Mensagem de Jorge Araújo com data de 18 de Setembro de 2017
Caríssimo Sousa de Castro,
Os meus melhores cumprimentos.
No passado fim-de-semana foi publicado no blogue da «Tabanca
Grande» mais um texto meu, elaborado na sequência de uma história aí narrada
pelo camarada Valdemar Queiroz (ex-fur da CArt 2479 / CArt 11 «Os Lacraus»).
Acaso a ele entendas fazer referência no nosso blogue, na
medida em que estamos perante mais um episódio das nossas vivências no
CTIGuiné, anexo uma cópia adaptada.
Voltarei em breve com mais apontamentos.
Boa semana, com saúde.
Com um forte abraço de amizade.
Jorge Araújo.
SET/17
GUINÉ
Jorge Alves Araújo,
ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494
(Xime-Mansambo,
1972/1974)
GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE
UM CONTRIBUTO HISTÓRICO PARA O ‘ACHADO MACABRO’ EM 23 DE
MARÇO DE 1970 EM CABUCA (REGIÃO LESTE)
[NO TEMPO DA CART 2479 / CART 11]
1. – INTRODUÇÃO
A
história que o camarada Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CArt 2479 / CArt 11] fez questão
de partilhar connosco no P17471-LG, a partir de duas imagens do seu vasto
espólio de memórias do CTIG, levou-me a procurar «(d)o outro lado do combate»,
titulo dado à minha série de narrativas relacionadas com o aprofundamento de
factos e/ou ocorrências que marcaram os desempenhos dos diferentes actores da
guerra, os elementos factuais que nos ajudem a encontrar resposta (a possível)
para o que foi classificado, por si, de “achado macabro” em Cabuca.
A
opção tomada emerge igualmente da ausência de relatos divulgados sobre este
tema, em particular os factos ocorridos em 21 ou 22 de março de 1970 naquela
região do Leste da Guiné, independentemente de existirem dezenas de referências
no blogue da «Tabanca Grande» tendo por contexto a presença das NT no aquartelamento
de Cabuca.
Ainda
que não explícito, partimos da hipótese de que o material de guerra (foto 1) e
o corpo (cadáver) do guerrilheiro (foto 2) foram localizados na mata [no mato],
faltando uma referência se ambos estavam mais ou menos próximos ou dispersos e
quais as distâncias das nossas instalações.
Estes
elementos são importantes nesta reconstrução histórica uma vez que não tendo
encontrado, exactamente, relatos sobre esta ocorrência, tivemos acesso a outros
que podem ter alguma correlação entre si.
2. – FONTES
CONSULTADAS
O
que seguidamente se dá conta foi seleccionado dos vários documentos
consultados.
2.1 – Relatório
da Frente Leste assinado no Boé por Osvaldo Vieira e Pedro Pires com data de
Março de 1970
- Sector 2 (Dulombi-Galomaro-Cancolim-Imulo)
Fonte:
Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 07066.087.009
Título: Relatório da Frente Leste
Assunto: Relatório assinado por Osvaldo Vieira e Pedro Pires, delegados
do Bureau Político na Frente Leste, de avaliação da situação política e militar
na Frente Leste durante o ano de 1969. Entrada em funcionamento da Escola
Político-Militar do Boé (EPM).
Data: Março de 1970
Observações: Doc. Incluído no dossier intitulado Relatórios.
Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Documentos
Ao
ser referido no relatório da Frente Leste o nome da «operação Tenaz - B –
modificada», a realizar no Sector 2, para cuja missão chegariam cinco bigrupos,
em 30 de maio de 1969, seguimos em frente na busca de algo mais, e o que
encontrámos foi o seguinte:
2.2 – Documentos
considerados “muito secreto”, referentes às Operações «Tenaz - A» e «Tenaz - B»,
assinados por Amílcar Cabral, com datas de 29 de junho e 30 de março de 1969,
respectivamente.
1. -
«Operação Tenaz - B», com data de 30 de março de 1969.
2. -
«Operação Tenaz - A», com data de 29 de junho de 1969.
3. -
Notas enviadas a Osvaldo Vieira, por Amílcar Cabral, com data de 31 de março de
1969, referindo os nomes dos Cmdt’s de bigrupos e grupos envolvidos na missão
(provavelmente a ‘op. Tenaz A’, pois a sua data é posterior à chegada dos
reforços).
1. - «Operação Tenaz - B»; - não
sendo possível confirmar a realização desta operação com os efectivos acima
referidos, apenas daremos conta do que consta no documento, particularmente no
que concerne às regiões circunvolventes a Cabuca, ou com ela relacionada.
2. - «Operação Tenaz - A»; - de
acordo com os documentos consultados, considera-se a operação em título
realizada (com forte probabilidade de ter acontecido ao longo dos meses de
julho/agosto’1969, em função do número de baixas).
Para
melhor leitura sobre as movimentações no terreno, elaborámos a infogravura
abaixo indicando-se a distribuição dos grupos propostos por Amílcar Cabral para
os diferentes itinerários e etapas [ver notas enviadas a Osvaldo Vieira].
Fonte:
Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 10192.001.013
Título: Notas. Operação “Tenaz” - A
Assunto: Documento de Amílcar Cabral (muito secreto) sobre a Operação
Tenaz. Instruções para o ataque a Bafatá e aos quartéis de Bigene, Galomaro,
Bangácia, Dulombi, Quirafo e outras tabancas armadas, tendo a região do Boé
libertado como rectaguarda activa e de apoio à operação. Instruções para as
forças sob comando de Mamadu Ndjai [Indjai]. Coordenação da luta na Frente
Leste com as forças comandadas por Nino [Vieira] e Osvaldo Vieira e com as
forças a noroeste de Bafatá (Frente Norte).
Data: Domingo, 29 de Junho de 1969
Fundo: Arquivo Mário Pinto de Andrade
Tipo Documental: Documentos
1. – CONCLUSÕES
Em
função do acima exposto, e no caso particular do material de guerra
“encontrado” em Cabuca, não é possível afirmar/confirmar que está relacionado
com aquele que foi considerado pelo PAIGC como perdido (ou desconhecida a sua
localização, dizemos nós). Quanto ao cadáver do guerrilheiro, a imagem não
levanta dúvidas… estamos perante factos ocorridos com um curto intervalo entre
si: a morte e o registo fotográfico.
Cabe
agora ao camarada Valdemar Queiroz fazer mais uma viagem ao seu baú de
memórias, na eventualidade de aí poder descobrir mais algum elemento relevante
para adicionar a esta história, ou, em alternativa, poder corrigir a data por
si avançada.
Com um
forte abraço de amizade
Jorge
Araújo.
17JUN2017
1 comentário:
Estive na Guiné entre 1964/66, sempre colocado em Nova Lamego, com um Pelotão de Reconhecimento de Auto metralhadoras Daimler.
Era alferes miliciano e tínhamos por missão fazer o reconhecimento e apoio de todo o sector do Gabu...desde Buruntuma, Canquelifá, Piche, Canjadude, Paunca, Sonaco, Chéche Beli e Madina do Boé.
Penso ter sido o último a ir a Madina do Boé e Beli antes de começarem lá os problemas, e fi-lo num simples jeep com ocomandante de Batalhão e o seu impedido como motorista.
Pouco depois era só com um pelotão...depois instalaram lá uma companhia e era "folclore" todos os dias.
Abraço
Hélio Matias
Enviar um comentário