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terça-feira, 31 de janeiro de 2017

P298 - O dia mais triste do meu tempo de Guiné, Por: Eduardo Ferreira - CART 3493 - 1972/74


MSG de: António Eduardo Jerónimo Ferreira, ex. 1º cabo condutor auto da CART 3493 do BART 3873, Mansambo, Fámandinga, Cobumba e Bissau, 1972/74, com data de 27 de Janeiro de 2017 publicada também em "molianos" do qual é editor.


O dia mais triste do meu tempo de Guiné


Mansambo 1973
Quando “tropeçamos” no passado mesmo que tal tenha acontecido há já muito tempo a mente leva-nos a viver situações que podem ser boas ou más, mas não há como fugir. Foi o que aconteceu comigo há dias ao ler um dos postes publicado no blogue Luís Graça e camaradasda Guiné sobre a construção das instalações de Mansambo onde eu estive treze meses.
Cheguei aquele local uns dias mais tarde que a minha companhia, e no dia que os “velhinhos” nos deixaram fiz o meu primeiro serviço, acompanhado pela G3 que era para mim quase desconhecida, fui um dos que foram fazer segurança ao pessoal que andava a transportar a água para as nossas instalações, chuveiros, cozinha e abrigos. Eramos oito os homens da companhia
incluindo o motorista do unimog e o ajudante, mais os picadores que eram três. A distância entre as
Unimog 411 - Foto da: áreamilitar do Exército Português 
nossas instalações e fonte era de poucas centenas de metros mas pela manhã o trajeto era sempre picado para que o unimog 411 e acompanhantes pudessem passar em” segurança” não fosse estar por lá alguma mina colocada durante a noite.
Quando lá chegamos fomo-nos distribuindo para junto de algumas das árvores que lá existiam, só regressamos às instalações próximo da hora de almoço. Foi à sombra de uma de maior porte que me “instalei”. Enquanto lá estivemos não me lembro de ter falado com algum dos camaradas ali em serviço mas sei que o cérebro não parou de pensar, em quase tudo, só que em nada de bom.
António E. J. Ferreira, 1972
Ver os velhinhos partir com a alegria natural de quem conseguiu chegar ao fim da comissão e vai regressar a casa, e pensar no tempo que nos faltava para que também nós pudéssemos viver um dia assim… na altura, falava-se que seria vinte e dois meses depois foram quase vinte e sete. Preparação para a guerra na Metrópole eu não tive, apenas tinha utilizado a arma duas vezes onde disparei cinco tiros de uma vez e vinte de outra.
A minha recruta e a especialidade foi feita em apenas três meses, No Trem Auto, dos quais três semanas foram passadas no hospital, HMDIC em Lisboa, depois oito meses no RAP3 Figueira da Foz com a especialidade de monitor auto. De guerra e armas nada conhecia, daí a minha falta de preparação, tive que me habituar à situação que todos vivemos, mas fui sempre um fraco guerreiro. Era já perto de meio- dia quando regressamos da fonte, estava psicologicamente arrasado, foi então que antes do regresso me ocorreu uma frase que escrevi num papel que tinha comigo e que me acompanhou durante todo o tempo de comissão simplesmente dizia: tem calma, ainda és jovem e o tempo ade passar. Foram várias as vezes que li essa frase assim como outras que entretanto fui escrevendo. Algumas vezes ajudou mesmo… Mas aquele dia foi de todos o mais triste… ainda hoje está presente na minha mente como se fosse ontem. Mais tarde em Cobumba passei por momentos bastante mais difíceis, mas aí, a tristeza não raramente passou a dar lugar à raiva…

António EJ Ferreira.

1 comentário:

SOL da Esteva disse...

Terão sido, também, as minhas palavras na época:"[...]Ver os velhinhos partir com a alegria natural de quem conseguiu chegar ao fim da comissão e vai regressar a casa, e pensar no tempo que nos faltava para que também nós pudéssemos viver um dia assim… [...]".
Foi o meu fado! foi o que me saiu na "rifa" do tempo.
...Mas é bom estar vivo para recordar.

Abraço
SOL da Esteva