Autor:
António Manuel Marques Lopes, Coronel DFA na situação de reforma.
(ex Alf. Milº da Cart 1690 - Geba)
22. OP. "INVISÍVEL" 19DEC67
Em face das acções realizadas sabe-se que o IN actua no
regulado de MANSO MINE onde possui a
base de SINCHA JOBEL.
MISSÃO
Executar uma batida nesta região tentando desalojar o IN.
FORCA EXECUTANTE
a) CMDT:- Cap. Mil.
Art. Carlos
Manuel Ferreira
b) MEIOS;- DEST.
"A" - CART. 1742 a 02 GR. COMB.
DEST. "B" – CART
1690 a 02 GR. COMB.
ref. c/ 1 PEL.110/C.MIL 3
Crachás do sítio : http://ultramar.terraweb.biz/index.htm com a devida vénia.
Poste anterior da série:http://cart3494guine.blogspot.pt/2015/05/p237-cart-1690-geba-1967-mortos-em.html
DESENROLAR DA ACÇÃO
Em 1822H00DEC67 (18 Dezembro de 1967, 22,00 horas) as
forças intervenientes saíram auto transportadas de GEBA em direcção a SARE
GANA, progredindo em seguida apeadamente em direcção a GANHAGINA, que atingiram
em 190400DEC67.
Não se pôde efectuar a cambança da bolanha nessa altura, em
virtude do guia não conhecer o caminho, para atingir a bolanha pelo que as
forças intervenientes se instalaram, montando a devida segurança. Pelas 06H00
as forças intervenientes iniciaram novamente a progressão à bolanha, que atingiram
pelas 07H50 hora a que se iniciou a cambança da mesma.
Nesta altura foram
avistados elementos IN em cima de árvores, pelo que se tomaram as devidas
medidas de segurança para a travessia da mesma. A cambança terminou às 08H50
iniciando-se em seguida a progressão à
base de patrulhas. Cerca das 11H50 fez-se um alto, devido novamente ao guia se
ter perdido e precisar de se orientar; Foi destacada 01 Secção reforçada
comandada pelo Furriel Miliciano Pombeiro para fazer a protecção ao guia,
enquanto a restante força interveniente montava segurança no local de
estacionamento.
Às 12H45 iniciou-se
novamente a progressão à base de patrulhas que foi atingida às 15H52. Nesta
altura ouviram-se vozes de elementos IN, o que levou as forças intervenientes a
supor que o IN se encontrava instalado naquele local. Devido a este facto a
missão foi alterada e estabeleceu-se que o Dest. B faria o assalto ao objectivo
enquanto o Dest. A. faria a detenção do IN. Para o assalto ao acampamento IN o
Dest. B nomeou 01 GR. GOMB., o 2º. GR. COMB. faria a protecção ao
1.º» e serviria de reserva.
Estabeleceu-se também o
ponto de reunião das forças intervenientes. Quando o 1.º. GR. COMB.
comandado por mim (Alf. Milº Marques Lopes) e pelo Alferes Miliciano Lourenço,
progredia em direcção do acampamento IN, foi emboscado e surpreendido por um súbito desencadear de intenso e
nutrido fogo IN. Tentou anular-se o mesmo reagindo as NT fortemente.
Como o 1°. GR.
COMB. fosse o que nessa altura se encontrasse mais submetido ao fogo IN, veio o
2º. GR. COMB, comandado pelo Alferes Miliciano Fernandes em auxílio do
primeiro, mas o mesmo foi atacado pela rectaguarda e, portanto, não pode
proteger a retirada do primeiro. Começou também nessa altura o IN a fazer fogo
com o MORT. 82, com que abateu o alferes miliciano Fernandes.
Verifiquei que nessa
altura já o Dest. B tinha as seguintes baixas: Alferes Miliciano Fernandes, 1º.
Cabo Sousa da CART 1742 e que estava a fazer fogo com a ML MG-42, soldado
Metropolitano Fragata e um soldado milícia que não consegui identificar além de
vários feridos. Procurei trazer o alferes miliciano Fernandes para a
rectaguarda e quando o puxava pelos pés, fui surpreendido por um grupo IN, que
corriam em direcção aos furriéis milicianos Marcelo e Vaz e em minha direcção
gritando que nos iriam apanhar vivos».
Note-se que neste grupo
IN avistei elementos brancos os quais usavam o cabelo bastante compridos (a
cobrir as orelhas) facto também confirmado pelos já citados furriéis
milicianos. Devido a tal, tive que abandonar o corpo do alferes Miliciano Fernandes
e retirar.
Quando retirava em
direcção ao ponto de reunião, encontrei uma secção da CART 1742, e 4 soldados
da minha Companhia (CART 1690) que me informaram ser impossível entrar em
contacto com a CART 1742, enviei 5 soldados desta última Companhia a fim de
averiguar tal impossibilidade, enquanto se montava a segurança com os restantes
elementos.
