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sexta-feira, 12 de outubro de 2018

P355 - BALANÇO DOS COMBATES ENTRE AS NT E O PAIGC NO SECTOR DE FARIM BAIXAS E ESTUDO SOCIODEMOGRÁFICO DO BIGRUPO DO CMDT ANSÚ BODJAN (1944-1971) DO CORPO DE EXÉRCITO 199-B-70 [PARTE III]


 MSG com data de: 30SET201


GUINÉ
Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494

(Xime-Mansambo, 1972/1974)



Para concluir a análise aos factos e resultados dos combates entre as NT e os guerrilheiros do PAIGC, na região de Farim, durante o último trimestre de 1971, anexo a terceira e última parte.
Recordo que os episódios referidos envolveram às actividades operacionais da CCAÇ 2533 e CCAÇ 14, por parte das NT e o C.E. 199-B-70, do lado do PAIGC, de que resultou a morte de Ansú Bodjan, Cmdt daquele bigrupo.


Com um forte abraço de amizade.


Jorge Araújo.   


Vd. Postes ref. a esta série: DO OUTRO LADO DO COMBATE - BIGRUPO DE ANSÚ BODJAN [Parte II]

O OUTRO LADO DO COMBATE - A MORTE DO CMDT DO BIGRUPO ANSÚ BODJAN (1944-1971) Parte I


BALANÇO DOS COMBATES ENTRE AS NT E O PAIGC NO SECTOR DE FARIM

BAIXAS E ESTUDO SOCIODEMOGRÁFICO DO BIGRUPO DO CMDT ANSÚ BODJAN (1944-1971) DO CORPO DE EXÉRCITO 199-B-70


(Parte III)

1.   - INTRODUÇÃO

Com o presente texto, o último de três fragmentos, concluímos o balanço síntese aos combates entre as NT e o PAIGC no Sector de Farim, tendo por protagonistas, de um lado, a Companhia de Caçadores 2533 [CCAÇ 2533] e a Companhia de Caçadores 14 [CCAÇ 14] e, do outro, o bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan (1944-1971), um dos quatro bigrupos de infantaria do Corpo de Exército 199-B-70, este liderado pelos Cmdt’s Braima Bangura, Joaquim N’Top e Benjamim Mendes.

Para além das duas unidades anteriormente referidas, houve necessidade de identificar, mais algumas, em particular aquelas que estiveram envolvidas nas missões operacionais das NT de contra-penetração dos diferentes bigrupos do Corpo de Exército 199-B-70 do PAIGC, em trânsito das bases existentes na zona de fronteira com a República do Senegal, na Frente Norte, nomeadamente ao longo dos “corredores” de Lamel e Sitató, e que, numa relação causa/efeito, ficaram ligadas, historicamente, às ocorrências relacionadas com as baixas constantes no relatório do Cmdt Braima Bangura, documento que está na origem deste trabalho de investigação [vidé P353 e P354].

Para finalizar esta introdução, recorda-se que é a partir da segunda metade do ano de 1970 que o PAIGC evolui para um novo modelo de organização militar, adaptando as suas estruturas a uma nova visão da sua luta armada. Partindo do conceito “bigrupo" e da união com mais unidades deste tipo, de infantaria e artilharia, são criados os “Corpos de Exército” identificados com o “n.º 199”, ao qual lhe foi adicionada, como sequência, uma letra do alfabeto latino (A, B, C, D) e o ano da sua criação.

2.   - MISSÕES, BAIXAS E UNIDADES ENVOLVIDAS (NOVAS)


