Os
meus melhores cumprimentos.
A
presente narrativa fez-me regressar ao tempo de residente no Destacamento da
Ponte do Rio Udunduma, recuperando as memórias e as imagens de uma das muitas
ocorrências que aí contabilizámos durante o 2.º semestre de 1973, as quais
estão já a uma distância temporal de quarenta e dois anos.
Trata-se
de um episódio pouco vulgar naquele contexto, envolvendo um mamífero
artiodátilo [hipopótamo] que, por ter ousado invadir território proibido,
naquele dia de OUT1973, foi emboscado… e morreu.
Obrigado.
Um forte
abraço com amizade.
Jorge Araújo.
NO TEMPO DA CART 3494
- 1973
(XIME-BAMBADINCA)
- Hipopótamo do
Corubal emboscado no Udunduma -
1. - INTRODUÇÃO
Com as rotações entre a CART
3494, a CCAÇ 12 e a CART 3493, ocorridas nos primeiros dias
de Março de 1973, os cenários, os contextos e as missões destas diferentes
unidades militares foram alterados [as], passando a ter, naturalmente, outro
enquadramento e outras responsabilidades.
Enquanto a CCAÇ 12,
sediada em Bambadinca, foi colocada no Aquartelamento do Xime, por troca com a CART 3494, esta passou a ocupar o
Aquartelamento de Mansambo, onde se manteve até ao final da sua comissão [8 de Março
de 1974], por efeito da CART 3493,
aí instalada desde Janeiro de 1972, ter sido transferida para Cobumba, Região
de Tombali, Território do Cantanhez, deixando de estar sob a jurisdição da sua
unidade mãe – o BART 3873.
Como consequência de
todas estas mudanças, e recuperando o que já deixei expresso nas narrativas
anteriores [P193 + P197 + P199], fui contemplado com a missão especial de
comandar uma secção do meu GComb [o 1.º], num total de doze elementos, com o
objectivo de proteger a [s] Ponte [s] do Rio Udunduma, actividade que registava
já, à data, quatro anos, e por isso se chamar de «Destacamento da Ponte», local situado a quatro kms. de Bambadinca,
na estrada Bambadinca-Xime.
Porque as condições
aí existentes, quer logísticas quer físicas, eram incrivelmente pouco dignas e
degradantes, como podem ser confirmadas através da descrição e visionamento das
imagens já publicadas nos postes acima referidos, as recordações desse local são
muitas e variadas, não se esgotando num simples texto, uma vez que aí
permanecemos os últimos seis meses do ano de 1973, ou seja, fará brevemente
quarenta e dois anos.
Já vos contei
anteriormente algumas das acções especiais [desafios permanentes de superação] desenvolvidas
durante esse 2.º semestre de 1973, assim como os contrastes do mesmo cenário.
Agora, volto à vossa presença com os mesmos propósitos de sempre, o de fazer
história escrevendo sobre o quotidiano do contingente da CART 3494 na sua passagem pelo CTIGuiné [1971-1974], mesmo que o
objecto [assunto] não esteja directamente relacionado com o confronto militar.
Aproveitando mais algumas
fotos desse contexto e adicionadas as outras relacionadas com a ocorrência em
referência [OUT1973], nada expectável de vir a acontecer por ali, permitiu-me
estruturar este texto passando para o papel os principais factos narrados
oralmente por quem a presenciou, uma vez que nesse dia me encontrava ausente do
local.
Como o subtítulo acima
referido faz supor, iremos contar a história macabra sobre um hipopótamo
adolescente que foi emboscado no Rio Udunduma e que não conseguiu escapar com
vida. Identificámo-lo como sendo oriundo do Corubal, numa lógica de
proximidade, mas nada nos garante que assim seja, uma vez que os dois
principais habitat de hipopótamos da Guiné-Bissau [hippopotamus amphibius, nome científico],
estão identificados como sendo na Ilha de Orango, no Arquipélago dos Bijagós, e
no Parque Natural das Lagoas de Cufada, na região de Buba.
