Caríssimo Camarada Sousa de Castro,
Os meus melhores cumprimentos.
Venho, pelo presente, dar conta dos resultados obtidos
durante uma nova investigação, qualitativa e quantitativa, relacionada com o
levantamento do número de militares do Exército que morreram afogados, durante
a guerra, no CTIG.
Em função da sua extensão, o trabalho foi dividido em quatro
partes, onde, para além do respectivo tratamento estatístico, serão analisadas
as principais ocorrências que contribuíram para a soma final.
Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
GUINÉ
Jorge
Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494
(Xime-Mansambo,
1972/1974)
ENSAIO SOBRE AS MORTES
POR AFOGAMENTO DE MILITARES DO EXÉRCITO DURANTE A GUERRA NO CTIG (1963-1974)
- CORPOS ‘RECUPERADOS’
E ‘NÃO RECUPERADOS’ -
PARTE I
1. - INTRODUÇÃO
Como sobrevivente no naufrágio tido pela minha secção (+) do 1.º Gr Comb da CART 3494 (1972-1974), ocorrido em 10Ago1972 (5.ª feira), no rio Geba, na zona do Xime (portanto; há quarenta e sete anos), por influência do «macaréu» [P159 e P211], de que resultaram, lamentavelmente, três baixas, duas das quais não recuperadas, tomei a iniciativa de proceder a um “ensaio”, quantitativo e qualitativo, sobre o número de militares do Exército que morreram afogados nos diferentes planos de água existentes na Guiné, durante o conflito armado (1963-1974), dividindo-o em dois grupos: “recuperados e “não recuperados” e as suas Unidades.
Com efeito, o levantamento que hoje trago ao vosso conhecimento é resultado dessa pesquisa, efectuada através da consulta a diferentes fontes, entre oficiais e não oficiais. Porque se trata, como foi referido, de um “ensaio”, este apuramento pode vir a ser alterado em função de outras colaborações e/ou informações complementares que possam, eventualmente, surgir após a avaliação realizada por cada um de vós.
Por razões metodológicas e estruturais do presente trabalho, nesta primeira parte não se referem os nomes dos naufragados em cada uma das diferentes ocorrências, opção que será alterada a partir da segunda parte, com a identificação das Unidades que não conseguiram recuperar os corpos dos seus náufragos [último quadro desta parte I], bem como a descrição, a possível, do contexto em que as mesmas tiveram lugar.
Foto 1 - (Guiné; 1965) - Operação militar com percurso na água [foto retirada da Net, in: http://lugardoreal.com/imaxe/operacao-militar-12, com a devida vénia]. |
Foto 2 - (Guiné; 1966) - Travessia de um rio no âmbito de uma missão militar [foto retirada da Net, in: http://lugardoreal.com/imaxe/travessia-de-rio, com a devida vénia]. |
2. – A
HIDROGRAFIA DA GUINÉ-BISSAU
A
grande maioria da actividade operacional das NT era planeada e executada em
função da geografia e hidrografia de cada local. Cada situação era um caso
particular, pois o seu território, constituído por zonas do litoral e do
interior, apresenta-se mapeado por uma linha (a do limite das marés)
dividindo-o em duas zonas hidrograficamente distintas, que influenciavam a
mobilidade daqueles que nelas tinham de circular, desafiando a vida de cada um,
com particular incidência dos menos preparados e dos mais descuidados.
De acordo com a literatura consultada, a
primeira, a do litoral, é a zona das planícies, das rias, dos vales muito
largos, invadidos pelas marés de água salgada, enquanto as segundas, para o
interior, só existem rios de água doce, não navegáveis, devido às cheias e
rápidos.