Logo após esses 5
Soldados regressarem informando-me que a CART 1742 já retirara». Devido a tal e
uma vez que o IN já nos estava a envolver, iniciei a retirada em direcção à
bolanha. Durante a retirada fomos constantemente perseguidos pelo IN que
disparava incessantemente rajadas de armas automáticas ligeiras e metralhadora
pesada, além de encontrarmos diversos elementos IN já instalados ao longo do
caminho que conduzia à bolanha e que fez com que este grupo tivesse
que atravessar a bolanha num local diferente do que inicialmente estava
previsto, e que batiam o caminho por onde nos deslocávamos.
Quando atravessamos a bolanha o IN bateu a mesma com
granadas de morteiro 82 (algumas das granadas estavam equipadas com espoleta de
tempos), rajadas de armas pesadas, ligeiras e rocketadas, tendo o mesmo entrado
na bolanha em nossa perseguição, e ainda após concluída a travessia
depararam-se-nos alguns elementos IN instalados deste lado da bolanha.
Conseguimos, no entanto, fazer a travessia da mesma e
iniciarmos a progressão em direcção a SARE GANÁ, que atingimos às 21H00.
Chegamos a SARE GANA, verifiquei que a CART 1742 já aí se encontrava e que
faltavam 16 elementos da minha Companhia e 1 elemento da CART 1742.
RESULTADOS OBTIDOS
Baixas sofridas
pelo IN: Mortos confirmados 14
Numerosas baixas
prováveis.
FOTOGALERIA:
Fotos de: António Manuel Marques Lopes, CORONEL DFA
Fotos de: António Manuel Marques Lopes, CORONEL DFA
Nota; reflexão explicativa:
Alf. Milº A. Marques Lopes |
O Alferes Fernandes, aqui referido (de
seu nome Fernando da Costa Fernandes) foi o meu primeiro substituto no comando
do meu grupo de combate, depois de eu ser ferido. Foi, depois de ter ficado em
Jobel, substituído pelo Alferes Carlos Alberto Trindade Peixoto, o Aznavour,
como lhe chamávamos, por gostar de cantar “à Aznavour”, que morreu também em
combate em 8 de Setembro de 1968.
O soldado Fragata (Manuel Fragata Francisco),
um alentejano de Aljustrel, do meu grupo de combate, ficou nesta operação. Mas
a história toda foi-me contada pelo Luís Cabral (o primeiro presidente da
Guiné-Bissau): ficou furado por vários estilhaços de uma rocketada e foi
levado, em maca, pelos guerrilheiros desde a mata do Oio até a um hospital de
Ziguinchor, na Casamança, Senegal.
Não foi fácil, como se calcula. Aí, em
Ziguinchor, foi tratado pelo Dr. Pádua, um desertor português. Depois desse
tratamento foi repatriado pela Cruz Vermelha internacional e foi para o Anexo
do HMP, na Rua Artilharia Um, em Lisboa. Diz o Luís Cabral que, com a
simplicidade própria daqueles nossos soldados, o Fragata, ao apanhar o avião de
regresso, disse: “Obrigado. Graças ao nosso partido – REFERIA-SE AO PAIGC! -, Posso
voltar para casa). Infelizmente, o Manuel Fragata Francisco, passado pouco
tempo após a saída do Anexo, morreu num desastre de motorizada na sua terra.
Cor DFA A. Marques Lopes, 31OUT2007 |
Depois desta operação, aquela
zona foi considerada ZLIFA (Zona Livre de Intervenção da Força Aérea), isto é,
só os T6 e os Fiat é que passaram a voar para lá e despejarem toneladas de napalm
sobre a floresta de grandes poilões que rodeavam a clareira de Sinchã Jobel.
Sem grande efeito prático, pois as bombas rebentavam no cimo das copas das
árvores, deixando praticamente intactas as partes no solo. Terá sido destruída
anos mais tarde, mas, segundo sei, mudaram-se para dois quilómetros mais a
norte, para o lado de Banjara.
A táctica da guerrilha era essa, naturalmente. Em
1998, o comandante Gazela, o chefe operacional da zona de Sinchã Jobel,
confidenciou-me que, naquele dia 24 de Junho de 1967, eles não se aperceberam
que eu tinha ficado na bolanha. Só o souberam dois dias depois, quando o
Suleiman Baldé, chefe das milícias de Sare Madina, lhes disse que me tinha
emprestado uma bicicleta. Este Suleiman Baldé, embora nas milícias, era do
PAIGC e acabou por ser morto mais tarde pelas NT.
Quando ´consegui sair de
Sinchã Jobel, no dia 25, cheguei a essa tabanca de Sare Madina e foi, de facto,
o Suleiman Baldé que me emprestou uma bicicleta. E foi de bicicleta que cheguei
à sede da companhia, em Geba. Preparavam-se já para enviar para Bissau o meu
"desaparecimento em combate". Fui chamado, depois, ao Comando do
Agrupamento.
Preocupações deles: o major de operações a primeira coisa que me
perguntou é se eu tinha trazido a G3... O tenente-coronel comandante do
Agrupamento, Hélio Felgas, mostrou-se preocupado porque eu "tinha passado
24 horas no campo do inimigo"... Que os pariu! Disse-lhes eu. Teve de
sorrir e disse-me: "Você, agora, tem aí história para contar num
livro...". Não sei quando, mas pode ter a certeza que o farei.
Sem comentários:
Enviar um comentário