Caríssimo
Camarada Sousa de Castro
Os
meus melhores cumprimentos.A pretexto da publicação de um poste do nosso camarada António Duarte, da CART 3493 e da CCAÇ 12, publicado no blogue da Tabanca Grande, tendo por base a História da Unidade – BART 3873 – tomei a iniciativa de fazer uma análise global ao seu conteúdo, identificando as omissões e negligências encontradas nos diferentes fascículos.
Eis a primeira narrativa, esta relacionada com a distribuição do dispositivo das NT e as suas lideranças, a partir do exemplo da nossa CART 3494.
Obrigado pela atenção.
Com
um forte abraço de amizade.
Jorge
Araújo.
Jorge Alves Araújo,
ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494
(Xime-Mansambo,
1972/1974)
HISTÓRIA OU HISTORIAL DO BATALHÃO DE ARTILHARIA 3873
HISTÓRIA OU HISTORIAL DO BATALHÃO DE ARTILHARIA 3873
[BAMBADINCA, SECTOR
L1, 1972-1974]
(Parte I)
Distribuição
do Dispositivo das NT e Lideranças:
Omissões e Negligências
1. – INTRODUÇÃO
A
elaboração da presente narrativa, também ela de natureza histórica, nasce da análise
à publicação integral, no Blogue de luisgraca&camaradasdaguine, dos vinte e
três fascículos [mais um, considerando que o 9.º está repetido] que constituem
a «História da Unidade - BART 3873, à qual estão adicionados factos [alguns]
das suas subunidades: CART 3492, CART
3493 e CART 3494», cujo documento original dactilografado foi facultado
pelo nosso camarada António Duarte [ex-furriel da CART 3493 / BART 3873 e da
CCAÇ 12, 1971/1974].
O
propósito deste meu novo texto, que se inscreve na linha dos anteriores aqui
divulgados, é partilhar convosco, na primeira pessoa, mais um conjunto de novas
informações relacionadas com o mesmo contexto onde, nos palcos da guerra e
durante dois anos, vivi, convivi e sobrevivi – Sector L1, Bambadinca – em que a
«História da Unidade», enquanto colectânea de acontecimentos nela descritos
pelo seu historiador [que se desconhece], peca por defeito, omitindo e negligenciando,
conscientemente [digo eu], ocorrências que, acredito, ainda hoje estão bem
presentes na memória da maioria do seu colectivo e que a seu tempo
identificarei.
Mas, em boa verdade, o
que me fez avançar para estas linhas foi o caso particular do seu “Último
Fascículo – Alguns Números” [P15349-LG], pelo que darei início a uma nova
abordagem temática sobre a «História da Unidade». Ao primeiro documento
original, escrito
ao longo dos meses em Bambadinca e que anos mais tarde foi
transformado em brochura, conforme se pode observar na imagem ao lado, passarei
a chamar-lhe, a partir de agora, de «Historial da Unidade», uma vez que são
distintas as suas definições ainda que complementares.
Entretanto,
na sequência da publicação do poste anterior, outro surge de imediato [P15355-LG],
como reacção ao seu conteúdo, titulado de «Direito à indignação, da autoria do
camarada António Duarte, referindo nesse âmbito: “estou a escrever este texto
atabalhoado e a sentir raiva pela forma manipuladora da síntese das baixas do
meu batalhão”».
Desses
números apresentados em método de apanhado estatístico, como é referido no
documento, recupero ainda a tese do meu/nosso camarada António José Pereira da
Costa [CMDT da minha CART 3494 entre
22JUN72 e 10NOV72 – o 2.º –, sendo que a primeira data, curiosamente, coincide
com a do seu aniversário e a segunda com a do meu... coincidências] afirmando
que “A História do BART 3873, ao qual pertenci, está escrita com certa
fantasia. Há várias imprecisões [eu acrescentar-lhe-ia, também, omissões e
negligências] entre as quais a data da minha apresentação no Xime que surge
dois meses depois de se ter efectivado. Não será importante, mas dá uma ideia
da "ligeireza" com que foi escrita. Não sei quem "escreveu"
a História da Unidade, mas sei que, às vezes, não havia intenção de branquear
nada, mas antes o querer despachar "aquele dever" chato e sem
interesse ...”.
Dito
isto, a proposta que vos apresento é a de identificar as principais lacunas
imperdoáveis [digo eu] que o documento contém, fundamentadas nos verbos: ver,
ouvir e sentir, e ainda reforçadas pelo meu comentário ao poste do António
Duarte, que transcrevo: “Camaradas; uma
palavra inicial de apreço pelo conteúdo do meu/nosso camarada António Duarte
que nos vem agora dar mais um valioso contributo no âmbito do quadro
historiográfico do BART 3873, adicionando-lhe mais alguns elementos que, embora
referentes às suas diversas unidades orgânicas - as CART's - o complementam.
Prometi, como deixei expresso em correio interno, escrever mais dois/três
textos sobre a temática apresentada hoje no Blogue”.