Sobre
estes dois espaços onde vivem e se desenvolvem os hipopótamos da Guiné-Bissau,
citaremos alguns apontamentos encontrados na nossa investigação na área das
actividades de ecoturismo e biodiversidade, seguindo por correio interno os
respectivos originais para leitura mais aprofundada, não deixando de os referir
na altura própria [com a devida vénia aos seus autores].
2. - O
DESTACAMENTO DA PONTE
As fotos
que seguem têm por objectivo identificar os principais pontos da nossa missão,
ajudando a circunscrever o contexto onde a acção se desenvolveu.
3. - O
LOCAL DA EMBOSCADA AO HIPOPÓTAMO
4. - O
HIPOPÓTAMO
Hipopótamo é o nome genérico
de um mamífero ungulado de grande porte pertencente à família Hippopotamidae. É
um mamífero artiodátilo [que possui um número par de cascos (ou dedos) nas
extremidades dos membros anteriores e posteriores], próprio de África, de pele
muito grossa e nua, patas e cauda curtas, cabeça muito grande e truncada num
focinho largo e arredondado.
Estes animais vivem geralmente próximo de rios,
onde passam grande parte do seu tempo imersos. Têm uma pele sensível à luz
solar. Os hipopótamos são herbívoros e alimentam-se durante a noite da
vegetação existente nas margens dos rios que habitam, mas há indícios de
canibalismo de machos adultos com filhotes.
Os hipopótamos são preguiçosos em terra, mas podem atingir
velocidades de 50 km/hora. Na água são rápidos e mostram diversas adaptações na
sua existência, na maior parte aquática, inclusive orelhas e narinas que podem
fechar-se e uma secreção da pele que funciona como protector solar, antisséptico
e antibacteriano. A sua pele é muito sensível a queimaduras solares e, para se
proteger, segrega uma substância de cor vermelha que ao longe pode ser
confundida com sangue.
5. - O
HIPOPÓTAMO NA GUINÉ-BISSAU [no
presente]
5.1 - NA REGIÃO
DE CUFADA - BUBA
As LAGOAS
DE CUFADA estão classificadas como «zona húmida de importância
internacional», tendo a Guiné-Bissau aderido à Convenção de RAMSAR e, em
sequência, criado um regime legal de protecção dos ecossistemas locais. O
Instituto de Conservação da Natureza, juntamente com outras entidades
portuguesas, participou na preparação e realização do projecto do parque.
A Convenção de RAMSAR é um tratado intergovernamental
que estabelece marcos para ações nacionais e para a cooperação entre países com
o objectivo de promover a conservação e o uso racional de zonas húmidas no
mundo. Essas acções estão fundamentadas no reconhecimento, pelos países
signatários da Convenção, da importância ecológica e do valor social, económico,
cultural, científico e recreativo de tais áreas.
Estabelecida em Fevereiro de 1971, na cidade iraniana
com o mesmo nome, a Convenção de Ramsar está em vigor desde 21 de Dezembro de
1975, e o seu tempo de vigência é indeterminado. No âmbito da Convenção, os
países membros são denominados "partes contratantes". Até Janeiro de
2010, a Convenção contabilizava 159 adesões.
Quanto ao PARQUE NATURAL
DAS LAGOAS DE CUFADA, este abrange uma área
de noventa mil hectares, na qual está inserida uma comunidade de cerca de três
mil pessoas distribuídas por trinta e três tabancas. Os passeios pelas
lagoas permitem a observação de várias espécies de aves, residentes ou
migradoras, como flamingos, pelicanos e tucanos. Entre a fauna aquática abundam
mamíferos como hipopótamos, manatins e crocodilos.
Em terra, ocasionalmente, podem ser vistas gazelas, porcos do mato e antílopes.
