de todos os Grupos das FARP, em especial, os Comissários Políticos (esta acção foi importantíssima na captação da população e desmotivação das Nossas Forças para qualquer atitude de força!).
        
         •    As que consistiram numa constante movimentação de Grupos das FARP no interior do TO, em acompanhamento da actividade anterior e evidentes manifestações de força, as quais paralelamente foram aproveitadas para executar uma remodelação do “Dispositivo do PAIGC”, que conduziu à introdução no Território da Província Ultramarina, de Forças do antecedente sedeadas nas Repúblicas do Senegal e da Guiné.


Aliás, as “Tréguas” vigentes não impediam que o PAIGC continuasse em estado de “Prontidão” com vista ao recomeço da guerrilha, para o que a Direcção do Partido continuava a expedir ordens. 
   
Assim em 29 de Junho, o SG/PAIGC determinava novamente que continuassem a ser preparadas novas operações ofensivas contra os Aquartelamentos das Nossas Tropas até aos primeiros dias de Julho de 1974, as quais somente seriam desencadeadas à ordem, obviamente se as diligências diplomáticas que tinham vindo a ser efectuadas após a Reunião ARGEL (13 de Junho), não conduzissem aos objectivos preconizados  pelo Partido.
      
De toda esta preparação bélica, parecia correcto deduzir-se na altura (Junho/Julho de 1974), que apesar das garantias de cessação de hostilidades apresentadas, sem excepção, por todos os dirigentes locais das FARP, nos numerosos e generalizados encontros que tinham vindo a ser efectuados com os Comandantes das Unidades das Nossas Forças em todo o TO, o PAIGC não punha de lado a hipótese de recurso à continuação da guerrilha como forma de pressão para abreviar a solução política do conflito que satisfizesse todas as suas exigências e desbloqueasse  as dificuldades encontradas nas primeiras conversações de ARGEL (13 de Junho).

(…) algumas ameaças de recomeço das operações, no caso de determinadas situações ou procedimentos que estavam em projecto, considerados inconvenientes pelo PAIGC, não fossem anulados, nomeadamente a realização de um “REFERENDUM” ou Congresso do Povo para que a População da Guiné se pronunciasse sobre a Independência e a prevista vinda do GENERAL SPÍNOLA a Bissau que , por esse motivo, foram canceladas.



LFG (Lancha de Fiscalização Grande) Orion, da classe Argos, num rio da Guiné
                    In: http://forumarmada.no.sapo.pt/docs/FA-Marverde/marverde1.html
De referir também que a data de 2 de Julho, expressa na ordem do SG/PAIGC citada anteriormente, esteve na origem de interpretações incorrectas da mesma, por parte de alguns comandos locais das FARP, de que resultara atitudes que fizeram perigar igualmente o clima de tréguas existentes…
   
Assim aquela data limite esteve na origem do “ULTIMATUM” enviado à Guarnição de BORUNTUMA pelo Comando da Frente Leste, o qual ameaçou bombardeá-la com todos os meios disponíveis se o Aquartelamento não fosse desocupado no dia seguinte e as nossas tropas não recolhessem a PICHE, sede do respectivo Batalhão.
   
Este facto dava-se quando acabava de ser aprovada superiormente a 1ª Fase do Plano de Retracção do dispositivo das Nossas Tropas, do qual fazia parte a saída da Companhia de Caçadores de BORUNTUMA, pelo que foi ordenada pelo Comandante-Chefe, a recolha daquela guarnição a PICHE, simultaneamente com a Retirada das Unidades de CANQUELIFÁ, DUNANE, PONTE CAIUM e CAMAJABÁ, todas da Zona fronteiriça Leste. Ao mesmo tempo foram encetadas diligências imediatas, dirigidas pessoalmente no local pelo próprio Comandante-Chefe acompanhado pelos representantes do PAIGC, nessa altura já em Bissau, para aclaramento da situação e das razões da brusca atitude do Comando da Frente Leste.




O representante de Nino Vieira, Manuel Ndinga prestando o seu depoimento na cerimónia da transição da soberania nacional na Guiné.
( fotografia do acervo pessoal de Eduardo José Magalhães Ribeiro,  Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BCAÇ 4612/74, Cumeré/Mansoa/Brá – 1974)
 As diligências realizadas não impediram que se verificassem, durante todo o mês de Julho de 1974, noutras áreas da Frente Leste, novas acções  de “pressão” por parte das forças locais, com vista à desativação imediata de alguns aquartelamentos das nossas tropas, nomeadamente MADINA MANDINGA, DARA, PIRADA e BAJOCUNDA, que revestiram a forma de “ultimatum” nas que não foram aceites.

Constatava-se assim que, as directivas emanadas da Direcção do PAIGC, resultantes de acordos estabelecidos, não foram escrupulosamente acatados localmente por determinados grupos de Frente Leste ou sofreram demoras na sua difusão oportuna a todos os escalões.

A atitude inconveniente daqueles grupos, visando a ocupação de aquartelamentos, poderia ser em parte explicada pelo facto de, serem novos na área (...). Parece no entanto poder concluir-se que o problema de fundo era o de continuarem a delinear-se  dentro do PAIGC duas tendências, uma mais dura que expressão principalmente no Leste e outra mais conciliatória e favorável a uma normal transferência de poderes, que foi seguida no SUL. (...)

CONTINUA ….



Vd. Post. desta série I e II:
http://cart3494guine.blogspot.com/2012/01/9-136-situacao-militar-no-teatro-de.html
http://cart3494guine.blogspot.com/2012/01/p-138-situacao-militar-no-teatro-de.html

1 comentário:

https://cart3494guine.blogspot.com/ disse...

Luís Vaz, dizes bem, alguns dos ataques do PAIGC às NT, porque no Sub-Sector de Bambadinca, (BART3873 composto pelas CCS, CART3492, CART3493 e CART3494) a partir de Janeiro de 74 o PAIGC infligiu vários ataques às NT nomeadamente a Mato de Cão, Finete, Xitole e Xime. Em FEV74, Mato Cão e Pte do RIO PULON. A partir de meados de Março o BART 3873 partiu para Bissau por ter terminado a comissão
Sousa de Castro