MSG de: António Eduardo Jerónimo Ferreira, ex. 1º cabo condutor auto da CART 3493 do BART 3873, Mansambo, Fámandinga, Cobumba e Bissau, 1972/74, com data de 27 de Janeiro de 2017 publicada também em "molianos" do qual é editor.
O dia mais triste do meu tempo de Guiné |
Mansambo 1973 |
Quando “tropeçamos” no passado
mesmo que tal tenha acontecido há já muito tempo a mente leva-nos a viver
situações que podem ser boas ou más, mas não há como fugir. Foi o que aconteceu
comigo há dias ao ler um dos postes publicado no blogue Luís Graça e camaradasda Guiné sobre a construção das instalações de Mansambo onde eu estive treze
meses.
Cheguei aquele local uns dias
mais tarde que a minha companhia, e no dia que os “velhinhos” nos deixaram fiz
o meu primeiro serviço, acompanhado pela G3 que era para mim quase
desconhecida, fui um dos que foram fazer segurança ao pessoal que andava a
transportar a água para as nossas instalações, chuveiros, cozinha e abrigos.
Eramos oito os homens da companhia
Unimog 411 - Foto da: áreamilitar do Exército Português |
Quando lá chegamos fomo-nos
distribuindo para junto de algumas das árvores que lá existiam, só regressamos
às instalações próximo da hora de almoço. Foi à sombra de uma de maior porte que
me “instalei”. Enquanto lá estivemos não me lembro de ter falado com algum dos
camaradas ali em serviço mas sei que o cérebro não parou de pensar, em quase
tudo, só que em nada de bom.
António E. J. Ferreira, 1972 |
Ver os velhinhos partir com a
alegria natural de quem conseguiu chegar ao fim da comissão e vai regressar a
casa, e pensar no tempo que nos faltava para que também nós pudéssemos viver um
dia assim… na altura, falava-se que seria vinte e dois meses depois foram quase
vinte e sete. Preparação para a guerra na Metrópole eu não tive, apenas tinha
utilizado a arma duas vezes onde disparei cinco tiros de uma vez e vinte de
outra.
A minha recruta e a
especialidade foi feita em apenas três meses, No Trem Auto, dos quais três
semanas foram passadas no hospital, HMDIC em Lisboa, depois oito meses no RAP3
Figueira da Foz com a especialidade de monitor auto. De guerra e armas nada
conhecia, daí a minha falta de preparação, tive que me habituar à situação que
todos vivemos, mas fui sempre um fraco guerreiro. Era já perto de meio- dia
quando regressamos da fonte, estava psicologicamente arrasado, foi então que
antes do regresso me ocorreu uma frase que escrevi num papel que tinha comigo e
que me acompanhou durante todo o tempo de comissão simplesmente dizia: tem
calma, ainda és jovem e o tempo ade passar. Foram várias as vezes que li essa
frase assim como outras que entretanto fui escrevendo. Algumas vezes ajudou
mesmo… Mas aquele dia foi de todos o mais triste… ainda hoje está presente na
minha mente como se fosse ontem. Mais tarde em Cobumba passei por momentos
bastante mais difíceis, mas aí, a tristeza não raramente passou a dar lugar à
raiva…
António EJ Ferreira.
1 comentário:
Terão sido, também, as minhas palavras na época:"[...]Ver os velhinhos partir com a alegria natural de quem conseguiu chegar ao fim da comissão e vai regressar a casa, e pensar no tempo que nos faltava para que também nós pudéssemos viver um dia assim… [...]".
Foi o meu fado! foi o que me saiu na "rifa" do tempo.
...Mas é bom estar vivo para recordar.
Abraço
SOL da Esteva
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