5.2 - NO
PARQUE NACIONAL DE ORANGO - BIJAGÓS
O PARQUE
NACIONAL DE ORANGO ou o Parque Natural das Ilhas de Orango está situado na
parte sul do Arquipélago dos Bijagós [ver mapa], ocupando uma superfície de 1582,35
km2 e compreende 3 ilhas principais: Orango, Orangozinho e Atanhible. A
profundidade do sector marinho não ultrapassa os 30 metros. A biodiversidade da
fauna, particularmente no sul do parque, compreende populações de hipopótamos (Hipoppotamus amphibius),
onde se pode observar os únicos hipopótamos que vivem em água salgada, e de
crocodilos (Crocodylus
niloticus e C.
tetraspis). O parque é frequentado por 5 espécies de tartarugas-marinhas:
tartaruga-verde (Chelonia
mydas), tartaruga-de-pente (Eretmochelys
imbricata), tartaruga-oliva (Lepidochelys
olivacea), tartaruga-cabeçuda (Caretta
caretta) e tartaruga-de-couro (Dermochelys
coriacea). De entre os mamíferos destacam-se também a gazela-pintada (Tragelaphus
scriptus), o macaco-verde (Cercopithecus
aethiops) e, na parte marinha, lontra (Aonyx capensis), manatim (Trichechus senegalensis) e
golfinhos (Sousa teuszii e Tursiops truncatus).
Por outro lado, o Arquipélago dos Bijagós,
constituído por um conjunto de oitenta e oito ilhas e ilhéus espalhados no Oceano
Atlântico, em que um quarto desses espaços de terra não estão habitados, foi
declarado Reserva Mundial da Biosfera, em 16 de Abril de 1996.
Em reportagem realizada em
Dec2012 por Fernando Peixoto, jornalista da Agência Lusa, este refere no título
da peça que «Orango, na Guiné-Bissau, é a ilha dos hipopótamos especiais».
Continua, afirmando que “a Ilha de Orango, na Guiné-Bissau, tem hipopótamos únicos no mundo e que
"salvam" vidas. Por causa deles, a ilha tem uma lancha rápida
para
levar doentes, escolas e centros de saúde arranjados e a funcionar, graças à
construção do ORANGO PARQUE HOTEL,
onde os lucros revertem para melhorias na ilha, com o envolvimento e aplauso da
comunidade.
Hoje, os hipopótamos dos
Bijagós precisam de água doce para beber, mas muitos deles vivem
permanentemente na água salgada, o que os faz únicos no mundo. "Há dias
estávamos na Ilha de Unhocomozinho e vimos chegar um [vindo do mar]. As pessoas
fizeram-no fugir sendo visto depois na Ilha de Unhocomo".
Por
outro lado, a coordenadora do Seguimento das Espécies e dos Habitat, do
Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP) da Guiné-Bissau,
Aissa Regala, avança que em Janeiro de 2013 será iniciada em Orango uma nova
contagem de hipopótamos. A espécie vive também em rios e lagoas do continente,
lembra, acrescentando que na zona de Cacheu [norte] vão ser vedados campos de
arroz por causa dos animais. Em Orango a proteção das bolanhas [campos de
arroz] com cercas eléctricas para evitar a intrusão dos hipopótamos foi um
sucesso e a produção quase duplicou.
Como
refere o guia Belmiro Lopes, o hipopótamo é um "animal emblemático",
que surge nas pinturas e nas danças dos Bijagós; e que em 2011 quase mil
pessoas visitaram a Ilha para ver os animais. Porém, esses mesmos animais destruíam
os campos de arroz, provocando a ira das populações.
Fontes:
- http://sustainabledevelopment.un.org/content/documents/977guineabissau.pdf.
- Arquipélago dos Bijagós - Guiné-Bissau O modo... - Rituais.
- RDP África - Hipopótamos únicos no mundo "salvam" vidas em Orango, na Guiné Bissau.
-http://noticias.sapo.mz/lusa/artigo/15431686/html
Termino,
enviando a todos um forte abraço.
Com
amizade,
Jorge
Araújo.
22MAR2015
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