Eis, então, o primeiro
de outros textos, este relacionado com a distribuição do dispositivo
operacional das NT, pertencentes ao contingente metropolitano do BART 3873,
sediado em Bambadinca, no Sector L1, ficando no Xitole a CART 3492, em Mansambo
a CART 3493 e no Xime a CART 3494,
conforme se indica no mapa abaixo.
2. – DISTRIBUIÇÃO
DO DISPOSITIVO DAS NT E LIDERANÇAS
Porque,
neste contexto, a História/Historial do BART 3873 [princípio a seguir por outra
qualquer organização humana] não devia circunscrever-se tão só e apenas a
registar os factos sociopolíticos e militares, ou os eventos organizados
cronologicamente num determinado tempo e lugar, na justa medida em que ela é
[ou teria sido] influenciada pelo processo decisório das suas lideranças,
eventualmente partilhado entre os diferentes Poderes e Saberes.
Sabemos/sabíamos
que o campo de acção de um Batalhão é/era maior que o de uma subunidade, mas a
decisão sobre a distribuição do dispositivo das NT implicava o superior
reconhecimento de que a actividade operacional não era apenas o local ou que o
lugar não era apenas o Aquartelamento, cujo sentido dessa acção acabava por
influenciar qualitativamente as crenças, as expectativas, os comportamentos e
os desempenhos dos sujeitos neles envolvidos.
Porque
está omisso o critério, ou o processo, que determinou a distribuição das
subunidades, sob a jurisdição do Comando de Batalhão, pelos três
Aquartelamentos antes identificados, e porque desconheço, em absoluto, da sua
existência, esta ausência de informação suscita-me colocar a quem sabe as
seguintes quatro questões: a 1.ª; quando é que ela é definida [exemplos: se
antes do embarque ou se depois, durante o período do IAO]? a 2.ª; e por quem? a
3.ª; se é um processo democrático a nível do Comandante ou Comando da Unidade
ou se é imposto por decisão exterior a eles? e a 4.ª; se é confidencial ou está
disponível para consulta?
2.1 – O EXEMPLO DA CART 3494 (XIME-ENXALÉ-MANSAMBO)
Como referi no P248, a minha inclusão/ingresso na CART
3494 ocorreu algumas semanas depois da sua instalação no Aquartelamento do
Xime. Quando aí cheguei em 28MAR1972, procedi em conformidade com o protocolo,
apresentando-me aos meus camaradas e, concomitantemente, aos meus superiores
hierárquicos.
Era, então, Comandante da Companhia, o Capitão Victor
Manuel da Ponta Sousa Marques [?-29SET2004], da arma de Artilharia. A sua
estadia no Xime acabaria por totalizar um período de oitenta e sete dias [até
23ABR1972]. Dos vinte e seis dias em que estive sob a sua liderança, apenas
contactei com ele três vezes: a 1.ª aquando da minha apresentação na Unidade; a
2.ª, num dos primeiros dias de Abril, quando pelas 23:00 horas me chamou ao seu
gabinete dando-me instruções [ordens] para fazer um patrulhamento nocturno, com
o meu GCOMB [o 4.º], à zona dos Cajueiros, localizados a cerca de quatrocentos
metros do arame farpado e a 3.ª, e última, no dia 22ABR1972, sábado, data da
1.ª emboscada sofrida pelo mesmo GCOMB, no sítio da Ponta Coli. Quando algum
tempo depois aí chegou, já com a situação controlada, perguntou-me: “então,
Araújo, o que se passou…? ao que lhe respondi: “meu capitão; o furriel Bento
morreu e temos mais alguns feridos que necessitam de ser evacuados” [P148].
No
dia seguinte, domingo, 23ABR1972, fomos confrontados com a notícia de que o
nosso CMDT, Cap. Silva Marques, tinha preenchido e assinado a sua própria guia
de marcha com destino aos Serviços de Psiquiatria do Hospital Militar 241, em
Bissau, para não mais regressar ao Xime.
Já antes deste episódio
se comentava, no seio da classe de sargentos, que fora o Cap. Silva Marques a
oferecer a “sua” Companhia 3494 para o Xime, considerando as suas experiências
anteriores, ora na Índia, como Alferes, onde foi prisioneiro no Campo de
Concentração de Ponda, em Goa, em 1961/62 [ultramar.terraweb.biz ou no livro “A Queda da Índia Portuguesa”], ora na
Guiné, em Mansabá, na qualidade de CMDT da CART 644, 3.ª subunidade do BART 645
(1964/66), onde foi substituído respectivamente pelo Capitão Nuno José Varela
Rubim e, depois, pelo Capitão José Júlio Galamba de Castro, ambos da arma de
Artilharia [P4594-LG].
Antecedendo
a sua liderança na CART 3494, o Cap. Silva Marques esteve ainda em Angola, na
região de Quícua, como CMDT da CART 1770, 2.ª subunidade do BART 1926 (1967/69)
[P82 + P7068-LG].