Os episódios já referidos nas narrativas anteriores visaram contextualizar a questão de partida da investigação, tendo por base, no início, as missões levadas à prática por duas Companhias de Caçadores – a CCAÇ 2533 e a CCAÇ 14 – em particular nas situações de combate com os elementos do PAIGC que actuavam no Sector de Farim, no caso particular o bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan. As primeiras ocorrências (emboscadas) tiveram por cenário o território situado no itinerário entre Farim e Jumbembem, o primeiro caso envolvendo a CCAÇ 2533 (14Dez1970) e o segundo caso a CCAÇ 14 (30Dez1970).
No mapa acima [Frente Norte], indicam-se os aquartelamentos das NT alvo dos vários ataques, umas vezes de infantaria, outras com recurso a artilharia pesada com “GRAD”, e outros ainda à participação das duas armas, envolvendo a participação do bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan, durante um ano: de Dez’70 a Dez’71. Na esmagadora maioria dos casos, os ataques iniciavam-se depois das 18h30. 
Citação: (1971), "Comunicado - Cumbangor [Frente Norte]", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40606 (2018-5-03) [prova do envolvimento do Cmdt Ansú Bodjan nos ataques aos aquartelamentos supra], com a devida vénia.
Quanto a baixas do lado do PAIGC, nos fragmentos anteriores já demos conta de nomes e respectivas datas em que tombaram alguns dos guerrilheiros. Para não nos alongarmos muito, apenas iremos fazer referência a mais dois casos.
● 1.º - O de Lamine Suana.
Este elemento do Corpo de Exército 199-B-70 tombou no dia 7 de Abril de 1971, 4.ª feira, na sequência dos ataques a Guidage e Bigene, ao tempo da CCAÇ 19 e CCAV 2721, respectivamente.
● 2.º - O de Ansú Bodjan, Cmdt do bigrupo do CE 199-B-70
O Cmdt do bigrupo do Corpo de Exército 199-B-70 tombou no dia 14 de Novembro de 1971, domingo, na sequência da «Operação Dura Espera», projectada pelo BART 3844 (1971/1973) sediado em Farim. Foi levada a efeito no “corredor de Sitató” durante três dias – de 14 a 16 de Novembro de 1971 – nela tendo participado forças das seguintes Unidades: CCAÇ 2753, CART 3358, CART 3359, CCAÇ 14, CCAÇ 2681, 27.ª CCmds, C Mil Cuntima, CART 2732 e CCAÇ 3476 [HU; CAP II, p3, da CCAÇ 3476].


[Primeira ambulância do PAIGC do hospital de Ziguinchor (Senegal), com motorista].
Fonte:commons.wikimedia.org/wiki/File:ASC 
[As fotos acima são da colecção de Roel Coutinho, médico holandês que esteve em missão de apoio clínico ao PAIGC, entre 1973/1974, com a devida vénia].

