OSVALDO PEREIRA DA CRUZ, EX:1º CABO RADIOTELEGRAFISTA EM RENDIÇÃO INDIVIDUAL NA GUINÉ – PICHE 1969/71.
GUINÉ, ANGOLA E MOÇAMBIQUE, 4 IRMÃOS NA GUERRA COLONIAL AO SERVIÇO DO ESTADO PORTUGUÊS. |
Tenho 68 anos, trabalhei nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (Era serralheiro Mecânico).
Fui para a tropa e daí para a guerra Colonial na Guiné em rendição individual, fui 1ºcabo Radiotelegrafista tinha 21 anos.
Pertenci à companhia de TRMS sediada em Bissau no Quartel General, passei por Teixeira Pinto, Farim e completei a maior parte da comissão (15 meses) em Piche, zona Leste da Guiné no STM (Serviço Postal Militar) adido à CCS do BART 2857.
Fui para a tropa e daí para a guerra Colonial na Guiné em rendição individual, fui 1ºcabo Radiotelegrafista tinha 21 anos.
Pertenci à companhia de TRMS sediada em Bissau no Quartel General, passei por Teixeira Pinto, Farim e completei a maior parte da comissão (15 meses) em Piche, zona Leste da Guiné no STM (Serviço Postal Militar) adido à CCS do BART 2857.
Foi muito duro para os meus pais pois estivemos na guerra ao mesmo tempo 4 irmãos, 2 na Guiné, 1 em Moçambique e o mais novo em Angola.
Meu 2º irmão: José Pereira da Cruz ex. Fur. Miliº de Transmissões de Infantaria tendo desempenhado funções de adjunto do Centro Cripto, cumpriu em Moçambique de 1969/71 a sua comissão de serviço integrado na CCAÇ 2555
Meu 3º irmão: Paulo Pereira da Cruz ex. Fur. Milº, chegou à Guiné em rendição individual, em 1970/72. Ficou integrado num Pelotão de Nativos até ao fim. (Não sei qual a designação do Pelotão e onde pertencia). Morreu à mais de trinta anos vítima de afogamento no Rio Lima em Barco do Porto, Cardielos - Viana do Castelo.
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Por último o meu irmão mais novo, o 4º: Domingos Pereira da Cruz, cumpriu a sua comissão em Angola em rendição individual nos de 1973/74 como Rádio Montador.
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Ex. Fur. Milº José Pereira da Cruz |
Meu 2º irmão: José Pereira da Cruz ex. Fur. Miliº de Transmissões de Infantaria tendo desempenhado funções de adjunto do Centro Cripto, cumpriu em Moçambique de 1969/71 a sua comissão de serviço integrado na CCAÇ 2555
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ex. Fur Milº Paulo Teixeira da Cruz |
Domingos Cruz |
Por último o meu irmão mais novo, o 4º: Domingos Pereira da Cruz, cumpriu a sua comissão em Angola em rendição individual nos de 1973/74 como Rádio Montador.
- Pai, esta foi, porventura, a história de Natal mais bonita que me contaste. Talvez não te lembres de a ter escrito no "projeto Sénior+", mas eu guardei-a para ti.
Paula Cruz
Osvaldo Cruz com sua filha Paula Cruz |
MEMÓRIAS
DO LESTE DA GUINÉ QUE NUNCA VÃO DEIXAR DE O SER!
Estava
na GUERRA COLONIAL da GUINÉ, e como tinha ido em rendição individual, passei
por Teixeira Pinto por Fariam acabando por me fixar em Piche onde estive quinze
meses. Piche era uma zona do mato, no leste da Guiné. Como era uma zona das
mais flageladas pelos ataques do P.A-I.G.C, não era fácil uma deslocação a
Bissau onde acima de tudo se respirava um pouco melhor aquele ambiente de
guerra. Acontece, porém, que eu recebo um aerograma dos meus pais onde me
diziam que meu irmão Paulo, tinha sido mobilizado e iria embarcar também para a
Guiné. Fiquei muito surpreendido, e eis que chega novo aerograma do meu irmão
onde me diz a data em que embarcaria em Lisboa directo à Guiné.
Eu era
radiotelegrafista, e a partir desta notícia desdobrei-me para saber quando chegava
o navio a Bissau pois gostava muito de dar um abraço ao meu irmão, naquela hora
da chegada. Então comecei a pensar o que fazer para vir a Bissau, pensa que
pensa, e eis que surge uma ideia! Fui falar com um sargento-ajudante, com quem
tinha já alguma amizade, e que eu sabia que me poderia ajudar. Contei-lhe a
minha pretensão ao que ele me diz: “ Tu és maluco, tu nem as pensas!”. Fiquei
triste, mas não saí dali. Então ele diz-me:“ olha lá os teus dentes estão bons
ou tens algum avariado?” Eu tinha dois dentes atrás que estavam mais ou menos,
mas estavam a cariar. Respondi: “tenho um que volta e meia não o suporto com
dores.” “Ora bem”, diz ele, “sendo assim eu vou falar com o médico para ver se
ele ajuda nisto”.
O médico era meu amigo e antes que o sargento falasse com ele falei eu primeiro, onde ele me diz: “Ó Cruz por mim não sou problema, deixa-o vir”. No dia seguinte sou chamado ao comandante. Quando chego diz-me o comandante então queres ir à consulta do dentista no hospital militar? Eu respondi afirmativamente e, olhando para a secretária dele, vejo a guia de marcha para eu ir para Bissau no primeiro meio aéreo que aparecesse. Entretanto ele pega nos papéis assina põe o carimbo e manda enviar uma mensagem para marcar a consulta. Manda-me sair e esperar por notícias.
