Camaradas;
Coube-me, desta vez, a especifica missão
de vos dar uma notícia que poucos estão preparados e/ou desejam fazê-lo, particularmente
quando estamos perante a perda de um elemento do nosso grupo de pares, quer
seja no quadro familiar, profissional ou de outros contextos grupais como é o
caso presente do colectivo de milicianos da CART 3494, ex-combatentes no CTIG
nos anos de 1971 a 1974, pois emerge no meu interior, e certamente no interior
de cada um de vós, um sentimento de revolta, de tristeza e de impotência por
nada mais se poder fazer, fisicamente, depois da morte.
Fur. Figueira, 1972 |
E a notícia de hoje, muito sentida, está relacionada com o
falecimento, no passado dia 9 de fevereiro de 2017, do nosso camarada INÁCIO JOSÉ CAROLA FIGUEIRA [1950-2017], ex-Fur. Mil Artª pertencente ao 3.º Gr Comb
da CART 3494, do BART 3873, natural do Redondo, Município do Distrito de Évora,
e com última residência na Freguesia de Pinhal Novo, Município de Palmela.
A confirmação desta notícia é corolário de uma cadeia de
contactos efectuados entre elementos do colectivo da CART 3494, iniciados pelo
camarada Lúcio Damiano (Vizela) que, ao ligar para casa do Carola Figueira, foi
informado pela esposa que ele (o marido) estava com graves problemas de saúde,
de origem cancerígena.
Em contacto posterior, para agendamento de uma sua eventual
visita a Pinhal Novo, o camarada Vizela não foi bem-sucedido, uma vez que todos
os meios de comunicação estavam desligados [OFF]. Daí ter tomado a iniciativa
de a transmitir ao camarada Sousa de Castro que, de imediato, a colocou na rede
dos contactos da CART 3494.
Ao saber-se que o camarada Figueira estava/esteve
hospitalizado em Setúbal, no Hospital São Bernardo, aí se procurou saber algo
mais, sendo que as informações obtidas davam como certo o seu óbito. Faltava,
no entanto, conhecer a data certa. Essa informação só na passada quinta-feira
foi conseguida por mim, na medida em que ela era importante para nós, visando a
sua divulgação no Blogue, objectivo supremo desta notícia.
Para além de ter privado com o camarada Figueira no
contexto da nossa Missão Ultramarina, onde tive a oportunidade de contabilizar um
sem número de exemplos de grande camaradagem, solidariedade e partilha de bens
materiais, essa interacção foi retomada na vida civil, quando um certo dia nos
encontrámos no Terreiro do Paço, também conhecido por Praça do Comércio.
Foi com grande emoção que nesse momento trocámos um forte
abraço, pois tinham já decorrido alguns anos desde que nos separámos em Bissau
(três ou quatro?), [eu tinha regressado no Niassa e ele nos TAM], vindo a saber
de que era responsável pelo serviço administrativo da Estação Fluvial Sul e Sueste,
o sítio de entrada/saída em/de Lisboa, ligando as duas margens do rio Tejo,
entre a Capital e o Barreiro.
A partir de então, outros encontros ocorreram com mais frequência
até 1982, ano em que, por eu ter passado a desenvolver a minha actividade
profissional na margem sul, deixaram de existir. Ainda assim, pouco tempo depois
aconteceu um novo reencontro, agora numa das ruas de Corroios, pois morávamos
nessa Freguesia, ele na Quinta de São Nicolau e eu no Alto do Moinho.
Esteve algumas vezes em minha casa, onde partilhámos
memórias, objectivos e projectos profissionais. Essa troca de memórias era
retomada durante os Encontros/ Almoços da CART 3494. Entretanto, foi transferido
para Pinhal Novo com a missão de chefiar a Estação Ferroviária da CP com o
mesmo nome, o que fez diminuir o número dos nossos encontros, substituídos por
diálogos telefónicos mais espaçados.