3.   - ANSÚ BODJAN, CMDT DE BIGRUPO DO CORPO DE EXÉRCITO
Aproveitando o acesso e posterior consulta a mais uma lista [mapa] elaborada pelo organismo de Inspecção e Coordenação do Conselho de Guerra, esta relacionada com a composição do bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan, elaborada em finais de 1970, avançámos para a realização de mais um estudo sociodemográfico, o primeiro a um bigrupo considerado de «grupo especial» ou de «elite» no contexto da estrutura militar do PAIGC. Trata-se de um colectivo criado a partir de guerrilheiros já experientes no contexto da guerra, com provas dadas e com um mínimo de quatro anos de combatente [igual a duas comissões das NT].
Quanto ao Cmdt Ansú Bodjan (1944-1971), este nasceu no Morés, região do Oio, em 1944. Era casado. Só durante o segundo ano do conflito armado é que “aderiu” à guerrilha. Tinha, então, vinte anos e a 2.ª classe, como habilitação escolar. Morreu aos vinte e sete anos no “corredor de Sitató”.
No seu bigrupo, três em cada quatro elementos (n-23=76.7%) eram naturais da sua região (Oio), 10% (n-3) da região do Cacheu e 13.3% (n-4) de Tombali, a região mais a Sul, conforme dá-se conta no quadro 1.
Quadro 1 – Distribuição de frequências dos locais de nascimento, por sectores e regiões da Guiné, dos elementos do bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan (n-30)
4.   - RESULTADOS DO ESTUDO
Partindo dos dados contidos na lista apresentada na “Parte II”, que consideramos como os casos da investigação ou a “amostra de conveniência”, procura-se compreender melhor quem estava do outro lado do combate. Com este propósito, procedemos à organização de alguns desses dados referentes a cada um dos sujeitos constituintes do “bigrupo de Ansú Bodjan” sobre os quais se pretende retirar conclusões.
Para o efeito, esses dados foram agrupados quantitativamente e apresentados em quadros estatísticos de frequências (caracterização da amostra por idade: a de nascimento e a de “adesão” ao Partido) e de quadros de variáveis categóricas em relação aos restantes elementos (ano de “adesão” ao PAIGC, idade e anos de experiência cumulativas ao longo do conflito e estado civil).
Quadro 2 – distribuição de frequências em relação ao ano de nascimento dos elementos do bigrupo de Ansú Bodjan (n-29)
Da análise ao quadro 2, verifica-se que os anos de nascimento com maior percentagem são dois; 1941 e 1943 (13.8%) com 4 casos, seguido de 1942, 1944, 1945 e 1946 (10.4%) com 3 casos. Em terceiro, com 2 casos (6.9%), 1935 e 1940.
Quando analisado por períodos, verifica-se que o maior número de casos (n-14) estão nos nascidos entre 1943 e 1947 (48.3%) (grupo central), entre 1935 e 1942 (n-12= 41.4%) (grupo dos mais velhos), e entre 1949 e 1951 (n-3=10.3%) (grupo dos mais novos).
Quadro 3 – distribuição de frequências em relação ao ano de “adesão” ao PAIGC dos elementos do bigrupo de Ansú Bodjan (n-29)
Da análise ao quadro 3, verifica-se que o ano onde se registou maior “adesão” ao PAIGC foi 1963 com 17 casos (58.6%), seguido de 1964, com 7 casos (um dos quais Ansú Bodjan) (24.2%). Os anos de 1964 e 1965 registaram 2 casos cada (6.9%).
Quando analisados os anos antes e após o início do conflito, a percentagem está próxima da totalidade em relação à segunda premissa (n-28=96.6%), ou seja, existe um só caso onde a “adesão” aconteceu antes.
Quadro 4 – distribuição de frequências em relação à idade de “adesão” ao PAIGC dos elementos do bigrupo de Ansú Bodjan (n-29)
Da análise ao quadro 4, verifica-se que a idade com maior percentagem de “adesão” ao Partido é 18 anos, com 5 casos (17.3%), seguida dos 20 e 21 anos, com 4 casos cada (13.8%). As idades de 14 e 19, com 3 casos, valem 10.4% cada.
Quando analisada a “adesão” ao Partido por períodos, verifica-se que o maior número de casos (n-16) estão entre as idades de 18 e 21 anos (55.2%), seguido pelos grupos de idade, entre os 22 e 28 anos (mais velhos), com 8 casos (27.6%). Os mais novos, entre 14 e 16 anos, representam 17.2% (n-5).
Analisada a “adesão” ao Partido entre os 18 e 23 anos, os valores apontam para uma maioria absoluta com 19 casos (65.6%), seguida por 5 casos (17.25) cada nas idades inferiores e superiores às anteriores.
Quadro 5 – distribuição de frequências em relação à idade verificada ao longo do conflito, contados após a “adesão” individual ao PAIGC, no caso dos elementos do bigrupo de Ansú Bodjan (n-29)
Da análise ao quadro 5, verifica-se que aquando da constituição do Corpo de Exército 199-B-70, a idade mais alta era de 35 anos (n-2) e a mais baixa de 19 anos (n-1). O Cmdt Ansú Bodjan tinha 26 anos, vindo a falecer com 27 anos. À morte do seu líder os restantes elementos teriam a idade assinalada com sombreado azul.
Quadro 6 – distribuição de frequências em relação ao número de anos de experiência na guerrilha ao longo do conflito, contados após a “adesão” ao PAIGC, no caso dos elementos do bigrupo de Ansú Bodjan (n-29)
Da análise ao quadro 6, verifica-se que aquando da constituição do Corpo de Exército 199-B-70, a maioria dos combatentes do bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan (n-24=82.8%) tinham entre 6 e 7 anos de experiência, enquanto os mais novos de idade (n-4=13.8%) tinham já entre 4 e 5 anos de experiência.
Quadro 7 – distribuição de frequências em relação ao “estado civil” de cada bigrupo
Da análise ao quadro 7, verifica-se que o número entre “casados” e “solteiros” do bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan é favorável aos segundos com mais um caso. Do grupo dos “sorteiros” nascidos após 1946 (n-7=46.7%), mantiveram esse estado civil, pelo menos até final de 1971.
1.   – CONCLUSÕES
Chegado a este ponto, e partindo da análise aos resultados apurados e apresentados nos quadros acima, é possível concluir que a maioria dos elementos do bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan:
1 – Eram originários da sua região (Oio).
2 – Nasceram em 1941 e 1943.
3 – A participação na luta armada iniciou-se em 1963.
4 – Tinham 18 anos.
5 – Aquando da constituição do CE, a idade mais alta era de 35 e a mais baixa de 19 anos.
6 – Aquando da constituição do CE, o número de anos de experiência na guerrilha variava entre os 7 e os 4 anos.
7 – Quanto ao estado civil, a diferença entre “casados” e “solteiros” era apenas de uma unidade favorável aos segundos.
Termino, agradecendo a atenção dispensada.
Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
30SET2018.

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