Osvaldo Cruz |
O médico era meu amigo e antes que o sargento falasse com ele falei eu primeiro, onde ele me diz: “Ó Cruz por mim não sou problema, deixa-o vir”. No dia seguinte sou chamado ao comandante. Quando chego diz-me o comandante então queres ir à consulta do dentista no hospital militar? Eu respondi afirmativamente e, olhando para a secretária dele, vejo a guia de marcha para eu ir para Bissau no primeiro meio aéreo que aparecesse. Entretanto ele pega nos papéis assina põe o carimbo e manda enviar uma mensagem para marcar a consulta. Manda-me sair e esperar por notícias.
Eu
via o tempo a passar e nada de notícias, até que chega finalmente a confirmação
da consulta e o meu amigo sargento mandou-me chamar. Fui a correr onde ele me
diz; só falta o avião, o resto já cá está. Entretanto chega uma mensagem dizendo
que um avião DAKOTA chegaria naquele dia e que trazia reabastecimentos. O
sargento diz-me: “é pá parece que estás com sorte. Vou ver se o Dakota te leva,
aguarda”. Lá viemos para o posto de rádio para comunicar com a Força Aérea para
confirmarem a boleia o que aconteceu. Fiquei muito contente e lá vim para
Bissau. Quando cheguei apresentei-me na companhia de transmissões para me darem
alojamento e alimentação. Como ainda faltavam oito dias para a consulta,
puseram-me a trabalhar no posto de rádio do Quartel-general.
Dali
a dois dias chegava o navio que trazia meu irmão. Como para entrar no cais era
preciso uma credencial, fui pedi-la à secretaria e aí não houve problemas, pois
fui com o condutor da carrinha de Transmissões que tinha livre-trânsito. Já no
cais, eis que o navio que já fazia manobras para desembarcar o pessoal é vedado
pela Polícia Militar, e não deixam ninguém contactar com os militares que
chegavam, e estes são metidos em camiões directo ao Quartel Geral de Adidos que
ficava a uns 16 KM. Lá pedi ao condutor e este levou-me aos Adidos. O condutor
deixou-me ficar, mas também nos adidos não era fácil chegar ao contacto com os
que chegavam e que estavam a ser encaminhados para os diferentes quartéis. Já
estava desesperado e vejo aquela cabecita a olhar para todo o lado, não à minha
procura porque ele não sabia que eu estava ali, mas porque tudo era diferente
para ele a partir
daquele momento.
Paulo e Osvaldo Cruz, Guiné - Bissau 1970 |
Eu gritei: “PAULO! PAULO!” e ele ouviu-me saiu da fila e com
as lágrimas nos olhos veio dar-me um abraço. Como ele já sabia que iam ser
alojados temporariamente no Quartel-general. E eu tinha que vir para entrar de
turno despedi-me e disse-lhe que o procurava em Bissau. Lá arranjei boleia, o
que era fácil, e vim para o Quartel. Ainda não tinha terminado o turno e chega
um colega meu que me diz: “Cruz, está
lá fora um periquito à
tua procura.”
Pedi-lhe
que terminasse o turno por mim, depois de lhe dizer que o periquito era meu
irmão que tinha chegado naquele dia. Fomos beber uma cerveja na cantina, pois o
calor assim o impunha, conversamos para saber notícias e decidimos ir jantar
num restaurante em Bissau.
Fui-me
vestir com roupa civil e lá viemos para a cidade que ficava a uns 4KM. Foi uma
noite diferente. Depois todos os dias nos encontrávamos, até que chegou a
consulta. Chegado ao Hospital lá sou encaminhado para uma fila com mais de dez
pessoas. Chega o enfermeiro faz a chamada e de seguida sem ser visto pelo
medico que era um oficial da Marinha, começa a dar anestesia a todos que ali
estavam. Já não sentia a cara quando sou chamado, o médico manda-me deitar na
cadeira e pergunta “qual era o dente?” Eu não sabia fala, pois não sentia a
cara. Abri a boca, ele olha toca no dente mais estragado e arrancou-o. Meteu
uma gaze no buraco olha de novo e diz; o melhor é tirar aquele também que já
não te vai chatear mais. E vai daí fiquei com menos dois dentes.
Entretanto
trago a alta do médico onde dizia que podia voltar à minha unidade. Faltavam
mais ou menos três semanas para o Natal, mas o transporte era difícil e aí eu
já não tinha muita pressa. Chegou o Natal e, nem eu nem o meu irmão, tínhamos
ainda transporte para os destinos. Então foi muito bom porque passamos junto o
Natal de 1970. Passados uns dias sou chamado e fui de volta para Piche onde os
meus camaradas de transmissões me esperavam, pois já estavam só os dois há mais
de um mês e como o era de 24 horas por dia, cada um trabalhava doze horas por
dia. Passado um mês sou mandado para Bissau, pois tinha terminado a comissão e
aguardava por transporte para a Metrópole. Assim era chamado o nosso Portugal.
Em Abril de 1971 regressei com menos dois dentes, mas com grande alegria porque
tinha ido receber o meu saudoso irmão.
Osvaldo
Cruz
ex.
1ºcabo radiotelegrafista Guiné-Piche 1969/71
Dezembro 2015
1 comentário:
O espírito de Familia levou o meu irmão Osvaldo a ficar sem dois dentes para ver o outro irmão Paulo que tinha acabado de chegar à Guiné. Triste realidade numa Família que juntou numa guerra injusta quatro irmãos. Aproveito a oportunidade de prestar a minha Homenagem a Meus Pais que muito sofreram com a nossa ausência. No bloog apareço com Furriel Milº Cripto, quando efetivamente fui Furriel Milº de Transmissões de Infantaria, não obstante ter desempenhado, na Companhia de C.Cac 2555 as funções de adjunto do Centro Cripto.
José Cruz
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