Foto 3 -
Rápidos do Saltinho no rio Corubal [foto retirada da Net, com a devida vénia,
in: https://www.google.pt/search?q=imagens+do+litoral+da+guiné&source]
Esta
linha marca o limite da navegação e separa os tipos de vegetação. Há uma área
enorme - cerca de 4.000 Km2, mais de 10% da totalidade do território - que fica
coberta de água, o que ocorre entre a praia-mar e a baixa-mar, cuja amplitude
chega a ser próxima dos 7 metros, em alguns locais. Durante as "marés da
conjunção", encontro das águas dos rios com a praia-mar, observa-se nos
rios Geba e Corubal - o mais extenso da Guiné - o chamado fenómeno do «macaréu»,
que consiste numa grande onda, como um depósito de água corrente que, num
instante, enche o leito do rio que transborda e inunda de água salgada extensas
zonas das baixas margens daqueles rios. No interior das rias existem portos naturais
e a extensão das vias navegáveis, por navios de longo curso, é da ordem dos
300Km. Nas vias iluviais, a navegação faz-se em cerca de 950Km. As principais
são o Cacheu, Mansoa, Rio Grande de Buba, Tombali, Cumbijã e Cacine. No Geba,
que termina pela chamada ria de Bissau, situa-se o porto natural da capital. Os
cursos de água da zona interior, ao contrário do que acontece na zona do
litoral, não têm água salgada, por não chegar a eles o efeito das amplas marés;
são de caudal muito variável ao longo do ano, reduzindo-se na época seca de tal
forma que, muitos dos rios secundários deixam de ter água. A existência de
rápidos [foto acima] só permite que sejam navegáveis em pequenas extensões. As
três principais bacias hidrográficas são a do Cacheu, do Geba e do Corubal. A
Guiné apresenta ainda, principalmente na época das chuvas, importantes lagoas que
cobrem extensas áreas de terrenos planos e desaparecem, em geral, na época
seca.
3. – OS
DADOS DO “ENSAIO” – QUADROS ESTATÍSTICOS
Partindo da coleta de dados apurada, o
tratamento estatístico que seguidamente se dá conta está representado por
quadros de distribuição de frequências, simples e acumuladas, conforme se
indica em cada um dos títulos. Cada quadro relata os valores quantitativos de
cada um dos elementos das variáveis categóricas ou quantitativas relacionadas,
tendo em consideração os objectivos que cada contexto encerra.
Quadro 1 – Da análise
ao quadro supra, verifica-se que o número total de militares do Exército que
morreram por afogamento no CTIG (1963-1974), e que constituíram a população
deste estudo, é de 144. Verifica-se, também, que desse total, 113 (78.4%) eram
soldados; 22 (15.3%) 1.ºs cabos; 7 (4.9%) furriéis; 1 (0.7%) 2.º sargento e 1
(0.7%) major. Quanto aos anos em que se registaram maior número de casos: em
1.º lugar está o de 1969, com 51 (35.4%) mortos. Para esta cifra contribuiu
significativamente o episódio da «Jangada de Ché-Che», ocorrido em 06Fev1969,
no Rio Corubal, com 47 mortos. Em 2.º lugar está o ano de 1965, com 20 (13.9%)
mortos, dos quais 8 pertenciam ao PMort 980 registados na sequência do acidente
no Rio Cacheu, em 05Jan1965, durante a «Operação Panóplia». No ano de 1972,
verificou-se um outro acidente, o 3.º, desta vez no Rio Geba, em 10Ago1972,
envolvendo o 1.º Gr Comb da CArt 3494, com 3 mortos.
Foto 3 -
Rápidos do Saltinho no rio Corubal [foto retirada da Net, com a devida vénia,
in: https://www.google.pt/search?q=imagens+do+litoral+da+guiné&source]
Esta
linha marca o limite da navegação e separa os tipos de vegetação. Há uma área
enorme - cerca de 4.000 Km2, mais de 10% da totalidade do território - que fica
coberta de água, o que ocorre entre a praia-mar e a baixa-mar, cuja amplitude
chega a ser próxima dos 7 metros, em alguns locais. Durante as "marés da
conjunção", encontro das águas dos rios com a praia-mar, observa-se nos
rios Geba e Corubal - o mais extenso da Guiné - o chamado fenómeno do «macaréu»,
que consiste numa grande onda, como um depósito de água corrente que, num
instante, enche o leito do rio que transborda e inunda de água salgada extensas
zonas das baixas margens daqueles rios. No interior das rias existem portos naturais
e a extensão das vias navegáveis, por navios de longo curso, é da ordem dos
300Km. Nas vias iluviais, a navegação faz-se em cerca de 950Km. As principais
são o Cacheu, Mansoa, Rio Grande de Buba, Tombali, Cumbijã e Cacine. No Geba,
que termina pela chamada ria de Bissau, situa-se o porto natural da capital. Os
cursos de água da zona interior, ao contrário do que acontece na zona do
litoral, não têm água salgada, por não chegar a eles o efeito das amplas marés;
são de caudal muito variável ao longo do ano, reduzindo-se na época seca de tal
forma que, muitos dos rios secundários deixam de ter água. A existência de
rápidos [foto acima] só permite que sejam navegáveis em pequenas extensões. As
três principais bacias hidrográficas são a do Cacheu, do Geba e do Corubal. A
Guiné apresenta ainda, principalmente na época das chuvas, importantes lagoas que
cobrem extensas áreas de terrenos planos e desaparecem, em geral, na época
seca.
