Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494(Xime-Mansambo, 1972/1974)
Tendo por temática específica a dimensão «Saúde», abordada durante a realização do I Congresso do PAIGC organizado em fevereiro de 1964 nos arredores da Tabanca de Cassacá, a Sul de Cacine (Frente Sul), volto hoje a ela para vos dar conta de factos pouco conhecidos sobre a figura de Simão António Mendes, responsável por esta área na Frente Norte, Região do Oío, Base Central (Morés).
Foi neste
local, onde desenvolvia a sua actividade de quadro dirigente, que em 20 de
fevereiro de 1966 viria a morrer na sequência da actividade operacional das NT,
em particular da FAP por via do bombardeamento dessa base.
Com um
forte abraço de amizade.
Jorge
Araújo.
MAR’2017.
GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE
SIMÃO ANTÓNIO MENDES – RESPONSÁVEL PELA ÁREA DA SAÚDE DO C.I.R.N.
DO PAIGC
- MORTO NA BASE DO MORÉS EM 20 DE FEVEREIRO DE 1966 -
1. – INTRODUÇÃO
Apresentei
no início deste ano uma resenha histórica relacionada com a realização do I
Congresso do PAIGC, organizado nos arredores da Tabanca de Cassacá (Frente
Sul), entre 13 a 17 de fevereiro de 1964 [P297].
Nela
dei conta, com particular destaque, à importância social da saúde e da
instrução literária analisadas um mês depois, em 21 de março, na Base Central
(Morés), por iniciativa dos responsáveis dessa Frente [Norte], Ambrósio Djassi
[nome de guerra de Osvaldo Vieira, 1938-1974] e Chico Té [nome de guerra de
Francisco Mendes, 1939-1978], cumprindo deste modo as resoluções aprovadas no
Encontro de Cassacá.
Nesse
âmbito, e no que concerne à área da Saúde, Simão António Mendes [enfermeiro de
formação], seu principal responsável na Região Norte, apresentou um relatório
[normas ou regulamento] com dez pontos, que foi aprovado por unanimidade.
Ao
ler no Blogue da Tabanca Grande o P17119, da responsabilidade do camarada Jorge
Ferreira [ex-alf mil da 3ª CCAÇ, Bolama, Nova Lamego, Buruntuma e Bolama,
1961/63], onde se faz referência a Simão [António] Mendes, nome com que foi
baptizado o Hospital Nacional de Bissau [imagem abaixo], “antigo enfermeiro da
época colonial, militante do PAIGC, morto em combate no Morés, e sobre o qual
se sabe muito pouco”, tomei a iniciativa de partilhar convosco o que apurei
sobre este tema.
Foto - http://24.sapo.pt/noticias/internacional/artigo/primeira-sala-de-registo-civil-de-nascimento-da-guine-bissau-abriu-na-maternidade-da-capital_20031978.html (com a devida vénia)
2. – SIMÃO
ANTÓNIO MENDES – As suas funções e a sua morte
- O que apurei
Como fonte de investigação
bibliográfica, utilizei para este caso os arquivos da Casa Comum da Fundação
Mário Soares.
Confirma-se, pela nota abaixo
reproduzida, que Simão António Mendes fazia parte, de facto, da Direcção de
Saúde do PAIGC.
No documento, por si assinado, enviado
à Direcção Central do PAIGC em 24 de Março de 1964, ou seja, três dias após ter
apresentado na Base Central (Morés) as normas de funcionamento da sua
estrutura, pode ler-se:
I – Junto se remete a requisição dos medicamentos e
mais artigos para um trimestre para consumo de guerrilheiros e povo da zona
libertada por esses últimos não poderem deslocar a outra parte à procura de
assistência sanitária.
II – Tomámos boa nota da última carta do nosso
camarada Lourenço Gomes [responsável no exterior (Senegal; Base de Samine) pelo
acompanhamento dos evacuados do interior da Guiné], sobre doentes a enviar para
a fronteira que passarão a ser só os feridos por arma de fogo, tais como
fracturas e certos casos graves que não podemos resolver cá, por falta de
recursos.
Cumprimentos cordiais.
Simão António Mendes e João Augusto
Costa
Citação: (1964), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP:
http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_35806 (2017-3-09)
Fonte:
Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 04613.065.155
Assunto: Remete a requisição de medicamentos e mais artigos para os
guerrilheiros e população (para um trimestre). Refere que tomaram boa nota das
indicações de Lourenço Gomes de enviar para a fronteira apenas os feridos com
arma de fogo.
Remetente: Simão António Mendes, João Augusto Costa.
Destinatário: Direcção do PAIGC.
Data: Terça, 24 de Março de 1964.
Observações: Doc. Incluído no dossier intitulado Correspondência
1963-1964 (dos Responsáveis da Zona Sul e Leste).
Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral.
Tipo Documental:
Correspondência
- A sua morte em 20 de fevereiro de 1966
De acordo com o comunicado da Base
Central (Morés), a morte de Simão António Mendes ocorreu no dia 20 de fevereiro
de 1966, domingo, sendo descrita nos seguintes termos:
“No dia 20 de fevereiro [de 1966] o
inimigo apoiado por 8 caçadores [?] invadiu a Base Central [Morés]. O combate
que durou 6 horas de tempo, teve como resultado a retirada em debandada inimiga
que caiu em 3 emboscadas sucessivas.
O inimigo não podendo realizar o
plano, reforçou a aviação. Com o fim de bombardear a base, onde os nossos
camaradas de armas anti-aéreas deram uma grande prova de coragem não os
deixando realizar o plano.
Depois de duas horas de combate, só
conseguiram lançar uma bomba dentro da Base causando a morte a 3 camaradas
entre os quais o responsável da saúde do C.I.R.N., Simão António Mendes.
Dois aviões foram atingidos pelo fogo
da D.C.K. [metralhadora pesada de 14.5 mm]
Região Oío, Zona Morés, Base
Central.
Citação: (s.d.), "Comunicado [Região 3]", CasaComum.org, Disponível
HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40720 (2017-3-09)
Fonte:
Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 07065.068.011
Título: Comunicado [Região 3]
Assunto: Comunicado da Base Central, na Região de Oío, Zona de Morés,
dando conta da invasão desta Base pelo exército e aviação portugueses, tendo
sido atingidos dois aviões pelos combatentes do PAIGC, munidos de armas
antiaéreas.
Data: s.d.
Observações: Doc. Incluído
no dossier intitulado Exército Popular Zona Norte (Comunicados)
Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral.
Tipo Documental:
Documentos.
Mapa da
Região do Oío - Base Central (Morés)
Obrigado
pela atenção.
Um
forte abraço de amizade com votos de muita saúde.
Jorge
Araújo.
10MAR2017.
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1 comentário:
Estive no Olossato entre 64/65 fazendo parte da CART.566 fizemos nesse período de comissão várias operações a' Base do Mores.onde capturamos vário material de guerra ao inimigo.Ainda hoje recordo situações vividas nessas operações e já passaram tantos anoslembro-me como se fosse hoje.Tenho fotos do material capturado na minha página.Um Abraço para todos os camaradas que passaram pela Guiné!!!
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