Durante os últimos oito anos [2008-2016] apenas privei com
o camarada Carola Figueira por três vezes. A primeira, durante o XXIII Encontro
por mim organizado na Costa da Caparica, em 7 de junho de 2008. A segunda, no
Encontro organizado pelo camarada Espadinha Carda na Ponte de Sôr (o XXVII), em
9 de junho de 2012. A terceira, cinco meses depois da anterior, em 17 de
novembro, na «Operação São Martinho», realizada na «Ponta da Marisol», uma
“operação difícil” destinada aos operacionais aquartelados na região centro,
treinados/preparadas para desempenhar as mais exigentes técnicas no âmbito das
boas práticas gourmet.
Para memória futura, reproduzo a declaração de honra assinada
pelo camarada Figueira visando a sua participação voluntária nesta acção.
Em sua homenagem, recordo
com algumas imagens momentos que fazem parte da memória colectiva da CART 3494
de mais de quatro décadas, nas quais o camarada Inácio José Carola Figueira
continuará presente… sempre!
Xime, a caminho do Cais (Jul/72) – Esq/Dtª - furriéis: Chinelo, Figueira, Araújo, Carda e Neves |
Xime (Jul/72) – grupo de furriéis, com o Figueira no interior do círculo, montados numa GMC |
Bafatá (Dez?/72) – Esq/Dtª – Furriéis: Espadinha Carda, N/N, Jorge Araújo e Carola Figueira |
Mansambo (Dez/73) – Furriéis Carda e Figueira,
ambos pertencentes ao 3º Gr Comb
|
Almada, Cristo Rei (7Jun2008) – Cmdt Pereira da Costa, Jorge Araújo e Carola Figueira, no local da concentração do XXIII Encontro/Convívio, realizado no Restaurante do Hotel da Costa da Caparica. |
7 comentários:
A perda de um grande amigo!Paz à sua Alma.
Alcindo Silva
Recordo-me do Figueira em Vendas Novas, entre abril e junho de 71. Depois na Guiné várias vezes nos vimos. Recordo-me dele a dar instrução ao pelotão de milícias de Amedalai?. Fica o sentimento de perda e que a sua memória permaneça entre nós. Pêsames à família.
Antonio Duarte
Que descanse em paz.
Artur Manuel Soares
Grande amigo e camarada. Enviei hoje um texto ao Jorge Araújo para ele publicar no Blog. Estamos mais pobres.
Luciano Jesus
É verdade grande amigo!Há anos ainda ele era solteiro eu mais o meu grupo da caça ficamos em casa 🏡 dos pais dele no Alentejo em Redondo,ainda ele vivia com os pais e acompanhou-nos um dia e uma noite,no dia a seguir fomos caçar e o Figueira partiu para Lisboa para se apresentar ao serviço aonde ele era então o responsável da estação fluvial dos barcos da travessia deLisboa e o Barreiro!Foi muito hospitaleiro gentil e o meu grupo da caça ficaram a gostar,nunca me esquecerei desses saudosos momentos,éramos todos novos e também do meu grupo da caça já morreram todos,só existimos dois até quando Deus quiser!Estamos todos na linha da frente neste combate agora da vida,em Portugal 🇵🇹 há uns anos era na Guiné 🇬🇳 amigos e companheiros de luta 🤼 infelizmente é a vida,infelizmente nascemos todos com uma doença incurável,é que todos nós vamos morrer!!
Alcindo Silva
Caros camaradas, resolvi com a devida vénia, transcrever alguns comentários publicados no FACEBOOK nomeadamente do Alcindo (Cindinho) e do Luciano Jesus, camaradas da mesma companhia para além de outros aqui transcritos. Por outro devo dizer que temos registado 25 combatentes que nos deixaram, consultem a listagem na coluna do lado direito do blogue, se tiverem conhecimento de mais algum, agradeço desde já que me informem para o endereço seguinte: sousadecastro@gmail.com.
Sousa de Castro
Boa tarde!
Queria agradecer a homenagem feita ao meu pai. Fiquei emocionada ao ver no google que é recordado pelos seus camaradas de guerra. Tem sido dificil estes tempos. Tudo é uma recordação e as saudades são muitas mas a doença prolongada de um ano foi muito triste. Obrigada a todos os que ali escrevem.
Cumprimentos,
Rita Figueira
(filha do Inácio Figueira)
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