3. – OS
DADOS DO “ENSAIO” – QUADROS ESTATÍSTICOS
Partindo da coleta de dados apurada, o
tratamento estatístico que seguidamente se dá conta está representado por
quadros de distribuição de frequências, simples e acumuladas, conforme se
indica em cada um dos títulos. Cada quadro relata os valores quantitativos de
cada um dos elementos das variáveis categóricas ou quantitativas relacionadas,
tendo em consideração os objectivos que cada contexto encerra.
Quadro 1 – Da análise
ao quadro supra, verifica-se que o número total de militares do Exército que
morreram por afogamento no CTIG (1963-1974), e que constituíram a população
deste estudo, é de 144. Verifica-se, também, que desse total, 113 (78.4%) eram
soldados; 22 (15.3%) 1.ºs cabos; 7 (4.9%) furriéis; 1 (0.7%) 2.º sargento e 1
(0.7%) major. Quanto aos anos em que se registaram maior número de casos: em
1.º lugar está o de 1969, com 51 (35.4%) mortos. Para esta cifra contribuiu
significativamente o episódio da «Jangada de Ché-Che», ocorrido em 06Fev1969,
no Rio Corubal, com 47 mortos. Em 2.º lugar está o ano de 1965, com 20 (13.9%)
mortos, dos quais 8 pertenciam ao PMort 980 registados na sequência do acidente
no Rio Cacheu, em 05Jan1965, durante a «Operação Panóplia». No ano de 1972,
verificou-se um outro acidente, o 3.º, desta vez no Rio Geba, em 10Ago1972,
envolvendo o 1.º Gr Comb da CArt 3494, com 3 mortos.
Quadro 2 – Da análise
ao quadro supra, verifica-se que o número total de militares do Exército que
morreram por afogamento no CTIG (1963-1974) cujos corpos não foram recuperados
é de 63 (43.8%). Verifica-se, também, que desse total, 48 (76.2%) eram
soldados; 10 (15.9%) 1.ºs cabos; 4 (6.3%) furriéis e 1 (1.6%) 2.º sargento.
Quanto aos anos em que se registaram maior número de casos: estes correspondem
aos mesmos indicados no quadro 1, ou seja: 1969 com 49 (77.8%) casos, 47 dos
quais relacionados com a «Jangada de Ché-Che», no Rio Corubal; 1965 com 4 (6.3%)
casos, 3 dos quais na «Operação Panóplia», no Rio Cacheu, e 1972 com 3 (4.8%)
casos, sendo 2 no Rio Geba (CArt 3494) e 1 no Rio Cacheu (CArt 3417).
Quadro 3 – Da análise
ao quadro supra, verifica-se que o número total de militares do Exército que
morreram por afogamento no CTIG, durante o 1.º triénio (1963-1965) é de 34
(23.6% do total). Verifica-se, também, que desses, 24 (70.6%) eram soldados, 6
(17.6%) 1.ºs cabos, 3 (8.8%) furriéis e 1 (3.0%) 2.º sargento. O número de
corpos não recuperados neste período foi de 7 (20.6%). O número de Unidades
Militares que contabilizaram estas perdas foi de 24.
Quadro 4 – Da análise ao quadro supra, verifica-se que o número total de militares do Exército que morreram por afogamento no CTIG, durante o 2.º triénio (1966-1968) é de 27 (18.8% do total). Verifica-se, também, que desses, 25 (92.6%) eram soldados e 2 (7.4%) furriéis. O número de corpos não recuperados nesse período foi de 3 (11.1%). O número de Unidades Militares que contabilizaram essas perdas foi de 24, número igual ao período anterior (quadro 3).
Quadro 5 – Da análise ao quadro supra,
verifica-se que o número total de militares do Exército que morreram por afogamento
no CTIG, durante o 3.º triénio (1969-1971) é de 63 (43.7% do total).
Verifica-se, também, que desses, 49 (77.8%) eram soldados; 11 (17.4%) 1.ºs cabos;
2 (3.2%) furriéis e 1 (1.6%) major. O número de corpos não recuperados nesse
período foi de 50 (79.4%). O número de Unidades Militares que contabilizaram
essas perdas foi de 18, menos 6 do registado nos anteriores trimestres (quadros
3 e 4).
Quadro 6 – Da análise ao quadro supra,
verifica-se que o número total de militares do Exército que morreram por
afogamento no CTIG, durante o 4.º triénio (1972-1974) é de 20 (13.9% do total).