Em
função do acima exposto, o Historial da Unidade BART 3873 refere, no seu anexo
V (AGO72), pp 27/28, que o Cap. Artª Victor Manuel da Ponte Silva Marques foi
“transferido”, omitindo e/ou negligenciando o local e a razão ou razões que
determinaram tal decisão.
Deste
modo e por consequência, durante sessenta dias a CART 3494 esteve sem comando institucional não deixando os seus operacionais
de cumprir as missões e acções que lhe estavam confiadas.
Exactamente
dois meses depois do primeiro combate [emboscada] na Ponta Coli, onde se
registou a única baixa da Companhia, chega ao Aquartelamento do Xime o, então,
Capitão António José Pereira da Costa, aquele que seria o nosso 2.º CMDT. Aí
permaneceu durante cento e quarenta e um dias [um pouco menos de cinco meses].
Durante a sua liderança viveu algumas emoções fortes, particularmente no
acidente baptizado por «Naufrágio do Rio Geba» ocorrido em 10AGO1972, onde se
verificaram três mortes por afogamento [P159 + P211], das quais só um corpo foi
resgatado ao Geba, o do soldado José Maria da Silva e Sousa.
Depois deste momento de boa
disposição, vivido em atmosfera de forte coesão e solidariedade, outros se
seguiram pelos mais variados pretextos. Decorridas poucas semanas ausentei-me
do Xime, entre 24OUT e 27NOV72, por motivo de cumprir o primeiro período de
férias na Metrópole [P248].
Quando aí regressei, em 29NOV72,
constatei que o meu 2.º CMDT de Companhia, o então Cap. Pereira da Costa [agora
Cor Art Ref e membro activo da nossa Tabanca] havia sido substituído pelo
Capitão Luciano Carvalho da Costa, o 3.º CMDT da CART 3494, e que, nessa
condição, se manteve à frente deste colectivo até final da comissão, em
ABR1974. A sua nomeação está correcta no Anexo VIII (NOV72), p30.
Sobre a chegada do Cap.
Pereira da Costa à CART 3494, o Historial da Unidade, no seu Anexo V (AGO72),
p27, refere, e mal como se indicou acima, que foi nesse mês que se deu a sua
inclusão, deturpando a verdade, dando a entender que após a saída do Cap. Silva
Marques logo se encontrou um seu sucessor, no caso o Cap. Pereira da Costa.
Outra omissão no Historial da
Unidade, também ela negligenciada de forma grosseira, está relacionada ainda
com o nosso camarada Pereira da Costa, pois nada consta quanto à data da sua
“transferência”, razão/razões para a sua saída e qual o destino que lhe foi
proposto até concluir a sua comissão na Guiné.
Soubemos, mais tarde, que
tinha seguido para Mansabá.
Na síntese do seu
currículo, ao qual chama de “modestas aventuras guerreiras”, o ex-Capitão
Pereira da Costa refere que começou na CART 1692, a 16JAN68, em Cacine, a 3.ª
subunidade do BART 1914 [ABR67/MAR69], como Alferes adjunto do Capitão Veiga da
Fonseca, regressando a Lisboa exactamente um ano depois.
A 25MAI71, embarcou de
novo para a Guiné, rumo à BA 12 (antiaérea), como CMDT da BTR AA 3434. Treze
meses depois, a 22JUN72 assumiu, como referido anteriormente, o comando da CART
3494, até 10NOV72.
A 11NOV72 transitou para a
CART 3567, uma unidade independente formada no RAL 5
[Penafiel], aquartelada em Mansabá, donde saiu em 09AGO73, por ter concluído a
sua comissão no CTIG [P6624-LG].
Um mês após ter chegado ao
Xime, o Capitão Luciano Costa recebeu a visita do CMDT do BART, por ocasião do
almoço/convívio de Natal de 1972 [P196 + P226].
Foto
3 (Xime, Natal72) - da esquerda para a direita - 1º Sargento Orlando Bagorro; 1º
Sargento Carlos Simões; Alferes Manuel Gomes [1948-2014]; desconhecido; Alferes
Maurício Viegas [20º Pel Artª]; D. Idalina C. J. Martins, esposa do CMDT
[1923-2011]; Tem Cor Tiago Martins, CMDT BART 3873 [1919-1992]; Capitão Luciano
Costa [3º CMDT da CART 3494] e Alferes Serradas Pereira [de costas].
Por motivo da rotação das
Companhias do Batalhão, em MAR73 a CART
3494 foi transferida para Mansambo, enquanto a CART 3493 foi colocada em
Cobumba.
Em resumo: - considerando que
não estão expressos os critérios que determinaram a distribuição do dispositivo
das NT, o seu conhecimento ajudar-nos-ia a compreender melhor alguns dos
comportamentos dos seus líderes, nomeadamente quanto às suas motivações,
incluindo as do relator da História/Historial do BART 3873, por estarem omissos
e negligenciados factos relevantes com ela relacionados, como foi o exemplo
apresentado neste primeiro texto relativo à CART 3494.
Um forte abraço e muita saúde.
Jorge Araújo.
05DEC2015.
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