Trabalho
coligido por Carlos Marques dos Santos
a partir do seu
arquivo pessoal
(ex-furriel 3.º
GR.COMB.)
CART
2339 – Guiné FÁ MANDINGA - MANSAMBO
Jan1968/ Dez1969
GUINÉ 1968/ 1969 – CART 2339 Fá Mandinga – MANSAMBO
Companhia Independente - Unidade do RAL3 – Évora
História da construção do aquartelamento fortificado de Mansambo
Partida do Cais da Rocha do Conde de Óbidos – Lisboa
História da “feitoria” de Mansambo, com foral a partir de 21 de Abril de 1968
A ideia de
“fortificar” as imediações da pequena tabanca de Mansambo (sob a chefia do
Leonardo – um velho homem grande) terá sido iniciada ainda antes do General
Spínola ter chegado à Guiné como Governador e Comandante Chefe.
De “pingalim”,
de monóculo, de luvas, bem fardado e com uma postura de “cavalaria”, como
mandavam as regras, era assim que aparecia, de surpresa no mato em visitas de
informação ou operações.
Em Fevereiro de
1968,depois de várias acções de controlo na zona, faz-se a primeira exploração à
zona para saber da viabilidade de construir um “aquartelamento altamente
fortificado” que sustivesse a força do IN (a partir das matas do Poidon,
Fiofioli e Burontoni) no célebre triângulo
XIME-XITOLE-
BAMBADINCA.
Em 21 de Abril/
68 1 Gr .Comb.,
neste caso o 4.º da Cart2339, inicia a ocupação de Mansambo e a construção de
casernas abrigo e em sobreposição com 1 Gr .Comb. da Cart 1646.
Em Julho todo o
pessoal operacional estava aí instalado,
ainda com a Formação em
Fá Mandinga.
Só em Novembro a
Companhia se reuniu na totalidade.
* O projecto era
do BENG447, a mão de obra era o nosso pessoal, que, no terreno, construía um
aquartelamento, com base nos materiais de construção que quase diariamente lhe
eram enviados em enormes colunas de reabastecimento.
Cada abrigo-caserna
tinha capacidade para 2 secções. 15 dias depois de iniciada a obra o Cmdt da
Cart deslocou-se para Mansambo para supervisionar os trabalhos.
O Gr.Comb da 1646 regressou ao Xitole e a
partir daí a segurança era realizada pelo pessoal da Companhia que ainda estava
sedeado em Fá Mandinga.
Cada Gr. Comb.
ficou encarregado da construção de dois abrigos.
A disposição dos
abrigos (8) era em quadrado.
Em simultâneo
procedia-se à desmatação e capinagem das imediações.
Entretanto a
Secretaria mudou-se para Bambadinca e só em Novembro se estabelece em Mansambo,
com a adaptação de um abrigo, e procede-se à construção de uma enfermaria, um
depósito de géneros, uma cozinha e um poço que abasteceria os balneários e em
geral o aquartelamento.
A iluminação
exterior e interior, a gerador, foi inaugurada a 04/08/1968.
Grande “ronco”:
balas tracejantes, morteirada, etc., etc., etc..
Mais
vistoso que fogo-de-artifício. Até aí eram as garrafas de cerveja (bazookas)
com mechas que serviam de iluminação.
Os abrigos,
construídos em blocos de cimento, executados no local, tinham porta e umas
“seteiras”, eram recobertos na sua fachada com terra, cerca de 1,5 m , “bidons” de gasóleo,
inteiros ou abertos em chapas planas.
Os telhados,
eram executados, com terra, bocados de “bagabaga”, cibes, chapas de “bidons” e
mais cibes. Uma verdadeira fortaleza (???).
Já
houve quem questionasse o limite da sua segurança. Nós fomos atacados muitas
vezes e, ou por falta de pontaria do IN ou qualidade da instalação não tivemos,
nesse aspecto razão de queixa.
Foi montado, inter
abrigos, um sistema de som que, através da Rádio
Mansambo – e aqui a palavra de ordem era: Aqui rádio Mansambo - passava
música e notícias e ainda um sistema de telefones internos.
Foi inaugurado
oficialmente em 21/01/69, com a presença de entidades oficiais (diga-se
militares e religiosas) e festa rija, que incluiu “variedades” a cargo de
elementos da Cart2339 e um conjunto musical de Bambadinca – Os Zorbas (?)
É de notar que,
apesar desta azáfama, continuámos em intervenção operacional como Companhia
Independente em quadrícula no Sector L1.
Mansambo
foi, é, e continuará a ser, a porta fechada que o IN não conseguirá abrir para
infiltração nos regulados de BADORA e COSSÉ, pode ler-se em remate da história
oficial da Companhia.
Anexos:
A ÁGUA em MANSAMBO
E
experimentou, então, o tão desejado banho
(semelhante
ao das civilizações mais avançadas…)
Note-se que até
aqui o banho, quando era possível (e eu estive um mês sem o experimentar,
destacado numa tabanca de que já nem me lembro do nome, talvez Mondajane), só o
era na fonte, com todos os riscos decorrentes da situação, com um púcaro de um
litro de água ou, na época das chuvas, em cima dos abrigos, nus e ensaboados
com “Lifebuoy” para sacar os líquens de parte incerta.
Quem não se
lembra das terríveis micoses?
Andámos com água
a mais, nas botas, atravessando intermináveis bolanhas ou dormimos de cócoras
encostados a um cibe, encharcados até aos ossos e também em intermináveis
operações.
Como
nota de rodapé lembro que, a água, as terríveis formigas e as abelhas (eu
próprio estive 45 minutos debaixo de um enxame (mas que desespero!) e, ainda
por cima debaixo de fogo, eram a par do IN, elementos avassaladores desta
guerra.
Reacção
às abelhas ou ao inimigo, eis a questão ?
REGRESSO A CASA
Mas antes…
Carlos Marques
dos Santos
a partir do seu
arquivo pessoal
(ex-furriel 3.º
GR.COMB.)
CART
2339 – Guiné FÁ MANDINGA - MANSAMBO
Jan1968/ Dez1969
5 comentários:
Trabalho de excelência que retrata a História viva e vivida.
Abraço
Santos Oliveira
Muito bom trabalho, que nos faz lembrar o que a CCaç 1589 viveu na Guiné entre 1966 e 1968. Também em Fá Mandinga, mas, principalmente, em Madina do Boé e Beli. Condições muito semelhantes.
Um abraço com os nossos parabéns e cumprimentos solidários.
Boa noite
Excelente. Obrigado pela tua iniciativa e obviamente ao repórter.
Mansambo diz-me muito.
Abraço
António Duarte, ex. Fur. Miº ART 3493 e CAÇ12
Obrigado pela partilha!
o autor está de parabéns
saudações!
João Oliveira
Eu tive a liberdade de partilhar para que muitos que ainda não sabem que estivemos em guerra mais de 13 anos, possam ver o que muito pessoal por lá passou.
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