Verifica-se, também, que desses, 15 (75%) eram soldados e 5 (25%) 1.ºs cabos. O
número de corpos não recuperados nesse período foi de 3 (15%). O número de
Unidades Militares que contabilizaram estas perdas foi de 18, menos 6 do
registado nos dois primeiros triénios (quadros 3 e 4) e igual ao triénio
período anterior (quadro 5).
Quadro 7 – Da análise
ao quadro supra, verifica-se que o número total de militares do Exército que
morreram por afogamento no CTIG (1963-1974) cujos corpos não foram recuperados
é de 63 (43.8% do total). Quanto aos corpos não recuperados, verifica-se que a
CCaç 1790, com 26 (41.3%) casos, e a CCaç 2405, com 19 (30.1%) casos, foram as
Unidades Militares que contabilizaram maior número, sendo estes consequência do
acidente da «Jangada de Ché-Che» em que elementos das duas Companhias de
Caçadores estiveram envolvidos. Segue-se o PMort 980, com 3 corpos não
recuperados, no Rio Cacheu, na «Operação Panóplia”, e a (minha) CArt 3494, com
dois, no Rio Geba (Xime), durante uma missão, não cumprida, a Mato Cão, situado
na margem direita desse rio. Das 16 Unidades Militares que não conseguiram
recuperar os corpos dos seus naufragados, 11 (17.5%) tiveram apenas um caso.
3 comentários:
The Portuguese had a brutal record in the Americas as a colonial power. The most horrendous abuses occurred in the colony of Brazil: natives were enslaved, murdered, tortured and raped in the conquest and early part of the colonial period and later they were disenfranchised and excluded from power. Individual acts of cruelty are too numerous and dreadful to list here. Portuguese Conquistadors in Brazil reached levels of cruelty that are nearly inconceivable to modern sentiments.
Today, Portugal is the Biggest Racist country that i have ever lived in. I feared for my life there and i consider myself lucky that my family got out alive! I have never lived in such poverty (Sopas dos Pobres everyday) 40% unemployment rate and 60% of the population earn less than $932 USD per month, and that’s considered Middle Class here! Within the European Union it is the worst of the worst place to live in.
The bottom line is the bulk of the People in the poor country of Portugal exist in a brainless comma that is fed by Ignorance, anti-Spanish hate, and severe Racism of pretty much everybody that isn’t Portuguese! And, Portugal started the Global Slave Trade in 1441 so it is definitely NOT a safe place for Blacks!!
I found important websites that explain the Severe multi-generational Racism and Hate that exist in Portugal today, and i highly encourage all to read them and spread the word in order to avoid innocent, and desperate people from living or visiting there. Get educated on the Truths about Racist Portugal now.
Boas,
Não sei se o Pedro Lopes escreve Português, no entanto publico a tradução para que se perceba o comentário que deixou.
Agradeço ao autor do poste, meu camarada d'armas Jorge Araújo a resposta se assim o entender.
O texto traduzido para português.
Os portugueses tinham um histórico brutal nas Américas como uma potência colonial. Os abusos mais horrendos ocorreram na colônia do Brasil: os nativos foram escravizados, assassinados, torturados e estuprados na conquista e no início do período colonial e, mais tarde, foram privados de direitos e excluídos do poder. Atos individuais de crueldade são muito numerosos e terríveis para listar aqui. Conquistadores portugueses no Brasil atingiram níveis de crueldade que são quase inconcebíveis para os sentimentos modernos.
Hoje, Portugal é o maior país racista em que já vivi. Eu temia pela minha vida lá e eu me considero sortudo que minha família saiu viva! Eu nunca vivi em tal pobreza (Sopas dos Pobres todos os dias) taxa de desemprego de 40% e 60% da população ganham menos de US $ 932 por mês, e isso é considerado de Classe Média aqui! Dentro da União Europeia é o pior dos piores lugares para se viver.
A linha inferior é a maior parte das pessoas no pobre país de Portugal existem em uma comma sem cérebro que é alimentado pela ignorância, ódio anti-espanhol, e racismo grave de praticamente todo mundo que não é Português! E, Portugal começou o Comércio Global de Escravos em 1441 por isso definitivamente não é um lugar seguro para os negros!
Encontrei sites importantes que explicam o grave racismo e ódio multi-geracional que existem em Portugal hoje, e eu altamente incentivar a todos a lê-los e espalhar a palavra, a fim de evitar inocentes, e pessoas desesperadas de viver ou visitar lá. Seja educado sobre as verdades sobre Portugal racista agora.
Não me pareçe que o comentário do Pedro Lopes tenha algo a ver com a temática do Poste.
Sousa de Castro
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